sábado, 31 de maio de 2014

ESPACIALIDADE

Em Filosofia Clínica existe um tópico chamado de Espacialidade. Nele os filósofos estudam os tópicos chamados Deslocamento Curto e Deslocamento Longo, Inversão e Recíproca de Inversão. Destes quatro, gostaria de me dedicar primeiramente a dois deles: Deslocamento Curto e Recíproca de Inversão. Deslocamento Curto pode ser definido como uma propensão ou característica da pessoa de estar voltada ao ambiente, ou seja, se ela está numa sala ela pode estar atenta às cores, disposição dos móveis, sons, enfim, ela estará conectada ao ambiente. Já a Recíproca de Inversão tem como característica estar voltado para o outro, estar atento ao outro no seu modo de ser. É necessário lembrar que trago aqui definições resumidas, apenas uma introdução.


Uma pessoa que apresente abertura para estes dois tópicos ao mesmo tempo está atenta ao ambiente onde está inserida, assim como às pessoas que a rodeiam. Um exemplo simples: andando pelo supermercado com o carrinho de compras, a pessoa presta atenção à disposição de seu carrinho no corredor. Ao mesmo tempo se coloca no lugar dos outros que também precisam passar pelo mesmo corredor, assim ela desloca seu carrinho para próximo das prateleiras para que sobre mais espaço para circulação. De forma concomitante, ela percebe o ambiente e ainda as pessoas, a conexão entre estes dois aspectos poderia soar assim: “Vou colocar o carrinho no canto porque aquela senhora quer passar”.

Porém, cada vez mais encontramos pessoas que vivem distantes do local onde estão e voltadas apenas para si. Fazendo uso dos dois outros conceitos, Deslocamento Longo e Inversão, explicamos o que vem acontecendo com frequência. Deslocamento Longo é a propensão ou característica de alguém que sai do ambiente de onde está e vai para outros lugares ou tempos através do pensamento. A Inversão é uma característica de pessoas que estão voltadas para si mesmas, seus pensamentos, emoções, dores, etc. Juntando estes dois fatores temos uma pessoa que está no supermercado fisicamente, mas provavelmente sua mente está em outro lugar pensando em si mesma. É necessário lembrar que apenas neste exemplo fiz a junção obrigatória destes dois fatores, em cada caso pode ser diferente.

O segundo exemplo ilustra bem uma pessoa que ao fazer compras, pensando nos gastos do mês, no cachorro que ficou solto, no patrão que está bravo, enquanto anda pelo supermercado deixa seu carrinho no meio do corredor trancando os dois lados. Uma pessoa que fez este movimento está longe, dedicando-se às suas coisas, desconectada do local onde está. Em sua cabeça pode estar: “O preço do arroz subiu, no mês que vem vou ter que ver o que posso economizar se não vai faltar dinheiro”. Enquanto isso seu carrinho atrapalha o restante das pessoas em suas compras, quando não ela mesma tranca o restante da passagem que sobrou.

Estar atento ao ambiente pode ser a diferença entre a vida e a morte. Muitos acidentes acontecem porque a pessoa foi via Deslocamento Longo, para outro lugar e ficou desatenta ao trânsito. Outros tantos acidentes acontecem porque alguém resolveu pensar somente em si mesmo, como no caso daqueles que ultrapassam pelo acostamento para adiantar uma viagem onde muitos outros aguardam na fila. Não há movimentos corretos ou incorretos, mas momentos em que eles são mais ou menos necessários. Cada pessoa tem o seu modo de definir quando deve estar em Inversão ou Recíproca, algumas vezes tenho que pensar em mim primeiro, mas em outras não.
Por: Rosemiro A. Sefstrom Do site: http://rosemirosefstrom.blogspot.com.br/


sexta-feira, 30 de maio de 2014

OS MACACOS DA VAIDADE

Tenho os meus preconceitos como qualquer pessoa civilizada. Falo de preconceitos em sentido rasteiro, não em sentido conservador e clássico como o conjunto de tradições que sobreviveram aos "testes do tempo" e por isso mostraram a sua utilidade.


Não gosto de senhoras que usam e abusam do calão (em público, não em privado). Considero o exibicionismo material —carros, joias, roupas de grife etc.— uma forma repugnante e subdesenvolvida de conduta, comparável a cuspir no chão, usar palito ou cutucar cera do ouvido.

E tendo a manter uma distância higiênica de criaturas entre os 12 e os 17 anos, ou seja, membros desse lamentável período que designamos por "adolescência".

Não sei se a velhice vai limar algumas dessas arestas. Por enquanto, os meus instintos preconceituosos são mais fortes do que eu.

Mas existe um preconceito que, filosoficamente falando, sou incapaz de partilhar, sequer entender: o preconceito racial.

A ideia de que a pigmentação da pele tem qualquer relevância moral ou epistemológica é-me tão incompreensível como exibir iguais preconceitos em relação à cor dos olhos ou à forma do cabelo (excetuando, claro, o caso perdido de Donald Trump).

Sim, eu sei: estudiosos diversos afirmam que o racismo existe desde o início dos tempos, quando a sobrevivência das sociedades tribais implicava uma separação rigorosa entre os "nossos" e os "outros".

Essa separação foi agravada com a escravidão e, na era contemporânea, com a psicose de pureza racial que o nazismo elevou a programa de extermínio político.

Seja como for, a incompreensão mantém-se: imaginar que a pigmentação da pele tem importância moral ou epistemológica é um sintoma de primitivismo brutal.

É por isso que aplaudo o atleta Daniel Alves, que, no momento do escanteio, pegou na banana que lhe foi jogada e a comeu com inteligência e naturalidade. O humor ainda é a melhor arma contra o mundo neolítico dos selvagens racistas.

Mas confesso algum desconforto com a febre que o gesto do jogador provocou em todo o mundo, com dezenas de "celebridades" (grotesca categoria) exibindo bananas para as redes sociais e afirmando com orgulho que "todos somos macacos".

Sobre a frase, nada a dizer: todos somos macacos mesmo, embora eu conheça alguns membros da espécie Homo sapiens que estão uns furos abaixo de alguns símios mais evoluídos. Entre a classe política, isso é verdadeiramente uma epidemia. "Todos somos macacos" pode ser ofensivo para certos macacos.

Mas o que perturba na "macaquice viral" que tomou conta da internet é o que existe de vaidade nela: mostrar a banana e assumir a condição simiesca não é apenas um gesto de solidariedade para com Daniel Alves (o jogador não precisa desse paternalismo e lidou com o insulto na perfeição).

O circo que foi montado em seu redor não passou de um pretexto para que os suspeitos do costume —cantores, atores, "famosos" e candidatos a isso— pudessem mostrar ao mundo o tamanho das respectivas tolerâncias.

Alguns conhecidos meus, aliás, também cederam à tentação da vaidade: fizeram "selfies" com a inevitável banana e depois partilharam o feito glorioso nas redes sociais.

Só para escutarem o aplauso geral que os "bons sentimentos" costumam receber quando exibidos em público.

O mais irônico e o mais hipócrita de alguns desses casos é que eu sei perfeitamente quantos deles jamais veriam com naturalidade o casamento das filhas (brancas) com namorados (negros).

Sem falar do número diminuto dos que tratariam candidatos (negros) a um emprego nas respectivas empresas em posição de igualdade com candidatos (brancos). Mostrar a banana é fácil. Difícil mesmo é mudar a cabeça de abóbora.

Derrotar o racismo não passa por autorretratos narcísicos em que mostramos bananas como certos exibicionistas gostam de mostrar as partes íntimas na calçada.

O racismo derrota-se quando deixamos de criticar relações inter-raciais nas costas dos amantes; ou quando tratamos brancos, negros, pardos ou amarelos com o mesmo respeito daltônico. Cotidianamente. E, sobretudo, anonimamente. Sem fazer propaganda.

Os macacos da vaidade poderiam ter aprendido algo com Daniel Alves, recusando a vaidade e simplesmente comendo a banana. 
Por: João Pereira Coutinho Publicado na Folha de SP

quinta-feira, 29 de maio de 2014

LAICOS, GRAÇAS A DEUS

Leio nas notícias que um tribunal do Sudão condenou uma mulher à morte. Mas, na hora da sentença, os juízes confrontaram-se com um pormenor: a referida mulher está grávida de oito meses. O tribunal foi salomônico: a mulher pode dar à luz primeiro e só depois ser enforcada. Justíssimo.


Mas qual foi o crime hediondo de Meriam Yehya Ibrahim? Eis a história, contada pelo "Daily Telegraph": filha de pai muçulmano, Meriam foi criada como cristã pela mãe. E, na idade adulta, casou com um homem da mesma fé.

O tribunal não se comoveu. Para começar, casar com um homem cristão constitui crime de adultério. Meriam, antes da forca, terá direito a cem chibatas pela ousadia.

E, finalmente, quem tem pai muçulmano não pode cometer crime de apostasia, ou seja, de renúncia à fé islâmica. Meriam defendeu-se da acusação, jurando que sempre foi cristã e que não renunciou a fé nenhuma. O tribunal sudanês discorda. A morte é o único corretivo para semelhante traição.

O caso está a horrorizar vários países ocidentais, que exigem ao governo de Cartum respeito pela liberdade de religião, incluindo o direito de mudarmos as nossas crenças mais profundas.

Como é evidente, os países ocidentais estão a exigir uma proeza tipicamente ocidental que o radicalismo islamita não é capaz de entender.

E não é capaz de entender porque, ao contrário do que sucedeu no Ocidente, não houve a grande separação entre o temporal e o espiritual que permitiu a emergência do Estado liberal moderno.

Qualquer aluno de ciência política conhece essa história: depois de lutas fratricidas entre o papa e o imperador, e depois de lutas igualmente sangrentas entre católicos e protestantes na Europa pós-Reforma, os primeiros filósofos liberais entenderam que a melhor maneira de garantir a paz e a ordem implicava remeter as crenças religiosas para a esfera privada.

Como afirmava John Locke, um desses liberais, não é função do governo cuidar da alma dos homens. Porque ninguém tem o direito de invadir a consciência do outro, obrigando-o a acreditar (ou a não acreditar) num credo particular.

Para Locke, o valor da tolerância significava que o Estado deveria tolerar diferentes concepções do bem, desde que tais concepções não tentassem tiranizar o espaço público.

É precisamente essa história que é revisitada em "Inventing the Individual: The Origins of Western Liberalism" (inventando o indivíduo: as origens do liberalismo ocidental), um dos grandes livros de filosofia política que li recentemente.

O autor, Larry Siedentop, dispensa apresentações: com uma carreira emérita no Reino Unido, o professor Siedentop mostra como na origem do liberalismo está uma particular concepção de "indivíduo": um ser dotado de certos direitos inalienáveis, a começar pelo direito de acreditar no credo que entende.

Só que a originalidade de Siedentop está na sua tese aparentemente paradoxal: esse "individualismo" só foi possível por influência do próprio cristianismo.

Quando os liberais clássicos usam certos conceitos nos séculos 17 e 18 —a "dignidade da pessoa humana", a "fundamental igualdade moral de todos os seres" etc.—, esses autores estão a beber diretamente na fonte religiosa medieval.

E sobre a grande separação que permitiu conceder a Deus o que é de Deus e a César o que é de César (um preceito obviamente bíblico), essa separação começou por ser reclamada pela própria igreja, muito antes de Locke escrever os seus ensaios: a Reforma Gregoriana do século 11 foi o exemplo supremo de como o papado procurou estabelecer limites ao poder do imperador em matérias da exclusiva autoridade da igreja.

Quando, séculos depois, John Locke se insurge contra o alegado "direito divino dos reis", o ilustre filósofo está apenas a repetir a velha luta antiabsolutista de Gregório 7º.

O livro de Siedentop não deve apenas ser lido pela sua magistral lição de filosofia política. Ele também relembra, a crentes e a não crentes, que os Estados laicos que hoje existem no Ocidente não seriam possíveis sem a herança de uma tradição religiosa específica.

A infeliz Meriam Yehya Ibrahim, condenada à forca pelo governo sudanês, faz parte dessa tradição. Infelizmente, teve o azar de nascer e crescer na tradição errada. 
Por: João pereira Coutinho Publicado na Folha de SP

segunda-feira, 26 de maio de 2014

DIZER O INDIZÍVEL!

Existem horas para as quais as palavras não servem, momentos em que não há como usar palavras para comunicar o que desejamos falar. Diariamente usamos palavras ditas, escritas ou símbolos que significam coisas e nos fazem entender por onde passamos. Mas nem sempre estes artifícios são suficientes para comunicar o que precisamos dizer. Podemos citar momentos como o vivido pelo ator Adan Sandler na obra “Reine sobre mim”. Nesta obra o personagem perde a família em 11 de setembro e, após alguns meses, encontra um ex-colega da faculdade. Esse ex-colega, a partir deste encontro, tem como objetivo ajudar o amigo que se entregou ao sofrimento de ter perdido a família. No entanto, não é possível sequer falar a respeito do acontecido. Como poderíamos fazer para falar com o personagem de maneira a trabalhar seu sofrimento?

Dizer nem sempre pressupõe palavras, muitas vezes queremos dizer e até mesmo dizermos, explicamos, mas a outra pessoa não ouve. É uma outra situação que pode acontecer, aquela em que dizemos, mas não somos ouvidos. Situações como o fim de um relacionamento em que a mulher comunica ao seu companheiro que a relação terminou. Ela fala e explica a ele que tudo está acabado e que cada um deve seguir o seu caminho, no entanto, ele simplesmente não ouve, continua agindo como se fosse marido. O mais interessante é que mesmo desta maneira ocorre o processo de separação e eles se separam. Mas o homem continua agindo como um homem casado, quando está com ela age como marido, tem ciúmes e espanta qualquer um que chegue perto de sua esposa.

Alguns conteúdos que guardamos há muito tempo, já nem temos mais coragem de comentar, mas nos trazem um profundo sofrimento. São segredos, pecados não confessos, palavras que jamais devem ser ditas, mas que algumas pessoas precisariam falar. Para estas pessoas só a ideia de comentar sobre o assunto já traz um sofrimento tão grande que é impossível suportar. Por isso pensam, remoem, guardam pela vida afora uma mancha que escurece qualquer pontinha de luz que apareça.

Dizer o indizível é dar vazão aos conteúdos existenciais, de uma maneira que possa haver um esvaziamento dos conteúdos ou uma compreensão da parte de quem ouve. Para muitas pessoas o caminho das palavras não é o melhor para trabalhar suas dores e sofrimentos. Como no filme “Reine sobre mim”, onde o personagem sequer fala sobre o assunto, mas retoma incessantemente a rotina de reformar a cozinha. Como o menino que não consegue dizer que ama a menina, mas faz uma seleção musical para ela, pois de outro jeito seria indizível.

O verbo falado é uma forma de comunicação tradicional e em muitos casos inútil. Como para o marido, que depois de uma longa conversa não ouviu que o casamento acabou. A mulher provavelmente não disse de uma maneira que ele pudesse ouvir, como através de uma carta, através de um amigo, através de seus perfumes. Dizer, fazer com que o conteúdo guardado no íntimo ganhe o mundo é uma arte que pode ser desenvolvida e cultivada. Como o caso de Frida Kahlo que diz o indizível sofrimento de não poder ser mãe através de suas pinturas. Algumas pessoas descobrem na arte uma forma muito interessante e forte de deixar sair o sofrimento que não sairia falando, escrevendo. Dizem através de outras formas de verbo o que através dele jamais diriam.
Por: Rosemiro A. Sefstrom Do site: http://rosemirosefstrom.blogspot.com.br/

domingo, 25 de maio de 2014

COMO IDENTIFICAR ALGUÉM ESPECIAL

Nem todas as pessoas que cruzam por nossas vidas são iguais. Algumas vão se tornar muito importantes; outras vão passar e não deixarão nada, nem lembrança. Mas, de vez em quando, surge alguém com uma britadeira na mão, fura um buraco bem fundo em nossa frente, finca uma bandeira e mostra que veio pra ficar.


Traz uma mala grande e pesada cheia de espontaneidade, paz, poesia, humor, amizade, companheirismo, amor e se instala definitivamente em nossas vidas. Essas pessoas são especiais e difíceis de encontrar. Como identificá-las?

Chegam de mansinho, por casualidade, sem aviso, sem cartão de visita, sem intenção ou obrigatoriedade de agradar. Não usam máscaras ou carapuças. Não são perfeitos e não fazem o menor esforço para se tornarem especiais, simplesmente são. Atrasam-se, dormem assistindo filmes, detestam ar condicionado, deixam queimar o risoto de limão siciliano, tem um dedo meio torto, mas são pessoas por quem vale a pena relevar os defeitos.

Tornam nossos dias mais felizes, pois sabem fazer as coisas não do jeito certo, mas do jeito deles, que por coincidência, é bem do jeito que gostamos. Sabem como nos tocar. Emocionam, ensinam, inspiram, discutem, encorajam, acalmam, contam histórias absurdas, dão conselhos sem sentido, fazem mágicas, choram, riem de si mesmos, abraçam apertado, beijam com paixão, preenchem vazios, transformam. Nem sempre fazem tudo isto ao mesmo tempo.

Às vezes colocam uma manta por cima enquanto dormimos no sofá. Podem sussurrar em seu ouvido: ”se sentir tesão, me acorda”. Em dias frios pedem para esfregar seus pés nos nossos. Quando acordamos dizem que nosso sorriso é lindo, que os fazemos sorrir e que não sabem mais viver sem ele. Compram bolo de maça e um bom vinho para as tardes de domingo.

Daí você percebe que esta pessoa conseguiu fazer com você e por você, em uma semana, aquilo que ninguém fez durante sua vida inteira. Tirou você da sua linha e o arremessou para um patamar mais alto, um lugar onde jamais havia imaginado estar. Dá medo, mas é um medo gostoso de ter, um medo seguro, porque você sente que está conectado com esta pessoa, de modo que já não são mais estranhos e estão unidos nesta caminhada, que agora se transformou em vôo livre.

Se você acordar com febre, bater o carro, for despedido, sabe para quem ligar. Tem alguém que vai lhe escutar, amparar, e largará tudo o que está fazendo para lhe abraçar. A sua vida é como se fosse a dela.

Talvez você nem se de conta, mas vai passar a se depilar, arrumar os cabelos, pegar vídeos na locadora e se vestir melhor pensando nela. Dormirá e acordará com vontade dela. Sentirá sua falta, terá pressa em encontrá-la e preguiça em deixá-la. Chamo isto de reciprocidade afetiva, uma troca amorosa onde sentimentos se correspondem e retribuem, como se estivessem refletindo frente a um espelho.

