quinta-feira, 31 de julho de 2014

PENSAR DIALÉTICO

Inicio por lembrar que cada pessoa é um mundo, uma realidade completamente diferente de todas as outras. Isso faz com que cada um de nós seja diferente, desde nossa realidade física até a cognitiva. Digo isto apenas para salientar que, quando usar neste artigo a expressão “tipo de pessoa” estou me referindo a uma forma de se relacionar com a exterioridade que é o mundo. O mundo é tudo aquilo que é exterior a mim, ou seja, o sol, as nuvens, as árvores, etc. Além de tudo isso que existe e constitui o mundo de cada um há também pessoas, os outros. Nós, no dia-a-dia nos relacionamos, inevitavelmene, com o mundo e com os outros.


Das várias formas de se relacionar vamos nos dedicar a uma em especial, a relação dialética. A dialética enquanto método ganhou conhecimento por Hegel, mas diz-se que o pai desta teoria pode ser Zenão de Eléia ou até mesmo Sócrates, o qual se popularizou entre os gregos por levar as pessoas à verdade. O pensamento dialético cresceu, se popularizou na filosofia e foi adotado por muitos filósofos como método científico, assim como foi condenado por muitos outros como não sendo nada científico. Enfim, científico ou não, interessa em que medida essa metodologia contribui para a Filosofia Clínica.

A dialética enquanto método se realiza em três estágios: a tese, a antítese e a síntese. Na tese eu tenho aquilo que é como teoria, ou seja, tenho uma ideia já formada. Pense no conceito que você tem de você mesmo: essa ideia que você elaborou de você mesmo pode ser considerada uma tese. Num segundo momento vem uma ideia contrária a que você formou de si mesmo, essa ideia contrária é a antítese. Vamos dizer que você se considera uma pessoa bondosa e desprendida, essa é a sua tese, mas um amigo seu, muito sincero, diz que você não é bom e muito menos desprendido. Para ser mais sincero, este amigo diz que você é avarento. Agora, com a tese a respeito de você e a antítese dada por seu amigo também a respeito de você, irá surgir uma terceira e nova ideia: a síntese. A síntese é o resultado da união da tese com a antítese, não a simples negação de uma pela outra.

Pessoas que têm o pensamento dialético costumam ter uma ideia feita, pronta a respeito das coisas da vida. No entanto, no dia-a-dia, no convívio com as pessoas e com as coisas, elas podem tanto receber quanto perceber opiniões diferentes das que têm. Quando isto acontece, elas entram num processo de reflexão a respeito daquilo que sabiam com o que receberam, para então formular algo novo. Se o processo dialético foi feito por simples negação, pode acontecer o famoso oito ou oitenta, onde a pessoa aceita ou nega aquilo que veio de fora.

O processo dialético não precisa necessariamente de um agente externo, algumas pessoas fazem esse caminho sozinhas. Elas mesmas, pela maneira como se desenvolveram na vida, precisam da contradição como maneira de desenvolver o seu pensamento. Não é certo, nem errado, bom, nem mau, é apenas uma das formas de se pensar. Há tantas outras com eficácia igual ou maior e também menor do que esta.

Na relação com o outro, seja ele coisa ou pessoa, qualquer processo de conhecimento só acontece na medida em que eu recebo o outro. Alguns filósofos falaram em sair de si como processo de antítese, mas a antítese só acontecerá realmente se eu me abrir para o outro, é ele quem me trará o diferente, e não eu. Como em Heráclito, só me darei conta de que não me banho duas vezes no mesmo rio se eu deixar que o rio passe por mim e não eu por ele.
Por: Rosemiro A. Sefstrom Do site: http://rosemirosefstrom.blogspot.com.br/




terça-feira, 29 de julho de 2014

PERIÓDICO EXISTENCIAL

Uma discussão a respeito de mente e cérebro acabou levando a uma discussão sobre se as doenças realmente existem ou não. Eu, e talvez você, conhecemos pessoas que já tiveram um problema de saúde e que, após muitos exames, nada foi diagnosticado, pessoas que percorreram um longo caminho na medicina e nenhum causador orgânico foi encontrado. Esse é o caso do problema que envolve a mente e o cérebro.

O cérebro é considerado nosso principal órgão, onde fica o centro do sistema nervos. É um órgão extremamente complexo, que nas últimas décadas vem sendo largamente estudado e mapeado. Estes estudos têm vários objetivos, entre os quais entender o funcionamento do cérebro e, a partir disto, construir diversos mecanismos que facilitem a fabricação de remédios que possam ter o efeito desejado para as mais diversas doenças que o afetam. Há ainda o interesse em desvendar a forma como o cérebro funciona, mecanicamente, e talvez aplicar o seu sistema a um computador.

Mente é o estado da consciência ou subconsciência que possibilita a expressão da natureza humana, segundo o site Wikipédia. Mas, em diversas bibliografias, podem ser encontradas outras definições. Segundo a definição acima citada, a mente é um estado, ou seja, uma manifestação de algo, orgânico ou não. Quando digo que estou feliz, segundo minhas vivências, estou vivendo um estado de espírito, isto é uma vivência da mente. Desta maneira a interação entre a mente e o cérebro é o que faz um ser humano algo completo.

Essa problemática mente e cérebro lembra as doenças das quais não encontramos motivos aparentes, orgânicos. Muitos dos males que vivemos no corpo têm suas origens na existência que temos. Quando eu, você, sua esposa ou esposo, vivem sob pressão, como alguns dizem, “no fio da navalha”, como é que o corpo reage? Para muitos nada acontece, mas para alguns o corpo adoece, mesmo com dietas corretas, remédios corretos, a doença do corpo é apenas um sintoma de um mal existencial.

Muitos de nós estamos existencialmente doentes, o corpo apenas avisa, quando assim é possível. Mas, pela facilidade, falta de conhecimento, desleixo, comodismo, acabamos apelando para a medicação química como modo de solução. Um câncer que devora aos poucos nossa existência é tratado com Rivotril. Isso não parece certo, mas é dessa maneira que se procede com frequência. Muitos casos chegam a procurar ajuda, mas vão depois que o mal já se espalhou tanto que só existe a possibilidade de remediar. Não há mais como voltar atrás e reajustar tudo o que ficou pelo caminho.

Olhando para a sua história, para o que vem fazendo no seu dia-a-dia, os remédios que anda tomando ou deveria tomar, estes podem ser os alertas de que é preciso mudar. Mudar não quer dizer deixar de ser quem somos, mas fazer o que sempre fizemos de maneira diferente, mais adequada a nós mesmos. Os males da existência podem ser identificados, assim como os males do corpo. Mas tanto um quanto o outro devem ser tratados.

É espantoso o quanto se fala de medicina preventiva para o corpo e o quanto não se fala de medicina preventiva para a mente. Todos fazemos exames médicos antes de assumir um emprego numa empresa, mas não fazemos exames existenciais para saber se estamos existencialmente prontos, preparados para este emprego. Nosso corpo pode estar preparado para uma maratona, mas nossa mente pode não estar e provavelmente sairemos perdedores. Deveríamos pensar mais na vida mental e também procurar um profissional para fazer um exame de rotina. A mente pode e em muitos casos é quem comanda a vida, se ela não estiver bem, provavelmente nossa vida não estará bem.
Rosemiro A. Sefstrom Do site: http://rosemirosefstrom.blogspot.com.br/

segunda-feira, 28 de julho de 2014

PESSOA CERTA, TEMPO ERRADO!

Em Filosofia Clínica, antes de entrar na análise dos pormenores dos dados da historicidade da pessoa, o filósofo observa os Exames da Categorias. Esta etapa é aquela na qual o terapeuta observa na narrativa da pessoa como ela se localiza existencialmente no mundo em que se coloca. A localização existencial é dada pela pessoa mesmo, ou seja, não é o filósofo que interpreta estes dados a partir da história, e sim, percebe literalmente segundo o que é contado pela pessoa. As categorias que ele observa são: assunto imediato e último, circunstância, lugar, tempo e relação. Em cada uma destas categorias se observa como a pessoa está existencialmente em cada etapa de sua vida.

É interessante o estudo destas categorias porque algumas vezes o problema que deverá ser trabalhado nada tem a ver com os tópicos da Estrutura de Pensamento. Em vários casos o problema está na localização da pessoa, ou seja, onde ela se colocou existencialmente. Uma das categorias nas quais pode ocorrer problemas pode ser o tempo. Nesta categoria o filósofo se dedica, a saber, qual é a relação entre o tempo subjetivo e o tempo convencionado. Ele verá, segundo as vivências da pessoa, a duração dos eventos e o tempo verbal em que eles são vividos. O tempo subjetivo diz respeito ao rápido ou demorado que costumeiramente se diz. Como uma pessoa que afirma que nos dias em que as coisas vão bem ela sente como se o tempo passasse mais rápido, assim como o contrário. Só é possível que a pessoa diga que o tempo passou rápido se houver um parâmetro de comparação, e tal parâmetro é o tempo do relógio. Então, a relação entre o tempo convencionado do relógio e a sensação temporal da pessoa é que dão ao filósofo a possibilidade de dizer qual é a localização temporal das suas vivências.

Mesmo falando de um só tópico, apenas no parágrafo anterior encontram-se teorias de nada mais nada menos que Aristóteles e Kant. Não se trata de uma cópia de suas categorias, mas sim, uma adaptação dos conceitos desenvolvidos pelos dois para o trabalho terapêutico..O tempo, como já conceituado anteriormente, é a categoria que cuida da relação entre o tempo objetivo e subjetivo.

No consultório, dia destes, um partilhante dizia que já era tempo de encontrar alguém na vida que lhe fosse “completar”, em suas palavras: “Alma gêmea”. Depois de alguns meses de trabalho, a pessoa encontrou um par, segundo ela, perfeito. Conversa vai, conversa vem e o que parecia perfeito acabou se revelando um problemão, pois a pessoa perfeita era 20 (vinte) anos mais nova e isso tornava o relacionamento impossível. Não é que assim seja para o terapeuta ou para a sociedade, mas segundo os valores da pessoa era algum inimaginável, muito menos praticável. Veio então a expressão: “Pessoa certa no tempo errado”. Esta pessoa estava agora, depois de se constituir na vida, no tempo de aproveitar, de abrir as asas e voar, mas precisava de alguém com quem compartilhar este vôo. No entanto, da maneira que aconteceu, não seria a ela possível dar continuidade ao que poderia ser um relacionamento.

A temporalidade é diferente em cada pessoa, o tempo que cada um leva para ser “adulto” é diferente. Vários são os casos nos quais a pessoa é “obrigada” a amadurecer bem mais cedo e o tempo de suas vivências é alterado. Muitas vezes você cruzará com o seu par perfeito no tempo errado, mesmo sendo perfeito, ou é cedo demais ou é tarde demais. O ideal é estar aberto para as experiências, um amor pode vir cedo demais, mas pode vir uma vez só.
Por: Rosemiro A. Sefstrom Do site: http://rosemirosefstrom.blogspot.com.br/

sexta-feira, 25 de julho de 2014

PLANEJAMENTO

Planejamento: uma das palavras que acompanha a vida de muitas pessoas. Algumas porque gostam de saber quais pedras irão pisar, outras estão atadas ao planejamento para conduzirem uma equipe. O planejamento é uma ferramenta para a construção do futuro, ou seja, ele faz com que a pessoa ou equipe saiba claramente aonde quer chegar e o que tem que fazer para chegar lá. Além ter consciência para aonde se quer chegar, no planejamento também estão previstas as práticas que serão adotadas para se chegar ao lugar onde se deseja. Assim, o planejamento é a junção das buscas com o comportamento e função, ou seja, o que devo fazer para chegar onde quero. E, na prática o que acontece é um roteirizar, uma vez que toda a equipe ou pessoa com intenção de planejar faz um caminho futuro.

Mas, para planejar o futuro é preciso conhecer o passado ou saber de onde veio. Não que o passado seja uma condição para se construir um futuro, mas o passado dá indícios de quais ferramentas podem ser utilizadas no futuro. Apenas para comparação, é como se uma pessoa formada em matemática tivesse como desejo ser juiz. Nada a impede de seguir em direção ao seu objetivo, mas as ferramentas que ela possui no presente não estão de acordo. O passado ou a história é um farol que aponta erros e acertos, o que já fiz e o que posso fazer. Uma análise dos dados históricos pode mostrar que muitos sonhos, planos e desejos que uma pessoa ou empresa têm não estão de acordo com a sua realidade. O futuro projetado deve contar com uma projeção de quem serei quando chegar lá, como serei visto e como verei o mundo. Formular objetivos, planejar e colocá-los em prática nem sempre quer dizer evolução, melhora.

A elaboração de um planejamento é a maneira que algumas pessoas e empresas encontraram para não se perderem pelo caminho. Esses precisam de orientações claras para não ficar atirando para todos os lados, seguindo qualquer caminho que aparecer. Como o dito no começo, a elaboração de um planejamento existe para a construção de um futuro. Mas algumas pessoas e empresas fazem do planejamento não uma estratégia, mas um fardo, uma dificuldade a ser superada. O próprio planejar significa, em muitos casos, vendar os olhos para as possibilidades existentes. A pessoa sente-se presa, não tem a liberdade para avançar em outras direções, pois o planejamento disse que tem que seguir tal caminho.

As metas, os objetivos podem existir, mas o entendimento de que são guias para a caminhada tornaria a caminhada mais leve. Se algumas pessoas entendessem que os planejamentos são maneiras pelas quais se cria a realidade e não a própria realidade, viveriam muito melhor. Fazer da vida um meio para cumprir metas, objetivos pode ser muito desgastante.
Por: Rosemiro A. Sefstrom Do site: http://rosemirosefstrom.blogspot.com.br/

quarta-feira, 23 de julho de 2014

A PONTA DO ICEBERG

Todos fariam um grande favor a si mesmos, às suas famílias e ao Brasil se, na hora da novela, desligassem seus televisores, acendessem uma vela e rezassem o Terço


Recentemente, duas pesquisas científicas comprovaram a ligação direta que existe entre a audiência das novelas da Rede Globo, as crescentes taxas de divórcio e a queda da natalidade nas famílias brasileiras[1]. Aquilo de que já se suspeitava há muito tempo foi confirmado: as telenovelas globais exercem uma grande influência no comportamento das pessoas.

Na semana passada, mais uma telenovela serviu de palco para "forçar limites morais", como escreveu um jornalista, na Folha de São Paulo[2]. Pelos comentários de vários telespectadores nas redes sociais, parece que, infelizmente, a armadilha funcionou, mais uma vez. Após o entusiasmo com a trama de uma dupla de homossexuais que, entre outras coisas, recorreu à inseminação artificial para "produzir" um filho, o pedido para ver um "beijo gay" no final da última novela das oito foi reiterado por inúmeras pessoas. E, mesmo depois de alcançado o seu intento, muitos não se contentaram com o que viram, alegando que o beijo teria sido "morno demais".

Sem dúvida, a melhor forma de filtrar essas coisas está na mão de cada família: chama-se controle remoto. As pessoas são livres para escolher ao que querem ou não assistir na televisão. No entanto, comprovada a relação entre as telenovelas e as mudanças sociais no Brasil, ninguém pode ignorar que aquilo que é exibido nas telas da TV não ficará, simplesmente, na televisão. Aquilo que a Globo exibe para muitas pessoas ou famílias desatentas irá refletir, de algum modo, nas opiniões que elas possuem, nas conversas que elas mantêm e nos ambientes que elas frequentam. E isso afetará toda a sociedade, na qual estão incluídas até mesmo as pessoas que louvavelmente se recusam a dar audiência às novelas globais.

É mesmo preciso dizer o que estava por trás do "beijo gay"? Diante da oposição de boa parte da população brasileira não só ao chamado "casamento homoafetivo" como ao próprio ato homossexual, a novela "Amor à Vida" foi uma tentativa clara de minar essa resistência. Apelando a recursos sentimentais, os produtores da trama – não temendo a condenação do profeta que lamenta "aqueles que ao mal chamam bem" e "tornam doce o que é amargo" (Is 5, 20) – recorreram à mesma estratégia que facilitou a legalização do divórcio no Brasil, há 40 anos: trocar o verdadeiro amor à pessoa humana pela aceitação de uma conduta imoral; transformar a preocupação com o pecador em um perigoso conformismo com o pecado.

A confusão que resulta dessa mentalidade é evidente: quando uma pessoa prefere "rótulos" referentes à sua conduta sexual àquilo que ela realmente é – ser humano, filha de Deus –, a sua verdadeira dignidade é escondida e dá lugar a uma desfiguração:

"A pessoa humana, criada à imagem e semelhança de Deus, não pode definir-se cabalmente por uma simples e redutiva referência à sua orientação sexual. Toda e qualquer pessoa que vive sobre a face da terra conhece problemas e dificuldades pessoais, mas possui também oportunidades de crescimento, recursos, talentos e dons próprios. A Igreja oferece ao atendimento da pessoa humana aquele contexto de que hoje se sente a exigência extrema, e o faz exatamente quando se recusa a considerar a pessoa meramente como um 'heterossexual' ou um 'homossexual', sublinhando que todos têm uma mesma identidade fundamental: ser criatura e, pela graça, filho de Deus, herdeiro da vida eterna."[3]

É lamentável que muitos católicos, enganados por esse pensamento reducionista, se tenham prestado ao papel patético não só de dar ibope à novela, como de pedir ou aprovar o "beijo gay", ignorando – ou fingindo ignorar – que essa é apenas a ponta de um iceberg. Desse modo, fazem lembrar a condenação do Apóstolo que, reprovando as práticas homossexuais, lamentou a atitude daqueles que "não somente as praticam, como também aplaudem os que as cometem" (Rm 1, 32).

