sexta-feira, 31 de agosto de 2012

FAXINA DA ALMA

Querido leitor, paz! Hoje quero trazer um poema do nosso poeta mor, Calos Drummond de Andrare. Refiro-me ao poema “Faxina na Alma”.

Faxina lembra limpeza, dentro dos 5´S japonês a primeira etapa é o Seiri, descartar o inútil. Faxina ou limpeza fazemos em casa, no carro, em nossa repartição, no corpo, nos dentes. Enfim, é algo que fazemos diariamente. E o poema Faxina da Alma começa assim: “Não importa onde você parou, em que momento da vida você cansou. Recomeçar é dar uma nova chance a si mesmo, é renovar as esperanças na vida e, o mais importante, acreditar em você de novo”.

Bonito, não é mesmo? Continua Drummond: “Sofreu muito nesse período? Foi aprendizado. Chorou muito? Foi limpeza da alma. Ficou com raiva das pessoas? Foi para perdoá-las um dia. Sentiu-se só por diversas vezes? É porque fechaste a porta até para os anjos. Acreditou que tudo estava perdido? Era o início da tua melhora. Pois é… Agora é hora de reiniciar, de pensar na luz, de encontrar prazer nas coisas simples de novo”.

Geralmente, tudo tem sentido se a gente der sentido, não é mesmo? Até mesmo sentimentos tristes que nos levam a sensações desagradáveis podem nos ajudar se tivermos sabedoria para isso. Se também formos poeta, como Drummond de Andrade.

“Um corte de cabelo arrojado, diferente, um novo curso, ou aquele velho desejo de aprender a pintar, desenhar, dominar o computador, ou qualquer outra coisa”. Olha quanto desafio, quanta coisa nova nesse mundão de meu Deus te esperando… Está se sentindo sozinho? Besteira. Tem tanta gente que você afastou com o seu “período de isolamento”. 

Tem tanta gente esperando apenas um sorriso seu para “chegar” perto de você. Quando nos trancamos na tristeza, nem nós mesmos nos suportamos, ficamos horríveis. O mau humor vai comendo nosso fígado, até a boca fica amarga. Recomeçar… Hoje é um bom dia para começar novos desafios.

São verdades de poetas, sabedoria das letras, que nos mexem e nos fazem refletir. Mas a poesia não só aponta caminho. Ele continua e faz perguntas: “Aonde você quer chegar? Alto? Sonhe alto! Queira o melhor do melhor. Queira coisas boas para a vida. Pensando assim, trazemos para nós aquilo que desejamos. Se pensamos pequeno, coisas pequenas teremos. Já se desejarmos fortemente o melhor e, principalmente lutarmos pelo melhor, o melhor vai se instalar na nossa vida. E é hoje o dia da faxina mental”.

Em nossas casas, às vezes contratamos faxineiras para a limpeza, é verdade, mas a faxina interna não tem como fazer isso, é uma ação exclusiva de cada um. Para isso, Drummond dá uma dica: “Jogue fora tudo que te prende ao passado, ao mundinho de coisas tristes. Fotos, peças de roupas, papel de bala, ingressos de cinema, bilhetes de viagens e toda aquela tranqueira que guardamos quando nos julgamos apaixonados. Jogue tudo fora, mas principalmente esvazie seu coração. Fique pronto para a vida, para um novo amor”.

Fique pronto para uma nova existência sem morrer o corpo, só o padrão antigo. Isso não é um mistério? Antes de finalizar, o poeta ainda nos lembra que “somos apaixonáveis, somos sempre capazes de amar muitas e muitas vezes, afinal de contas, nós somos o “Amor”.

Ao finalizar o poema, Carlos Drummond de Andrade justifica: “Porque sou do tamanho daquilo que vejo, e não do tamanho da minha altura”.

É assim como o poeta Carlos Drummond de Andrade receitava de forma poética a faxina da alma. E você, como tem feito sua limpeza interna? Por: Beto Colombo

EU SOU O MEU PARADIGMA


É difícil quem ainda não ouviu falar da palavra “paradigma”, principalmente se estiver na área acadêmica. Ela se tornou moda na década de noventa, e em muitos lugares continua sendo muito utilizada. Paradigma é uma palavra que designa modelo. Um modelo é uma representação a ser seguida, ou seja, uma visão de mundo que servirá de modelo. Inicialmente, a palavra paradigma era utilizada apenas para designar um modelo no que diz respeito à gramática. O uso se dava no sentido de mostrar uma relação específica estrutural entre os elementos da linguagem. Isso segundo Ferdinand de Saussure. 

Mas a visão que mais me chamou atenção a respeito do que quer dizer paradigma foi a visão de Thomas Kuhn, filósofo estadunidense. Diferente de Suassure, Kuhn utilizou o termo paradigma, com uma nova definição, para designar o trabalho da ciência na produção do conhecimento. Para o filósofo, o termo descreve um modelo elaborado a partir de uma série de pesquisas e debates que servem mais como uma forma de criar escolas do que de resolver as questões. O modelo de visão paradigmático elaborado por cada escola se apresenta como uma possibilidade de ver e também de entender os problemas do mundo. Um paradigma, então, não é uma possibilidade de resolução de um problema, mas um novo modelo de estruturar o problema. 

Ao longo da história da humanidade, cada instituição procurou elaborar um modelo estrutural de homem, e a partir deste modelo elaborou as suas questões. O modelo de homem elaborado pela religião é de que ele é filho de Deus e por isso deve se direcionar a Deus para encontrar a salvação de sua alma. Na ciência, o homem é um corpo e deve cuidar deste de maneira que possa viver mais e melhor. Já a psicologia entende o homem como um ser dotado de uma psique e esta tem um modelo que pode diferenciar o normal do doentio. Não é de estranhar que um médico, o qual cuida do corpo, pense que todos os males sejam de origem física, este é o modelo que ele tem. O mesmo serve para cada uma das áreas. Vale lembrar Pitágoras, para quem tudo era número.

Segundo Thomas Kuhn, as ciências elaboram paradigmas para as máquinas, para o mundo e, a partir deles estudam os problemas. Para as coisas, talvez um modelo possa ajudar na compreensão, mas como entender o ser humano a partir de um modelo? Pense em você mesmo: se você escrevesse um livro dizendo como é o ser humano, o que é certo, errado, bom, mau, como seria este livro? É interessante pensar nisso, pois geralmente ouvimos um autor, filósofos ou marqueteiros falando e apenas pela forma eloquente com a qual ele fala, acreditamos realmente que ele está certo. 