Pessoas especiais são diferentes porque cuidam emocionalmente. Tentam entender e descobrir o que pensamos e sentimos. Enxergam por dentro, e não por fora. Respeitam nossa dor, nosso silêncio, nossas manias e carências. Pela maneira como nos tratam, transformam-nos em importantes, únicos e especiais. Pessoas especiais são aquelas que nos fazem sentir especiais. São difíceis de encontrar, mas sempre acabam por nos achar. 
Por: Ildo Meyer Do site: http://www.ildomeyer.com.br/


sábado, 24 de maio de 2014

ARAPUCA

Numa conversa com um amigo fiquei sabendo de um artigo escrito por Eliane Brum que tem por título “Meu filho... você não merece nada!!!” É um texto interessante e realmente recomendo a leitura. No texto a autora começa por mostrar como os pais criaram armadilhas nas quais eles mesmos estão ficando presos. São uma geração de pais ( nem todos) que criam os filhos com tudo o que eles não tiveram, inclusive a falta de educação, juízo de valor, senso de coletividade, vontade de vencer. Enfim, como diz a Elaine Brum, “nossa época tem sido marcada pela ilusão de que a felicidade é uma espécie de direito”. Essa ilusão de que a felicidade é uma espécie de direito faz com que, cada vez mais, os pais se tornem refém da felicidade dos filhos.


É provável que você já tenha ouvido a expressão: “Vou dar ao meu filho o que o meu pai não pode me dar”. Essa expressão não é de todo ruim, em muitos casos o pai não dava carinho, atenção, amor, educação, orientação, mas em geral essa afirmação está relacionada apenas com bens materiais. São pais que atingiram uma posição social cômoda e que têm para dar aos filhos “o que os pais não tinham para dar” desconsiderando que muitos filhos, que eles mesmos criam, são como poços sem fundo: quanto mais os pais derem, mais terão que dar. No dia em que o pai não tem mais como oferecer aquele manancial de coisas à criança, jovem e muitos adultos, os filhos voltam-se contra os pais porque eles têm o direito de ter o que querem. O pai e a mãe podem estranhar, mas foi exatamente o que eles ensinaram aos filhos a vida toda: que eles iriam ter tudo. A armadilha que muitos pais estão se metendo é fruto de uma visão míope, onde ter conforto pode significar viver melhor.

Muitos destes pais, no entanto, esqueceram até rápido demais que quando pequenos a falta do que comer lhes fez buscar. Muitos não lembram que a ausência dos bens não significou a ausência do pai, da orientação, da educação. Muitos pais de hoje em dia fazem o contrário: dão uma imensidão de coisas os filhos e se eximem de serem pais. O que espanta em muitos casos é a falta de uma visão sobre si mesmos como pais, de modo que se veem nas escolas mãe que dizem: “já não dou mais conta do meu filho”. Aí ficam os professores reféns de pais que não dão limites aos filhos, mas dão tênis caro, roupa cara, passeios caros.

Estes pais se tornam reféns do assalto dos filhos dentro do supermercado, onde gritam, esperneiam até que ganham o que querem. Tornam-se reféns da educação que deram aos filhos, pois não conseguem perceber que a arapuca na qual estão presos foi construída com muito zelo por eles mesmos. Em Filosofia Clínica essa prisão, amarra, chama-se Armadilha Conceitual, ou seja, um conceito que prende alguém. A Armadilha Conceitual do qual muitos pais se tornaram reféns foi o conceito de filho, crianças que perderam noções básicas ou tem visões distorcidas a respeito de si próprios e do mundo onde vivem.

Estar preso ao filho que criou pode ser falta de conhecimento, vontade, sabedoria, ajuda, enfim, pode ser muitas cosias. Mas, continuar prisioneiro de alguém que no futuro vai muito provavelmente acusar a você pelos prováveis insucessos é uma escolha. Existem pessoas, livros, vídeos, programas de televisão que sugerem formas de educação nas quais o filho não é uma arapuca, uma prisão, mas uma pessoa com quem se vai curtir a vida. Ter um filho companheiro, não credor, ter um filho amigo, não aliado político, ter um filho carinhoso, não interesseiro, é possível, mas é preciso que os pais saibam educar. Pense nisso: talvez muito do que você não teve fez de você quem você é.
Por: Rosemiro A. Sefstrom Do site: http://rosemirosefstrom.blogspot.com.br/


sexta-feira, 23 de maio de 2014

DORES EXISTENCIAIS

Vivemos numa época em que as dores são consideradas como ruins, uma dor é algo a ser debelado. Antigamente quando uma criança cortava o dedo, era tratada com Merthiolate e Mercúrio Cromo. Um dos desafios às mães era convencer a criança a se deixar medicar, pois eram medicamentos que causavam dor. Geralmente a mãe dizia: “Fica quieto, se dói, cura”. Atualmente o medicamento já não causa mais dor, a fórmula foi alterada de maneira que a aplicação seja indolor. Quando não se tinha Merthiolate utilizava-se álcool ou até mesmo a velha e boa cachaça com arnica. Aqueles que passaram por estes tratamentos devem lembrar que era bastante doloroso a aplicação destes medicamentos sobre a ferida. Era também uma época em que a criança tinha desde cedo uma participação forte na família, em muitos casos com tarefas como alimentar os animais, varrer o pátio, capinar a horta. As dificuldades da família eram partilhadas, não se “tapava o sol com a peneira” para que a criança não sofresse.


Esta postura menos polida, dito por alguns, mas realista, era a maneira que as famílias antigas tinham para preparar suas crianças para a vida. Eram crianças, hoje adultos, que desde cedo percebiam que na vida passar por algumas dores era algo absolutamente normal e natural. Sabiam que depois de um dia capinando as mãos teriam bolhas e estas provocariam dores; com o tempo e o trabalho a pele da mão engrossava e já não fazia mais calo. Não se pode dizer que era algo agradável, bom, desejável, mas era algo pelo qual era necessário passar. Colaborar com a família passava pela dor do trabalho físico.

Existencialmente as coisas não são muito diferentes: existem dores que precisam ser vividas para que nos façam mais fortes. Imagine uma mocinha que arruma um namorado. Pelos acasos da vida seu relacionamento não funciona e ela sofre. Sua mãe, por temer o pior recomenda um remedinho para aliviar essa dor ou leva a filha às compras para esquecer. O que esta mãe está fazendo? Muito provavelmente está evitando que a filha crie resistência, que aprenda com o que aconteceu, que vivencie de maneira produtiva aquela dor existencial. Sofrer por sofrer não é recomendável, mas eliminar todo o sofrimento também não é produtivo.

Em alguns casos uma depressão pode ser o melhor remédio que uma pessoa encontrará para muitos dos males. Em um de meus atendimentos ouvi o seguinte: “Eu estava em depressão, estava triste, não queria conversar e as pessoas diziam que eu não tinha motivo para estar assim. Eu sabia, mas quanto mais elas me diziam, mais depressiva eu ficava. Eu estava vivendo minha depressão, era um momento que eu precisava viver. Depois que vivi segui em frente”. É interessante perceber que viver uma dor existencial não significa ser masoquista, mas viver a consequência de uma série de fatores que podem ser ruins agora, mas serão muito bons no futuro. Na primeira vez em que se vai à academia ao fazer exercícios os músculos doem, e é sinal de que os exercícios estão fazendo efeito.

Uma pessoa que usa dispositivos para anestesiar uma dor pode pouco a pouco aumentar a dose para uma dor que é, aparentemente, cada vez maior. Algumas pessoas ao anestesiar suas dores também anestesiam seus prazeres. Correm o risco de chegar num tempo em que não sabem mais o que é dor ou prazer, ou seja, ficam anestesiadas para a vida.
Por: Rosemiro A. Sefstrom Do site: http://rosemirosefstrom.blogspot.com.br/

quarta-feira, 21 de maio de 2014

EGOÍSTA

Se alguém lhe perguntasse se você é uma pessoa egoísta, qual seria sua resposta? Sim? Não? Depende? Depende do que? O egoísmo em nossa sociedade é visto como um defeito, uma marca que algumas pessoas têm. Não é bonito ser visto como egoísta, mas será que realmente sabemos o que é ser egoísta? Consultando a internet achei um conceito bem interessante, lá diz que o egoísta é uma pessoa que tem o hábito ou atitude de colocar-se sempre em primeiro lugar. O detalhe é que a definição diz que estas pessoas se colocam em detrimento dos outros, ou seja, não interessa o outro, mas apenas eu. E, para finalizar, a definição diz que o egoísmo é o contrário do altruísmo.


Se pensarmos nesta palavra partindo de sua definição talvez possamos ter um entendimento diferente. A palavra egoísmo vem de duas palavras latinas “ego”, que quer dizer eu e “ismo”, que quer dizer prática de. Então, segundo essa definição a palavra egoísmo pode ser traduzida como a prática do eu. Assim, quando estou a pensar em mim estou a praticar eu, ou seja, exercitar meu eu. Mas cada um de nós tem uma quantidade imensa de conteúdos que podem ser exercitados dentro de si.

Quando você sai pela manhã e vai caminhar, enquanto exercita o seu corpo, os benefícios que deseja para sua saúde podem ser considerados egoísmo? Quando você levanta cedo e só vai dormir tarde porque trabalha muito e quer ganhar bem, isso é egoísmo? Quando você se veste bem, cuida da aparência, lê bons livros e procura conhecer uma mulher bonita, inteligente que lhe faça feliz, isso é egoísmo? Quando entra num supermercado, compra bons produtos, procura o melhor para si, isso é egoísmo? Eu sei, alguns já estão de olho na palavra detrimento, dizendo que o egoísmo é pensar em mim em detrimento do outro.

Há um santo que dizia em seu tempo: “Tudo que eu tenho a mais do que eu preciso, não é meu”. É inevitável que enquanto eu ganhe bem, alguém ganhe mal, enquanto eu coma bem, alguém esteja comendo mal. Não há como evitar a desigualdade, uns com mais e outros com menos. O egoísmo é ou pode ser entendido como uma forma de se colocar como prioridade, coisa que muitas pessoas o fazem. E quem coloca o outro como prioridade, porque este não é errado? Por que isso não é feio?

