sábado, 26 de maio de 2012

Como é o amor em Platão?

Leia o texto de Mondin a seguir: 
 Platão situa o amor numa moldura metafísica que potencia a sua função e o seu alcance espiritual. Ele se desenvolve entre dois pólos, o Bem e as Idéias por uma parte e a alma ( a psyché) por outra. É a Alma, carente de felicidade e estabilidade que sente a aspiração, o desejo (eros), a atração do Bem e do mundo ideal e imortal. A alma, pela sua afinidade com as Idéias, adverte obscuramente a sua presença e experimenta no contato com o belo sensível um arrepio misterioso: a ascensão do amor inicia-se com um ato irracional, que tem todos os caracteres de uma loucura ( mania) que aliena o homem de si mesmo e lhe anuncia um valor transcendente. Diante das formas belas pode o homem assumir duas posturas fundamentais: aceita e ama a bela aparência como realidade absoluta e deseja possuí-la, por que não procura nada além dela, porque não entrevê nada além do sensível: esse é o amor sexual, terreno, inferior que perde a alma, é a Afrodite pandêmica ou vulgar; ou então ama enquanto reconhece o invisível e, por isso, transcende a bela aparência para possuir noeticamente ( ou seja, intelectualmente) não o que morre, mas o que é eterno: esse é o amor puro, o amor que salva, é a Afrodite celeste. E a dialética do amor, como processo cognitivo, é uma ascensão gradual: do amor de um corpo belo se passa a amar a beleza de todos os corpos belos, una e idêntica para todos; da beleza dos corpos se sobe depois à beleza das almas, das instituições, das leis e das Ciências, até que se chega à única ciência que tem por objeto o Belo absoluto: aqui a alma se acalma, porque acha o seu bem e a sua felicidade. Trata-se de uma ascensão longa e fatigante. " Para o homem que haja participado das celestes iniciações em tempos muitos remotos ou para o homem corrompido, não é lícito transportar-se facilmente daqui até lá, até a pura Beleza objetiva, no momento em que se contemplam as coisas belas que dela recebem o nome. Ele olha e a sua alma não é pervadida por um generoso ímpeto de veneração". Mas quando o filósofo consegue libertar-se dos grilhões deste mundo sensível e atinge o sumo vértice da ciência do amor, " contemplando em ordem sucessiva e com justo método todas as coisas belas, atinge finalmente a consumação da ciência amorosa. E então, por súbita visão, ele contemplará algo divinamente belo na sua natureza objetiva: a Beleza, razão primeira e meta de todos os precedentes exercícios fatigantes".

Nenhum comentário: