sexta-feira, 30 de novembro de 2012

ASTROTEOLOGIA: BREVE INTRODUÇÃO

Vivemos numa época peculiar, na qual o que antes era província da religião faz parte da ciência


Nós, humanos, somos seres limitados. Criativos e inovadores, conseguimos ampliar em muito a nossa compreensão do mundo por meio da aplicação diligente da razão e, complementarmente, das artes.

Isso porque, se a ciência e as artes têm algo em comum, é justamente a tentativa de estender nossa visão de mundo, de ampliar as fronteiras do conhecimento, revelando aspectos inusitados do real. Um teorema e um poema são reflexões do possível, seja o concreto ou o onírico. A imaginação lança mão de todos os recursos à sua disposição para dar sentido à existência.

Talvez seja por isso que o teólogo americano Reinhold Niebuhr escreveu que "o homem é o seu maior problema". Nossas filosofias, ciências e religiões são tentativas de compreender a existência apesar de nossa miopia, isto é, de nossas limitações sobre o que vemos e entendemos.

Nessa busca, não é coincidência que a crença religiosa funcione como uma bússola para tantas pessoas. Como explicar a origem do Universo? Ou da vida? Ou por que temos uma mente capaz de refletir sobre essas questões complexas?

Tais questões são, hoje, parte da pesquisa científica de ponta. Vivemos numa época peculiar, em que o que antes era província exclusiva da religião faz parte do discurso rotineiro da ciência. Porém, por não termos ainda respostas, essas questões continuam nos assombrando.

Talvez um dos dilemas da humanidade seja a angústia de poder contemplar o divino sem sê-lo. Temos a capacidade de imaginar a perfeição, a ausência de dor, a imortalidade; mas, tirando a ficção e a fé, não temos como transcender nossa realidade carnal, os limites temporais e espaciais. Ou será que temos?

Considerando que a ciência moderna tem apenas quatro séculos (marcando seu início com Kepler e Galileu), e percebendo o quanto já fizemos em tão curto prazo, imagine o que nos espera em mil anos?

Ou 10 mil anos, se, claro, não nos destruirmos antes disso. A ciência nos permite já uma manipulação dos genes de criaturas, a ponto de podermos modificar o que comemos e mesmo alcançar curas diversas.

Extrapolando a expansão tecnológica para o futuro, alguns afirmam que, em algumas décadas, chegaremos a um ponto em que nossa hibridização com máquinas será tão profunda que não poderemos mais nos dissociar delas. Caso essas previsões se concretizem -e, a meu ver, já estão ocorrendo-, seremos, como escrevi aqui recentemente, uma nova espécie, além do humano.

Agora imagine que, tal como nós, outras criaturas inteligentes em algum canto da galáxia descobriram a ciência. Só que o fizeram, digamos, 1 milhão de anos antes de nós, o que em termos cósmicos não é nada.

Essas criaturas teriam se transformado completamente ao se hibridizar com máquinas. Seriam, talvez, apenas informação, existindo em campos energéticos no espaço.

Teriam o poder de criar vida, escolhendo suas propriedades. Poderiam, por exemplo, ter nos criado, ou a alguns de nossos antepassados, como parte de um experimento. Poderiam, por exemplo, estar nos observando, como nós observamos animais no zoológico ou no laboratório. Essas entidades imateriais, mas existentes, seriam nossos criadores. Seriam eles deuses, mesmo se não sobrenaturais? Por: Marcelo Gleiser  Folha de SP

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

NUTRIÇÃO HUMANA SAUDÁVEL


SER ESPECIAL

Ir a Nova York já teve sua graça, mas, agora, o porteiro do prédio também pode ir, então qual a graça?

AFINAL, QUAL a graça de ter muito dinheiro? Quanto mais coisas se tem, mais se quer ter e os desejos e anseios vão mudando -e aumentando- a cada dia, só que a coisa não é assim tão simples. Bom mesmo é possuir coisas exclusivas, a que só nós temos acesso; se todo mundo fosse rico, a vida seria um tédio.

Um homem que começa do nada, por exemplo: no início de sua vida, ter um apartamento era uma ambição quase impossível de alcançar; mas, agora, cheio de sucesso, se você falar que está pensando em comprar um com menos de 800 metros quadrados, piscina, sauna e churrasqueira, ele vai olhar para você com o maior desprezo -isso se olhar.

Vai longe o tempo do primeiro fusquinha comprado com o maior sacrifício; agora, se não for um importado, com televisão, bar e computador, não interessa -e só tem graça se for o único a ter o brinquedinho. Somos todos verdadeiras crianças, e só queremos ser únicos, especiais e raros; simples, não?

Queremos todas as brincadeirinhas eletrônicas, que acabaram de ser lançadas, mas qual a graça, se até o vizinho tiver as mesmas? O problema é: como se diferenciar do resto da humanidade, se todos têm acesso a absolutamente tudo, pagando módicas prestações mensais?

As viagens, por exemplo: já se foi o tempo em que ir a Paris era só para alguns; hoje, ninguém quer ouvir o relato da subida do Nilo, do passeio de balão pelo deserto ou ver as fotos da viagem -e se for o vídeo, pior ainda- de quem foi às muralhas da China. Ir a Nova York ver os musicais da Broadway já teve sua graça, mas, por R$ 50 mensais, o porteiro do prédio também pode ir, então qual a graça? Enfrentar 12 horas de avião para chegar a Paris, entrar nas perfumarias que dão 40% de desconto, com vendedoras falando português e onde você só encontra brasileiros -não é melhor ficar por aqui mesmo?

Viajar ficou banal e a pergunta é: o que se pode fazer de diferente, original, para deslumbrar os amigos e mostrar que se é um ser raro, com imaginação e criatividade, diferente do resto da humanidade?

Até outro dia causava um certo frisson ter um jatinho para viagens mais longas e um helicóptero para chegar a Petrópolis ou Angra sem passar pelo desconforto dos congestionamentos. Mas hoje esses pequenos objetos de desejo ficaram tão banais que só podem deslumbrar uma menina modesta que ainda não passou dos 18. A não ser, talvez, que o interior do jatinho seja feito de couro de cobra -talvez.

É claro que ficar rico deve ser muito bom, mas algumas coisas os ricos perdem quando chegam lá. Maracanã nunca mais, Carnaval também não, e ver os fogos do dia 31 na praia de Copacabana, nem pensar. Se todos têm acesso a esses prazeres, eles passam a não ter mais graça.

Seguindo esse raciocínio, subir o Champs Elysées numa linda tarde de primavera, junto a milhares de turistas tendo as mesmas visões de beleza, é de uma banalidade insuportável. Não importa estar no lugar mais bonito do mundo; o que interessa é saber que só poucos, como você, podem desfrutar do mesmo encantamento.

Quando se chega a esse ponto, a vida fica difícil. Ir para o Caribe não dá, porque as praias estão infestadas de turistas -assim como Nova York, Londres e Paris; e como no Nordeste só tem alemães e japoneses, chega-se à conclusão de que o mundo está ficando pequeno.

Para os muito exigentes, passa a existir uma única solução: trancar-se em casa com um livro, uma enorme caixa de chocolates -sem medo de engordar-, o ar-condicionado ligado, a televisão desligada, e sozinha.

E quer saber? Se o livro for mesmo bom, não tem nada melhor na vida.

Quase nada, digamos. Por: DANUZA LEÃO FOLHA DE SP - 25/11

terça-feira, 27 de novembro de 2012

PORQUE FIZ OS CURSOS QUE FIZ

Leitor quer saber se fiz curso de Filosofia e doutorado em Letras apenas para defender a tese de que os cursos de Filosofia e Letras são inúteis. Nada disso, meu caro. A conclusão é a posteriori. Antes de ter feito estes cursos, não tinha noção alguma de suas inutilidades.


Ocorre que, quando jovens, ao escolhermos uma universidade, não temos noção alguma do que vamos encontrar. Até pode ser que alguém nascido em família de acadêmicos possa ter uma idéia do que o espera. Não era meu caso. Eu era filho de camponeses e jamais tive quem me orientasse.

Quando você escolhe Medicina, já se imagina uma espécie de Dr. Kildare, aliviando o sofrimento dos enfermos. Entra na profissão e cai na dura realidade do pagamento ínfimo dos convênios. Tem de desdobrar-se em dois ou três empregos para levar o pão para a casa. Pode até ter sucesso na carreira e muitos chegam lá. Mas isto não é para todos. Escolhe Direito e se imagina um bem sucedido defensor dos fracos e oprimidos, usando sua tribuna para fazer justiça aos que dela necessitam. O Direito Penal sempre atrai os jovens idealistas. Quando você vai ver, se transformou em um burocrata encerrado em um escritório, analisando questões do Direito Tributário. Isso quando você não acaba dirigindo um táxi.