No egoísmo ou exercício do eu, há uma parte da qual não se comenta. Pensem em pessoas que são muito boas, querem para si o melhor, mas estas pessoas acreditam que sua família faz parte delas. Nestes casos tudo o que elas conquistarem, provavelmente também será de sua família. É o caso do pai de família que é extremamente egoísta na empresa, porque ele é quatro. Quando ele pensa nele mesmo está pensando na esposa e mais dois filhos, o exercício do eu dele alimenta quatro pessoas.

Quando alguém exercita o seu egoísmo, devemos observar melhor o que essa pessoa anda exercitando e ainda, quem é ela. O eu de algumas pessoas são os seus amigos, o eu pode ser sua família, o eu pode ser a sua empresa. Então, quando pensarmos em egoísmo, seria interessante pensar antes em quem sou eu e o que eu estou exercitando. Meu egoísmo pode alimentar muita gente.
Por: Rosemiro A. Sefstrom Do site: http://rosemirosefstrom.blogspot.com.br/




terça-feira, 20 de maio de 2014

A RAZÃO DECIDE!

Em vários artigos abordei sobre a historicidade enquanto material de que é feita a clínica filosófica, em outros, discorri sobre o exame das categorias. Poucas vezes, no entanto, falei sobre submodos. Em Filosofia Clínica, a historicidade é o trabalho de coleta dos dados de vida da pessoa. Com estes dados o filósofo clínico montará o que chamamos de Estrutura de Pensamento (EP), ou seja, verificará como o conteúdo existencial se combina na pessoa formando sua malha intelectiva. A EP é o que a pessoa tem como conteúdo, aquilo que ela acumulou ao longo da vida a partir de tudo o que viveu. Mas, além da EP, ao longo da historicidade o terapeuta também observa algo chamado de submodo. Este pode ser descrito como o jeito de ser da pessoa, a maneira como a pessoa coloca em movimento os conteúdos da EP. O submodo é identificado na historicidade da pessoa e alerta ao filósofo o que e como ela faz para lidar com seus conteúdos existenciais.


Algumas vezes a pessoa usa seus submodos de forma produtiva e vive bem, mas outras vezes usa de forma incorreta e isto lhe provoca muito sofrimento. Quando o filósofo clínico coleta estes dados, observa ainda a que conteúdos da EP estes submodos estão conectados, isto é, o que fará com que o trabalho possa realmente acontecer. Quando o terapeuta se apropriou do conhecimento de como a pessoa coloca seu conteúdo em movimento e usa com ela já é chamado de procedimento clínico. Agora é o jeito da pessoa usado de forma didática com ela mesma, retirando-se dela o que precisa e devolvendo-se de maneira terapêutica.

Um submodo interessante é o esquema resolutivo, que algumas pessoas usam muito bem e outras sequer sabem o que é. Este submodo é o colocar as coisas na balança, o famoso pensar os pontos negativos e positivos de algo antes de decidir. Em empresas este é um procedimento de ponta, faz parte da maior parte das decisões visto que faz o administrador pensar os prós e os contra de sua decisão. Só que o esquema resolutivo só terá validade se realmente for pensado em termos de pontos positivos e negativos, sem a interferência de nenhum outro conteúdo.

Alguns maridos, com desejo de comprar um carro, sentam-se em casa com a esposa, debatendo com ela debatem sobre as vantagens e desvantagens da compra. Mas, qual será a decisão ao final? Se o esquema resolutivo for realizado corretamente, vencerá o lado que propor as prioridades do casal. No entanto, alguns esquemas começam muito bem, mas quando o casal percebe que o momento não é para se comprar o carro pára e decide pela emoção ou pela busca. Este submodo não é exatamente uma poesia, mas ajuda muito na tomada de decisões se a questão for puramente prática.

Assim como as ferramentas de um marceneiro, mecânico ou qualquer outro profissional, os submodos também podem ser mais ou menos adequados. O esquema resolutivo é um submodo de cunho mais mecânico, tendendo para decisões que levem em conta apenas aspectos ou proposições racionais. Mas algumas pessoas o usam para questões emocionais, tentando fazer a conta de quantas coisas boas tem mais do que ruins em um relacionamento. Se a pessoa for estritamente racional e o relacionamento for avaliado deste ponto de vista, a conclusão será uma, mas se houver amor e não houver objetividade a pessoa pode estar enganando a si própria. Apenas como um exemplo, pode-se citar o caso daquela menina que tem um namorado grosseiro, distante, mal educado, vadio. Se ela fizer um esquema resolutivo e colocar tudo isso na balança ela terminará o relacionamento. Porém, isso não acontece pois ela ama o rapaz.

O problema é que alguns desenvolveram na vida uma só ferramenta existencial e fazem praticamente tudo pelo mesmo caminho. Usam os mesmos submodos para situações muito diferentes e isso lhes traz grandes dificuldades e sofrimentos. Como diz o ditado: “Quando só se tem martelo, muita coisa começa a parecer prego”.
Por: Rosemiro A. Sefstrom Do site: http://rosemirosefstrom.blogspot.com.br/

segunda-feira, 19 de maio de 2014

O ESPIRITISMO É CRISTÃO?

Nesta aula sobre o espiritismo, vamos apresentar a doutrina espírita, com as palavras dos próprios adeptos dessa religião, a fim de mostrar que ela é absolutamente incompatível com a doutrina católica e com o Cristianismo tradicional.

Para tal intento, será utilizado um trecho da obra "Doutrina Espírita para Principiantes"[1], mais especificamente o segundo capítulo, que faz um resumo sistemático da doutrina espírita. Já que vários aspectos de seu surgimento - como a filiação de Allan Kardec à maçonaria e a ligação dos primeiros codificadores espíritas à teosofia – foram propositalmente omitidos da obra e levaria muito tempo trazer à luz textos biográficos e outros documentos históricos, o primeiro capítulo, que aborda a história do espiritismo, será colocado à parte nesta aula.

Em um parágrafo do segundo capítulo, sobre "O Consolador Prometido" (referência clara ao Paráclito prometido por Jesus aos seus apóstolos [2]), é possível ler:

O Consolador prometido por Jesus, também designado pelo apóstolo João como o «Santo Espírito», seria enviado à Terra com a missão de consolar e lidar com a verdade. Sob o nome de Consolador e de Espírito de Verdade, Jesus anunciou a vinda daquele que havia de ensinar todas as coisas e de lembrar o que ele dissera. A relação entre o Espiritismo e o Consolador está no fato de a Doutrina Espírita conter todas as condições do Consolador que Jesus prometeu; ou seja, o Espiritismo vem abrir os olhos e os ouvidos, pois fala sem figuras, sem alegorias, levantando o véu intencionalmente lançado sobre certos mistérios; vem, finalmente, trazer a consolação suprema aos deserdados da Terra e a todos os que sofrem. Jesus sabia que seria inoportuna uma revelação mais ampla, já que o homem da sua época não estava amadurecido e além disso previa que a sua mensagem seria distorcida com o correr do tempo; e por isso prometeu um Consolador.

Então, o espiritismo autoproclama-se "o Consolador prometido por Jesus". Para nós, católicos, Jesus, ao falar desse Consolador, faz referência à terceira pessoa da Santíssima Trindade. Os espíritas, porém, copiam alguns hereges antigos que também se intitulavam "o Consolador" – esse foi um artifício dos montanistas e dos milenaristas, notadamente do abade Joaquim de Fiore –, dividindo a história em três partes: o Antigo Testamento, a revelação mosaica; o Novo Testamento, a revelação cristã; e, então, o Consolador, que seria a religião inventada por eles. É precisamente nisto que consiste o cerne da chamada "revelação espírita", como se pode ler, ainda na obra de Rivas:

Definamos primeiro o sentido da palavra revelação. Revelar, do latim revelare, cuja raiz, velum véu, significa literalmente descobrir de sob o véu e, figuradamente, descobrir, dar a conhecer uma coisa. A característica essencial de qualquer revelação tem que ser a verdade. Revelar um segredo é dar a conhecer um fato; se este é falso já não é um fato e por consequência não existe revelação. O Espiritismo, partindo das próprias palavras do Cristo, como este partiu das de Moisés, é consequência direta da sua doutrina. A ideia vaga da vida futura, acrescenta a revelação da existência do mundo invisível que nos rodeia, povoa o espaço e levanta o véu que ocultava aos homens os mistérios do nascimento e da morte. A primeira revelação teve a sua personificação em Moisés, a segunda no Cristo, a terceira não a tem em indivíduo algum. As duas primeiras foram individuais, a terceira coletiva; aí está um caráter essencial de grande importância. Ninguém, por consequência, pode inculcar-se como seu profeta exclusivo; foi espalhada simultaneamente, por sobre a Terra, a milhões de pessoas, de todas as idades e condições, a fim de servir um dia a todos, de ponto de ligação. Chegou numa época de emancipação e maturidade intelectual, na qual o homem não aceita nada às cegas. A revelação espírita é progressiva. O Espiritismo não têm dito a última palavra, mas tem aberto um campo amplo para o estudo e a observação. Pela sua natureza possui duplo caráter, é ao mesmo tempo divina e humana. Divina porque provém da iniciativa dos Espíritos e humana porque é fruto do trabalho do homem. Os ensinamentos dos Espíritos, por toda parte, nos mostram a unidade da lei. Em virtude dessa unidade, reinam na obra eterna a ordem e a harmonia.