Imagine se homens como Rousseau tivessem razão: para ele, o homem é bom e a sociedade o corrompe. Quem leu seu livro percebe que ele é muito convincente. Posso também citar como exemplo Thomas Hobbes, para quem “o homem é o lobo do homem”. Há um mais antigo, Sócrates, para o qual o homem só fazia coisas erradas porque não sabia que era errado.

Proponho uma visão diferente, onde eu seja o paradigma de mim mesmo. Na Filosofia Clínica eu construo o paradigma do outro por ele mesmo, através de sua história de vida. Não há bom ou mau, certo ou errado, mas uma série de conteúdos e movimentos que formam o paradigma que cada um é em si mesmo. Eu sou o meu paradigma.

Rosemiro A. Sefstrom

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

O MENINO ACORRENTADO


Os pais podem chegar a acreditar que o fundamento da autoridade seja a força: obedece ou te acorrento

A NOTÍCIA apareceu na internet na quinta passada, dia 23: no Paraná, um menino de nove anos foi encontrado acorrentado, sozinho em casa, sem água e sem comida ao seu alcance. A mãe e o padrasto foram trabalhar e o deixaram assim. Na primeira reportagem, as explicações do comportamento dos pais estavam no condicional: segundo eles, "seria" a primeira vez, e o menino "estaria" envolvido com drogas. Ou seja, opróbrio nos pais cruéis.

Mais tarde, o site da CGN publicou uma entrevista com o padrasto. Pergunta: "Você sabe que agora, por mais que você tenha tido uma boa intenção, vocês vão responder judicialmente pela atitude que vocês tiveram?". O padrasto: "Com certeza. Só que acontece que eu não vou criar um moleque ladrão, maconheiro e bandido dentro da minha casa, para, amanhã ou depois, vocês jogarem na minha cara que eu não fui pai e não pude educar".

Depois de o padrasto expor um rosário de roubos cometidos pela criança, nova pergunta: "Não era o caso de procurarem a Polícia Militar e falarem: 'Está assim! Não estamos conseguindo (...)', em vez de acorrentar essa criança em casa?". E o padrasto: "A minha esposa já ligou (para a PM), acho que umas três ou quatro vezes. Mas ele sai de casa, ele some".

No dia seguinte, a TV Tarobá ouviu a mãe e o menino. Para a mãe, "se tentar segurar (o menino), é pau, pedra, tijolo, faca, o que tiver na frente ele taca. Não tem quem segure". O menino acrescentou detalhes, como a vez em que cortou o braço da irmã com gilete. A mãe: "Às vezes, é melhor acorrentar ali, do que ver mais tarde ele virar um bandido, um ladrão, um drogado. E você olhar na minha cara e falar que eu não criei meu filho, que eu não prestei para ser mãe". Detalhe: fora a corrente no pé, o menino não apresentava nenhum sinal de maus-tratos.

Foi assim que, em um dia, passamos da indignação pela violência dos pais à perplexidade (humilde) diante da tarefa impossível de educar.

Os pais têm razão: se o menino se tornasse ladrão e bandido, há sabichões que os acusariam. Os mesmos sabichões diriam, aliás, que, se os pais tiveram que acorrentar o menino, é porque eles fizeram algo muito errado -algo que comprometeu sua própria autoridade.

Adoraríamos que os sabichões tivessem razão. Saberíamos com certeza que o fracasso da autoridade depende da falta de amor e de cuidados: "Você não cuidou bem de seu filho? Pior para você: ele não te respeitará. Bem feito". Ou, então, o contrário (tanto faz, o que importa é fazer de conta que a gente saiba o que não dá certo): "Você sempre o mimou. Por preguiça ou pela vontade de vê-lo rindo como você nunca riu, você foi permissivo, e por isso ele nunca te respeitará".

Infelizmente, ninguém sabe o que faz que uma educação dê certo. E pais e filhos, perdidos (os primeiros no desespero e os segundos no desafio), acabam acreditando, um dia, como no caso do menino do Paraná, que o fundamento da autoridade e da rebeldia seja a força -eu te acorrento, e você vem com gilete.

Uma pesquisa famosa de Daniel Kahneman, em 2004 (http://migre.me/asSPV, para assinantes), constatou que criar filhos não é uma fonte de bem-estar. No melhor dos casos, criar filhos deixa uma lembrança boa (idealizada), mas é uma experiência dura e, às vezes, ruim. Na mesma linha, para Daniel Gilbert ("O Que nos Faz Felizes", Campus), os filhos e o dinheiro são as coisas das quais pensamos erroneamente que nos fariam felizes.

Uma recente pesquisa feita por M. Myrskylä (http://migre.me/as4jY) foi recebida com alívio porque mostra apenas isto: 1) depois da dureza e das crises dos primeiros meses do filho, os casais não desmoronam definitivamente na infelicidade, mas, aos poucos, eles voltam ao nível de bem-estar de quatro ou cinco anos antes de engravidar; 2) depois dos 40, os casais com filhos adultos estão um pouco melhor do que os que não tiveram filhos.

Seja como for, a criação dos filhos é uma experiência menos satisfatória do que todos queremos acreditar que seja.

O que foi? Será que, de repente, na modernidade, perdemos a mão, e ninguém sabe mais ser pai direito? Por que, na hora de educar, nossos avós pareciam se sair melhor do que a gente -com menos questionamentos e menos dramas?

É uma questão de expectativas: eles não esperavam nem um pouco que criar filhos lhes trouxesse a felicidade. E é uma questão de lugar: para eles, as crianças não eram o centro da vida dos adultos.
Por: Contardo Calligaris Folha de SP

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

FAZ-ME CASTO, MAS NÃO AINDA

Querido leitor, que você esteja em plenitude. 28 de agosto festeja-se o dia de Santo Agostinho, uma das personalidades mais destacada da história da filosofia, principalmente entre os cristãos. Agostinho nasceu na cidade de Hipona, no norte da África em 354 despois de Cristo, porém, suas viagens o levaram para longe de casa, pelo mundo mediterrâneo, até sua morte na sua cidade natal. Seu pai era pagão, já sua mãe Mônica era uma mulher simples de fé cristã. 


Agostinho se afastou do cristianismo na adolescência e aos 18 anos lançou-se numa busca filosófica que o levaria a frequentar várias posições intelectuais diferentes, antes de se voltar ao que ele chamou de cristianismo católico. Primeiro Agostinho abraçou a doutrina do profeta persa Mani, o maniqueísmo do século III depois de Cristo. Para Mani, o universo é o campo de batalha entre forças do bem e do mal, da luz e das trevas.