Em minha adolescência, li um livro de Will Durant, onde ele listava um mínimo de autores que um homem culto deveria conhecer. Começava com Platão e Aristóteles, passava por Agostinho e Tomás de Aquino, incluía Descartes, Rousseau, Montesquieu e por aí vai. Fui atrás desses autores todos. Eu vivia então em Dom Pedrito, onde havia apenas uma pequena livraria, que só tinha livros didáticos. Ainda pivete (teria uns quinze anos) viajei a Santa Maria, cidade universitária, onde havia uma sucursal da livraria Globo. Pedi para o balconista ir baixando os livros de minha listinha. Tive sorte. A editora Globo, nos anos 50 e 60, montou uma excelente coleção, a "Biblioteca dos Séculos", que continha boa parte dos livros fundamentais para um homem que se pretenda culto.

O que eu não sabia é que a Suma Teológica tinha dez volumes. Ainda bem que naquela época ainda não fora traduzida. Hoje tenho os dez volumes, em português e latim, quando quero rir um pouco volto à leitura do Boi Mudo. Não li todos os livros sugeridos por Durant, mas li muitos deles. Se hoje considero que nem todos eram fundamentais, foi bom lê-los para saber que não eram.

Daí meu apreço pela filosofia. Achei que se enveredasse por estes rumos, entenderia o homem e o mundo, em suma, a vida. Fiz vestibular também para direito. Primum vivere, deinde philosophare. Como considerava que a filosofia não me daria de comer, pensei em garantir-me com a advocacia.

Foi uma bela aventura intelectual começar com os gregos, socráticos e pré-socráticos. Os Diálogos de Platão me fascinaram, particularmente o Fédon e oCrátilo. Até hoje não esqueço – e seguidamente cito – as considerações do grego sobre as palavras. Crátilo considera que os nomes das coisas estão naturalmente relacionados com as coisas. As coisas nascem — ou são criadas, descobertas ou inventadas — e em seu ser habita, desde a origem, o inadequado nome que as assinala e distingue das demais. Já Hermógenes pensa que as palavras não são senão convenções estabelecidas pelos homens com o propósito de entender-se. As coisas aparecem ou se apresentam ao homem e este, defrontando-se com a coisa recém nascida, a batiza. O significado das coisas não é o manancial do bosque, mas o poço escavado pela mão do homem, diz Camilo José Cela, comentando Platão. O animal doméstico e familiar do qual há muitas espécies e todas ladram, poderia ter-se chamado lombriga, e o che muove il sole e l'altre stelle, de Dante, poderia chamar-se reumatismo, se assim os homens o quisessem.

No curso, fiz quatro anos de História da Filosofia. À medida que a filosofia avançava, tornava-se obscura e confusa, a ponto de confundir-se com a poesia. Foi quando perdi meu entusiasmo pela coisa. Abominei os filósofos contemporâneos. Terminei o curso por teimosia. 

Quanto ao Direito, lá pelo segundo ano já tive consciência de que não conseguiria advogar. Teria de usar terno e gravata e usar linguagem de arcano. Teria também de atualizar-me o tempo todo, dada a fúria legislativa do Brasil. Sem falar que um advogado não pode afastar-me muito de seu escritório. E eu queria viajar. Optei então pelo jornalismo. Terminei o curso também por teimosia. Quando criticasse o Direito, não queria ouvir objeções tipo “ele critica o Direito porque não conseguiu concluir o curso”.

Quanto ao doutorado em Letras, nada tinha a ver com doutorado. Era uma chance de curtir Paris e eu queria curtir Paris. Se o preço a pagar era um ensaio de algumas centenas de páginas, eu o pagava com prazer.

Ou seja, não fiz Filosofia ou Letras só para concluir que estes cursos eram inúteis. Minha vida aventurosa me levou a estas opções. E por que são inúteis? Porque tanto Filosofia como Letras você pode estudar no conforto de sua casa, sem ter de ouvir aulas monocórdias nem ler livros inúteis. Em um curso acadêmico, você será obrigado a ler disciplinas e obras que não interessam. Em Letras, por exemplo, terá de fazer cadeiras de Teoria Literária e Lingüística, puro lixo intelectual que só serve para dar emprego a professores de Teoria Literária e Lingüística. Se optar pelo autodidatismo, você pode se dar ao luxo de ler apenas o que lhe traz prazer.

Tenho um amigo, o Carlos Freire do Amaral, que hoje fala cerca de cem línguas. Deve ter estudado regularmente umas dez. As outras, ele as aprendeu por conta própria. No aprendizado de línguas, o mais difícil são as primeiras quinze línguas. Depois, como diria Heráclito, panta rei. Tudo flui.

Considero um absurdo, por exemplo, cursos universitários de espanhol para brasileiros. Quatro anos para aprender uma língua que se aprende em seis meses. Sem precisar professor algum. Pegue livros e jornais em espanhol, ouça música para adquirir a pronúncia e consulte uma gramática para pegar algumas regrinhas. Em quatro anos, pode-se aprender muito bem quatro ou cinco línguas. Jamais fiz curso de espanhol e devo ter traduzido uns quinze livros do espanhol.

Um outro leitor acha que estou sendo muito utilitarista, afinal nem só de pão vive o homem. Quanto à última premissa, de acordo. Que as pessoas estudem o que lhes dá mais prazer, seja sânscrito ou grego, seja metafísica ou matemática profunda. O que afirmo é que muitas áreas do conhecimento dispensam universidade. 

Admito até que alguém postule uma bolsa no estrangeiro para estudar coisas inúteis. Sempre voltará com um acervo útil: o conhecimento eficaz de uma outra língua e de uma outra cultura. Foi o que fiz. Minha tese é de utilidade ínfima, apenas esclarece um pouco uma obra literária. O mais importante foi conhecer Paris, França e Europa. E este é o legado mais importante de uma bolsa. Por: Janer Cristaldo

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

FAREWELL HOPE

O materialismo como visão de mundo é vivido por muitos como uma negação da esperança


"So farewell hope and with hope, farewell fear. And farewell remorse! All good to me is lost; Evil, be though my good." John Milton, "Paradise Lost". (Então, adeus esperança e com a esperança, adeus medo. E adeus remorso! Todo o bem para mim está perdido; Mal, seja então meu bem).

Sim, enquanto existir esperança, não há paz. Segundo o poeta inglês John Milton (século 17), que narra nesse poema a agonia de Adão e Eva afundando na cegueira de quem não mais verá Deus, só perdendo a esperança perde-se o medo. Seria um preço muito alto a pagar? Junto com a perda do medo, a perda do remorso e do bem. Niilismo?

A esperança é tema nobre na teologia. Para os católicos, a esperança é uma virtude teologal, isto é, só se deve depositar a esperança em Deus e, por consequência, só Deus nos dá esperança como um dom. Não há esperança no mundo, na Criação. Entregue a si mesma, ela vaga no vazio do desespero, carregando em si a raça dos abandonados, como dizia Horkheimer.

Felizes os que nasceram com o dom da esperança. Existe uma beleza no mundo que só os olhos daqueles que têm esperança veem.

Eu, como nasci com uma alma cega, mui raramente a pressinto (como diria Santo Agostinho, séculos 4 e 5, o peso do pecado logo me traz de volta ao desespero), mas só a pressinto com a ajuda de alguém; por mim mesmo, me afogo no desespero. Só não me desespero mais porque sou uma alma concreta, salva pelas obrigações do cotidiano.

Que os inteligentinhos não me cansem com a "crítica do pecado". Hoje em dia, uma das faces da banalidade é falar mal de religião: mal informados de todas as idades acham que pecado é uma invenção para "oprimir o homem", sim, assim como o espelho...

É conhecida a passagem na qual Kafka, ao ser indagado sobre crer ou não que existiria alguma esperança, teria respondido: "Esperanças há muitas, mas não para nós".

A interpretação mais comum é a de que ele estaria condenando a modernidade e sua desumanização (a barata Gregor Samsa, em "Metamorfose") como negação histórica da esperança, mas que nem por isso

Kafka negaria toda e qualquer esperança. A conclusão dessa interpretação é que o pessimismo do autor seria "histórico", mas não ontológico ou cosmológico (isto é, "passando" a modernidade, as coisas melhorariam...).

Mas a teologia de Kafka, presente em seus "aforismas teológicos", parece ser um pouco pior do que isso. Mesmo em sua ficção, Deus parece ser uma espécie de "senhor de uma colônia penal" (faço referência aqui à máquina de tortura e morte descrita no seu conto "Na Colônia Penal"), colônia penal esta que é nossa casa, poço de desencontros, nossa vida, poço de frustrações, nosso corpo, poço de patologias, enfim, um beco sem saída.

O próprio materialismo como visão de mundo (modelo hegemônico na ciência e no ateísmo moderno, segundo o qual tudo é átomo e a vida é finita) é vivido por muitos como uma negação da esperança. Como ter esperança na solidão das pedras?

Um dos trechos mais sublimes na literatura, no qual o materialismo se revela em seu terror e seu mistério, é a passagem no romance "Patrimônio", de Philip Roth (a história real do adoecimento e morte de seu pai), na qual ele vê as imagens do tumor no cérebro de seu pai, tumor que o mataria.