Mas, ainda que "Amor à Vida" não tivesse mostrado nenhum "beijo gay", ainda que não tivesse reforçado a difusão do lobby homossexual: ainda assim, teria sido um tremendo desamor à vida e à família assistir-lhe. As telenovelas estão, a todo momento, "forçando limites morais", especialmente quando exibem, de modo constante, cenas de sexo mais ou menos explícitas. Com isso, elas tiram o sexo da intimidade conjugal dos esposos e dizem às pessoas que é normal ter sexo com qualquer um, a qualquer hora e em qualquer lugar, estimulando, assim, uma lenta, porém eficaz, "pornografização" da sociedade[4].

Voltemos ao controle remoto: todos fariam um grande favor a si mesmos, às suas famílias e ao Brasil se, na hora da novela, apagassem seus televisores, acendessem uma vela e rezassem o Terço em família, rogando a Nossa Senhora Aparecida que tenha misericórdia desta Terra de Santa Cruz.

Por Equipe Christo Nihil Praeponere
Referências

  1. Cf.Parresía n. 58: As Novelas e a Engenharia Social
  2. Análise: Emissora retoma tradição de forçar limites morais com telenovelas | Folha de S. Paulo
  3. Congregação para a Doutrina da Fé, Carta aos Bispos sobre o atendimento pastoral das pessoas homossexuais, 1º de outubro de 1986, n. 16
  4. Cf. A cultura pornográfica e a banalização da sexualidade

terça-feira, 22 de julho de 2014

O PRIMEIRO CHOQUE RELIGIOSO

A-Crise-Religiosa-Que-Precisamos-Resolver.


Ele trata do conflito entre religiões onde o Deus é comunitário e ecológico e as religiões onde o Deus é nômade e acompanha o povo onde estiver.
O primeiro choque entre estes dois tipos de concepção de religião ocorre entre Judeus e Babilônios na cidade de Uruk.
O Deus de Uruk era Anu, que protegia a cidade como um todo e as terras em volta.
Os judeus, sendo nômades, desenvolveram deuses tribais, cada um protegendo a sua tribo. A união destas tribos e destes deuses se dá pelo acordo que fizeram de chamá-los de Jeovah, aquele cujo nome não pode ser mencionado. 
Jeovah será o Deus nômade que acompanha os judeus e os protege.
Esta frase irá causar uma série de problemas para os judeus, porque é normalmente entendida ao contrário.
Até hoje muitos judeus se consideram “o povo escolhido por Deus”, o povo protegido de Deus, quando na realidade é o contrário.
Judeus é que escolheram Jeovah para ser o Deus que os acompanha. E assim colocado fica muito menos arrogante, e muito mais aceitável para as demais religiões.
Por que Deus escolheu a Israel para ser o seu povo escolhido? é um texto comum na net e colocado assim pode gerar muita incompreensão e animosidade. 
O erro está em não entender que todo Deus nômade escolhe o seu povo, e os judeus não eram o único povo nômade na época, e a frase não significa o que a maioria das pessoas hoje imagina.
Jeovah protege os judeus dentro da lógica do Deus nômade que protege um povo, e não um território.
Infelizmente, a mudança do nome Jeovah para Deus, complica hoje esta frase.
A ideia atual que só existe um único Deus, tornou a frase “Judeus são o povo preferido por Deus” totalmente fora de contexto, e arrogante, o que custou aos judeus uma série de infortúnios.
A situação se complica ainda mais com os judeus na Babilônia.
Há uma incompatibilidade em se ter um Deus pessoal morando numa cidade que possui um Deus territorial.
Existe uma enorme incompatibilidade em seguir os ditames, a moral, a ética e os valores compartilhados de um Deus nômade, se por alguns anos você pretende morar ou por força ou por circunstâncias, numa cidade que possui um Deus territorial com valores compartilhados com ética e moral totalmente diferentes.
Lembre-se que naquela época Estado e Religião se confundiam, as leis eram únicas.
E as leis de Deuses nômades nem sempre eram as mesmas, certamente também não eram os ritos e cerimônias.
Isto gerava uma série de conflitos com os residentes, os mesmos que vemos hoje na França entre franceses e islâmicos, em Israel entre judeus e palestinos.
Quem iria ceder?
Quem diz que numa mesma cidade ou comunidade todos devem ter a mesma ética, valores compartilhados, rituais?
Quem diz que numa mesma cidade ou comunidade não se possa ter o multiculturalismo, várias etnias morando em harmonia, sem preconceito, respeitando os valores dos outros?
Provavelmente foram os próprios Rabinos judeus os primeiros a perceber este conflito religioso, Nomadismo versus Comunitarismo, e foram os primeiros a sugerir uma solução:
O monoteísmo e o multiculturalismo.
O monoteísmo como uma solução ao afirmar que no fundo existe um único Deus, um meme corajoso na época mas hoje considerado lógico e inquestionável.
E o multiculturalismo, que sugere que mesmo com um único Deus e seus valores comuns e compartilhados, é possível ter uma sociedade com valores diversos e não compartilhados, um contrassenso que muitos não percebem.
Mas devido aos problemas dos conflitos de Religiões, esta solução dos Rabinos nos serviu por 2.000 anos, e somente agora está sendo questionada.
Aos leitores judeus quero deixar bem claro que faz todo sentido para um povo que estava temporariamente subjugado no Egito. E, que pretendia voltar um dia para Israel e manter o seu Deus nômade, e não respeitar os Deuses do Egito como queriam os Faraós, os Papas Católicos, os Pastores Alemães.
Por outro lado, faz todo sentido que uma cidade como Alexandria que possui um Deus comunitário se sinta ameaçada por estrangeiros que se recusam a adotar a religião local.
Dois mil anos depois, este mesmo conflito se deflagra aqui ao lado em Portugal, onde os locais exigiram que os judeus se tornassem Cristãos Novos, o que muitos concordaram.
Os reis e a Igreja de Portugal erraram ao exigir dos judeus a “assimilação”, um termo um tanto forte que lembra negação.
O termo correto seria “aceitação”, como se alguém dissesse “como eu não sou mais nômade, e pretendo viver nesta cidade para sempre, aceito compartilhar seus valores compartilhados para que possamos viver em harmonia, mesmo que de imediato não concorde com tudo que está aí “.
Em vez de aceitar os costumes locais, ficou a tradição de levar consigo um Deus pessoal e não aceitar o da comunidade.
Tradição que nós Cristãos adotamos também, talvez não tão intensamente.
Cristãos carregam Jesus nos corações, enviamos missionários para todos os cantos do mundo, acreditamos num único Deus, no monoteísmo.
Como resolver este problema?
Algo para se pensar.
Por: Stephen Kanitz