Depois se tornou um filósofo cético da sua época do tipo predominante na academia fundada por Platão. Aos 32 anos retornou ao cristianismo, levando consigo o platonismo e seu neoplatonismo, fundindo-os com o cristianismo de um modo que teria consequências de grande importância. Platão acreditava que o verdadeiro conhecimento está num reino de entidades atemporais, perfeitas e imateriais, com as quais nosso contato é não-sensorial, ou seja, nesse mundo as coisas são imperfeitas e decadentes, porém, em uma outra dimensão existe uma entidade perfeita. 

A doutrina de Platão ainda diz que uma parte de nós também é atemporal e imaterial já pertencente àquele reino, enquanto nossos corpos estão entre objetos materiais fugazes e decadentes do mundo sensorial. Tudo isso se tornou parte da visão de mundo cristão que muitos, ou quase todos os cristãos, vieram a supor que tais ideias são originais do cristianismo e devem ser pensadas como parte natural dele.

Em sua autobiografia no livro "Confissões", Agostinho relata sua infância, o retrato de sua mãe e confissões de sua promiscuidade sexual quando jovem, onde ele, querendo, mas ao mesmo tempo não querendo, escapar da escravidão sexual, rogava a Deus: "Senhor, faz-me casto, mas não ainda". Suas crenças são de natureza histórica, mais que filosófica, acredita que Deus criou o mundo e depois veio viver no mundo como uma das pessoas que o habitam. E o fez por intermédio de um homem chamado Jesus, na Palestina, e viveu uma vida do qual temos registros históricos. Para ele, ser cristão implica, entre outras coisas, acreditar nisso e tentar viver do modo como ordenou, pela boca de Jesus, o Deus que nos criou. 

Santo Agostinho viveu até os 32 anos numa busca e numa incerteza entre gozar a vida ou ser casto. Conviveu com uma bonita frase de Paulo: “Tudo lhe é possível, mas nem tudo lhe convém”.

É assim como o mundo me parece hoje. E você, vive com a incerteza entre a escravidão sexual e a santidade? Por: Beto Colombo

CREDOS E RELIGIÕES

Querido leitor e querida leitora, que você esteja bem e em paz! Nossa reflexão hoje é sobre credos e religiões.

Credo, como sabemos, é uma fórmula doutrinária que envolve necessariamente a crendice, a fé. Já religião vem do latim “religare” e impõe dogmaticamente sistemas culturais e crenças, além de visões de mundo. Religião vem de religar o céu e a terra.

Feitas estas ponderações, agora sim podemos nos voltar ao título e ao tema a que nos propomos: credos e religiões.

De acordo com a Organização das Nações Unidas, a ONU, atualmente há aproximadamente sete bilhões de pessoas vivendo no planeta. Destas, as estatísticas mostram que aproximadamente 5,6 bilhões manifestam uma afiliação religiosa, ou seja, pelo menos 80% das pessoas têm um alinhamento espiritual, se é que dá para aliar religião com espiritualidade.

Neste contexto, convém ressaltar que algumas religiões acreditam em um Deus único, são as monoteístas. Outras tantas acreditam em muitos deuses, nesse caso são as politeístas. Há, atualmente, mais religiões politeístas no mundo que monoteístas, embora religiões monoteístas tenham mais adeptos e foram a gênese das religiões.

Mas o espectro religioso não compõe somente as monoteístas e as politeístas, há também as religiões que não adoram nenhum deus, mas sim o que consideram ser princípios sagrados de pensamento e conduta. Refiro-me ao budismo e outras religiões de idealismo transcendental.

Observando atentamente todas essas entidades religiosas, vemos que elas têm seu próprio conjunto de crenças, práticas e rituais, enfim, possuem seus dogmas. Existem grupos de cristãos, por exemplo, que acreditam numa vida futura e creem haver certas coisas que devem ser feitas para chegar lá. Outros grupos definem o batismo como aspergir enquanto alguns definem como imersão. Existem igrejas que estão abertas a todos que queiram se filiar, já outras requerem que a pessoa esteja “salva” antes que o “batismo” possa acontecer. As pentecostais, é bom lembrar, acreditam no “falar em línguas” e outras sequer dão importância a esse fenômeno. E assim podemos seguir as comparações com muito mais exemplos, mas fiquemos por aqui.

Alguns cultos enfatizam a emoção, espontaneidade e extensiva participação congregacional, já outros não. Algumas religiões acreditam numa interpretação literal das escrituras contidas na Bíblia, enquanto outros veem as escrituras como parábolas ou exemplos de conduta e pensamento desejados, enfim, estudam a bíblia como uma bonita e sagrada metáfora.

Alguns grupos religiosos, principalmente cristãos, acreditam que Deus criou o homem. Porém, há organizações não-religiosas que acreditam que o homem criou Deus numa tentativa de explicar o inexplicável.

Apesar desta tremenda diversidade religiosa e fragmentação espiritual que existe em todo o mundo, há uma certa sinergia, pois Deus é verbo, não é substantivo, ou seja, Deus é ação, é obra, não é falácia, não é discurso ou incoerência. É?

Independentemente de religião ou credo, quando se vive na verdadeira espiritualidade, esse plano pode ser uma oportunidade para que possamos nos comungar com evangélicos, espíritas, ortodoxos, judeus, islâmicos, budistas e por que não também com agnósticos e ateus? Afinal de contas, a espiritualidade está fundamentada nos conteúdos universais da bíblia, do corão, de cada uma das tradições de fé e, principalmente, no respeito a diferenças entre irmãos.

Finalizo com uma frase da sua Santidade o Dalai Lama: “Minha religião é o amor”.

É assim com o mundo me parece hoje. E você, como vive a religião e o credo?
Por: Beto Colombo

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

"ELAS GOSTAM DE APANHAR"


"Elas gostam de apanhar." Esta é uma das máximas mais famosas de Nelson Rodrigues, nascido no dia 23 de agosto de 1912 no Recife. Esta afirmação ainda choca muita gente. "Reacionário!", "machista!", gritam os inteligentinhos que nada entendem da "vida como ela é".

É comum se dizer que Nelson está assimilado ao cenário cultural, mas não é verdade. A prova é que livros best-sellers como "Fifty Shades of Grey" (Cinquenta Tons de Cinza), de E. L. James, ainda causam ira por parte dos setores "progressistas" (a esquerda festiva da qual tanto falava Nelson), apesar de as mulheres "normais", que segundo Nelson são as que gostam de apanhar, estarem devorando o livro com imenso prazer.

No livro de James, Anastasia Steele, universitária, se apaixona pelo poderoso Christian Grey, de quem se torna amante, perdida nas delícias de uma relação "sadomasô light" a qual ela se deixa submeter. E gozará maravilhosamente na submissão. No primeiro momento em que ela o encontra, tropeça e cai, anunciando o domínio que Christian terá sobre ela. Na linguagem feminina comum, "Ele tem pegada!". E o afeto feminino responde à "pegada".