Não por acaso nessa cena, Roth busca refúgio na famosa passagem na qual Hamlet segura nas mãos o crânio de Yorick, o bobo da corte, que o tinha carregado no colo tantas vezes, e se pergunta se é aquilo que somos, um crânio em meio a terra úmida.

Roth olha para aquele cérebro e pensa como "aquilo" poderia ser a causa eficiente de tudo que seu pai fizera, pensara e sentira. Fonte de cada palavra e cuidado que tivera com sua família.

Lembro-me bem de quando eu trabalhava no necrotério fazendo necropsias e colocava cérebros na mesa metálica. Milton, Shakespeare, Kafka, Roth e eu juntos, num plantão de sexta-feira à noite, a noite mais violenta, e por isso mesmo a melhor, se você quiser cadáveres "frescos" para aprender anatomia. Farewell hope.
Por:  Luiz Felipe Pondé  Folha de SP LUIZ FELIPE PONDÉ

FOLHA DE SP - 26/11

domingo, 25 de novembro de 2012

CRIME E CASTIGO

VAMOS PENSAR juntos: você acha que seria viável uma comunidade humana sem leis, sem normas? Claro que não, porque onde não há normas a serem obedecidas, impera a lei do mais forte, o arbítrio.


Todos sabemos que a natureza não é justa, já que faz pessoas saudáveis e pessoas deficientes, pessoas belas e pessoas feias, talentosas, mas sem talento outras. Isso é o óbvio, mas nem todo mundo tem a inteligência de um Albert Einstein ou o talento musical de um Villa-Lobos. A justiça é, portanto, uma invenção humana, porque necessitamos dela.

De certo modo, a aplicação da Justiça decorre da necessidade de normas que regulem a sociedade -e que são resultado de uma espécie de acordo tácito, que torna todos, sem exceção, sujeitos a ela. Quem as viola deverá ser punido.

É chato ter que punir, mas, se não houver punição, as normas sociais correm o risco de não serem obedecidas, o que levará a sociedade à desordem total. Ao mesmo tempo, não é justo que todos sejam obrigados a obedecer às normas e que aqueles que não as obedeçam não paguem por isso.

Daí a instituição da Justiça na sociedade, que foi criada para que o cidadão que desrespeite as normas seja punido e passe a obedecê-las. A punição, portanto, não é represália, vingança da sociedade contra o transgressor: é o recurso de que ela dispõe para fazer justiça e manter o respeito às leis sem as quais o convívio social se torna inviável.

Faço essas óbvias considerações porque, como já observei aqui noutra ocasião, a impressão que se tem, muitas vezes, é de que punir é algo que só se deve fazer em último caso e do modo mais leve possível.

Participo, em parte, dessa opinião, desde que não implique em anular totalmente o objetivo da punição, que é manter a obediência dos cidadãos às normas que regem o convívio social. Se o princípio de justiça é de que todos são iguais perante a lei, a não punição de quem a viole é a negação desse princípio.

Isso é tanto mais grave quando se trata de pessoas ricas e poderosas que, em nosso país, dificilmente são punidas. Todos são iguais, mas há aqueles que são mais iguais.

Punir é, portanto, afirmar a vigência da lei e a equidade entre os cidadãos, sem o que as normas sociais perdem significação.

Isso fica ainda mais evidente se nos lembramos de como a punição funciona no futebol. Ali, como na vida social, todos estão sujeitos às mesmas normas, graças às quais o jogo se torna possível. E ali, como na vida, quem viola as normas deve ser punido, e com penas que variam de acordo com a gravidade da falta cometida. Se um jogador de um dos times chuta o adversário dentro da pequena área, a punição é o pênalti. Se o juiz não pune o infrator, o jogo perde a graça, e os torcedores se revoltam.

Na sociedade, também. Por isso, de vez em quando, vemos pessoas na rua se manifestando contra a falta de punição a indivíduos que, muitas vezes, não respeitam nem mesmo a vida humana.

A punição não é pura e simplesmente castigo pelo mal ou erro cometido. Nela está implícito o intuito de educar o infrator, de levá-lo a compreender que mais vale obedecer às normas sociais do que violá-las. Isso não significa, no entanto, que todo infrator, ao ser punido, passe a obedecer às normas sociais.

Sabemos que tal coisa nem sempre acontece, pois muitos deles jamais abandonam a prática do crime. Se isso não justifica tratar a todos como irrecuperáveis, tampouco implica em ver a punição como um abuso da sociedade contra o indivíduo. É igualmente inadmissível manter os presos em condições carcerárias sub-humanas.

Se faço tais considerações, é porque tenho a impressão de que nossos legisladores e os responsáveis pela efetivação da Justiça parecem ter esquecido o verdadeiro propósito da punição.

Sentem-se culpados em punir e, por essa razão, criam leis ou as aplicam de modo a, por assim dizer, anular a punição. Frequentemente, um prisioneiro deixa a prisão para visitar a família, some e volta ao crime. E você acha mesmo que um jovem de 16 anos não sabe que roubar e matar é errado? Mas nossas leis acham que não.

Tal procedimento não ajuda a ninguém. Quando um juiz de futebol pune o jogador que comete falta, não está praticando uma maldade, está seguindo a norma que permite que o jogo continue.
Por: Ferreira Gullar, Folha de SP

sábado, 24 de novembro de 2012

É AMOR OU DEPENDÊNCIA?


Foi convencionalmente acordado que as relações acontecem por amor, que um homem e uma mulher se encontram em certa etapa da vida e depois de se apaixonarem acabam por construir o amor que será a base do seu relacionamento. Isso é o que conta uma lenda, praticamente um mito, pois cada pessoa tem uma definição de amor que dificilmente é correspondida na relação. A intenção não é argumentar contra ou provar a inexistência do amor, mas mostrar que o amor não é assim tão comum quanto se pensa. Em alguns casos, há algo um tanto diferente de amor: a dependência. Algumas vezes amor e dependência podem ser exatamente a mesma coisa, ou talvez não.

Num consultório filosófico diversas vezes se recebe pessoas que sofrem de profundas desilusões com os outros e consigo mesmas. Uma desilusão, assim como qualquer conteúdo emotivo, diz respeito ao que é chamado de Emoção em Filosofia Clinica. Um tópico específico para as questões relacionadas às vivências afetivas da pessoa. Pois bem, há pessoas que sofrem desilusões, mas o que algumas delas estranham é a frequência com que isso acontece. Para algumas pessoas a desilusão é quase que uma rotina. 

Diante desse tipo de queixa, o filósofo vai investigar na história de vida da pessoa o que acontece a ela que faz com que desilusões sejam assim tão rotineiras. Um dos casos que acontece é uma confusão entre amor e dependência, ou seja, a pessoa trata por amor a dependência que o outro tem dela ou que ela tem do outro. Outro exemplo que acontece é o de mulheres ou homens que se relacionam com o outro quando este outro está sofrendo. Uma menina acaba de sair de um relacionamento, está carente, depende de um ombro amigo para se recuperar. Ela pode ver nesse ombro amigo o amor, mas logo que se recupera do antigo e real amor, e provavelmente o ombro ficará para trás. Não há nada de mais, o ombro que ela procurou era só para se recuperar mesmo, ela nunca disse que ia manter um relacionamento. Provavelmente a pessoa que cedeu o ombro é que entendeu errado.

Há também o caso de pessoas que são carinho-dependentes, ou seja, elas se enamoram de pessoas que dispensam toda atenção para elas. No entanto, quando essa atenção diminui ou elas acham que já não é o suficiente, muitas vezes vão procurar em outros lugares. Também é o caso de relacionamentos que começam porque um quer salvar o outro. É o caso daquele menino que vê a dura situação de vida da menina, se compadece de seu sofrimento, inicia um relacionamento com ela. Ela se apaixona por ele, mas ao longo do relacionamento ele muda a situação de vida dela e logo ela se torna independente. Aos poucos o “amor” dele acaba e ele vai em direção a outro relacionamento, provavelmente de mesma natureza.

A dependência pode estar em muitos relacionamentos, mas quando esta é separada do amor, quando a necessidade passa, o relacionamento pode terminar. Por meio da mídia televisiva podemos observar a quantidade de meninas que se relacionam com jogadores, homens famosos, porque elas dependem deles para se promover. Quando já caminham por si mesmas, o relacionamento fica para trás. O problema é que em muitos casos a necessidade aumenta e a pessoa passa a depender cada vez mais do outro para chegar em algum lugar. 

Há muitos relacionamentos que funcionam muito bem com base na dependência, em muitos deles há também o amor. Mas, para pessoas que precisam de mais do que dependência, verifiquem se o outro com quem você está não é apenas fonte de algo que você precisa. O contrário também pode acontecer.

Rosemiro A. Sefstrom

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

A MARCA DE RAUL SEIXAS



Acabei de ver o documentário sobre Raul Seixas, de Walter Carvalho. Está bom. Raul foi, como todos nós de certa maneira, um homem de seu tempo, filho e também um pouco pai da contracultura, subversivo e rebelde. Mas imprimiu sua marca singular, o "raulseixismo", como ele mesmo disse.
O pêndulo com a revolução cultural dessa gente 'muito louca' parece ter ido longe demais para o outro lado, e creio ser hoje o verdadeiro "revolucionário" aquele que prega o resgate de certos valores e tradições perdidas ou latentes. Não o moralismo excessivo e hipócrita da era vitoriana, ou o reacionarismo carola, mas o bom senso mesmo. Algum equilíbrio, quem sabe? 