segunda-feira, 21 de julho de 2014

A CRISE RELIGIOSA QUE PRECISAMOS RESOLVER

A crise religiosa que estamos enfrentando é basicamente uma luta entre Deuses Nômades versus Deuses Comunitários.
Quem diria que a grande crise do Século XXI seria novamente uma crise religiosa?
Atentados, guerras e ódios estão crescendo não por falta de espaço vital ou por domínio de colônias e matérias primas, mas sobre questão de valores compartilhados e objetivos comuns de vida.
Vejam 11 de Setembro, Afeganistão, Iraque, Islã, Imigração, Israel x Palestina, que são questões no fundo religiosas.
Para piorar a situação, a Igreja Católica está com problemas de pedofilia, a Igreja Anglicana com problemas de casamentos gay, o povo está caindo no discurso de novas igrejas mercenárias que só procuram dinheiro.
Vou tentar dar um diagnóstico do problema, sabendo que é um campo minado, religião não se discute impunemente.
Por isto peço a paciência do leitor, e peço que pensem nestas ideias, antes de criticá-las.
Não sabemos como as religiões começaram 40.000 anos atrás, na época não existia escrita.
Portanto, tudo que vou relatar é fruto da lógica e da razão.
Naquela época havia dois tipos de povos.
Aqueles que habitavam um local rico e fértil, tipo Paraíso, e os que tinham que se deslocar cada vez que consumiam tudo, que eram os povos Nômades. Os que viviam num Paraíso vou chamar de Comunitários.
Os que habitavam locais férteis criaram Deuses territoriais, que protegiam não somente o povo, como também as terras, os rios e os animais. Estes faziam parte do ecossistema do Paraíso.
Estes Deuses eram eminentemente ecológicos que acreditavam em autossustentabilidade.
Vemos este discurso hoje na famosa carta do chefe Sioux Seattle, que pergunta ao Presidente Americano como ele poderia comprar as terras se elas pertenciam a Deus, como os rios, os pastos etc.
Todo território Comunitário tinha o seu Deus específico local, que impunha seus valores compartilhados específicos, sua ética e moral própria, seus costumes etc. Estes valores comuns e compartilhados eram essenciais para a sobrevivência da Comunidade. 
Se você fosse um comerciante que viajasse para a cidade de Uruk, na Mesopotamia, você enquanto estivesse naquela Comunidade não iria rezar para o “seu” e sim iria rezar para o Deus Anu, Deus de Uruk.
Muito embora o seu Deus fosse Hapi, o Deus do Nilo. Mas este não tinha como lhe proteger em Uruk. Nem poderia. 
Portanto, ao contrário de hoje, não havia nenhuma incompatibilidade em louvar a dois Deuses.
Que no Cristianismo, Islamismo e Judaísmo seria totalmente proibido. Início da encrenca para um mundo moderno.
Naquela época cada Deus protegia um lugar, e você pedia que cada Deus local ou Comunitário o protegesse enquanto você estivesse sob a sua guarda, o território em que você estivesse no momento.
Agora atentem para as consequências de um Deus assim definido.
Um Deus Comunitário não incentivaria guerras territoriais.
Combater um povo vizinho era uma coisa, combater também o seu Deus era outra. 
Pior, o Deus que lhe protegia ficava para trás e você e sua tropa ficavam temporariamente desprotegidos.
Mas 40.000 anos atrás havia também centenas de povos nômades e povos de pastoreio, que mudavam sistematicamente de território com seus animais.
Quando a área ficava totalmente depredada, procuravam novas regiões férteis e não depredadas pelos próprios povos.
Estes povos obviamente não desenvolveram Deuses locais, territoriais e Comunitários, e sim Deuses portáteis ou ambulantes.
Deuses acompanhavam o povo ao longo de seus longos trajetos, de local em local.
Estes Deuses eram intimamente ligados com seus Povos, e não com seus territórios ou locais.
Eram Deuses não tão ecológicos e preocupados com a sustentabilidade da Terra e o Ambiente. Animais eram para serem sacrificados, frutos eram para serem comidos, porque sempre haveria o suficiente. Bastava mudar de local.
Eram Deuses não muito preocupados com investimentos em casas, ruas, sistemas de esgoto, produção, máquinas produtivas e legados para as futuras gerações. Nada que fosse difícil de levar de local para local.
Mas eram ferrenhos defensores do Povo que protegiam.
Eram exigentes, mas leais.
Eram Deuses que protegiam seus povos inclusive de outros Deuses, coisa que os Deuses Comunitários não faziam.
Os Deuses dos Nômades defendiam seus povos com todas as suas forças, mesmo que tivessem que destruir o inimigo. Eram Deuses que tinham inimigos. Os Deuses de outros povos chamados de hereges. 
Tragicamente, esta visão de Deus de povos Nômades incentiva a Guerra.
Os Povos com Deuses especiais se sentiam super protegidos nas suas lutas, porque Deus estaria sempre ao seu lado, como sempre esteve.
Deus os ajudariam a conquistar um novo território inclusive, mesmo que fosse temporariamente.
Por isto, guerras entre nômades e povos territoriais eram sempre sangrentas.
Eram guerras religiosas, entre dois Deuses.
É importante enfatizar aqui que nada disto foi premeditado, é simplesmente consequência lógica de ser um povo nômade ou ser um povo sedentário e Comunitário.
É fácil entender porque um povo nômade desenvolveria um conceito de Deus que protege e segue o povo, e não o território que nunca é o mesmo.
É fácil entender porque um povo nômade será mais cheio de si e arrogante sabendo que tem um Deus o protegendo.
É fácil entender porque um povo sedentário não achará que Deus protege mais o povo do que as árvores, o ar, os ventos, as montanhas, as plantas.
É fácil entender porque um povo sedentário é menos belicoso, que se preocupará mais em se defender dos povos nômades do que atacar.
É fácil entender porque um povo sedentário irá desenvolver Deuses da água, do ar, dos ventos.
É fácil entender o problema religioso do mundo moderno, quando adeptos de Deuses Comunitários começam a mudar de cidades, e adeptos de Deuses Nômades começam a se fixar em cidades, e ambas as religiões começam a ter que conviver entre si. 
É fácil de compreender que a crise religiosa que estamos enfrentando tenha seguido justamente a fase de surgimento da agricultura, do urbanismo e da globalização, que vimos no século XX.
A crise religiosa que estamos enfrentando é basicamente uma luta entre Deuses Nômades versus Deuses Comunitários.
E transcende a Religião e já passou para a Política.
Isto fica claro nos Estados Unidos, onde os Republicanos são basicamente os Estados comunitários e agrícolas do centro dos Estados Unidos, onde a comunidade é mais importante do que a mobilidade.
E os Democratas são basicamente os nômades que mudaram do campo para as grandes cidades do Leste e o Oeste.
Agora vem a grande pergunta.
Qual é a concepção de Deus que melhor se adequaria aos tempos modernos, o Deus Nômade que protege o Povo ou o Deus Territorial que protege a Ecologia e o Meio Ambiente do qual fazemos parte?
Algo para Se Pensar
Por: Stephen Kanita : http://blog.kanitz.com.br/

sexta-feira, 18 de julho de 2014

PAIS E MESTRES!

Quando era pequeno observava meu pai como um ídolo, um homem capaz de conquistar a mulher por quem eu tinha tanto amor. Vendo este ídolo queria ser igual a ele, vestia sua camisa de trabalho, pois era nessa hora que ele ganhava o beijo, colocava seus sapatos, mostrando já ser “grande”. Queria comer as mesmas comidas que ele colocava no prato, ver os mesmos programas de televisão vistos por ele, me divertir com os mesmos programas de lazer que o divertiam. Meu pai era um mito de perfeição, um exemplo vivo de como seguir minha vida para conquistar uma mulher como a que eu amava.

Aos poucos fui crescendo, percebendo outras realidades além da minha, fora dos muros de minha casa. Entendi que existiam outras mulheres para serem conquistadas, mas ainda assim, meu exemplo de como fazê-lo vinha do meu maior mestre, meu pai. Ao ir em busca dos meus amores percebi que reproduzia não só os comportamentos afetivos de meu pai, mas que buscava o que buscava com o mesmo afinco que ele o fazia. Percebi que mesmo tendo sonhos diferentes, era a mesma forma de sonhar. O estranho é que muitas vezes conversamos como deveriam ser as coisas para mim, que eram outros tempos e outras experiências. Mas, mesmo em outros tempos, com outras experiências, meu espírito de vida se preparara para cada desafio junto com ele. Assim, em cada desafio que enfrentei na vida um pouco dele esteve comigo.

Hoje tenho filhos, um em casa e muitos fora dela. São crianças que encontro pelas ruas, filhos de amigos, conhecidos, parentes, estranhos e aqueles pelos quais nutro um carinho especial, meus alunos. Como posso saber o que vão aprender do que eu ensinei? Alguns deles lembrarão de minha palavras até o fim de suas vidas, lembrando frases, jargões, brincadeiras, piadas. Mas sei que alguns deles amanhã esqueceram minhas palavras, mas lembram como me vestia, como cortava o cabelo, o que comia, o que bebia, como demonstrava meu carinho e até mesmo minha raiva. Mas, sei que haverão ainda outros que não lembrarão de minhas palavras ou de como me comportava e vestia, mas lembrarão que era o “professor”.

Esse é o tamanho de nossa responsabilidade frente a cada pessoa com quem conversamos, com quem vivemos. Se olhar para suas crianças, de seus vizinhos, aquelas que encontram pelas ruas, vai se orgulhar do que está ensinando? Como as pessoas que convivem com você irão lembrá-lo? Somos um espelho existência, a partir do qual muitas pessoas medem a própria existência. Você está feliz com o que herdou dos seus pais? O que está ensinando?
Pense nisso!

Por: Rosemiro A. Sefstrom Do site: http://rosemirosefstrom.blogspot.com.br/

segunda-feira, 14 de julho de 2014

TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO E SUA INFLUÊNCIA NA IGREJA


Avançando para a reta final da análise da mentalidade revolucionária, é necessário estudar as raízes da teologia da libertação e sua influência na Igreja. Como a teologia da libertação se encaixa na mentalidade revolucionária?

Dentro do pensamento marxista, mais especificamente do pensamento marxiano[1], a religião e a teologia fazem parte de uma superestrutura, de algo que não faz parte da infraestrutura que move a história, ou seja, a economia[2]. O pensamento revolucionário posterior a Marx, porém, começou a perceber a importância da cultura, da superestrutura[3]. Marx considerava a religião como ópio do povo. Na Rússia, o stalinismo/leninismo tentou abolir a religião, mas Gramsci e a escola de Frankfurt descobriram que a cultura é, de alguma forma, a religião exteriorizada. Todos parecem ter uma visão religiosa do mundo e a cultura seria a exteriorização desta visão de mundo.

Feuerbach afirmava que toda a teologia é uma antropologia, pois dizia que tudo aquilo que se afirmava a respeito de Deus, que todas as afirmações religiosas podiam ser reduzidas a afirmações antropológicas. A religião parece, desta forma, ser uma projeção da humanidade na divindade. Feuerbach entende que a teologia é uma antropologia alienada. A Teologia da Libertação se esforça para seguir essa cartilha, pois é a imanentização[4] da religião cristã e de qualquer outra religião[5]. Tudo aquilo que se refere a Deus é relido em chave antropológica, mais especificamente em linguagem sociológica. Todo o conteúdo do sagrado e do transcendente é esvaziado na imanência humana.