Fica nas entrelinhas a ideia de que a revelação de Jesus foi um estágio imperfeito. Para Allan Kardec, Ele "falou de tudo, mas em termos mais ou menos claros, de maneira que, para entender o sentido oculto de certas palavras, era preciso que novas ideias e novos conhecimentos viessem dar-nos a chave". Essa "chave" seria o espiritismo: Jesus falou por meio de parábolas, de modo simbólico; agora, que já foi dado o "tempo à ciência para progredir"[3], os espíritas são quem têm a palavra. Essa pretensão cientificista dos espíritas traz à tona o caráter "naturalista" de sua religião. A ciência é, sem dúvida, um instrumento importante, mas deve atuar em seu âmbito próprio, que é a análise dos fenômenos da natureza. A revelação divina, ao contrário, não deve ser medida com instrumentos empíricos, que são insuficientes.

Mas, deixando de lado também o exame científico da questão espírita, é absolutamente inaceitável para um cristão dizer que o ensinamento de nosso Senhor Jesus Cristo pode ser "corrigido" ou "aperfeiçoado". O Catecismo da Igreja Católica diz, com toda a clareza, que "o Filho é a Palavra definitiva do Pai, de sorte que depois dele não haverá outra Revelação"[4]; e ainda: "A fé cristã não pode aceitar 'revelações' que pretendam ultrapassar ou corrigir a Revelação da qual Cristo é a perfeição. Este é o caso de certas religiões não-cristãs e também de certas seitas recentes que se fundamentam em tais 'revelações'"[5].

O livro "Doutrina Espírita para Principiantes" traz também as cinco obras fundamentais do espiritismo kardecista, todas elas escritas por Allan Kardec, pseudônimo utilizado pelo francês Hippolyte Léon Denizard Rivail (1804 – 1869), considerado o "codificador" da doutrina espírita:

1) O Livro dos Espíritos (1857):

Contém os princípios da Doutrina Espírita. Trata sobre a imortalidade da alma, a natureza dos Espíritos e suas relações com os homens, as leis morais, a vida presente, a vida futura e o porvir da humanidade – segundo os ensinos dados por Espíritos superiores com o concurso de diversos médiuns – recebidos e coordenados por Allan Kardec. Divide-se em quatro tópicos: «As causas primárias»; «Mundo espírita ou dos Espíritos»; «As leis morais»; e «Esperanças e consolações».

Enquanto os cristãos lançam um olhar de reverência para Jesus e para as Sagradas Escrituras, nas obras de Kardec, os espíritos estão a todo o momento corrigindo a Bíblia – a base de "O Livro dos Espíritos" são "os ensinos dados por Espíritos superiores com o concurso de diversos médiuns" –, fazendo uma "adaptação" completamente pervertida de seu conteúdo.

2) O Livro dos Médiuns (1861):

Orienta a conduta prática das pessoas que exercem a função de intermediar o mundo espiritual com o material. Mostra aos médiuns os inconvenientes da mediunidade, suas virtudes e os perigos provindos de uma faculdade descontrolada. Ensina a forma de se obter contatos proveitosos e edificantes junto à Espiritualidade. A obra demonstra ainda as consequências morais e filosóficas decorrentes das relações entre o invisível e o visível. É o maior tratado de paranormalidade já escrito.

Médium, para a doutrina espírita, é uma pessoa que tem a capacidade de estabelecer comunicações entre os dois mundos: o dos "espíritos encarnados" e o dos "espíritos desencarnados". "O Livro dos Médiuns" seria, na linguagem de Rivas, "o maior tratado de paranormalidade já escrito". Trata-se de uma confusão constante no vocabulário espírita: eles frequentemente reputam como normais acontecimentos que são, na verdade, extraordinários. A alma de um falecido comunicar-se com os vivos, por exemplo, é algo absolutamente fora do comum, enquanto, para eles, seria algo ordinário e natural.

3) O Evangelho segundo o Espiritismo (1864):

Trata-se da parte moral e religiosa da Doutrina Espírita. Ensina a teoria e a prática do Cristianismo, através de comentários sobre as principais passagens da vida de Jesus, feitos por Allan Kardec e pelos Espíritos superiores. Mostra que as parábolas existentes no Evangelho, que aos olhos humanos parecem fantasias, na verdade exprimem o mais profundo código de conduta moral de que se tem notícia.

"O Evangelho segundo o Espiritismo" ensinaria, nas palavras de Rivas, "a teoria e a prática do Cristianismo". Ou seja, Allan Kardec diz-se o legítimo intérprete do Evangelho, tendo recebido a chave de interpretação dos espíritos. Essa ideia é de uma pretensão indubitavelmente inaceitável para os cristãos.

4) O Céu e o Inferno (1865):

Neste livro, através da evocação dos Espíritos, Allan Kardec apresenta a verdadeira face do desejado «céu», do temido «inferno», como também do chamado «purgatório». Põe fim às penas eternas, demonstrando que tudo no Universo evolui e que as teorias sobre o sofrimento no fogo do inferno nada mais são do que uma ilusão. Comunicações de Espíritos desencarnados, de cultura e hábitos diversos, são analisadas e comentadas pelo Codificador, mostrando a situação de felicidade, de arrependimento ou sofrimento dos que habitam o mundo espiritual.

Nesse livro, Allan Kardec distorce totalmente a doutrina cristã sobre a escatologia. Ao pôr "fim às penas eternas", ele praticamente nega a existência do inferno, corroborada tantas vezes por Cristo nas Escrituras[6].

5) A Gênese (1868):

Este livro é um estudo a respeito de como foi criado o mundo, como apareceram as criaturas e como é o Universo em suas faces material e espiritual. É a parte científica da Doutrina Espírita. Explica a Criação, colocando Ciência e Religião face a face. A Gênesis bíblica é estudada e vista como uma realidade científica, disfarçada por alegorias e lendas. Os seis dias narrados nas Escrituras Sagradas são mostrados como o tempo que o Criador teria gasto com a formação do Universo e da Terra; eras geológicas, que seguem a ordem cronológica comprovada pela Ciência em suas pesquisas. Os «milagres», realizados por Jesus, são explicados como sendo produto da modificação dos elementos da natureza, sob a ação de sua poderosa mediunidade.

"A Gênese", na verdade, não passa de uma das maiores farsas do espiritismo. Camille Flammarion, que ajudou Kardec a escrever essa obra, ao falar sobre o cosmos, comete equívocos clamorosos, errando números de satélites e vários princípios básicos de astronomia – algo inaceitável para espíritos supostamente tão sábios. Perguntado sobre os erros contidos no livro, Flammarion afirmou que se tratava do conhecimento que eles tinham na época, ou seja, deixou claro que aquelas informações não vieram do "mundo dos espíritos", mas tão somente de suas cabeças. Até hoje, no entanto, Flammarion é venerado e não há nenhum pedido de desculpas e nenhuma retratação desse fato – um exemplo flagrante de desonestidade intelectual.

Ainda na "Doutrina Espírita para Principiantes", são elencados os "Princípios Fundamentais" dos ensinamentos dos Espíritos", a saber:

1) A Existência de Deus: Inteligência Suprema, causa primeira de todas as coisas.

Os termos empregados são cuidadosos: procuram mascarar a doutrina espírita para dar-lhe um ar cristão. No entanto, a visão espírita de Deus é deísta. Kardec, ao definir a divindade, ao invés de perguntar "quem é Deus", usa a expressão "o que é Deus" [7], como que a indicar: Deus é a "Inteligência Suprema", mas não é necessariamente um ser pessoal, alguém com quem o homem pode verdadeiramente se relacionar. Isso não se coaduna com a religião cristã, na qual Deus é um só, em três pessoas realmente distintas.

2) A Imortalidade da Alma: Somos em essência Espíritos, seres inteligentes da criação. O espírito é o princípio inteligente do Universo.

Nós, católicos, estamos de acordo com o princípio da imortalidade da alma, mas não da forma como é exposto acima. Não "somos em essência Espíritos": "a pessoa humana, criada à imagem de Deus, é um ser ao mesmo tempo corporal e espiritual" [8]; "o espírito e a matéria no homem não são duas naturezas unidas, mas a união deles forma uma única natureza" [9]. A grande dificuldade antropológica do espiritismo está justamente neste dualismo: o homem seria só a sua alma e o seu corpo, uma prisão. A Igreja já condenou há muito tempo a metempsicose e a apocatástase, de Orígenes, que são doutrinas defendidas sob outros nomes pelos espíritas. Elas podem ser aceitas pelo orfismo e pelo platonismo, mas não pela religião cristã.

3) A Reencarnação: Criado simples e ignorante, o Espírito decide e cria seu próprio destino usando o livre arbítrio. Seu progresso é consequência das experiências adquiridas em diversas existências, evoluindo constantemente, tanto em inteligência como em moralidade.

4) A Pluralidade dos Mundos Habitados: Os diferentes orbes do Universo constituem as diversas moradas dos Espíritos.

Segundo o espiritismo, aquilo que de mal as pessoas cometem deve ser pago em outras existências. No Cristianismo, ao contrário, o Verbo se fez homem e o Seu sofrimento tem um poder redentor para a humanidade. Por isso, não é necessário que o ser humano pague mais nada, ele já foi remido pela Cruz de Cristo. Nesse sentido, a reencarnação torna vã toda a obra da salvação. Com essa pretensão de enquadrar o mistério do sofrimento em uma lógica matemática, o espiritismo abole o perdão e acaba se tornando uma doutrina terrificante, ao invés de consoladora.