O mundo da "metamorfose ambulante", das drogas, do alcoolismo, do "carpe diem", dos filhos espalhados mundo afora com várias mulheres diferentes, do "maluco beleza", e também da fama, esta que pode ser a droga mais pesada de todas, eis um mundo que costuma levar somente a um único lugar: o abismo! É preciso ter muita estrutura para experimentar o veneno e resistir, para fechar um pacto mefistofélico e sair bem dele, ileso. Parece-me que quase ninguém consegue. Por: Rodrigo Constantino

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

CASAMENTOS PROIBIDOS

Tenho pesquisado casamentos em que as mulheres são bem mais velhas do que os maridos. Muitas vezes, os filhos delas, de relações anteriores, têm a mesma idade dos maridos atuais.

Se a juventude é um valor e o corpo é um capital na cultura brasileira, por que está crescendo o número de homens que preferem mulheres mais velhas?

Os homens pesquisados revelam admiração, respeito, amor, desejo e reconhecimento pelas esposas.

Dizem que elas são superiores a qualquer outra mulher justamente por serem mais velhas, experientes, maduras. Essas qualidades, para eles, são mais atraentes do que um corpo jovem.
Para as pesquisadas, o olhar dos outros sobre o casal é motivo de constrangimento e de vergonha. Elas têm medo que pensem que o marido está interessado apenas no dinheiro, no poder ou no status delas.

Já os maridos afirmam que não se incomodam com a opinião dos outros.

Elas são mais vulneráveis e atentas à desaprovação social. Dizem que os maiores obstáculos ao casamento vieram das próprias mães e sogras. As filhas delas também provocaram conflitos no início.

Esse tipo de casamento parece sofrer mais preconceito justamente por parte das mulheres. Elas se preocupam mais com a opinião dos outros e criam mais obstáculos ao relacionamento.
Os casais que estudei, ao inverterem a regra segundo a qual os homens devem ser mais velhos, revelam uma lógica compensatória.

Elas têm mais idade, mas são consideradas menos infantis, menos ciumentas, menos dependentes do que as mulheres mais jovens.

Eles têm menos idade, mas são mais atenciosos, mais românticos, mais respeitosos do que os homens mais velhos.

Existe um equilíbrio interessante. Aparentemente, elas dão muito mais do que recebem em termos de posição social, maturidade, experiência, cuidado.

No entanto, eles dão aquilo que muitas mulheres desejam: a prova de que elas são especiais e de que a juventude não é a principal riqueza feminina.

Ao constatar a felicidade desses casais, descobri que, em vez de perguntar por que determinados homens casam com mulheres mais velhas, eu deveria questionar os motivos que levam a maioria deles a continuar preferindo casar com mulheres mais jovens.

E, também, questionar as razões que levam as mulheres brasileiras a aceitar e fortalecer, com suas inseguranças e seus preconceitos, o tabu da idade. Por: Mirian Goldenberg Folha de SP

terça-feira, 20 de novembro de 2012

SALVA-VIDAS DE ADOLESCENTE

Um jovem que prestará vestibular neste ano me enviou uma mensagem quase desesperada. Ele diz que sempre foi bom aluno e que sua vida escolar jamais foi motivo de preocupação para ele ou para seus pais.

Nunca precisou estudar muito para ter boas notas, fazia lições e trabalhos sem muita vontade, mas sabendo que precisava fazê-los para ter boa avaliação --ele tinha tomado para si essa responsabilidade como estudante.

As provas, contou ele, nunca foram motivo de ansiedade. Aliás, várias vezes ele simplesmente se esqueceu de olhar o calendário e, mesmo de surpresa, enfrentou as avaliações e saiu-se bem.

A questão é que, desde o início deste semestre, passou a ficar muito ansioso tanto com as provas na escola quanto com a ideia dos exames que tem de prestar para entrar na faculdade que deseja. Não consegue dormir bem na véspera do dia da prova, tem pesadelos, fica gelado e sempre com a sensação de que vai desmaiar.

Aliás, um pesadelo tem sido recorrente: o de que, quando faz a prova do vestibular, é flagrado portando um dispositivo tecnológico proibido e, dessa maneira, sua inscrição é anulada.
Nem é preciso dizer que, depois desse sonho atormentado, ele acorda passando mal e fica o dia inteiro sem conseguir se livrar da imagem de seu sonho.

Desejoso de um apoio, puxou conversa com o pai e tentou contar a ele o que estava acontecendo. O pai, certamente com a intenção de acalmar o filho, disse uma frase que piorou a situação de nosso jovem leitor.

"Você nunca teve problemas com provas, filho, não vai ser justamente na prova mais importante da sua vida que você vai falhar." Depois de ouvir essa frase, nosso jovem ficou mais pressionado ainda. Ele entendeu --nem sei se foi intenção do pai passar tal mensagem-- que ele não pode falhar.

Ele também tentou pedir ajuda a um professor, mas recebeu de volta o que ele chamou de "um discurso motivacional" que fez efeito zero.

Esse jovem, como tantos outros nesse momento, pediu ajuda e não teve acolhimento. Ele ainda foi direto ao ponto, mas há jovens que pedem ajuda de maneiras desajeitadas porque não têm clareza de que querem pedir ajuda. Seja o pedido feito de forma direta ou indireta, poucos são acolhidos.

Temos tido dificuldades em reconhecer a importância do nosso papel na jornada final de filhos e alunos. Não podemos deixar de perceber que muitos estão quase se afogando e precisam de uma boia que os ajudem a se salvar.

Não temos ouvido os pedidos de ajuda que nos são lançados ou ouvimos, mas acreditamos que, mesmo em dificuldade, eles conseguirão se virar sozinhos e superar o obstáculo que enfrentam.

Alguns irão mesmo, não duvido disso. Mas poderiam sofrer bem menos e chegar ao mesmo resultado se sentissem que não estão sozinhos no final de sua jornada.

Outros, entretanto, poderão ficar rodando em círculos justamente por não encontrarem um incentivo, uma ajuda, uma companhia no momento difícil pelo qual passam. E, depois de um tempo, até podem acha um caminho, mas não precisariam passar por esse sofrimento inútil.

A passagem da infância para a adolescência costuma ser um período de crise, difícil para filhos e pais. Pois a passagem da adolescência para a vida adulta também. Por que não assistimos nossos filhos e alunos nessa transição?

É bom lembrar que nosso papel educativo só termina quando os mais novos conquistam a maturidade. Até o último momento antes disso, precisamos estar a postos em nosso papel.
Quando não fazemos isso, retardamos a maturidade em vez de precipitá-la. Talvez por isso tenhamos tantos jovens adultos imaturos na atualidade. Por: Rosely Sayão  Folha de SP

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

GUARANI KAIOWÁ DE BUTIQUE

As redes sociais são mesmo a maior vitrine da humanidade, nelas vemos sua rara inteligência e sua quase hegemônica banalidade. A moda agora é "assinar" sobrenomes indígenas no Facebook. Qualquer defesa de um modo de vida neolítico no Face é atestado de indigência mental.

As redes sociais são um dos maiores frutos da civilização ocidental. Não se "extrai" Macintosh dos povos da floresta; ao contrário, os povos da floresta querem desconto estatal para comprar Macintosh. E quem paga esses descontos somos nós.

Pintar-se como índios e postar no Face devia ser incluído no DSM-IV, o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais.

Desejo tudo de bom para nossos compatriotas indígenas. Não acho que devemos nada a eles. A humanidade sempre operou por contágio, contaminação e assimilação entre as culturas. Apenas hoje em dia equivocados de todos os tipos afirmam o contrário como modo de afetação ética.

Desejo que eles arrumem trabalho, paguem impostos como nós e deixem de ser dependentes do Estado. Sou contra parques temáticos culturais (reservas) que incentivam dependência estatal e vícios típicos de quem só tem direitos e nenhum dever. Adultos condenados a infância moral seguramente viram pessoas de mau-caráter com o tempo.

Recentemente, numa conversa profissional, surgiu a questão do porquê o mundo hoje tenderia à banalidade e ao ridículo. A resposta me parece simples: porque a banalidade e o ridículo foram dados a nós seres humanos em grandes quantidades e, por isso, quando muitos de nós se juntam, a banalidade e o ridículo se impõem como paisagem da alma. O ridículo é uma das caras da democracia.

O poeta russo Joseph Brodsky no seu ensaio "Discurso Inaugural", parte da coletânea "Menos que Um" (Cia. das Letras; esgotado), diz que os maus sentimentos são os mais comuns na humanidade; por isso, quando a humanidade se reúne em bandos, a tendência é a de que os maus sentimentos nos sufoquem. Eu digo a mesma coisa da banalidade e do ridículo. A mediocridade só anda em bando.