Assim, uma das características básicas da Teologia da libertação é a negação de uma esperança transcendente. Não se espera o reino de Deus na transcendência, mas sim na imanência deste mundo. Seu golpe, porém, se caracteriza pelo fato de se afirmar que a transcendência se encontra no futuro. Mas, o futuro também é imanente, pois pertence à realidade desse mundo.

Essa afirmação do futuro como transcendente é própria do marxismo[6], ao se utilizar de um imanentismo fraco, afirmando que o sentido do hoje está no amanhã[7]. O marxista adia a crise de sentido diante de uma possibilidade de futuro. Mas, se o sentido do hoje é o amanhã, qual o sentido do amanhã? Qual o sentido da sociedade do futuro? Se a vida tem sentido, este sentido, necessária e logicamente, estará fora da vida. O único caminho para que a história tenha sentido é falar de uma meta-história, de algo transcendente.

O Reino dos Céus, conteúdo da fé cristã, não é o reino do amanhã, mas é o reino do além, da eternidade, eternidade que irrompeu na história humana e se fez carne. O transcendente, o sentido de tudo, o logos se fez presente na história humana. Exatamente por isso tornou-se alcançável, tangível[8]. O esforço da teologia será o de mostrar que esta aparente contradição não trai a racionalidade, mas a aperfeiçoa. A verdadeira teologia é uma tentativa de reflexão que tenta conciliar os paradoxos e aparentes contradições da fé[9] com a racionalidade.

Um "teólogo" da libertação não se move por esse mesmo caminho. Sua argumentação irá mudar quantas vezes forem necessárias até a realização do seu intento. Não existe nenhuma dificuldade em abandonar qualquer estereótipo. Tudo o que for necessário para favorecer a revolução será feito, pois qualquer argumento só tem validade enquanto convence. Se não convencer será descartado. É por isso que os teólogos tradicionais tem uma dificuldade imensa de compreender a forma de pensar de um teólogo da libertação, pois a lógica aristotélico-tomista, a todo o momento, percebe a falta de coerência lógica dos marxistas[10]. Na realidade, não seguem a lógica de Aristóteles, pois Gramsci já indicou o caminho: bom é aquilo que ajuda a revolução, mau é aquilo que atrapalha.

Para se dialogar com um marxista é preciso inverter o caminho costumeiro da argumentação, já que ele parte do primado da práxis sobre a teoria, sabendo o que quer fazer e, num segundo momento, cria a teoria para justificar a sua práxis. E, nesse caminho, o grande adversário a ser combatido é o cristianismo, ópio do povo, pois aliena 'o povo' da luta pela implantação de uma sociedade justa e sem classes através da pregação do reino dos céus. Tudo o que faça com que o povo não lute, não serve e não deve existir.

O povo deve ser engajado num processo de engenharia social e a religião deve ser metamorfoseada quantas vezes forem necessárias para ajudar nesse processo. O revolucionário não busca a verdade, pois não crê em sua existência. E uma vez que o marxismo viu que não conseguia destruir a Igreja a partir de fora (Revolução Russa, Gulags, Guerra Civil Espanhola) partiu para uma nova tática: infiltrar-se na Igreja, através da teologia da libertação, que se constituiu num projeto de engenharia social que, a partir da própria Igreja, buscou fazer com que a Igreja mudasse a sua própria natureza, constituindo-se numa força para ajudar a concretizar a revolução social. A tentativa: fazer com que o cristianismo deixe de ser visto como é, um acontecimento e passe a ser visto como uma realidade mental.
Por: Padre Paulo Ricardo

Referências

  1. Marxiano = pensamento específico de Marx.
  2. Segundo Marx, a história se move a partir de interesses econômicos.
  3. Por isso, o marxismo cultural é por muitos teóricos considerado heterodoxo, exatamente por se desviar do ponto central do pensamento de Marx, valorizando mais a cultura do que a economia.
  4. Considerar como válido somente o que é da experiência, palpável, empírico em detrimento de toda a realidade que remeta ao transcendente.
  5. Hans Küng tem proclamado uma ética mundial, na qual faz uma conferência sobre cada uma das religiões, relidas de forma imanentista, pois elas servem enquanto força de inconsciente coletivo, dos arquétipos que pode ser manipulada para produzir a sociedade que se deseja, o combustível que pode ser utilizado num projeto de engenharia social. A finalidade da religião é assim, imanente.
  6. Um imanentista em sentido pleno é um existencialista, pois vê que a vida não tem sentido, pois este mundo daqui é tudo que existe. Portanto, não há sentido fora do mundo. Os existencialistas merecem o nome de filósofos, uma vez que levam o ateísmo até as últimas consequências, mostrando que, já que Deus não existe, só sobra o desespero para o ser humano.
  7. A Teologia da Libertação, desta forma é a aplicação eclesial do “dogma” marxista, pois apresenta o sentido da Igreja como a Igreja do amanhã, que é tecnicamente chamada de Reino de Deus.
  8. Este é o grande paradoxo do cristianismo. O esforço teológico é o de explicar que o que é aparentemente contraditório é algo profundamente lógico.
  9. Sendo assim, não existe, verdadeiramente uma teologia da libertação, mas sim uma ideologia, já que ideologia é uma série de ideias e de reflexões que servem para justificar interesses de classes, interesses de engenharia social. A teologia da libertação é, na verdade, uma ideologia a serviço de uma engenharia social.
  10. Acusar de homossexualismo quem usa batina e defendem o casamento homossexual. É conveniente chamar de homossexual quem usa batina e no momento seguinte defender a sacralidade da relação homossexual, para destruir a estrutura da sociedade patriarcal.

sexta-feira, 11 de julho de 2014

ALIANÇA POLÍTICA ENTRE CATÓLICOS E EVANGÉLICOS

Hoje, não é possível contribuir para o bem do Brasil sem que haja uma sólida aliança política entre os católicos e os protestantes, embora existam muitas pessoas trabalhando contra isto.

Antes de explicar por que esta aliança é importante, urge que se explique o que é política. O Papa Francisco, durante sua visita ao Brasil, disse: "O futuro exige hoje o trabalho de reabilitar a política (...), que é uma das formas mais altas da caridade"01. Esta frase tem sido recorrente nos discursos do Santo Padre: a política é uma elevada forma de caridade. Trata-se de um esforço, um trabalho sistemático em prol do bem comum. E justamente por isto ela é uma forma de caridade: para buscar o bem comum, é preciso renunciar a algo que nos é próprio.

Encontramo-nos na seguinte situação: uma ideologia internacional, bem financiada e determinada, está cooptando milhares de pessoas para trabalhar pela destruição do patrimônio moral multissecular do Ocidente. Um antro de criminosos pôs na cabeça que precisa acabar não só com a moralidade judaico-cristã, mas com a própria família. Como eles têm consciência de que a população como um todo é contrária aos seus anseios, eles manipulam a linguagem para destruir essas instituições sem que ninguém perceba. "Mudar o significado e o conteúdo das palavras é uma artimanha para que a reengenharia social seja aceita por todos sem protestos"02.

Para combater esta investida perversa contra os próprios fundamentos da civilização, é necessária uma coalizão conservadora de católicos, protestantes, espíritas, judeus e todos os homens de boa vontade que querem verdadeiramente conservar o patrimônio espiritual, moral e jurídico que forjou o Ocidente.

É evidente que, na prática religiosa do dia a dia, todo bom católico continuará acolhendo o chamado à missão e procurando a conversão dos outros. A mesma coisa acontecerá do lado dos protestantes. Ou seja, para um bom católico, o protestante continuará sendo um herege e, para um protestante convicto, um católico permanecerá sendo um idólatra. Onde há liberdade religiosa, é normal que as pessoas empreendam o diálogo entre si, tentando convencer as outras.

Não é preciso, pois, revirar o passado para procurar alguma forma de desunir os cristãos. Os católicos e os evangélicos estão perfeitamente de acordo que, no plano religioso, não há acordo nenhum. É em outro campo que se quer firmar um acordo: o campo político. Para firmar este acordo, é preciso deixar de lado as diferenças para trabalhar juntos. Nesta coalizão, é preciso travar uma luta para salvar a família, a moralidade e a própria civilização, que estão sendo atacadas por uma horda de bárbaros.

Esses "novos bárbaros" não vêm com a guerra, cruzando os limites geográficos de nossos territórios; mas vêm com uma ideologia, como serpentes, com a língua bifurcada: com as palavras, dizem uma coisa; mas, no fundo, querem insinuar outra. Encapam seus propósitos sórdidos com termos sofisticados, como "discriminação" e "identidade de gênero"; mas, na verdade, desejam destruir os papéis familiares de pai, mãe, esposo, esposa e filhos, e implantar suas estratégias nos currículos escolares de nossas crianças. Aplicam-se a eles as palavras do salmista: "Enquanto eles bendizem com os lábios, no coração, bem lá do fundo, amaldiçoam"03.

Ninguém discute que é preciso respeitar as minorias, mas não se pode tolerar que as nossas escolas se tornem fábricas de destruição do patrimônio moral judaico-cristão. Por isso, católicos e evangélicos devem deixar de lado as suas diferenças para trabalhar juntos pelo bem comum e pelas nossas famílias, antes que seja tarde demais.