Não se trata de dizer que Nelson está estimulando surras, mas sim que o desejo feminino passa pelo gozo da submissão ao macho desejado, dentro do jogo da sedução e do sexo. O "elas gostam de apanhar" no Nelson também fala do enlouquecer o homem, como no caso de adultério, e esperar dele uma bofetada acompanhada de "sua vagabunda", revelando o quanto ele ama esta mulher que o traiu. A psicologia rodriguiana parte da sua máxima "a vida é sempre amor e morte".

"A prostituta é vocação e não a profissão mais antiga." Há uma relação íntima entre sexualidade feminina e a figura da prostituta como eterna promiscuidade temida. A mulher que nunca encenou "sua" prostituta no sexo, nunca fez sexo.

"Dinheiro compra até amor verdadeiro." Imaginemos duas situações hipotéticas.

Hipótese 1: Alguém convida você para um longo fim de semana na costa amalfitana na Itália. Executiva, hotel charmoso, longas caminhadas por ruas quietas e antigas, sem pressa, vinho (não "bom vinho" porque isso é papo de pobre querendo parecer rico, do tipo que os jovens chamam de "wanna be", gente que queria ser chique, mas não é).

Hipótese 2: Alguém te convida para um fim de semana longo na Praia Grande, você pega oito horas de Imigrantes, trânsito infernal, o carro ferve, você fica na estrada esperando o socorro da Ecovias. Chega lá, apartamento apertado, cheiro de churrasco na laje por toda parte. Crianças dos outros gritando em seu ouvido.

Onde você acha que o amor verdadeiro nascerá? Se responder "hipótese 2", é mentiroso ou não sabe nada acerca dos seres humanos, vive num aquário vendo televisão e se olhando no espelho.

Antes de alguém dizer obviedades entediantes como "preconceito" (agora quando alguém fala para mim "preconceito", não levo mais essa pessoa a sério) ou "depende de qual contexto a pessoa nasce", esclareço: é fácil migrar da Praia Grande para a costa amalfitana, mas não o contrário. E quanto ao "preconceito": não se trata de preconceito, se trata do tipo de verdade que todo mundo sabe mas é duro reconhecer. Sim, o amor verdadeiro está à venda e enquanto você não entender isso você permanece um idiota moral.

O reconhecimento deste fato torna você adulto, não torna você "melhor". E ser adulto é saber que o mundo não é um lugar "bom". Começando por você e eu.

Sábato Magaldi chamava o Nelson de "jansenista brasileiro". Jansenistas eram escritores franceses do século 17 que partilhavam uma visão de natureza humana na qual somos vítimas de desejos incontroláveis (ou pecado, na linguagem da época) e que por isso não conseguimos escapar dessa armadilha que é interior e não "social". A raiz deste pensamento é a concepção de ser humano de Santo Agostinho que eles herdaram. Pascal, Racine e La Fontaine foram jansenistas.

Eu acrescentaria que Nelson era um moralista. Moralista em filosofia é um especialista na alma humana. Proponho que ensinem mais Nelson na escola e menos Foucault.

Por: Luis Felipe Pondé

FALCÃO, MORCEGO E ZANGÃO

Querido leitor, querida leitora, que você esteja vivendo em plenitude. Hoje vamos refletir sobre a situação de uma das aves mais impressionantes que existe, que é o falcão. Como gosto de fazer, vale a pena dar um contexto sobre esta ave de rapina. 

Falcão é o nome genérico dado a várias aves da família Falconidae, mais estritamente aos animais classificados dentro do gênero Falco. O que diferencia os falcões das demais aves de rapina é o fato de terem evoluído no sentido de uma especialização no voo em velocidade, facilitado pelas asas pontiagudas e finas. Esta evolução favoreceu a caça em espaços abertos, daí o fato dos falcões não serem aves de ambientes florestais, preferindo montanhas e penhascos, pradarias, estepes e desertos. 

Feito esse contexto sobre o falcão, vamos então a mais uma curiosidade. Você sabia que se você colocar um falcão em um cercado de um metro quadrado e inteiramente aberto em cima, ele se tornará um prisioneiro, apesar da sua habilidade de atingir 389 km/h em voo picado? A razão é que um falcão sempre começa seu voo com uma pequena corrida em terra.

Observando um pouco melhor, percebemos que o animal mais rápido da terra, quando não tem espaço para correr, jamais tentará voar e permanecerá um prisioneiro pelo resto da vida, nessa pequena cadeia sem teto.

Mas a natureza animal nos reserva outra curiosidade. O morcego, criatura notavelmente ágil no ar, pois cego, voa com incrível precisão através do som, não pode sair de um lugar nivelado. Se for colocado em um piso completamente plano, tudo que ele conseguirá fazer é andar de forma confusa, dolorosa, procurando alguma ligeira elevação de onde possa se lançar.

Um zangão, se cair em um pote aberto, ficará lá até morrer ou ser removido. Ele não vê a saída no alto, por isso, persiste em tentar sair pelos lados, próximo ao fundo. Vai procurar uma maneira de sair onde não existe nenhuma, até que se destrua completamente de tanto atirar-se contra as paredes do vidro.

Querida e querido leitor. Durante nossa evolução neste plano, às vezes somos pessoas como o falcão, como o morcego e o zangão: atiramo-nos obstinada e destemidamente contra os obstáculos, sem perceber que a saída está em outra direção, está em cima.

Algumas pessoas se lembrariam da oração, do céu, do alto, de Deus. Outras de que vivemos em um mundo de infinitas possibilidades. Outras, falariam que a solução de qualquer desafio, em boa parte, está na própria pergunta. O fato é que se continuarmos fazendo as mesmas coisas, vamos obter os mesmos resultados, mesmo que estes resultados sejam a prisão e a morte.

É assim como o mundo me parece hoje. E você tem agido como falcão, morcego e zangão?
Por: Beto Colombo

domingo, 26 de agosto de 2012

O QUE TE IMPEDE DE BEIJAR ASSIM?


A idéia de escrever um texto contando como foi meu aprendizado do “melhor beijo do mundo” e deixar a revelação da técnica em suspense, tinha a intenção explícita de estimular a fantasia dos leitores, porém a proposta era ainda maior. Gostaria também que refletissem acerca de quem, como, quando e porque estão beijando ou deixando de dar e receber este presente.

Não existe a fórmula do beijo perfeito ou descrição da melhor forma de beijar, a qualidade está muito mais na cabeça dos parceiros que dentro das bocas. Sentimento e emoção são os ingredientes, sem isto o beijo torna-se morno, insosso, indiferente, vazio. O gosto do beijo vai melhorando na exata medida da entrega dos amantes e da veracidade do sentimento.