Além disso, olhando filosoficamente a questão, a doutrina espírita não passa de uma "torre de Babel": o espírito "cria seu próprio destino" por meio de um "progresso" e evolução constantes. Só que o abismo entre Criador e criatura não pode ser rompido senão pelo andar de cima: ou Deus vem salvar e redimir o homem ou ele está irremediavelmente perdido.

De fato, os espíritas só aderem à "torre de Babel" porque não creem que Jesus Cristo seja Deus – e essa é a razão principal pela qual o espiritismo não pode ser chamado de cristão. Na doutrina espírita, Cristo tem um papel irrisório: é um "guia" evoluído tão somente para este planeta (já que existiriam outros habitados por espíritos).

5) A Comunicabilidade dos Espíritos: Os Espíritos são os seres humanos desencarnados. Através dos médiuns podem comunicar-se com o mundo material.

Conforme a doutrina católica, quando as pessoas morrem, as almas são separadas (não "desencarnadas") dos seus corpos. Esta alma separada – agora, no Céu, no Inferno ou no Purgatório – pode comunicar-se com os vivos? De forma ordinária, não. Ou seja, os espíritos dos mortos não se comunicam conosco, habitualmente. Mas é possível, sob a forma de milagre, que Deus permita esse tipo de comunicação, tanto das almas que estão no Céu – como acontece nas aparições de Nossa Senhora – e no Purgatório – para ensinar a importância de rezar pela Igreja padecente –, quanto das que estão no Inferno – para excitar no homem o temor de Deus. O contato ordinário com os espíritos, na doutrina católica, não acontece com as almas dos falecidos, mas com outras criaturas: os anjos.

Então, à "comunicabilidade dos espíritos" a Igreja responde: é possível que aconteça, mas não ordinariamente. Por outro lado, é absolutamente proibida pela Revelação a evocação dos mortos [10]. Recorrer a essa prática de desobediência significa expor-se a grandes perigos espirituais.

Por fim, o livro de Rivas também cita como fundamento da doutrina espírita:

A Moral Espírita: Baseada no Evangelho de Jesus, é a máxima moral para a vida.

Trata-se do único item pelo qual os espíritas poderiam ser remotamente chamados de cristãos. Diz-se "remotamente" porque, ao mesmo tempo em que eles seguem algumas orientações morais do Evangelho, rejeitam outras, como o divórcio ou o "casamento" homossexual. Então, é só em um sentido muito estrito que se pode chamar o espiritismo de cristão.
Por: Padre Paulo Ricardo

Referências

  1. Luis Hu Rivas (org.), Doutrina Espírita para Principiantes: introdução ao estudo da doutrina que ilumina consciências e consola corações, Conselho Espírita Internacional, Brasília, 2009, 160p.
  2. Cf. Jo 16, 5s
  3. O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. 1, n. 4
  4. Catecismo da Igreja Católica, n. 73
  5. Ibidem, n. 67
  6. Cf. Mt 5, 22.29; 13, 42.50; 25, 41; Mc 9, 43-48
  7. O Livro dos Espíritos, livro I, cap. 1, I
  8. Catecismo da Igreja Católica, n. 362
  9. Ibidem, n. 365
  10. Cf. Lv 20, 27; Dt 18, 10ss; 2 Rs 21, 6; 23, 24; 1 Cr 10, 13; Is 8, 19

quinta-feira, 15 de maio de 2014

BALANÇA EXISTENCIAL

Hoje pela manhã, conversava com uma moça que dizia ser apaixonada pelo namorado, que ele era tudo o que desejaria num homem; que era um rapaz gentil, educado, atencioso, um namorado que faz uma mulher se sentir realmente amada. Mas, depois de muito elogiar seu amor, ela afirmou não poder mais ficar com ele, porque ele é um mau caráter. No momento não entendi, esperei um pouco mais para compreender o que a moça estava tentando me dizer. Fiquei ouvindo um pouco mais e nada da explicação, ela abriu a vida do rapaz do avesso falando as piores coisas do mundo. Disse que ele era um mentiroso, caloteiro, mulherengo, um homem que mulher nenhuma no mundo iria querer ficar perto. Ainda sem entender nada é feita a pergunta que alguns já devem ter pensado: “Este é o mesmo homem do começo da conversa?” A resposta foi afirmativa, ela falara o tempo todo da mesma pessoa, mas de duas formas totalmente diferentes.


Para entender um pouco o que acontece com esta moça e muitas outras pessoas, pode-se pensar da seguinte maneira: em Filosofia Clínica aprende-se que os conteúdos internos estão conectados uns aos outros das mais variadas formas, mas nem sempre a relação é amistosa. Esses conteúdos internos se encontram todos misturados, não há como separar uma coisa da outra, apenas didaticamente pode ser feito. No caso em questão, o conteúdo das emoções não conversa com o conteúdo da razão. Para entender como funciona na prática é necessário estudar o que é cada conteúdo e está estruturado na pessoa.

O conteúdo das emoções é qualquer estado afetivo como: amor, ódio, prazer, dor alegria, etc. Este material estará presente em cada pessoa de acordo com as suas vivências. Para alguns, a riqueza de experiências afetivas faz delas pessoas muito maduras, ou seja, com bagagem existencial no que diz respeito às emoções. Pessoas que tem este tópico forte são conhecidas por serem emotivas, verem a vida a partir do amor, ódio, alegria e assim por diante. Outras pessoas sofrem o fato de não ter passado por vivências afetivas enriquecedoras. No caso desta moça, ela era uma menina nova e com pouca vivência afetiva, entrando em contato com um homem mais velho, muito vivido emocionalmente. O caso aqui não é a idade sensorial, do corpo, mas a idade emocional da menina e do rapaz com quem namora.
A razão é uma velha conhecida, tida por alguns como a salvaguarda da alma humana, ou seja, sem a qual o homem não é homem. Neste tópico estão localizados os conteúdos que são considerados válidos segundo regras lógicas estabelecidas. Não há, necessariamente, um certo e um errado na vida, mas na lógica há um termo válido e outro que não é válido. Algumas pessoas vivem a vida daqui, com uma análise fria do ponto de vista lógico e só então seguem seus caminhos. Como um empresário que gosta de seu funcionário, mas por meio do aparato lógico percebe que não há mais como manter a empresa com o custo atual e demite. A personagem do texto é vivida no que diz respeito à razão, ela consegue ver tranquilamente o que é ou não válido. Enquanto seu namorado é um homem pouco vivido na razão, não tem destreza no que diz respeito ao raciocínio.

Considerando que, no caso descrito no início do texto, a moça é muito mais crescida racionalmente do que emocionalmente, será que ela deixa o namorado? Neste caso ela continua com ele e continuará até que seu amor por ele acabe ou encontre um conteúdo com mais força do que este para afastá-lo deste homem. É importante entender que isso é assim e será possível compreender porque muitas pessoas vividas se deixam “enganar” por pessoas tão mais jovens. Não é a idade e a experiência que determinam as direções que a pessoa tomará na vida, mas a força que o conteúdo interno tem se levado em conta com toda a Estrutura de Pensamento.
Por: Rosemiro A. Sefstrom Do site: http://rosemirosefstrom.blogspot.com.br/


quarta-feira, 14 de maio de 2014

FALA POR MIM!

Há uma passagem da Bíblia que é mais ou menos assim: “Dize-me com quem andas e te direi quem és”. Essa frase trata de considerar as companhias que tenho como um testemunho de quem sou. Sendo assim, se ando com pessoas religiosas, logo, sou religioso, se ando com pessoas bonitas, logo, sou bonito. O primeiro exemplo fica fácil de aceitar, mas o segundo nem tanto. Isso acontece por haver uma série de problemas quando tentamos definir uma pessoa. Na realidade, não seria necessário definir uma pessoa, mas geralmente conhecer passa pela definição, não se tem como conhecer algo que seja indefinido. Ao menos é o que temos experimentado depois do advento da ciência.


Na atualidade, existem tantas formas diferentes de se montar um “perfil” de uma pessoa, ou uma definição, que fica difícil saber o que exatamente diz algo sobre ela. Há algumas semanas, trocando de canais na televisão, vi uma reportagem na qual uma pessoa definia a personalidade através da roupa. Para este profissional, as roupas diziam tudo da pessoa, segundo ela, era possível traçar um perfil completo apenas pela roupa. Interessei-me pelo assunto e fui para a internet para ver quantas seriam as maneiras de se criar um perfil de uma pessoa. O susto foi grande, pois, segundo a rede, existem centenas de maneiras de se dizer quem é a pessoa, como ela é, sem que ela se quer fale.

Entre os métodos que encontrei há um que funciona através da escrita. A pessoa que apresentava esta técnica dizia que, segundo os traços de cada letra, seria possível descrever a personalidade do indivíduo. Havia uma outra, essa sim é boa: a pessoa conseguia dizer tudo sobre a pessoa analisando a fisionomia dos dedos do pé. Outro ainda conseguia fazer o mesmo que os anteriores só observando o formato do nariz. Há aqueles profissionais que dão um perfil psicológico pelas roupas, organização do guarda roupa, postura do corpo e assim por diante.

Em Filosofia Clinica temos um cuidado muito maior para este tipo de trabalho. Quando uma pessoa chega ao meu consultório, não tenho a mínima ideia do que nela ou fora dela fala sobre sua pessoa. Em outras palavras, não sei se seu nariz, seus dedos do pé, sua roupa, gestos, são as ferramentas que vão me mostrar quem ela é. Em cada pessoa há elementos muito específicos que dizem quem ela é e isto só pode ser observado na história de vida de cada um. Não tenho como dizer que uma pessoa está sempre triste porque está vestida de preto, pode ser apenas que ela goste dessa cor. Não tenho como dizer que uma pessoa é séria porque vive com a testa franzida, pode ser que tenha aprendido a ser assim.