Por: Padre Paulo Ricardo

Referências
Papa Francisco, Encontro com a classe dirigente no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, 27.07.2013 
Juan Claudio Sanahuja. Poder Global e Religião Universal. 1. Ed. Katechesis/Ecclesiae: Campinas, 2012. p. 39 
Sl 61, 5

quinta-feira, 10 de julho de 2014

SEXO OU GÊNERO?

A palavra “gênero”, em seu sentido ordinário, é apenas uma forma delicada de expressar o “sexo” biológico das pessoas. Para o movimento feminista, no entanto, a palavra tem outra conotação: a novilíngua inventada pelo Gender Establishment fixa o termo “gênero” como um papel socialmente construído, algo não dado biologicamente e cuja “identidade” cada um é responsável por forjar. Tratar-se-ia, portanto, de uma coisa distinta do que comumente se chama “sexo”.


Quando documentos da Organização das Nações Unidas ou textos legislativos ao redor do mundo trazem em seu bojo a palavra “gênero”, é preciso acionar o pisca-alerta. Este material, produzido por pessoas pretensamente intelectualizadas, pretende introduzir uma espécie de Cavalo de Troia nas constituições políticas nacionais, destruindo a estrutura familiar natural e legitimando toda e qualquer espécie de perversão sexual – desde que previamente consentida.

No Brasil, já há vários projetos de lei contendo esta palavra[1], esperando apenas a votação do Poder Legislativo para entrar no sistema normativo nacional e servir de instrumento a agentes comprometidos com a agenda marxista revolucionária. O projeto de reforma do Código Penal (PLS 236/2012), por exemplo, adiciona como “agravante do crime”, em seu art. 75, o “preconceito de (...) orientação sexual e identidade de gênero”; o Plano Nacional de Educação (PLC 103/2012), já aprovado na Câmara, estabelece como uma de suas diretrizes a “promoção da igualdade (...) de gênero e de orientação sexual”; do mesmo modo, outros projetos, visando alegadamente proteger a mulher da violência sexual, falam de adicionar a agenda de gênero aos “conteúdos curriculares da educação básica”.

Afinal, qual é o problema com esta palavra? Como já dito, o termo “gênero” não traz em si nada de ofensivo. No entanto, como adverte um panfleto distribuído pela “Coalizão pelas Mulheres e pela Família” à época dos preparativos para a Conferência de Pequim (1995), “a palavra ‘gênero’ tornou-se politizada. Se vier a ser usado no texto, precisa ser definida para que todos possam concordar com o que ela significa”[2]. Caso contrário, é melhor não usá-la. O título do panfleto deve tornar-se um lema para os grupos pró-vida e pró-família na luta contra a ideologia de gênero: “Gênero: defina-o ou não o use”.

É preciso dizer claramente que, em uma sociedade democrática, cuja soberania é teoricamente exercida pelo povo, a destruição da família tradicional é, tragicamente, uma possibilidade. No entanto, à luz da doutrina da Igreja, que recorda que a complementaridade afetivo-sexual do homem e da mulher é uma questão de direito natural, é impossível atentar contra a instituição do casamento, fixada pelo próprio Deus no início dos tempos[3], sem que se destrua a sociedade. Não bastasse a audácia da proposta do Estabelecimento de Gênero, que declara guerra à própria natureza humana, eles tentam promover sua agenda à revelia da população mundial, enganada por uma “espiral do silêncio” midiática e ludibriada por um discurso encapado de “diálogo democrático”. Os ideólogos de gênero querem destruir a família, mas fazem-no secretamente, sem que o povo, soberano, tenha consciência do que está acontecendo.

Qual atitude deve ser tomada para combater esta perversidade? A primeira arma é, sem dúvida, o estudo. Não é possível entrar na guerra cultural sem fazer o dever de casa, coisa que o Gender Establishment já fez – de modo bem feito e há muito tempo. Para entender como esta coalizão maligna trabalha, é preciso recorrer às obras que ela produz e aos textos que ela engendra, por exemplo, na ONU. A Conferência de Pequim já traz, em seus documentos oficiais, a palavra “gênero”. Tratou-se do resultado de um trabalho meticulosamente articulado, como se conclui da leitura do livro “The Gender Agenda”, de Dale O’Leary, traduzido em espanhol e disponibilizado, abaixo, na íntegra.

Friedrich Engels, Margaret Sanger, Sulamita Firestone e Judith Butler são nomes de apenas algumas personagens que, agindo nos bastidores, contribuíram – ou têm contribuído – enormemente para a causa de gênero. A este trabalho demoníaco é preciso opor a resistência dos filhos da luz. Para elas, é um ofício muito mais penoso legitimar suas ideias, já que, sendo fruto apenas da produção ideológica, precisam ser sustentadas por um novo vocabulário e um novo imaginário social. Com os cristãos, ao contrário, está a verdade, com sua força própria e fora de cujo conhecimento nenhum homem pode ser genuinamente livre[4].


Livros recomendados

La Agenda de Género – Redefiniendo la Igualdad, de Dale O’Leary
Ideologia de Gênero: o neototalitarismo e a morte da família, de Jorge Scala
Por: Padre Paulo Ricardo  Do site: https://padrepauloricardo.org

Referências

Projetos de Lei que pretendem introduzir o conceito de gênero na legislação brasileira
Cf. “A não definição de gênero” in A agenda de gênero – Redefinindo a igualdade, condensado da obra de Dale O’Leary
Cf. Gn 2, 24: “Por isso, o homem deixa o seu pai e a sua mãe para se unir à sua mulher; e já não são mais que uma só carne”.
Cf. Jo 8, 32: “Conhecereis a verdade, e a verdade vos livrará”.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

NÃO SEI!

Há um tempo em que comecei a estudar Filosofia Clínica, naquele período achava que tinha encontrado o caminho para encontrar as respostas que precisava sobre a alma humana. Parecia bem provável para mim que pela Filosofia teríamos um caminho longo e árduo sobre a alma humana, mas que, ao final, chegaríamos a alguma resposta que pudesse preencher minha alma. No entanto, com o tempo e as aulas que tive comecei a escutar uma incomoda resposta do professor: “Não sei!” Me intriguei com a resposta, principalmente por ser a resposta de um filósofo. Por experiência sei que esta espécie de estudioso costuma ter respostas muito bem elaboradas e construídas, lhes dando certeza do que falam.

Por um tempo continuei acompanhando as aulas e vendo aquele fenômeno do “não sei” permeando boa parte das respostas do filósofo. Mas, como queria saber o motivo de tantas falta de sabedoria para responder às questões feitas sobre o entendimento da alma humana, fiz eu mesmo uma pergunta: “Professor, estou passando por uma fase bastante difícil em minha vida, para tentar chegar a uma resposta preciso de sua ajuda. Minha situação é a seguinte. Tenho vinte e um anos de idade, acabei de me formar na faculdade e estou empregado, meu salário não é grande coisa, mas me mantém. Gosto do que faço, modéstia a parte sei fazer bem aquilo para que fui treinado, mas não tenho gosto pelo que falo, faço mais pelo que vem no final do mês. Agora me surgiu a oportunidade de trabalhar em algo que gosto, que é na área da educação. O primeiro ponto negativo é que o salário que já é peque no vai ficar ainda menor. Depois tenho as contas para pagar e tantas outras pequenas coisas que me dizem que não é viável mudar de profissão. Devo seguir minha razão ou a minha emoção?” O professor olha com tranqüilidade e responde: “Não sei!”

Não agüentei, fiquei bastante chateado e perguntei: “Como assim, não sabe? Segundo a ordem das coisas sou eu quem não sei e você quem sabe, o que acha?” O professor paciente me responde: “Como posso saber quais as orientações de sua vida antes de conhecê-la? Só posso orientá-lo depois de saber sua história de vida, a orientação que sua caminhada tem e como tudo o que está dentro de você se comportará com esta mudança”. Isso me levou a perceber que o que o professor não sabia como eu deveria me comportar com relação às minhas próprias questões. Veja bem, minhas próprias questões. Apontou que para mim, assim como para qualquer um outro seria diferente.

A partir de então percebi que cada pessoa tem uma forma única de ser e por assim dizer, de fazer as próprias coisas. Lembrei dos conselhos dados aos amigos dizendo como deveriam gerenciar a própria vida, seus amores e tristezas. Comecei a examinar alguns dos conselhos e orientações que recebi, para não dizer tudo, a maior parte do que me falaram dizia respeito à pessoa que estava me falando. Por assim dizer, quem dizia que eu deveria chorar quando estava triste é porque pensava que assim deveria todos fazer quando estavam tristes. Quem dizia que dor de amor se cura com outro amor, é porque pensava que todos deveriam comportar-se assim. Com o professor aprendi que para minhas questões sou eu quem tem as respostas e para as questões de outras pessoas, sem saber sua história de vida, sem conhecê-las, “Não Sei!”
Pense nisso!
Por: Rosemiro A. Sefstrom Do site:http://rosemirosefstrom.blogspot.com.br/

terça-feira, 8 de julho de 2014

NÃO SOU PESSIMISTA, SOU REALISTA!