Este fenômeno dos "índios de Perdizes" é um atestado dessa banalidade, desse ridículo e dessa mediocridade.

Por isso, apesar de as redes sociais servirem para muita coisa, entre elas coisas boas, na maior parte do tempo elas são o espelho social do ridículo na sua forma mais obscena.

O que faz alguém colocar nomes indígenas no seu "sobrenome" no Facebook? Carência afetiva? Carência cognitiva? Ausência de qualquer senso do ridículo? Falta de sexo? Falta de dinheiro? Tédio com causas mais comuns como ursinhos pandas e baleias da África? Saiu da moda o aquecimento global, esta pseudo-óbvia ciência?

Filosoficamente, a causa é descendente dos delírios do Rousseau e seu bom selvagem. O Rousseau e o Marx atrasaram a humanidade em mil anos. Mas, a favor do filósofo da vaidade, Rousseau, o homem que amava a humanidade, mas detestava seus semelhantes (inclusive mulher e filhos que abandonou para se preocupar em salvar o mundo enquanto vivia às custas das marquesas), há o fato de que ele nunca disse que os aborígenes seriam esse bom selvagem. O bom selvagem dele era um "conceito"? Um "mito", sua releitura de Adão e Eva.

Essas pessoas que andam colocando nomes de tribos indígenas no seu "sobrenome" no Face acham que índios são lindos e vítimas sociais. Eles querem se sentir do lado do bem. Melhor se fossem a uma liquidação de algum shopping center brega qualquer comprar alguma máquina para emagrecer, e assim, ocupar o tempo livre que têm.

Elas não entendem que índios são gente como todo mundo. Na Rio+20 ficou claro que alguns continuam pobres e miseráveis enquanto outros conseguiram grandes negócios com europeus que, no fundo, querem meter a mão na Amazônia e perceberam que muitos índios aceitariam facilmente um "passaporte" da comunidade europeia em troca de grana. Quanto mais iPad e Macintosh dentro desses parques temáticos culturais melhor para falar mal da "opressão social".

Minha proposta é a de que todos que estão "assinando" nomes assim no Face doem seus iPhones para os povos da floresta. Por: Luis Felipe Pondé Folha de SP

sábado, 17 de novembro de 2012

CONFIRA SITES E APLICATIVOS PARA ANTES, DURANTE E DEPOIS DA VIAGEM

Sites e aplicativos de smartphones e tablets auxiliam processo de planejamento e organização das férias:

PLANEJAMENTO

Trip Advisor (www. tripadvisor.com.br ) - Mais de 75 milhões de resenhas de hotéis, restaurantes e passeios ajudam o usuário a escolher a melhor opção para viagem. Os guias de Amsterdã, Paris e Berlim são alguns dos mais completos. Também disponível em APP.

TripIt (www.tripit.com ) - Centraliza todas as informações referentes à viagem, como reservas de hotéis e passagens, e as transforma em um único itinerário. Também disponível em APP.


Sauípe, na Bahia

Kayak (www.kayak.com ) - Pesquisa e rastreia voos, além de ajudar na reserva para aluguel de carros e na montagem de um itinerário. Também disponível em APP.

CamScanner: Scanner em celular pode ser utilizado para guardar cópias de documentos importantes na hora da viagem, como passaportes e vistos. APP.

EMPRESAS AÉREAS

Procure saber se a empresa aérea da viagem tem aplicativo para check-in, o que ajuda a evitar filas de voos internacionais

Tam (www.tam.com.br ) - Site da empresa aérea também tem versão mobile.

Gol (www.voegol.com.br ) - Na versão para celular, as informações dos serviços oferecidos pela companhia aérea são bem detalhados.

Azul (www.voeazul.com.br ) - Desde a conclusão da venda da Webjet pela Gol, no mês passado, é a única grande empresa com voos de baixo custo no país.

Decolar (www. decolar.com ) - Um dos sites mais acessados pelos brasileiros, conta com boa tecnologia de comunicação com as companhias aéreas e mostra as opções de voos mais em conta. Também disponível em APP.

Skyscanner (www.skyscanner.net ) - Com mais de 25 milhões de visitantes por mês, o site é líder mundial na pesquisa comparativa de voos. Boa opção para quem planeja ir à Europa e quer comparar antes os preços de empresas de baixo custo como EasyJet e Vueling. Também disponível em APP.

SeatGuru: Aplicativo tem mais de 700 planos de assentos de quase cem companhias aéreas. Ideal para ficar longe das saídas de emergência e mais perto dos banheiros. APP

HOSPEDAGEM

Booking.com (www.booking.com ) - Auxilia na busca pelo melhor preço na hora de reservar hotéis, pousadas ou albergues. Também disponível em APP.

Hotel Urbano (www.hotelurbano.com.br ) - Site com maior número de visitantes no Brasil, segundo a consultoria ComScore. Tem uma base com mais de 3 mil hotéis parceiros.

Submarino Viagens (www.submarinoviagens.com.br ) - Oferece passagens, hospedagem, pacotes e cruzeiros a preços convidativos. Fique atento se o valor informado inclui taxas.

Mundi (www.mundi.com.br ) - Boa base de dados de hospedagem e passagens aéreas. Ganha pela apresentação das últimas promoções do mercado.

CVC (www.cvc.com.br ) - Maior operadora do Brasil ganha pontos pela variedade de pacotes. Site tem interface um tanto caótica, mas vale a procura. Também disponível em APP.

Couchsurfing (www.couchsurfing.org ) - Rede social auxilia na busca por lugares para ficar, de graça, ao redor do mundo. Quanto mais você hospeda, mas chances de ser recebido melhor. Também disponível em APP.

Hospitality Club (www.hospitalityclub.org ) - Na mesma linha do Couchsurfing, tem usabilidade um pouco confusa, mas vale pela variedade de destinos.

Air Bnb (www.airbnb.com.br ) - Aplicativo funciona como espécie de corretora de imóveis online que aluga apartamentos e casas para serem usadas durante as férias. Também disponível em APP.

Hostelworld (www.hostelworld.com ) - Considerado o site para reserva de albergues mais seguro do mundo, cobre 180 países e tem em sua base de dados cerca de 24 mil estabelecimentos. Também disponível em APP.

Eurocheapo (www.eurocheapo.com ) - Para mochileiros e aventureiros atrás de pechinchas - como hotéis em Londres com diárias de US$ 20. Fique atento às notas dos visitantes.

PREPARATIVOS

Packing Pro - Cria listas separadas por categorias que auxiliam no processo de fazer as malas. APP.

The Weather Chanel (br.weather.com ) - Perfeito para checar a previsão do tempo do destino das férias para saber que tipo de roupa levar. Também disponível em APP.

NO CAMINHO

Olho na estrada - Câmeras em tempo real mostram o trânsito nas principais estradas brasileiras. APP.

Maplink Postos - Ajuda a localizar postos de combustível nas proximidades, além de dar média de preço cobrada. APP.

Infraero voos online - Consulta os horários de chegada e partida de voos em 50 aeroportos brasileiros. APP.

Voo+ - Dá informações sobre voos em todos os aeroportos do mundo. APP.

NO DESTINO

TRANSPORTE E LOCALIZAÇÃO

AllSubwayHD - Disponibiliza mapas do metrô de mais de 150 cidades no mundo inteiro. APP.

700 City Maps - Aplicativo concentra 700 mapas de diversas cidades que podem ser baixados e consultados offline. APP.

iRail - Plataforma intuitiva para buscar rotas de trem na Europa. O usuário informa a localização, onde quer chegar e o app dá opções de caminhos. APP.

Navfree - Aplicativo de GPS grátis no qual é possível baixar o conteúdo para uso offline. APP.

Costasur (www.costasur.com ) - Site tem boas opções para aluguel de barcos, com ou sem condutor. O Caribe e os mares Adriático, Báltico e Mediterrâneo são melhor servidos.

Luxuria Navis (www.luxuria-navis.com ) - Locação de barcos de luxo na Croácia.

FINANÇAS

UOL Cotações (economia.uol.com.br/cotacoes/ ) - Dinâmica, a ferramenta é intuitiva e fácil de usar. Também disponível em APP.

XE Currency (www.xe.com ) - Conversor de moedas tem também a cotação do dia. Também disponível em APP.

COMUNICAÇÃO

Conversação para viagens - Mais de 20 idiomas divididos em temas para facilitar a comunicação durante viagens para fora do Brasil. APP.

Picture dictionary - Dicionário de fotos faz traduções a partir de imagens divididas por tema. APP.

Google Translate (translate.google.com.br ) - Quebra a barreira dos idiomas com tradução simultânea por comando de voz. Também disponível em APP.

Viber - Aplicativo, gratuito na App Store, faz chamadas de voz de iPhone para iPhone sem custo algum. É preciso estar conectado a uma rede wireless ou ter um bom serviço 3G para realizar a conexão sem interferências. APP.

DataWiz - Acompanha o consumo do pacote de dados do smartphone. APP.