O segredo que minha amiga ensinou para tornar cada beijo único e inesquecível é beijar sempre como se fosse a última vez. A derradeira despedida. Vivenciar o instante com toda a intensidade, sentir que precisa preservar o momento, segurar o outro com a língua, envolver e ser envolvido, beijar já sentindo a falta e, finalmente, transformar aquele beijo apaixonado em um beijo sagrado. Um beijo inteiro. Um beijo infinito. 

Não há beijo melhor. Se você acha que isto é uma explanação teórica, romântica e sem fundamento, das duas uma: ou você esqueceu como é um bom beijo, ou precisa experimentar. E aqui está o problema, as pessoas pensam que vão viver para sempre, esquecem que não são proprietárias dos outros e não se dão conta que relacionamentos precisam ser alimentados e bem tratados. Apesar de vivermos quase um século, este tempo não é suficiente para realizarmos todos os nossos sonhos, dizermos tudo o que precisaríamos, beijarmos como realmente gostaríamos. Vivemos procrastinando.

Cada dia que nasce é o primeiro para uns e será o último para outros, mas para a maioria, é apenas um dia a mais. Steve Jobs conta que ficou muito impressionado com uma frase que dizia “Se você viver cada dia como se fosse o último, um dia isto vai acontecer” e a partir dali, todos os dias olhava-se no espelho e perguntava: “Se hoje fosse o meu último dia, gostaria de ter feito o que fiz hoje? Se a resposta fosse “não” por muitos dias seguidos, sabia que precisava mudar.

Nada na vida continua, tudo recomeça. Sei que as palavras “nada” e “tudo” são fortes, mas esta é a intenção. Viva cada dia como último e renasça a cada manhã. Faça suas 24 horas valerem a pena. Serão seus melhores dias. Seus beijos não serão automáticos nem monocórdios, mas intensos e definitivos. Morrendo a cada dia, você vai ansiar por voltar a viver. Vai dar valor às pequenas coisas boas e também o devido valor às pequenas coisas ruins que receberam tamanho exagerado. Talvez aprenda que alguns dias tem sido inúteis enquanto alguns momentos, por mais fugazes e simples que pareçam, têm o poder de mudar uma vida. Uma única palavra, um simples carinho, um perdão sincero, um sorriso espontâneo, uma lágrima escorrida, um beijo de verdade. Momentos definitivos.

A vida é curta para quem a mede em anos, e longa para quem a mede em segundos – Mário Quintana.
Por Ildo Meyer

NÃO ESTOU OUVINDO NADA!


Não é de hoje que escuto histórias sobre pessoas que só ouvem o que querem ouvir. 

Normalmente pode-se falar de tudo perto da pessoa que ela não escuta, mas se falar sobre algo que a interessa ou chame sua atenção, logo ela se manifesta: “Hã?” Parece estranho, mas isso não acontece só com pessoas mais velhas que usam a desculpa da surdez para não se envolver em alguma questão sem sentido. Esse recurso também é muito usado por pessoas mais novas. Essa “surdez existencial” acontece por alguns motivos, podemos pensar em alguns.

Imagine que você trabalha como vendedor e está com seus produtos ou portfólio mostrando a um cliente que se mostra reticente, nega a compra. Você, como o perspicaz vendedor que é não escuta a negativa e continua tranquilamente argumentando por seu produto. Não é que não tenha escutado, mas é conveniente fazer de conta que não escutou. Essa surdez serve a um propósito: a venda de um produto. Imagine se o vendedor parar de mostrar o seu produto cada vez que receber um não? Quantos produtos você já comprou pela insistência do vendedor? Sem essa surdez, provavelmente o vendedor não sobreviveria com suas vendas.

Outro caso é daquelas pessoas que não ouvem uma parte de si, são surdas para si mesmas. Você, será que é surdo? “Claro que não!”, podes responder, mas acho que muitos provavelmente são surdos para si mesmos. Quantos de vocês já sentiram dores de dente, o corpo já está avisando que é hora de voltar ao dentista, mas nem por isso foi. Há também o antigo, na verdade novo problema criado pela balança. Basta ver a quantidade de pessoas que percebem claramente o corpo dizendo para diminuir a quantidade de alimento, de bebida, mas não param. Um último exemplo desses é a mulher que se casou com um marido violento, a razão dela diz que ela corre perigo, mas nem por isso ela vai embora.

O ouvido, assim como os olhos, os músculos e qualquer outra parte de nosso organismo precisa ser treinado para que tenha um bom desempenho. Um atleta que treina para um campeonato de tiro, enquanto engatilha sua arma e olha para o alvo, presta cem por cento de atenção naquilo que vai lhe dar o resultado. Um maestro, enquanto rege sua orquestra, percebe cada um dos instrumentos, desde a afinação, o tom, o tempo, tudo. Essa atenção se dá pelo objetivo que ele tem, ou seja, fazer com que o som produzido seja o melhor possível. 

O problemático é que sem ouvir não há como responder e muitas pessoas respondem mesmo sem entender o que foi dito. São como surdos que erraram a leitura labial, mas respondem mesmo assim. Como saber? Na maior parte das vezes é bastante simples examinar se a resposta tem a ver com o que foi falado, ver se o que é dito tem a ver com o assunto. Pessoas que não escutam frequentemente reclamam de maus entendidos, mas na maioria das vezes elas mesmas provocaram o mal entendido. 

Se você disser a sua mulher: “Como você está linda hoje!” e depois disso ela lhe perguntar se estava feia ontem, provavelmente ela não lhe ouviu. Limpe os ouvidos dela dizendo: “Não foi isso que eu disse. Eu disse que você está linda hoje. Não falei de ontem”. É preciso estar atento ao discurso do outro, de modo a ouvir o que ele realmente diz, não aquilo que você quer ouvir.

Rosemiro A. Sefstrom

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

TUDO DEPENDE SÓ DE MIM

Queridos leitores, aceitem o meu fraternal e caloroso abraço. Trago hoje à reflexão Charles Chaplin.

Inicia ele: “Hoje levantei cedo pensando no que tenho a fazer antes que o relógio marque meia noite”. Como sabemos, Charles Chaplin foi um crítico da automatização do trabalho e da desumanização das relações.

Continua ele seu poema. “É minha função escolher que tipo de dia vou ter hoje. Posso reclamar porque está chovendo ou agradecer às águas por lavarem a poluição. Posso ficar triste por não ter dinheiro ou me sentir encorajado para administrar minhas finanças, evitando o desperdício”. 

