terça-feira, 1 de maio de 2012

Notícias do hospício

1. NOVA York deu-nos a música de Stephen Sondheim, os combates de Rocky Marciano e os filmes de Woody Allen. Mas também nos deu Michael Bloomberg, um caso de fanatismo antitabagista que diverte e comove ao mesmo tempo. Agora, depois de todas as restrições antitabagistas conhecidas (em restaurantes, escritórios, parques, praias etc.), parece que o "mayor" não exclui a proibição de fumo nas calçadas da cidade -e até, quem sabe, no interior dos lares. Ponto prévio: não sei como será possível fiscalizar o cumprimento da lei na casa de cada cidadão. Detectores de fumaça obrigatórios? Câmeras idem? Gratificação para delatores da família, como na saudosa União Soviética? Mistério. Uma coisa, no entanto, parece certa: o que começou como preocupação razoável sobre liberdade e saúde alheias converteu-se no pretexto ideal para que o poder político faça o que melhor sabe: eleger um inimigo da sociedade, despersonalizá-lo até a humilhação total e arregimentar legiões de talibãs contra ele, que desatam a tossir ante a ameaça do cigarro -quando, anteriormente, nem pensavam nisso. Chegará o dia em que o fumante será o perfeito pária social -sem espaço para existir na civilização e sem uma toca onde possa refugiar-se da intolerância viscosa das massas. Já estivemos mais longe. 2. No mundo do desporto acontece de tudo: doping, rivalidades mortais, sacrifícios desumanos em nome da excelência. Mas que dizer de quem finge deficiências para concorrer nos jogos paraolímpicos? A reportaggem é da revista alemã "Der Spiegel", e minha incredulidade é total: cresce o número de deficientes falsos que inventam cegueira, paralisia, até amputação -tudo em nome do desporto, da fama e, claro, do vil metal. Exemplos? São incontáveis. Monique van der Vost era uma celebridade na Holanda, uma das melhores ciclistas paraolímpicas do país. Só havia um pormenor: as pernas da sra. Monique funcionavam à perfeição. Os próprios vizinhos, temendo estar na presença de um gêmea, já a tinham visto a dançar pela casa. Não pretendo levantar falsos testemunhos, mas suspeito de que a dança era só forma de relaxamento antes das provas oficiais. Monique não é caso único. Yvonne Hopft, cinco vezes medalha de ouro em provas paraolímpicas de natação para cegos, afinal não o era: hoje, afastada das competições, resolveu mudar de vida e até já tirou a permissão para dirigir. Mas o melhor exemplo de fraude vem da equipe espanhola de basquete, que se apresentou em 2000, nos Jogos Paraolímpicos de Sidney, para disputar a medalha de ouro de deficientes mentais profundos. A equipe conquistou a medalha de ouro, sem dúvida, mas parece que dez atletas tinham um Q.I. perfeitamente normal. A revista, infelizmente, não esclarece se o Q.I. era normal para qualquer ser humano ou apenas para um espanhol. Seja como for, o Comitê Paraolímpico Internacional promete vigilância e penas duras aos farsantes. Aplaudo, comovido. Mas o que será pena dura para quem finge ser deficiente e ganha a vida com isso? Nos meus momentos de delírio, penso que a única forma de punir seriamente os farsantes era infligir-lhes, temporariamente que fosse, a exata deficiência de que eles fingem ser portadores para enganar meio mundo. Tenho certeza de que o desporto paraolímpico ficaria mais respirável da noite para o dia. 3. E, por falar em deficiências, leio na imprensa brasileira que os gagos de Manaus poderão ter desconto de 50% nas contas do celular. A intenção não é nova: Mato Grosso do Sul já tem legislação a respeito, informa o jornal "O Globo", o que significa que o cliente gago só tem que pedir uma avaliação médica a um fonoaudiólogo e entregar o documento da sua deficiência no operador telefônico respectivo. Depois, não importa se ele demora mais tempo para falar o que tem a falar: a mão paternalista do governo ampara a sua gagueira com mais uma política de "discriminação positiva". Um absurdo? Honestamente, creio que a notícia se comenta a ela própria. Uma consequência da medida, porém, parece-me inevitável a curto prazo: vai aumentar o número de gagos em Manaus.Por: João Pereira Coutinho

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