quarta-feira, 16 de maio de 2012

Ateus de Jeová

Jack Terpins, presidente do Congresso Judaico Latino-Americano, escreveu um texto (Folha, 10/5) em que corretamente criticava as novas modalidades de antissemitismo, mas acabou recaindo no mesmo tipo de preconceito que condenava ao incluir o ateísmo entre as novas faces da intolerância. Afirmar que não existem provas da existência de Deus e sugerir que o fenômeno religioso pode não passar de uma exacerbação de certos vieses da mente humana, como fazemos os ateus, não implica tomar posição contra os judeus ou Israel. Autoridades religiosas judaicas, porém, andam preocupadas com o avanço do secularismo em geral e do ateísmo em particular pela simples razão de que esses movimentos são particularmente fortes entre judeus. Como diz Phil Zuckerman em Invitation to the Sociology of Religion, os judeus talvez sejam o menos religioso dos grupos "religiosos" do mundo. Nos EUA, onde existem quase tantos judeus quanto em Israel, só 22% dizem que a religião é "muito importante" em suas vidas, contra uma média nacional de 60%. Os judeus americanos são a categoria que menos frequenta o templo, reza, crê na vida após a morte e considera que a Bíblia é a palavra de Deus. Em Israel, oficialmente um Estado judaico, a situação não é muito diferente. O país aparece entre os 20 primeiros na lista de nações com maior proporção de ateus e agnósticos do mundo -entre 15% e 37%. Um trabalho de 1995 indicou que quase 50% da população se classificava como não religiosa (lo dati, em hebraico), contra 20% de ortodoxos. É fato que estes, por contingências partidárias, têm um poder político desproporcional à demografia. Para Zuckerman, faz mais sentido hoje classificar os judeus como grupo étnico do que como constituindo uma religião. Isso não resolve o problema dos rabinos, mas "salva" o judaísmo do ateísmo. Eu pelo menos me considero um bom judeu ateu.HÉLIO SCHWARTSMAN FOLHA DE SP - 15/05

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