Na visão do ator, dramaturgo e crítico Chaplin, eu posso tanto me ater a folha em branco quanto me ater ao único ponto preto contido nesta folha em branco. Ele continua: “Posso reclamar sobre minha saúde ou dar graças por estar vivo. Posso me queixar dos meus pais por não terem me dado tudo o que eu queria ou posso ser grato por ter nascido”. 

Nessa verdadeira ladainha de vale de lágrimas ou vale de alegrias, na opinião de Charles Chaplin, nós podemos tudo, só depende de cada um de nós. Segue: “Posso reclamar por ter que ir trabalhar ou agradecer por ter trabalho. Posso sentir tédio com o trabalho doméstico ou agradecer a Deus. Posso lamentar decepções com amigos ou me entusiasmar com a possibilidade de fazer novas amizades”. 
Para Charles Chaplin, eu posso tudo. Contudo, “se as coisas não saíram como planejei posso ficar feliz por ter hoje para recomeçar. O dia está na minha frente esperando para ser o que eu quiser. E aqui estou eu, o escultor que pode dar forma”. 

Ele finaliza este belo escrito: “Tudo depende só de mim.”

Como sabemos, há momentos e situações em nossas existências que não temos como controlar, como decidir, afinal de contas a vida não é o que desejamos, ela é como ela é. Mas, todavia, há aqueles momentos em que as rédeas da nossa história estão em nossas mãos e a nós, somente a nós, cabe decidir o que vamos fazer e, consequentemente, o que vamos ser. 

Como não podemos ter esse controle todo o tempo, que pelo menos nesses momentos de liberdade plena, sejamos nós. Afinal de contas, é aqui, somente aqui, onde tudo depende só de mim.
É assim como o mundo me parece hoje. E você, consegue discernir os momentos quando algo depende e quando não depende de você?
Por: Beto Colombo

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

MUROS DE VIDRO


Querido leitor, querida leitora, paz! Nosso tema para reflexão, hoje, são os muros de vidro.

Você já observou que volta e meia nossas cidades são atingidas por muitos modismos que vão desde roupas, carros, casas e até muros? Não se trata de uma crítica à moda, pois cada um faz o que quer consigo, mas o que dela resulta. Afinal de contas, parece que nada está estanque, estamos todos, de um jeito ou de outro, interligados, conectados.

Atento-me especificamente, agora, aos muros de vidro. Observo que cada vez mais está aumentando o número e a quantidade deles em nossa região e Estado. Profissionais do design estão se sensibilizando com esta possibilidade e sugerindo com maior intensidade a seus clientes. 

Que ficam belos os muros, isso é inegável. Mas, como tudo tem pelo menos dois lados, por trás da beleza também há a destruição, que é a morte de pássaros provocada por colisões. 

Pesquisando um pouco mais sobre o caso, concluí que há duas causas antropológicas da mortalidade de pássaros ao redor do mundo. A primeira é devido a destruição do habitat dos mesmos, que tem como consequência a destruição de todos os recursos necessários à sobrevivência de um pássaro selvagem.

Contudo, pasmem, a segunda causa de matança de aves no planeta e que é muito pouco divulgada e discutida está relacionada a colisão delas com painéis de vidro transparente e/ou reflexivo de casas, edifícios residenciais e comerciais. Este problema é tão sério que é a grande suspeita do declínio da população mundial de pássaros.

Enquanto o ser humano tem uma visão tricromática - baseada num sistema de três cores primárias, o vermelho, o azul e o amarelo, as aves têm um quarto cone, sensível à radiação UV (ultra-violeta). A presença deste quarto cone torna os reflexos de árvores, água e alimentos nos vidros confusos a esses animais e também torna mais difícil a eles perceber a existência de um vidro transparente, levando às colisões. Aves não veem o vidro como uma barreira, principalmente devido ao seu sistema de visão. Bachelard diz que “os homens são aqueles que perderam a confiança dos pássaros”.
Várias medidas podem ser tomadas no intuito de evitar essas colisões, tanto para as construções já existentes, quanto para as futuras construções. Basta, para isso, pesquisar e ver qual a melhor forma de adapta a sua obra. 

O poeta Carlos Drummond de Andrade escreveu: “O homem vangloria-se de ter imitado o voo das aves com uma complicação técnica que elas dispensam”.

Antes de encerrar este artigo, vale ainda uma derradeira pergunta: Que tipo de beleza as pessoas estão apreciando neste muro de vidro?

É assim como o mundo me parece hoje. E você, tem muro ou telhado de vidro? Por: Beto Colombo

terça-feira, 21 de agosto de 2012

APAGÃO DA FAMÍLIA


A sociedade assiste, assombrada, a uma escalada de crimes cometidos no âmbito de famílias de classe média. Transformou-se o crime familiar em pauta ordinária das editorias de polícia. O inimigo já não está somente nas esquinas e vielas da cidade sem rosto, mas dentro dos lares. Mudam os personagens, mas as histórias de famílias destruídas pelo ódio e pelas drogas se repetem. A violência não se oculta sob a máscara anônima da marginalidade. Surpreendentemente, vítimas e criminosos assinam o mesmo sobrenome e estão unidos pela indissolubilidade do DNA.

A multiplicação dos crimes em família tem deixado a opinião pública em estado de choque. Paira no ar a mesma pergunta que Federico Fellini pôs na boca de um dos personagens do seu filme “Ensaio de Orquestra”, quando, ao contemplar o caos que tomara conta dos músicos depois da destituição do maestro, pergunta, perplexo: “Como é que chegamos a isto?”. A interrogação está subjacente nas reações de todos nós, caros leitores, que, atordoados, tentamos encontrar resposta para a escalada de maldade que tomou conta do cotidiano.

A tragédia que tem fustigado algumas famílias aparece tingida por marcas típicas da atual crônica policial: uso de drogas, dissolução da família e crise da autoridade. Não sou juiz de ninguém. Mas minha experiência profissional indica a presença de um elo que dá unidade aos crimes que destruíram inúmeros lares: o esgarçamento das relações familiares. Há exceções, é claro. Desequilíbrios e patologias independem da boa vontade de pais e filhos. A regra, no entanto, indica que o crime hediondo costuma ser o dramático corolário de um silogismo que se fundamenta nas premissas do egoísmo e da ausência, sobretudo paterna. A desestruturação da família está, de fato, na raiz da tragédia.

Se a crescente falange de jovens criminosos deixa algo claro, é o fato de que cada vez mais pais não conhecem os seus filhos – e filhos também não se interessam por seus pais e avós. Na falta do carinho e do diálogo, os jovens crescem sem referências morais e âncoras afetivas. Recebem boas mesadas, carros e viagens. Mas, certamente, trocariam tudo isso pela presença dos pais. Sua resposta é uma explosiva combinação de revolta e ódio.