INFORMAÇÕES E GUIAS

Time Out (www.timeout.com ) - Informa a programação cultural da cidade, além de dar dicas gastronômicas e de passeio. Há aplicativos para cada destino.

Lonely Planet (www.lonelyplanet.com ) - Os renomados guias de viagem da empresa são disponibilizados em versões compactas para tablets e smartphones.

Yelp - Serviço de localização de bares e restaurantes com resenhas disponibilizadas por profissionais e usuários. APP.

GuidePal City Guides - Alternativa para quem não dispõe de internet e quer ter o guia do destino para usar offline. APP.

Brewster - Aplicativo para Android serve como guia para quem gosta de cerveja e quer aproveitar a viagem para provar rótulos diferentes. APP.

Fahrinfo Mobile - Quem estiver em Berlim, o aplicativo facilita a locomoção por meio do transporte público e é um dos mais completos para smartphone. APP.

REGISTRO DA VIAGEM

Trip Journal - Funciona como diário de viagens, no qual é possível registrar todas as partes das férias e depois compartilhar os detalhes nas redes sociais. APP.

Instagram - Rede social oferece filtros de imagem e facilita compartilhamento de fotos. APP.

DerManDar - Aplicativo faz fotos panorâmicas. APP.

Super 8 - Dá aos vídeos que grava efeitos semelhantes aos de um Super 8. APP. Folha de SP

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

O EVANGELHO SEGUNDO MARIA

Todos conhecemos a história bíblica de Lázaro, o homem que Jesus ressuscitou dos mortos. O que não conhecemos é a vida que Lázaro teve depois.


Como será regressar dos mortos? Como será ter o conhecimento do outro lado e voltar a cruzar o rio para o nosso lado? Será uma experiência que permite uma vida normal --e, sobretudo, uma nova morte normal?

C.S. Lewis, o conhecido escritor e pregador cristão, escreveu em "A Grief Observed", diário de seu luto depois da morte da mulher, que Lázaro é uma figura imensamente trágica, cujo destino não devemos desejar a ninguém. Nem sequer aos que mais amamos.

Porque não existe nada de mais trágico do que experimentar uma vez o ordálio aterrador da morte e ser depois restituído à vida para voltar a passar pela mesma experiência terminal. Morrer uma vez basta. Morrer duas vezes devasta.

Lembrei Lázaro, e as palavras de C.S. Lewis sobre ele, ao ler o novo livro do romancista irlandês Colm Tóibín, "The Testament of Mary" (o testamento de Maria; Viking, 112 págs.), que tem sido tema de polêmica e debate no Reino Unido.

A novela, como o título sugere, pretende ser o relato final de Maria, mãe de Jesus, sobre os acontecimentos que ficaram para trás. E, entre eles, está Lázaro: não apenas o milagre da sua ressurreição, mas o que sucedeu depois.

São as melhores páginas do livro, porque Tóibín, retomando a ideia de C.S. Lewis, não nos apresenta uma criatura redimida e feliz. Pelo contrário: Lázaro é pintado com cores negras, fantasmagóricas --um espectro silencioso e sofredor, de quem todos se afastam como se fosse a peste.

Isso, claro, se acreditarmos mesmo que aquele homem foi ressuscitado por Jesus. Eis a polêmica em torno do livro: Maria, na sua velhice, não acredita. Sim, existem relatos de relatos de relatos. Alguém testemunhou a cura de um cego, a caminhada de Jesus sobre as águas, a ressurreição de Lázaro e, evidentemente, a ressurreição do próprio Messias redentor.

Só que, para Maria, Jesus não é o Messias. É apenas o seu filho muito amado --a criança que ela educou e viu crescer na banalidade dos dias; que acompanhava o pai ao Templo em pleno Sabbath; e que, mais tarde, se rodeara fatalmente por uma turba fanática ("marginais", como ela designa os apóstolos), congregando sobre si a histeria das massas e a pena pesada das autoridades romanas (e judaicas).

Foi essa arrogante imprevidência --a imprevidência de quem se apresentara como o rei dos reis e filho de Deus-- que condenara seu filho à morte, apesar das inúmeras tentativas da mãe para o resgatar de um caminho lúgubre.

Mesmo a versão oficial da crucificação é desautorizada por Maria: ela esteve lá, no Gólgota desolado. Mas jamais recebera o corpo do filho depois de morto.

Na verdade, Maria fugira antes, temendo pela sua própria vida, deixando para trás um filho agonizante. Essa fuga persegue a consciência da mãe até ao fim.

Na literatura contemporânea, existem vários exemplos de literatura "blasfema" sobre os Evangelhos -do "Cristo Recrucificado", de Nikos Kazantzakis, ao célebre "Evangelho Segundo Jesus Cristo", de José Saramago.

Mas a força do livro de Colm Tóibín não está na atitude propositadamente "blasfema" e confrontacional. Está antes na profunda ambiguidade que o autor confere ao relato de Maria.

Charlotte Moore, na revista "Spectator", resumiu o problema: o testamento de Maria, tal como escrito por Tóibín, desautoriza a construção de Jesus feita pelos seus apóstolos. Mas o escritor é audaz na forma como também desautoriza as palavras de Maria: ela é apresentada, repetidamente, como uma mulher envelhecida, amedrontada, confusa, sem o discernimento necessário para separar fatos de efabulações, fatos de fabricações.

O relato de Maria é tão dúbio como os relatos que ela considera dúbios. Isso, que para alguns críticos constitui uma fraqueza narrativa, é na verdade a maior força --literária, teológica e obviamente sacrílega-- do livro de Colm Tóibín: é preciso ser um escritor de excelência para infectar de dúvida todas as dúvidas de Maria.

E, no final de seu relato, deixar o leitor, seja crente ou não crente, profundamente abalado. Um pequeno grande livro. Por: João Pereira Coutinho

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

UM DEDO-DURO NO PEITO

Memória é uma coisa muito encantadora mesmo. Sua existência é inquestionável e não sei dizer se ela é controlável, administrável.


Diariamente eu constato isso e hoje vou contar uma dessas lembranças que a minha memória guardou sem que eu soubesse.

Ela --que parece ter vida própria-- decidiu que determinado episódio vivido por mim merecia ser arquivado para que, no momento certo, pudesse reaparecer.

Há uns seis anos eu estava na casa de um criador de cães porque decidira comprar um filhote.

Lá estava eu tentando decidir qual filhote levar --escolha das mais difíceis porque pareciam todos iguais.

Mas, ao mesmo tempo, eu estava bem interessada nas conversas das outras pessoas que estavam ali pelo mesmo motivo que eu.

Devo reconhecer que eu estava assombrada com o conhecimento que aquelas pessoas demonstravam ter a respeito do comportamento dos filhotes: "Se ele se comporta assim agora, quando crescer será de tal maneira" etc.

Bem, depois de pouco tempo, uma compradora decidida escolheu o filhote que levaria e pediu que fosse colocado um chip nele.

Eu, que nunca ouvira nada semelhante, me interessei em saber o que era aquilo, como era colocado no animal e qual a razão para colocar algo chamado chip em um cão.

Creio que eu buscava informações para saber se eu também deveria querer aquela mesma coisa para o meu filhote.

Aí a mulher me contou que o microchip ajudaria no caso de ela perder o seu cão e me deu explicações detalhadas sobre o funcionamento daquele dispositivo --explicações essas que minha memória deve ter achado bobagem guardar, porque não me lembro de nada.

Depois de ouvir atentamente a compradora, decidi que eu não queria aquilo e tive um pensamento.

Foi a esse pensamento que minha memória deu toda a atenção e só descobri isso dias atrás.

Pensei, naquela ocasião, se nós chegaríamos ao ponto de instalar essa tecnologia em seres humanos. E esse pensamento me deu medo, devo confessar.

Mais de seis anos depois desse acontecimento, eu estava lendo o jornal quando uma notícia me chamou a atenção. Uma reportagem anunciava que uma escola em Brasília instalara chips nos uniformes dos alunos do ensino médio para controlar sua presença nas aulas.

Foi ao ler essa reportagem que minha memória decidiu trazer à tona aquele meu pensamento medroso. E, pelo jeito, meu medo também tinha razão de existir.

Vamos mesmo implantar chips --hoje nos uniformes, amanhã, sabe-se lá onde-- nos mais novos para controlar suas vidas. Nós queremos que eles fiquem na escola: que entrem e saiam no horário certo.

Se a escola se comunica com os estudantes, se consegue dar sentido ao que ensina, se os ouve, se não decifra o conhecimento por eles, nada disso parece importar tanto. O que importa mesmo é que lá os alunos permaneçam até o sinal ser dado.

Os pais dos alunos que carregam o chip no uniforme são favoráveis à medida. A diretora, em entrevista, afirmou que serão os pais que decidirão se o chip ficará ou não.

E os alunos? Ah, esses não estão gostando nem um pouco dessa história de carregar um dedo-duro no peito. Mas será que importa o que os alunos acham?