Quando era pequeno costumava subir no mudo de casa com um pedaço de pano amarrado ao pescoço e pular. Quando pulava do alto do muro de pouco mais de um metro, me sentia como se estivesse voando, era uma sensação tão boa que repetia esse movimento várias vezes, até ficar exausto. Era o próprio super homem voando para salvar pessoas, ajudar os necessitados. Outra coisa que costumava fazer era sentar no pátio, pegar meus carrinhos e planejar como seriam as estradas, casa, garagem. Nestes e outros tantos momentos de minha infância vivia um mundo de mentira, uma realidade inventada em minha cabeça. Essa realide não era verdadeira, eu sabia disso, mas nada me impedia de um dia após o outro brincar neste mundo de faz de conta.

Então cresci, passei a olhar o mundo com outros olhos, aprendi a ver a realidade e não ir mais ao mundo do faz de conta. Essa nova realidade que aprendi a ver é um mundo interessante, nele aprendi a ver as dores, o sofrimento de pessoas que, como meu pai, dormia durante o dia e trabalhava duro durante a noite. Também aprendi a ver a realidade de uma mãe de família que mês a mês juntava os poucos trocados ganhos com um mês de trabalho e tentava alimentar, vestir, educar, manter saudáveis os membros da família. Aprendi ainda que a realidade é aquela em que a verdade é sempre obrigatória, uma necessidade de primeira ordem, quase mais importante do que comer.

O relato mostra o oposto entre a vida criativa de uma criança e a vida calcada na realidade de um adulto. Na vida adulta, tanto uma quanto a outra realidade são parte do discurso: faz parte da vida acordar num dia de domingo, sentar-se na sala, pegar seu video game e se achar o piloto de formula 1. Assim como não tem nada de errado juntar os recibos do mês, colocá-los numa planilha e projetar os gastos dos meses seguintes. O problema que vem ocorrendo são os excessos cometidos por pessoas que se dedicam exclusivamente em criar um mundo de faz de conta, onde a realidade se perde de vista. Na outra ponta existem os casos de pessoas conhecidas por serem verdadeiras, algumas delas cometem o “sincericídio”, ou seja, o ato de assassinar pessoas justamente por serem extremamente verdadeiras, em certos casos, sem necessidade alguma.

O realista é uma pessoa sincera, vê o mundo com uma clareza impressionante, é espantosa a maneira como consegue traduzir com poucas e duras palavras a realidade. Ao sincero o filho com problemas de aprendizado é um vadio, alguém sem a capacidade de aprender o que todo mundo aprende. Para ele o casamento é uma instituição criada pela igreja para dominar as pessoas através de teorias não verificáveis em vida. O salário é um triste fardo a ser administrado de forma que acabe depois da necessidade. Pior ainda: a necessidade continua e o salário já terminou. Existe uma série de predicados que torna uma pessoa realista um bom modelo de vida, alguém que vive a realidade.

Ver um mundo em que tudo deu, está dando ou vai dar errado não é uma boa forma de ser realista. Isto está mais para pessimista. Sentar ao vídeo game e simplesmente brincar de ser piloto de corrida, jogador de futebol ou lutador de luta livre não é deixar de ser realista, mas perceber que a realidade não vai mudar só porque eu faço questão de ver o pior dela.
Por: Rosemiro A. Sefstrom Do site:http://rosemirosefstrom.blogspot.com.br/

segunda-feira, 7 de julho de 2014

CAUSA EFICIENTE

Há um bom tempo aprendi em Filosofia Clínica que o papel de um professor é potencializar as características de um aluno de modo a promovê-lo a partir de si mesmo. Numa organização, qual o verdadeiro papel do líder? Não seria exatamente o mesmo, ou seja, potencializar em seus liderados o que eles têm de melhor? Ser líder, entre outras coisas é ter a capacidade de identificar no liderado as capacidades a serem desenvolvidas e propiciar um ambiente adequado para o seu desenvolvimento. Para ilustrar o processo de um bom líder podemos tomar por base Aristóteles, sendo que ele foi o preceptor de Alexandre da Macedônia. Usarei três conceitos do filósofo para ilustrar a formação de um líder, são eles: potência, ato e causa eficiente.

O primeiro dos conceitos é potência, o qual mostra tudo aquilo que está esperando as condições adequadas para aparecer. Pode-se citar o exemplo de uma semente, nela está em potência uma árvore, mas esta só aparecerá quando as condições forem adequadas para isto. Numa pessoa, o líder que é formador percebe em seus liderados quais são as capacidades que estão apenas como potência, ou seja, as capacidades que ainda não encontraram as condições para aparecer. Em muitos casos o colaborador é dedicado, pontual, pró-ativo, busca melhorar a cada dia, mas falta-lhe amadurecer algumas características. O líder formador consegue perceber os potenciais, sabe que aquele ou aquela colaboradora tem algo que precisa ser cultivado para que aconteça. Desta forma, pode-se dizer que um líder que não forma outros líderes provavelmente não consegue ver no outro potenciais, capacidades a serem desenvolvidas. Desta forma pode-se questionar se ele é de fato um bom líder.

Outro conceito é a causa eficiente, o qual remete-se ao que faz com que o movimento aconteça. A causa eficiente pode ter como exemplo o movimento de uma bicicleta que tem como causa eficiente o homem que pedala. Desta forma o líder que se torna causa eficiente é aquele que percebe a potência do colaborador e faz com que ela aconteça. O líder percebe que seu colaborador tem em potência criatividade e se torna causa eficiente dando ao colaborador a oportunidade de trabalhar no setor criativo da organização. O mesmo pode acontecer com um colaborador que tem como potência a organização, o controle, e este é convidado pelo seu líder para cuidar do estoque, fazendo com que a potência aconteça. Todo líder que se torna causa eficiente é um líder que provoca movimento, pois toda causa eficiente faz com que aconteça a passagem da potência ao ato.

O ato é aquilo que é, que se tornou real, fato. Assim, quando a organização tem um líder que é causa eficiente, ele percebe quais são os potenciais de seu colaborador e cria as condições para que estes potenciais se tornem em ato. O líder causa eficiente conhece seus liderados a ponto de saber seus potenciais e como é necessário agir para que este potencial se torne ato. Quando esta relação entre causa eficiente, potência e ato está harmônica o líder se relaciona com o colaborador como formador de outros líderes. Quando um líder é formador começam a aparecer as equipes de alta performance, ou seja, todos os potenciais são aproveitados da melhor maneira.

Não é preciso estar dentro de uma organização para ser causa eficiente. Um pai, por exemplo, pode perceber nos seus filhos quais são os potenciais e criar as condições para que eles se tornem ato. Um bom professor pode perceber em seus alunos os potenciais, um bom agricultor pode perceber nas suas terras os potenciais. O grande desafio não é criar as condições, mas criar as condições de acordo com a pessoa e seu potencial. O motivo pelo qual alguns líderes têm dificuldades para formar seus liderados, é o fato de não conhecem seus colaboradores.
Por: Rosemiro A. Sefstrom Do site:http://rosemirosefstrom.blogspot.com.br/

quinta-feira, 3 de julho de 2014

MATEMÁTIVA EXISTENCIAL

Algumas pessoas veem o mundo através de números e contas. Há alguns dias atrás, sentado no cafezinho, ouvia a conversa de duas mulheres sobre seus relacionamentos. A primeira delas dizia: “vivo com meu marido há quatro anos, tive cinco filhos, subi dois níveis na minha carreira profissional”. A outra falava que estava no quarto namorado, devendo metade de tudo que tinha e sem nenhum filho. Prestando atenção à conversa alheia fiquei interessado em saber o resultado de cada uma das duas contas, como estas ficariam depois do sinal de igual. A primeira colocou que estava cem por cento satisfeita com sua vida, já a segunda atribuiu nota sete a sua vida atual. Agora, será que o cem por cento da primeira equivale aos sete da segunda? Ou será que o sete vale mais do que o cem por cento? A conta existencial feita pelas mulheres deve ser vista do ponto de vista de cada uma, ou seja, o valor de cada termo da equação deve ser pesquisado.


O exemplo ilustra o modo como algumas pessoas olham para o mundo: para elas a vida é um grande escritório contábil. Em Filosofia Clínica casos como estes são entendidos como pessoas que têm como determinante o tópico 07, Termos Universais, Particulares e Singulares. Cada pessoa em sua Estrutura de Pensamento (EP) leva matematizações em proporções diferentes, o mais importante: cada pessoa atribui valores diferentes a cada produto presente na equação. Pense na esposa que chega em casa depois de um dia de trabalho e vê a casa toda bagunçada, filhos sem banho tomado, janta por fazer, sendo que o marido passou o dia em casa. Que conta faria essa mulher? É provável que ela diga, trabalhei o dia inteiro, chego em casa cansada, a casa está bagunçada, filhos sem banho tomado, janta por fazer, é isso que eu ganho por ter casado com um homem folgado. Veja, a conta dela se justifica pela opção de casamento.