Psiquiatras, inúmeros, tentam encontrar explicações nos meandros das patologias mentais. Podem ter razão. Mas nem sempre. Independentemente dos possíveis surtos psicóticos, causa imediata de crimes brutais, a grande doença dos nossos dias tem um nome menos técnico, porém mais cruel: a desumanização das relações familiares. O crime intra e extralar medra no terreno fertilizado pela ausência. O uso das drogas, verdadeiro estopim da loucura final, é, frequentemente, o resultado da falência da família.

A ausência de limites e a crise da autoridade estão na outra ponta do problema. Transformou-se o prazer em regra absoluta. O sacrifício, a renúncia e o sofrimento, realidades inerentes ao cotidiano de todos nós, foram excomungados pelo marketing do consumismo alucinado. Decretada a demissão dos limites e suprimido qualquer assomo de autoridade – dos pais, da escola e do Estado -, sobra a barbárie. A responsabilidade, consequência direta e imediata dos atos humanos, simplesmente evaporou-se. Em todos os campos. O político ladrão e aético não vai para a cadeia. Renuncia ao mandato. O delinquente juvenil não responde por seus atos. É “de menor”.

Certas teorias no campo da educação, cultivadas em escolas que fizeram uma opção preferencial pela permissividade, também estão apresentando um amargo resultado. Uma legião de desajustados, crescida à sombra do dogma da educação não traumatizante, está mostrando a sua face perversa.

Ao traçar o perfil de alguns desvios da sociedade norte-americana, o sociólogo Christopher Lasch (autor do livro A Rebelião das Elites) sublinha as dramáticas consequências que estão ocultas sob a aparência da tolerância: “Gastamos a maior parte da nossa energia no combate à vergonha e à culpa, pretendendo que as pessoas se sentissem bem consigo mesmas”. O saldo é uma geração desorientada e vazia.

A despersonalização da culpa e a certeza da impunidade têm gerado uma onda de superpredadores. O inchaço do ego e o emagrecimento da solidariedade estão na origem de inúmeras patologias. A forja do caráter, compatível com o clima de verdadeira liberdade, começa a ganhar contornos de solução válida. A pena é que tenhamos de pagar um preço tão alto para redescobrir o óbvio.

O pragmatismo e a irresponsabilidade de alguns setores do mundo do entretenimento também têm importante parcela de responsabilidade nesse quadro. A valorização do sucesso sem limites éticos, a apresentação de desvios comportamentais num clima de normalidade e a consagração da impunidade têm colaborado para o aparecimento de mauricinhos do crime. Apoiados numa manipulação do conceito de liberdade artística e de expressão, alguns programas de televisão crescem à sombra da exploração das paixões humanas.

As análises dos especialistas e as políticas públicas esgrimem inúmeros argumentos politicamente corretos. Fala-se de tudo. Menos da crise da família e da demissão da autoridade. Mas o nó está aí. Se não tivermos a coragem e a firmeza de desatá-lo, assistiremos a uma espiral de crueldade sem precedentes. É apenas uma questão de tempo.

Já estamos ouvindo as primeiras explosões do barril de pólvora. O horror dos lares destruídos pelo ódio não está nas telas dos cinemas. Está batendo às portas das casas de um Brasil que precisa resgatar a cordialidade captada pela poderosa lente de Sérgio Buarque de Holanda (o pai do Chico) no seu memorável “Raízes do Brasil”. Por: Carlos Alberto Di Franco

Fonte: O Estado de S. Paulo, 20/08/2012

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

ACERVO


Querido leitor, que você esteja bem e em paz! Hoje vamos refletir sobre acervo. 

E inicio, então, trazendo um ditado popular que diz: “Pouco inteligente é aquele que não aprende com seus erros; inteligente é aquele que aprende com seus erros; e sábio é aquele que aprende com os erros dos outros”. Sabemos, algumas pessoas têm que passar pelo corredor do sacrifício, da perda, da dor para interiorizar em si um padrão diferente, uma mudança, são pessoas que aprendem pela experimentação. Essas pessoas dificilmente são transformadas pelo amor rotineiro.

Se essas pessoas são modificadas pelo sacrifício, perdas, então como podemos fazer isso de forma leve e tranquila? Uma das formas passa pelo acervo.

O acervo, como o próprio nome já diz, passa pelo aprendizado pessoal que pode vir tanto de outras pessoas quanto de mim mesmo, mas para isso, a condição é estar desperto, estar no presente.
Quer um exemplo? Vamos a ele. Recentemente minha companheira Albany fez algo que jamais tinha executado e que sequer passava por sua cabeça, que era tirar férias do casamento, ir para os Estados Unidos estudar línguas. Assim fez. Lá, permaneceu por dois meses ao lado do nosso filho Filipe e sua esposa Louise. O que antes não significava nada para ela, ou talvez algo impensado e até evitado, transformou-se em algo vivenciado. Ela acessou a um novo conhecimento, acrescentou algo em seu acervo.

Este exemplo das férias de casamento, que inclusive rendeu um artigo compartilhado neste espaço, é só uma forma de se acessar. Existem outras. Fazer um curso de matemática avançada, onde você aprende a trabalhar com uma calculadora HP é outro exemplo. E olha que estamos falando, agora, de matemática, de números. Acessando a este conhecimento, a pessoa alastra seu acervo, neste caso, o acervo da razão.

Os exemplos não param no acervo emocional, racional, eles vão além, na verdade, são infinitos.

Quando se estuda ética, moral, estou me aperfeiçoando em costumes de povos, como o exemplo da China, quando alguém é condenado à morte e esta deve ser feita com um tiro. Detalhe: a bala é paga pela família do condenado. Aqui, o meu leitor já sabe, não me posiciono se certo ou errado, apenas exponho os fatos, explico o contexto e cada um tira a sua conclusão.

Para mim, por ora, quanto mais acervo tenho, mais conhecimento e estes geram a resiliência, ou seja, despertam em mim a capacidade de fazer do limão uma limonada. Se já fiz um percepcionar com minhas experiências, avancei no tempo. E, quando aquilo que já vivenciei ocorrer novamente, estarei cada vez mais preparado para dar uma boa resposta.

De chofre, me vem o ditado oriental que diz que temos que cavar um poço antes de sentir sede. E é inegável, algumas pessoas conseguem fazer isso, ou seja, avançar no script que já estão vivendo.
Para que serve o acervo? Você deve estar se perguntando. Serve para isso, para sedimentarmos nossa inteligência emocional, nossa resiliência, nossa flexibilidade. Então, vale uma última questão: por que não sairmos de nossas zonas de conforto e provocarmos mais e mais acervos em nossas vidas? Para mim funciona. 