De novo, parece que não. Não importa, por exemplo, oferecer a eles a oportunidade de aprender que fazer escolhas significa arcar com as consequências delas; não importa que eles conquistem autonomia, tampouco que aprendam o que é liberdade.

Em nome da segurança, passamos a acreditar que "povo marcado é povo feliz".

Por: Rosely Sayão

domingo, 11 de novembro de 2012

ANTES DE MORRER, VIVA!

Atenção! Este artigo pode ser lido por pessoas de todas as idades, mas dependendo da faixa etária, despertará interesses diversos e quem sabe até, antagônicos. Jovens não têm idéia e nem imaginam como será sua velhice, muito menos a morte. Já os velhos, mais sábios e experientes, convivem com a proximidade da morte mais realisticamente. Embora possa parecer paradoxal, este artigo é dedicado a todos aqueles que não querem envelhecer. Jovens, meia-idade e idosos, leiam enquanto é tempo.

Um dos grandes sonhos da humanidade é a descoberta da fonte da juventude. Fortunas e vidas foram e continuam sendo gastas nesta procura. Milhões de pessoas foram enganadas com promessas de retardar, parar ou reverter o envelhecimento e a ilusão da vida eterna.

Nas bases científicas atuais, imortalidade ainda é uma impossibilidade. Mesmo eliminando todas as causas de morte relacionadas ao envelhecimento que aparecem nos atestados de óbito, ainda assim ocorreriam acidentes, homicídios, suicídios e os processos biológicos de envelhecimento continuariam realizando suas funções.

Se não morrer é impossível, não envelhecer também o é. Não acredite nas mídias antienvelhecimento, pois são tão utópicas quanto permanecer jovem congelando em um freezer ou realizando um pacto com o diabo.

Diante deste cenário, não existe outra saída, a única forma que se descobriu de viver muito tempo é envelhecer, e ficar velho, na verdadeira acepção da palavra, é uma questão de tempo. Literalmente.

A expectativa de vida para recém nascidos hoje nos Estados Unidos (país com condições de prover um bom atendimento em saúde) é de 77 anos. No inicio do século XX era de 47 anos. Este acréscimo de 30 anos não se deve a alterações morfológicas nos indivíduos que agora estão aptos a viver mais tempo e sim ao ambiente protegido em que vivemos e aos avanços na medicina que permitiram diagnosticar e tratar doenças de maneira precoce e eficaz. Continuamos a envelhecer da mesma maneira que nossos antepassados, a medicina é que evoluiu.

Intervenções cirúrgicas, cosméticos, vitaminas, antioxidantes, hormônios, engenharia genética podem vir a aumentar a expectativa de vida, porém do ponto de vista científico nenhum método provou modificar os efeitos subjacentes ao envelhecimento humano. Em outras palavras, as terapias utilizadas podem maquiar os efeitos da idade, influenciando as manifestações, mas não o processo de envelhecimento.

O ser humano foi programado para nascer, crescer, envelhecer e morrer, entretanto, o envelhecimento e a morte não estão programados objetivamente em nossos genes, de tal forma que podemos melhorar o estado fisiológico em qualquer idade se evitarmos comportamentos que acelerem a expressão de doenças relativas ao envelhecimento. (fumo, excesso de bebidas alcoólicas, exposição demasiada ao sol e obesidade)

Estilo de vida saudável, incluindo exercícios, dieta balanceada e sono adequado podem contribuir para aumentar a expectativa e a qualidade de vida na velhice, contudo, não existe evidência científica comprovando que estas praticas aumentem a longevidade por modificações no processo de envelhecimento. Não leve estas afirmativas como desculpa para relaxar os cuidados com seu corpo. Idade é uma coisa, qualidade de vida é outra. Podem andar juntas ou não, esta escolha você pode fazer.

O potencial humano de vida está calculado em 120 anos, porém ainda estamos longe de alcançar esta marca. Se não houver nenhuma descoberta que altere a fragilidade que acompanha o envelhecimento, a expectativa de vida para o século XXI não ultrapassará os 90 anos.

Prestem atenção neste número, noventa anos. Para que desejamos viver mais tempo? Nem sabemos direito o que fazer com esta curta vida que recebemos, por que pensarmos em uma vida eterna? Quanta energia é desperdiçada com a preocupação de esconder os fios de cabelos brancos ou apagar a história escrita em formas de rugas?

Sabemos que é melhor chegar à velhice do que morrer no meio do caminho, mas não queremos chegar tão cedo e negamos que tenhamos chegado. Para que lutar contra o tempo e nos enganarmos? A derrota é certa. Se não é possivel parar o tempo, podemos utilizá-lo a nosso favor. Aproveite, pegue leve, saboreie cada dia. Adicione vida aos anos ao invés de anos à vida, afinal de contas, idade não é um pretexto para envelhecer. Não lamente o fato de estar ficando velho, é um privilégio negado a muitos. Viver é envelhecer, nada mais.

Lembre-se, antes de morrer, viva! Por: Ildo Meyer

JOVENS DITADORES, PAIS SUBMISSOS

- O que a sua filha pede pra você que você não faz?

- Nada.
- Quer dizer que você dá a ela tudo o que ela pede?
- Sim.

Foi tentando demonstrar orgulho e segurança, mas deixando transparecer uma certa vergonha que o pai de uma menina de seis anos deu esta resposta a uma jornalista de TV em reportagem sobre os excessos de mimos aos filhos pequenos.

Oportuna e realista a reportagem, posto que vive-se talvez como nunca uma ditadura das crianças e dos jovens, cuja agenda "pessoal" acaba se impondo perante a família --pais e mães, sobretudo, mas também avós e irmãos mais velhos, tios, professores.

Talvez não seja correto falar em ditadura, posto que se trata de um autoritarismo aceito e consentido: o que o filho pequeno quer tem que ser feito, e faz-se sem pensar em consequência outra que não satisfazer àquela demanda, que se torna imperativa e inescapável.

Até umas duas gerações atrás, para crianças e jovens, não havia o direito de possuir agendas, existiam necessidades que eram, bem ou mal, supridas pelos provedores. Criança não tem querer, dizia-se exageradamente então.

Dando um grande salto em meio a uma infinidade de não muito bem esclarecidas modificações, hoje a situação é completamente oposta: a necessidade gerada pela vontade do pequeno é que determina a agenda familiar. E, em geral, ai de quem ousar não atender a estas demandas...

Submete-se, muda-se o que for necessário: não apenas adapta-se as urgências dos adultos, como planos são alterados, prazeres deixados de lado, horários flexibilizados, tudo em nome da suposta felicidade do petiz.

Que felicidade é esta que existe à custa de qualquer sacrifício alheio? Que moral estabelece essa prioridade invertida? Ou que culpa percorre a mente de pais e mães para que se submetam tanto aos desejos de seus filhos?

Bem não faz, como me lembrou outro dia a colega Rosely Sayão, especialista neste assunto, quando falávamos da agenda distorcida, aquela que desconsidera as reais necessidades de cada membro da família e não é fruto do consenso e do bom senso.

Cria-se, na verdade uma excrecência: dá-se à criança não um direito, mas na verdade uma responsabilidade que não lhe cabe ao se permitir que ela, em toda a sua imaturidade e fragilidade naturais, tome decisões que afetam toda a família. Isso é um peso que não lhe cabe!

Pode parecer bonitinho uma criança com menos de 10 anos, por exemplo, estragar o fim de semana de todos os demais, quando quer porque quer, e os pais atendem a isso, fazer algo que só lhe diz respeito.

Ao decidir que quer isso e impor sua vontade à família, a criança está praticamente pedindo que alguém lhe diga não, que lhe explique que não é assim que funciona, que o mais correto é: vamos fazer o que for melhor para todos.

Deixar de fazer isso é permitir o surgimento de padrões que respondem não mais ao âmbito familiar, mas a exigências que muitas vezes nem é da criança propriamente dita, mas fruto de necessidades fúteis impostas por seu grupo ou por comportamentos massificados propagados por fatores exógenos --mídias, em geral.

Crianças, diz a Rosely, precisam muito ouvir não; mais do que isso elas querem ouvir não.
Os pais é que cada vez menos sabem ou desejam fazer isso.
É mais fácil dizer sim... Por: Luiz Cavers

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

LEITURA NOS OLHOS DOS OUTROS


Recentemente foi comemorado o Dia Nacional do Livro. A data lembrou a importância da leitura na vida das crianças e de todos nós.

Esse é um bom motivo para refletirmos sobre a contribuição que o mundo adulto dá para que os mais novos tenham a chance de desenvolver o gosto pela leitura.

Primeiramente, é bom reconhecer que temos uma posição bastante moralista a esse respeito. Famílias e escolas repetem à exaustão que ler é uma coisa boa.

Desde os primeiros anos escolares até o último ano do ensino básico, a lista de livros obrigatórios é enorme.

Mas será que ler é mesmo bom? Se é, por que temos de repetir tanto essa recomendação e nem assim conseguimos resultados?

Talvez porque obrigação não combine com prazer e ler deveria ser uma questão de prazer. Muita gente se preocupa em desenvolver o hábito da leitura. Prova disso é que nossas crianças ficam com a agenda abarrotada de coisas para ler.