Algumas pessoas fazem contas muito simples, os termos colocados na equação são inteiros como: beleza mais dinheiro igual amor à primeira vista. Os conceitos utilizados pela pessoa são valorizados de tal maneira que propiciam a ideia de casamento. Essa conta pode ser feita de maneira simples: mentiroso mais traição igual a fim do relacionamento. Os números para pessoas que fazem contas simples são inteiros, são contas fáceis de se perceber. Contas mais difíceis são aquelas nas quais a pessoa começa a pesar frações, como aquela que pesa: dois maridos, mais menos um filho, mais uma carreira de sucesso. Como essa conta termina? Representando essa conta em números: 2 + (-1) + 1 =? Outro tipo de conta, ainda mais complexa é aquela de pessoas que colocam por formas, como: eu era inteiro até que me foi arrancada uma parte, agora sou apenas uma parte de mim. Esse relato é frequente em pessoas que matematizam frações. Para algumas pessoas o que lhes deixou incompletas foi a morte de um filho, para outros a perda de um membro, uma perna, um braço.

Matematizar, fazer contas, quantificar as coisas da vida para alguns é inadmissível, para outros é parte da sua existência. São pessoas que olham para mulher, filhos, amigos, trabalho, amor, como coisas que podem fazer parte de uma equação que terá um resultado positivo ou negativo. Algumas pessoas vivem muito bem com resultados negativos para o mundo, mas positivos para si, como diz o ditado: “Mais vale um gosto que um tostão no bolso”. Outras pessoas põem valor em tudo, ao mesmo tempo em que estas coisas valem nada diante da necessidade de um filho. É necessário verificar em cada um o que tem e o que não tem valor. Infelizmente algumas pessoas dão valor àquilo que em verdade nada vale.
Por: Rosemiro A. Sefstrom

quarta-feira, 2 de julho de 2014

MEU CORAÇÃO ME TRAIU!

Cada pessoa ao se conectar a uma outra, ou, como se diz em Filosofia Clinica, ao construir uma interseção com a outra, põe uma série de conteúdos em comum. Algumas pessoas colocam mais conteúdos nessa interseção, outras muito menos, de modo que se constrói um espaço que forma a relação. A essa construção compartilhada chamamos de relação, conexão, amor e outras milhares de palavras que apontam a interseção entre duas pessoas. Mas, há um problema, como saber se a pessoa com quem estou conectado é a pessoa certa? Como saber se numa relação em que dedico o meu amor a outra pessoa está interessada em continuar comigo?


Um relacionamento pode se iniciar por vários motivos, basta ver nos filmes: alguns começam porque a moça ou moço é bonito, rico, inteligente, esperto, engraçado, mas isso pode ser apenas um termo de passagem de um encontro em um relacionamento. Depois de um primeiro contato, o casal começa a construção da interseção, de modo que cada um põe os conteúdos em comum e partilha os conteúdos do outro. É ilusão achar que os relacionamentos começam ou duram e até mesmo acabam por causa de amor. Para muitas pessoas o amor é apenas uma sombra, sem cor, sem forma, elas sabem que até pode existir, mas não estão interessadas. Cada relacionamento tem suas peculiaridades, tanto a literatura quanto a vida são ricos em exemplos. Tenho certeza que não sou o único que conhece um casal que vive de aparências, isso segundo os vizinhos. Se a aparência faz o casal estar junto, vivem bem assim, o que há de errado? Ou será que a maior parte dos homens e mulheres quando vão para a balada estão em busca só de uma mente brilhante?

Mas, existem muitos casos nos quais é realmente o amor que faz a relação acontecer. A menina ou o menino realmente ama seu par, faz juras e espera que essa sensação boa dure tanto quanto possível. Quando isso não acontece, às vezes a decepção é muito grande, porque a pessoa depositou todo o seu amor em uma pessoa que não era a certa. Mas como saber? O coração simplesmente diz, aponta para a pessoa e nada se pode fazer contra ele, mas ele, assim como razão, também erra. Mas vamos fazer ainda pior, digamos que uma moça tenha plena certeza de que aquele menino não é para ela, mas ainda assim se apaixona. O coração traiu.

Para a pessoa que vive o dilema, não parece tão simples quanto as palavras que escrevo, porque para ela a razão aponta um caminho e o coração outro. Quando a razão tem mais força, facilmente o problema é resolvido, mas algumas vezes o coração tem mais força. São aqueles casos em que, contra todas as possibilidades, a menina ou menino se apaixona pela pessoa errada. Uma situação ainda mais dura acontece quando tanto a emoção quanto a razão tem força, nestes casos a dúvida é o que fica evidente. O caso mais interessante acontece quando as emoções não conversam com a razão, parece estranho, mas acontece. É o caso de uma pessoa que não tem a menor ideia do porque, mas tem uma vontade louca de estar com a outra. Nesse caso a razão e a emoção não se conversam.

Para não ser traída ou traído pelo coração observe em sua história as vezes em que seu coração indicou o caminho e se esse caminho foi bom. Assim como o coração, nossa razão também pode errar. Não há como dizer quem é melhor, razão ou emoção, mas cada um deve pesquisar em sua história de vida quando usou um ou outro para decidir. Quando perceber o uso da razão, preste atenção nos resultados da decisão, quando for o caso da emoção, a mesma coisa. Você pode ser enganado pela emoção, mas também pode tentar conhecê-la e, quem sabe, tornar-se um pouco mais independente.
Por: Rosemiro A. Sefstrom  Do site: http://rosemirosefstrom.blogspot.com.br/

terça-feira, 1 de julho de 2014

VERDADE OU CONSEQUÊNCIA

Verdade, aletheia, véritas, emunah. Todas estas palavras referem-se à correspondência entre o que foi dito e o que se apresenta. Na terapia, ao longo do tempo tenho me deparado com muitas verdades, ou seja, fatos apresentados pela pessoa que lhe são tão evidentes a ponto de não gerar dúvidas. Um dos casos que me chama atenção é quando uma pessoa relata que fica ao lado de alguém por não ter escolha, porque se entende responsável pelo outro. Uma pessoa que relata isso justifica dizendo que o outro precisa dele financeiramente, porque sozinho não saberia se virar, porque é frágil emocionalmente, cairia em depressão. Em cada uma das justificativas a verdade é clara: é preciso ficar porque o outro depende desta pessoa.


Numa das consultas ouvi uma história que há muito tempo não ouvia. A história conta de um caixeiro viajante, vendedor que ia de cidade em cidade vendendo produtos que comprava diretamente na fábrica. Havia numa vila um menino que tinha uma grande admiração pela profissão e sempre que o caixeiro passava na cidade ele queria ir junto. Quando tinha certa idade pediu aos pais e com o consentimento destes partiu com o caixeiro fazer vendas pelas cidades vizinhas. Numa determinada cidade o caixeiro viu uma família muito pobre que tinha uma vaca muito bonita e que dava muito leite. O caixeiro combinou com o menino: “Vamos pedir pouso aqui e durante a madrugada roubamos a vaca, o lucro de sua venda dividimos meio a meio”. O menino concordou e foi assim que o fizeram, acordaram de madrugada e levaram a vaca da família. Foram até uma cidade vizinha e a venderam, o dinheiro foi dividido tal como o caixeiro tinha dito, mas aquilo começou a incomodar o menino. Pensava ele: “Mas era a fonte de alimento e recurso da família, bebiam o leite, vendiam o queijo, como ficarão sem a vaca?” Quando o menino chegou novamente em casa decidiu não seguir novamente em viagem, guardou o dinheiro com o intuito de ir devolver, mas não conseguia ir.

Depois de muito tempo, quando atingiu a maioridade, agora homem, decidiu que não viveria mais com aquele peso. Pegou suas coisas, o dinheiro que entendia ser justo devolver pelo mal causado e partiu. Chegando ao local onde havia a pequena cabana viu uma casa grande, plantações, pomares. Vendo isso o remorso bateu forte. Mesmo assim tocou a campainha da casa para pedir informações sobre as pessoas que moravam na cabana que ali ficava. Foi recebido pelo dono. Perguntou sobre uma família que vivia numa cabana que ficava no mesmo local. O dono da grande casa lhe disse que ele mesmo morava ali, que eram muito pobres, tinham como único bem uma vaquinha. Certa noite, depois que um caixeiro viajante e seu ajudante passaram por ali a vaquinha fora roubada. Com isto ele pegou o pouco dinheiro que tinha e comprou algumas sementes, cultivou e assim começou a prosperar até chegar ao ponto atual. E disse ainda que era grato ao ladrão que o libertou da dependência daquela vaca.

Em muitos casos uma pessoa entende que não pode partir porque o outro depende dela, mas a verdade é que a sua permanência reforça a dependência. Em outras palavras, um marido que não termina o casamento porque a mulher depende dele a mantém dependente continuando ao seu lado. Uma mãe que vai ao apartamento do filho para fazer a limpeza porque o filho precisa pode estar criando dependência. O fato é que muitos não querem encarar a verdade de que são eles que tornam as pessoas próximas dependentes, ou seja, a sua verdade é na realidade uma consequência.
Por:Rosemiro A. Sefstrom