Em Filosofia Clinica, o tópico expressividade é aquele que trata do quanto a pessoa flui em direção ao outro quando se comunica. A expressividade de uma pessoa pode acontecer por diversas maneiras e algumas, talvez, nem saibam como falar delas mesmas. Algumas pessoas são extremamente expressivas quando cantam, dançam, falam, escrevem, estão sempre dizendo delas mesmas. Outras, no entanto, podem cantar muito bem, escrever de maneira especial, mas em nada falarem de si. É preciso conhecer este outro que se coloca diante de mim para saber o que da vida dele fala sobre ele.

Para finalizar este artigo, coloco uma proposta: se você, leitor, tivesse uma pergunta que quisesse respondida num dos meus artigos, o que perguntaria? Envie sua questão e esta será respondida de acordo com as técnicas e ferramentas da Filosofia Clínica.
Por: Rosemiro A. Sefstrom Do site: http://rosemirosefstrom.blogspot.com.br/

terça-feira, 13 de maio de 2014

DECIDIR

A palavra decidir faz parte da vida de boa parte daqueles que trabalham como administradores. Decidir, determinar, resolver, dispor, são palavras que denunciam que entre as milhares de possibilidades possíveis uma foi a escolhida. E é exatamente aqui que se encontra o real cerne da questão: saber se a decisão tomada é a melhor decisão. Para isso algumas pessoas desenvolvem métodos, um deles é famoso: “Nunca tome uma decisão de cabeça quente”. Segundo estas pessoas, decidir com a cabeça fria propicia a clareza das questões envolvidas, de modo a encaminhá-las com maior objetividade. Há também os que dizem: “Nunca decida com o coração, a razão é a melhor ferramenta para uma decisão administrativa”. Essa forma de pensar aponta para um homem cerebral, que faz contas, vê probabilidades e diante destes dados decide. Enfim, existem infinitos métodos que garantem uma decisão acertada.


No entanto, algumas vezes, ou para algumas pessoas, o método de nada vale, pois não passa de teoria que é dita ao vento. O mundo da administração e vários outros estão repletos daqueles que dizem o que lhes vêm à mente quando estão furiosos e depois se arrependem. A máxima de não decidir de cabeça quente fica para trás e depois a pessoa precisa recolher os cacos e ver o que pode ser feito. Há também os que dizem que se deve decidir com a razão, mas colocam o filho como sucessor de sua empresa porque entendem que assim podem demonstrar amor ao filho. O filho pode até se sentir amado, mas em muitas vezes será ele quem levará a empresa para a falência. Retomando a questão da decisão, diria que não é tão importante saber se a decisão foi acertada, mas que é de suma importância saber quais ferramentas cada um usa para decidir.

Em Filosofia Clínica, ao longo da terapia, descobrirmos quais são as ferramentas que uma pessoa usa para tomar suas decisões e percebemos que algumas pessoas dizem exatamente o contrário daquilo que praticam. Para citar um exemplo, há em Filosofia Clínica uma ferramenta chamada de Esquema Resolutivo que funciona usando os prós e contras de uma decisão, ou seja, se existem mais prós, a pessoa vai por esse caminho, se existem mais contra, ela recua. Essa mesma pessoa que diz pesar prós e contras pode ser a mesma que, quando tem de decidir, sai a pedir opinião e segue a opinião que tem mais peso. Assim, não há prós e contras, mas o conselho de uma pessoa que tem mais influência em sua vida.
Há também pessoas que não conseguem decidir, são aqueles ou aquelas que não conseguem definir o que acontecerá. Comumente há pessoas que entram em organizações e são ótimos no que fazem, desde que não precisem decidir. Algumas destas pessoas deixam o problema ou a questão se desenvolver e ao final, quando a decisão já está dada elas se posicionam. Não há nada de mais nisso, é uma característica, porém nada bem vista pelas pessoas que tem um apreço forte pelas tomadas de decisões.

Uma das formas de se ajudar pessoas com problemas para decidir é usar um procedimento chamado de Roteirizar, isso quando a pessoa tiver propensão a esta técnica. Essa ferramenta cria um caminho diante da pessoa, ou seja, aponta a história toda e ao longo dessa história o que pode acontecer dependendo do que ela decidir. Para algumas pessoas, a criação do roteiro faz com que saibam quando é a hora de decidir e qual será a melhor decisão. No entanto, isso é assim apenas para algumas pessoas, muitas outras funcionam de outra maneira e têm outras ferramentas. Decidir não é necessariamente fazer, decidir consiste em apontar o caminho, para fazer é preciso ter Em Direção ao Desfecho, mas esse é assunto para um próximo artigo.
Por: Rosemiro A. Sefstrom Do site: http://rosemirosefstrom.blogspot.com.br/


segunda-feira, 12 de maio de 2014

CAMINHOS

O que é um caminho? Hoje quando ia trabalhar, me dei conta de que saí de casa, cheguei no local de trabalho e sequer pensei no que estava fazendo. Desde que sai pelo portão até o momento em que parei em frente à escola vinha pensando a respeito da vida. O caminho que percorri com meu corpo não foi o mesmo que percorri com minha mente. Provavelmente muitos de nós já fizemos isto. Mas, o que mais chamou atenção foi perceber que assim como meu corpo percorre automaticamente uma série de caminhos diariamente, o meu pensamento também percorre.


A partir disso lembrei de uma série de informações sobre caminho. Uma delas, bastante antiga, é de um amigo que diz que numa longa caminhada, quando se está sozinho, o maior desafio é conviver consigo mesmo. Que interessante, quando ele diz da convivência consigo mesmo, ele está falando de que? Não sei, dentro de algumas milhares de possibilidades podemos dizer que seria conviver com seu pensamento. Por mais que tenhamos dificuldades de convivência com o corpo, por meios artificiais se pode resolver ou melhorar. Já para o pensamento, mesmo com medicações de última geração, algumas pessoas não se agüentam, não se suportam, por isso evitam ficar sozinhas.

Outra informação que acessei foi o significado de caminho. Para os que gostam de caminhar pode significar trilha, para os espiritualizados pode ser senda, para os antigos um carreiro. O caminho pode ser considerado um trajeto que se percorre para sair de onde se está e chegar a algum outro lugar. Durante o percurso do caminho é necessário que se faça uso de algumas ferramentas. Se o caminho for físico, o deslocamento precisará ser físico, se for da fé, pode ser espiritual, mas e se for do pensamento, quais as ferramentas para percorrê-lo? 

Nosso pensamento, assim como nosso corpo, precisa percorrer certos caminhos para sair de onde está e chegar a outro lugar. Também como o corpo, dependendo dos recursos que usamos chegaremos mais rápido ou devagar e dependendo da ferramenta, nem chegaremos a nosso destino. Diferente do corpo, os recursos do pensamento não podem ser vistos, ao menos não em seu processo. Então, como posso saber quais os recursos que uso para pensar? São bons recursos? Chego aonde desejava chegar ou fico caminhando em círculos no pensamento?

Um exemplo para mostrar os caminhos do pensamento: um menino chega à escola, vê a menina que gosta, fica vermelho e sai em direção à sua mesa onde permanece calado. Isso foi o que os colegas viram, mas o processo do pensamento foi: sentiu uma vontade grande de falar o quanto gosta da menina, ficou reticente porque se acha feio e acha que a menina não gosta dele, sente calor e fica envergonhado, achou melhor ficar quieto para não dar a entender para a turma que gosta da menina. Veja que o pensamento começa pelas emoções, passa pelo que acha de si mesmo, caminha pelas sensações e acaba por se bloquear quando pensa no que os outros podem dizer dele. Para este caso, se o menino percorrer os mesmos caminhos todas as vezes é muito provável que em todas as vezes o resultado de suas atitudes seja a mesma.

Neste caso e só neste caso é o pensamento que determina as ações, em muitos outros casos são as ações que determinam os pensamentos. Na vida, se soubermos seguir os caminhos do pensamento saberemos onde vamos chegar quando começamos a pensar.
Por: Rosemiro A. Sefstrom Do site: http://rosemirosefstrom.blogspot.com.br/

sábado, 10 de maio de 2014

AS PÉROLAS JOGADAS AOS PORCOS

Nada é tão terrível quanto um tesouro afundado em um lamaçal. Nada é tão péssimo quanto a corrupção das coisas santas.

Não existe nada mais terrível que ver um grande tesouro afundado em um denso lamaçal. Por isso a advertência do Evangelho: "Não lanceis aos cães as coisas santas, não atireis aos porcos as vossas pérolas" [1]. A pérola é algo muito precioso. A simples razão ensina ao homem que aquilo que é precioso deve ser guardado, tratado com bastante zelo e cuidado. Aos porcos, lança-se lavagem, não pedras preciosas; aos porcos, lançam-se as sobras, não aquilo que se tem em alta conta.

No mundo antigo, no entanto, certas pérolas jaziam afundadas na lama e foi o Cristianismo, com a verdade de sua doutrina e o vigoroso testemunho de seus adeptos, que recuperou a razão e a justiça então obscurecidas pelos pecados dos homens. Em tempos como os nossos, em que um malfadado feminismo prega ódio e desrespeito à religião, nada melhor que lembrar o respeito e a dignidade que a religião cristã devolveu às mulheres "em sua condenação do divórcio, do incesto, da infidelidade conjugal e da poligamia" [2].