Entretanto, hábito é coisa bem diferente de vontade. Em relação à leitura, o que podemos fazer é plantar nos mais novos a vontade de ler, mostrando as emoções que essa experiência proporciona.

A segunda questão que temos é a seguinte: se ler é tão bom assim, por que é que nós, os adultos, lemos tão pouco? Pesquisas mostram que o índice de leitura espontânea no Brasil é de pouco mais de um livro por ano! Muito pouco, quase nada, na verdade.

Isso significa que, depois que o jovem sai da escola, ele simplesmente deixa de ler.

O que podemos fazer para que os jovens encontrem seu próprio caminho no mundo dos livros? Para que desenvolvam um gosto verdadeiro pela leitura?

Os pais podem, por exemplo, ler e contar histórias para os filhos pequenos. Muitas famílias já cultivam o momento da história, lendo para os filhos de até seis anos antes de a criança se recolher. A questão é que eles não sabem como seguir com esse ritual depois que a criança cresce.

A partir dos sete, oito anos, muitas famílias se rendem aos outros interesses que a criança passa a ter: programas de televisão, internet, videogames, jogos de computador etc.

Entretanto, ouvir e contar histórias para os filhos é um hábito que poderia seguir até o fim da infância como um grande incentivador não apenas do gosto pela leitura, mas também como um elemento intensificador das relações familiares.

Depois que a criança ganha fluidez, é hora de pedir para que ela também leia para os pais. Mostrar interesse pelos livros que ela escolhe, ouvir com atenção as histórias que a criança conta sobre sua própria vida e ler ao seu lado são excelentes maneiras de estimular a atividade leitora dos mais novos.

As bibliotecas também poderiam funcionar como locais de incentivo do gosto pela literatura. Para isso, precisariam ser fisicamente mais atraentes, com livros e atividades interessantes. As famílias poderiam incluir a ida à biblioteca como um programa familiar, não é verdade?

Ler sempre --mesmo que por pouco tempo--, comentar sobre os livros que estão lendo e incluir alguns exemplares na bagagem das férias são atitudes que os pais podem adotar para mostrar aos filhos, na prática, que ler é bom de verdade.

E as escolas? Essas têm um enorme potencial para desenvolver com seus alunos o interesse pela leitura. A maioria tem optado pelos caminhos mais fáceis e menos produtivos: responsabilizar as famílias por isso e obrigar os alunos a ler. Poucas são as escolas particulares que têm uma biblioteca atraente.

Aliás, aí está uma boa questão para os pais que procuram escolas para os filhos: visitar a biblioteca escolar e saber como ela é usada por alunos e professores.

E, por falar em professor, quantos deles demonstram aos alunos que têm paixão pela literatura?

Se ler é mesmo bom, vamos provar isso aos mais novos. Po: Rosely Sayão

EXPRESSIVIDADE 1

Expressividade é o quanto cada pessoa revela dela mesma e quanto guarda para si. Quanto fica retido e quanto flui em direção ao outro. É uma característica individual na relação consigo mesmo e depois em direção ao outro.


Não pode ser quantificada com exatidão. Algumas pessoas são completamente fechadas, não conseguindo liberar nada. Outras se abrem por inteiro, deixando passar de forma bruta tudo aquilo que vivenciam. A maioria filtra o que pode sair e o que deve ficar. Não existe certo nem errado, entretanto tanto a falta como o excesso podem causar dificuldades

UM 

Às vezes não consigo entender nem expressar direito o que estou sentindo no exato momento em que as coisas estão acontecendo. Fico com aquilo apertando ou alisando minha alma durante um tempo, para depois então aflorar e ficar escancarado. Não sei se isto é bom ou ruim. A vantagem desta demora é que quando finalmente o sentimento mostra a cara, já vem amadurecido. A desvantagem é que pode chegar atrasado e perder a hora.

Outras vezes não necessito tempo algum, é como uma máquina fotográfica instantânea registrando o sentimento ao vivo e a cores. Não sei se ontem à noite consegui expressar tudo que se passava comigo.

Nossa conversa no restaurante estava tão boa que nem percebi as horas voarem. Fomos os últimos a sair e só o fizemos porque os atendentes começaram a apagar as luzes e empilhar cadeiras. Neste momento meu sentimento estava muito claro: Quero continuar, quero mais!

Não lembro a última vez que esqueci a hora, o compromisso do outro dia, o perigo de ser assaltado dentro do carro... Estava me sentindo tão bem, a conversa fluía espontânea, as risadas vinham sem piada, os olhares se encontravam sem medo. Era como se nos conhecêssemos desde sempre. Havia uma intimidade não compatível entre duas pessoas praticamente desconhecidas. Estava adorando.

Eram quase duas horas da manhã, o restaurante praticamente nos expulsou, mal nos conhecíamos, estava louco de vontade de continuar ao teu lado, não queria de forma alguma me despedir naquele momento, mas algo me impediu de te convidar para esticarmos a conversa.

Senti aquele aperto na alma e uma voz muito chata que dizia para ter paciência, não atropelar, segurar meus instintos, afinal de contas teríamos a vida inteira para ficarmos juntos e talvez aquele ainda não fosse o momento apropriado para um convite deste tipo. Provavelmente era a voz da razão se manifestando.

A voz da emoção não falava nada, só alisava minha alma deixando-a leve e plena para usufruir tudo aquilo. Não tinha vontade nem condições de ficar elaborando teorias ou estratégias sobre o futuro.

Jamais vou esquecer aquele momento. Porta do restaurante fechada, madrugada fria, cidade adormecida, segundos infinitos de silêncio enquanto olhávamos um dentro do outro... 
Por: Ildo Meyer

terça-feira, 6 de novembro de 2012

ALMA

Querido leitor, que você esteja bem e sua alma em paz! Então, hoje nosso tema vai ser justamente “alma”. 


A vontade de escrever sobre esse tema me veio após uma visita a um templo muito bonito da Fé Bahá'í, localizado na cidade de Haifa, em Israel, fruto da minha recente viagem de estudos àquele país. E é justamente na Fé Bahá'í que me baseio nesse artigo, pois se trata de uma religião monoteísta fundada na Pérsia do século XIX que enfatiza a unidade espiritual da humanidade. Trata-se de uma religião independente que possui as suas próprias leis, escrituras sagradas, administração e calendário. Interessante é que ela não possui dogmas, clero, nem sacerdócio. 

Estima-se que existam cinco a seis milhões de Bahá'ís espalhados por mais de 200 países e territórios. O que me chamou a atenção nessa religião, além do enfoque da alma, é que ela atribui grande importância ao conceito de unidade das religiões. A palavra deriva do termo árabe "Bahá", que significa glória ou esplendor. 

Para os Bahá'ís, a história religiosa da humanidade é vista como um processo de desenvolvimento gradual, em que surgem diversos Mensageiros Divinos com ensinamentos adequados às necessidades de cada momento e à maturidade de cada povo. Esses mensageiros incluem Krishna, Abraão, Buda, Jesus, Maomé e, mais recentemente, O Báb e Bahá'u'lláh. Segundo os ensinamentos dessa religião, a humanidade encontra-se num processo de evolução coletiva a caminho de uma civilização mundial, e as suas necessidades atuais centram-se, essencialmente, no estabelecimento gradual da paz, justiça e unidade a uma escala global. Bonito, não é mesmo? 

Mas, voltemos ao nosso tema, retornemos à alma. Para refletir sobre tema tão importante, a grande maioria das religiões usam metáforas, que é uma ponte poética para alcançar o entendimento de forma simples e eficaz. A Fé Bahá'í tem uma simplesmente maravilhosa que compara o corpo físico a uma gaiola e o espírito a uma ave que habita nela. 

“Imaginar que o espírito pereça ao morrer o corpo, é como imaginar que o pássaro morra ao quebrar-se a gaiola”, diz o ensinamento Fé Bahá'í. Que continua: “Nosso corpo é apenas a gaiola, enquanto que nosso espírito é o pássaro. Nada tem o pássaro que temer com a destruição da gaiola”. Enfim, para os Bahá'ís, a alma é livre das limitações impostas pela matéria. 

E sendo assim, talvez para alguns, as aves são símbolos que sempre nos recordam que um dia chegará a sua hora de voar, a minha hora de seguir a jornada, deixando esse plano denso e tridimensional, para ir para outro plano mais sutil. 

Caso essa metáfora dos Bahá'ís esteja em harmonia com o que É, poder-se-ia dizer que o corpo, frágil argila, sofre os efeitos do tempo; já a alma, puro sopro, é eterna. Em resumo, a existência acaba, ao que muitos falam de morte, mas a vida, essa é infinita. 

Se realmente for assim, se não em totalidade, mas parcialmente, que aproveitemos, então, nossos breves e incertos dias para alimentar nossa alma com coisas da alma, assim como nos preocupamos tanto em alimentar o corpo com coisas do corpo. 

É assim como o mundo me parece hoje. E você, qual sua reflexão sobre alma? 
Por: Beto Colombo