O Império Romano foi escolhido por Deus para presenciar a "plenitude dos tempos" [3]. Era o ambiente apropriado para a visita de um Senhor preocupado mais com os enfermos e pecadores que com os saudáveis e justos [4]. De fato, a situação em que aí se encontravam os homens – e principalmente as mulheres – era degradante. As leis e escritos da época pressupunham "o direito de abandonar os filhos do sexo feminino" e a "a prerrogativa [dos homens] de determinar às esposas e amantes que praticassem o aborto" [5]. Uma sociedade permissiva como a antiga – em que o divórcio era plenamente acessível e a poligamia amplamente praticada – dava à figura masculina poder de subjugar as mulheres, tornando-as mais escravas que seres humanos de verdade.

Assim se encontrava o mundo antigo – com louváveis exceções, verificadas num e noutro lugar – até a chegada de Cristo. Com Ele, que, no seio do Pai, escolheu uma mulher para ser a mais virtuosa criatura que a terra viria a conhecer; com Ele, que, ressuscitado, apareceu primeiro a mulheres [6]; com Ele, que, pela boca de São Paulo, abolia todas as distinções entre as pessoas – já não havia mais "judeu nem grego, nem escravo nem livre, nem homem nem mulher" [7], mas todos eram um só em Cristo; com Ele, restaurou-se a esperança à feminilidade então tão suja e obscurecida pelo pecado e pela vileza humana. Historicamente, é inegável: "a mulher em si mesma (...) nunca foi tão exaltada como no cristianismo" [8].

A tradição cristã impregnou na cultura ocidental a consciência de que a mulher é muito mais que seus atributos físicos e naturais; que a mulher não é um pedaço de carne a ser idolatrado, mas um todo de humanidade através do qual é possível vislumbrar a eterna beleza do Criador. Ainda hoje, mulheres que aceitaram a doutrina cristã sobre a modéstia dão testemunho da leveza, da delicadeza e da simplicidade da autêntica beleza feminina.

"[A mulher] tem outras belezas muito mais excelentes e nobres: a beleza da sua inteligência, a beleza dos seus sentimentos e, sobretudo, a beleza da sua virtude e do seu caráter. Não se pode prescindir desta beleza espiritual, sob pena de rebaixar e degradar a mulher à condição vil dos irracionais. Seria o mesmo que entregar uma criatura humana, a pretexto de que é composta de carne e ossos, aos cuidados e ao laboratório do veterinário" [9].

Por isso, não é possível olhar para certas reivindicações de movimentos ditos "progressistas" senão com ceticismo e vergonha. Feministas que vão às ruas pelo direito de ser "vadias" ou que se proclamam "prostitutas" [10] podem estar fazendo o que for, menos defendendo a dignidade da mulher. Rebaixar-se à disposição aparentemente "livre" dos próprios corpos – como se fossem apenas matéria –, expor totalmente as próprias pernas e partes íntimas ao público – como se fossem pedaços de carne num açougue –, pedir o "direito" de matarem os próprios filhos que são concebidos em seu ventre – como se esses fossem mera "extensão" de seus membros –, não só é desconsiderar o alto valor que têm as mulheres – muito maior que o preço das pérolas e das joias mais caras! É como entregá-las "aos cuidados e ao laboratório do veterinário"; é transportá-las ao nível dos animais; é, real e lamentavelmente, lançá-las aos porcos.
Marcha das vadias

O que querem essas senhoritas – que dizem "representar" as mulheres – é a volta à Antiguidade, no mais horrível e decadente de seus aspectos; a volta ao aborto e ao infanticídio, ao divórcio e à poligamia, à degradação sexual e à permissividade dos costumes... na ilusão de que tudo isso as liberte. Só que a história é uma grande mestra: esses instrumentos que as feministas de hoje consideram "libertadores" são, miseravelmente, as mesmas armas que as prenderam à escravidão noutros tempos. Não as tornam "mais mulheres"; au contraire, colocam-nas abaixo de sua própria natureza e vocação; lançam-nas, terrivelmente, aos cães e aos porcos.

Corruptio optimi pessima est, diz um adágio latino. A corrupção dos ótimos é péssima, a corrupção de quem deveria, por sua alta dignidade, ser melhor, é ainda pior que as outras corrupções. A corrupção da mulher, pelo feminismo, deforma-a a ponto de torná-la irreconhecível... como uma pérola escondida em um chiqueiro, como uma joia cujo brilho é ofuscado por uma porção de lama.

Ainda hoje – e especialmente hoje –, ressoam firmes as palavras de Cristo: "Não lanceis aos cães as coisas santas, não atireis aos porcos as vossas pérolas". Que as mulheres tomem consciência do grande dom e do alto valor que possuem – e correspondam com coragem à sua dignidade.

Por Equipe Christo Nihil Praeponere

Referências


  1. Mt 7, 6
  2. Rodney Stark. O crescimento do cristianismo: um sociólogo reconsidera a história. São Paulo: Paulinas, 2006. p. 119
  3. Gl 4, 4
  4. Cf. Mt 9, 12-13
  5. Rodney Stark. O crescimento do cristianismo: um sociólogo reconsidera a história. São Paulo: Paulinas, 2006. p. 137
  6. Cf. Mt 28, 9; Mc 16, 9; Jo 20, 11-18
  7. Gl 3, 28
  8. Dom Aquino Corrêa. Elevação da mulher, 9 de dezembro de 1934. In: Discursos, vol. II, tomo II. Brasília, 1985. p. 137
  9. Dom Aquino Corrêa. Concursos de beleza, 27 de dezembro de 1930. In: Discursos, vol. II, tomo II. Brasília, 1985. p. 68-69
  10. Veja-se, por exemplo, o vídeo de um grupo feminista (sic), disponível no YouTube. Avisamos que possui palavras ofensivas e de baixo calão. 

sexta-feira, 9 de maio de 2014

A LUZ QUE CEGA!

Há uma obra de José Saramago publicada em 1995 com tradução em várias línguas, chamada “Ensaio Sobre a Cegueira”. Esta obra tornou-se filme em 2008 pelas mãos do diretor Fernando Meirelles e também pode vista nos teatros. A história conta de um japonês que, por não conseguir enxergar, pede ajuda até que alguém o leva até em casa e acaba por roubar o seu carro. No dia seguinte o japonês e sua esposa vão ao oftalmologista para saber o que está acontecendo e aos poucos uma epidemia se alastra e, com exceção da mulher do oftalmologista, todos ficam cegos. Devido ao alastramento da epidemia o governo decreta quarentena e separa as pessoas cegas das outras, mas mesmo assim a epidemia continua se alastrando.

Presos em uma construção, confinados a uma convivência sem a visão, os internos formam dois grupos e pouco a pouco a convivência se torna insustentável. Até que chega ao ponto em que um dos grupos, por questão de sobrevivência acaba por incendiar o lugar e fugir, mesmo às cegas. Já em casa, depois de uma longa e exaustiva caminhada, cada um faz um pedido, o que gostaria naquele momento. O interessante é que, mesmo sem enxergar, nenhum deles pedem o retorno da visão, cada um pede coisas simples, em sua maior parte o que dá o conforto à alma. Enquanto não enxergavam, os personagens diziam ver uma luz branca. Por vezes não é o escuro que cega as pessoas, mas a claridade.

No dia-a-dia em contato com pessoas de diferentes áreas de formação, status econômico, religião ou religiosidade, filosofia de vida e tantas outras diferenças podemos escutar: “Há uma luz no fim do túnel”. Estas pessoas estão vivendo o aqui e o agora, mas o seu pensamento está tão focado num futuro que “vai chegar” que o que veem é uma luz. Esta luz que veem é diferente para cada uma, para alguns a luz no fim do túnel é o dinheiro para pagar as contas no mês que vem. Para outras, a luz no fim do túnel é o emprego que desejam para si. Existem ainda pessoas para as quais a luz no fim do túnel é o relacionamento que um dia pode dar certo. Apenas para fechar as possíveis luzes, pense em qual será a luz no fim do seu túnel.

Olhando fixamente para esta luz estas pessoas passam dias, semanas, meses, anos caminhando naquela direção. Todo o tempo que caminham um pensamento é recorrente: “Quanto eu chegar lá...” Esta luz os dá força, alimenta sua alma e faz com que caminhem em passos largos, firmes e decididos, voltados para a claridade que é onde colocaram seus objetivos. Estão tão resolutos em sua caminhada e olham tão fixamente para a luz que tudo o que está na sombra passa despercebido, ou seja, ao olhar fixamente para a luz não conseguem enxergar o que está à sombra dela.

Esta luz, a claridade intensa que foi colocada como objetivo de vida pode cegar a pessoa para as vivências do presente. Quando chegar ao objetivo, conquistar a tão buscada luz no fim do túnel, pode olhar para trás iluminado pela claridade e perceber que muitas coisas boas ficaram pelo caminho. Ao focar a claridade do tão sonhado emprego a família pode ter ficado na sombra e quando se chega ao objetivo e olha-se para trás, ela já pode não existir mais. Ao ganhar o dinheiro que queria para pagar as contas e ter um tanto para guardar no banco, o amor da vida pode ter ficado na sombra pelo caminho. Ao se fixar atentamente ao relacionamento que pode dar certo pode acontecer que a sombra cubra o outro que está nesse relacionamento.

Não há nada de errado em ter objetivos e buscá-los diariamente, colocar pontos de luz na vida que possam alimentar a alma durante os períodos difíceis. Mas estes pontos devem irradiar claridade para todo o restante da vida e não cegar. Seria interessante pensar se não são os seus filhos que estão à sombra da luz que você observa no fim do túnel.
Por Rosemiro A. Sefstrom Do site http://rosemirosefstrom.blogspot.com.br/