É assim como o mundo me parece hoje. E você, tem aumentado seu acervo?

domingo, 19 de agosto de 2012

UM DIVÃ PARA DOIS





Depois de trinta anos de casamento há de se compreender que o relacionamento conjugal esfrie e se torne mais monótono. Dificilmente um casal que ultrapassou a casa dos sessenta nos de idade tem a mesma disposição sexual e libido que nos primeiros dez anos de união. Assim, muitos casais acabam por manter uma rotina tranquila, sem qualquer romantismo.

Só que os tempos modernos surpreendem. O avanço da medicina (Viagra, reposição hormonal) e o consequente aumento da expectativa de vida alteram esse quadro social. Os divórcios não só triplicaram após a meia idade, como também se intensificaram nas idades mais avançadas. 

Se com a longevidade é possível viver vinte anos mais, por que não o fazer de forma mais prazerosa e encarar um recomeço?

É deste tema tão atual que a nova comédia de David Frankel (Marley & Eu, O Diabo Veste Prada) se alimenta. O diretor escolheu para interpretar os sessentões em crise matrimonial mais do que ótimos atores, astros da calçada da fama. Assim, Meryl Streep é Kay e Tommy Lee Jones, Arnold, um casal do meio oeste americano, que está celebrando 31 anos de casamento.

Os filhos adultos já se saíram de casa faz tempo e Kay e Arnold dormem em quartos separados e não tem relações sexuais.

As revindicações começam por parte dela. Kay não quer mais presentes que sejam para casa - o último foi uma assinatura de canais de TV a cabo. Ela quer novamente intimidade com o marido, que a ignora toda noite por programas de golfe na televisão.

Um dia, então, Kay compra um livro de autoajuda para relacionamentos e vai procurar apoio do autor, o psicólogo Dr. Bernie (Steve Carell).

A proposta é participar de um tratamento intensivo para casais, fazendo um retiro de uma semana em uma cidadezinha próxima a divisa do Canadá, que incluem sessões de terapia com o Br. Bernie.

Depois de bastante pressão e a contragosto, Arnold decide acompanhar a esposa no tal programa, do qual acredita não passar de charlatanismo.

As situações vivenciadas pelo casal para erotizar e apimentar uma relação apática e desgastada são hilárias. Em meio ao cômico estão questões incômodas sobre envelhecer e o envelhecer juntos. Não há culpados pela frigidez que se instalou, mas a trama expõe as responsabilidades e dificuldades individuais.

Um tema extremamente sério camuflado de comédia de costumes. É possível que casais há tempo juntos se identifiquem e se emocionem. Contudo é diversão para qualquer idade. Crítica: Por Érika Corrêa 



SE EU PUDESSE


Se eu pudesse, mudava minha vida toda; não que ela esteja ruim, mas só para ver que ela pode ser diferente.

Se eu pudesse, me desfaria de muitas coisas, da minha casa e de quase todas as roupas. Afinal, quem precisa de mais do que dois pares de sapatos, dois jeans, quatro camisetas e dois suéteres, sobretudo quando anda pensando em mudar de vida?

Se eu tivesse muitas joias, enterrava todas elas na areia da praia para que um dia alguém enfiasse a mão brincando, assim para nada, e tivesse a felicidade de encontrar um colar de brilhantes. Afinal, dá para viver sem, não dá?

Das algumas garrafas de champanhe guardadas cuidadosamente, na horizontal, daria para abrir mão, sem nenhuma possibilidade de remorso futuro; champanhe, além de engordar, não passa de um espumante metido a alguma coisa, e nem barato dá, de tão fraquinho que é. Dos vinhos, mais fácil ainda; nada melhor do que o velho e bom uísque, com o qual sempre se pode contar.

E as amizades? Aliás, as amizades, não: as relações. Ah, se tivesse coragem, compraria um novo caderno de telefones e passava só aqueles pouquíssimos nomes que realmente têm algum significado, e que são tão poucos que nem precisaria escrever. Guardaria todos de cor, não na cabeça, mas no coração, e um dia me esqueceria de todos eles.

Se eu pudesse, iria recomeçar a vida em outra cidade, talvez em outro país, para nada, só para começar tudo do zero. Para às vezes sofrer bastante, pensando que poderia ter tido mais juízo e não ter feito tantas bobagens, pois se tivesse errado menos poderia ter sido mais feliz -talvez. Mas alguém tem o poder de fazer alguém sofrer, ou a capacidade do sofrimento é um bem pessoal e intransferível?

Se alguém conseguisse ainda me fazer sofrer, seria um acontecimento a ser festejado.

Se eu pudesse -e não tivesse tantos compromissos-, seria vegetariana, passaria as noites em claro e teria muito amor pelos animais e pelas crianças. Mas como tenho horror a qualquer bicho e nenhuma paciência com criancinhas, a não ser com meus bichos e minhas crianças, vou ter que atravessar a vida levando essa pesadíssima cruz -afinal, ficou combinado que de certas coisas não se pode não gostar, e se não se gostar não se pode dizer, que vida.

Se pudesse, largaria tudo e iria embora para um lugar onde ninguém me conhecesse, onde não teria passado nem futuro; para um lugar esquisito no qual não entenderia a língua do povo nem ninguém entenderia a minha. Seríamos todos, assumidamente, estranhos -como somos no edifício onde moramos, no local de trabalho, dentro de nossa família. Ou você pensa que alguém conhece alguém porque dá beijinhos no elevador?

Se eu pudesse, quando acordasse hoje de madrugada saía descalça só com um casaco em cima da pele e ia molhar os pés na água do mar, sozinha. Depois, ia tomar um café no balcão de um botequim, como fazem os homens.

Se eu pudesse, rasgava os talões de cheques, cortava os cartões de crédito com uma tesoura, fazia uma linda fogueira com os casacos de pele e ia saber como é que vivem os que não têm, nunca tiveram e nunca vão ter nada disso. E aproveitava o embalo para cortar os fios dos telefones, jogar o celular na tela da televisão e o computador pela janela -deve ser lindo, um computador voando.

Se eu pudesse, raspava a cabeça, acendia dois cigarros ao mesmo tempo e tomava uma vodca dupla, sem gelo, num copo de geleia. E pegaria uma gilete para picar em pedacinhos a carteira de identidade, o passaporte e o CPF, sem pensar um só instante nas consequências e sem um pingo de medo do futuro.

E jogava na lata de lixo meus lençóis, meus travesseiros de pluma, meu cobertor e engolia minhas pestanas postiças, só para aprender que a vida não é só isso.

Se eu pudesse, esquecia o meu nome, o meu passado e a minha história e ia ser ninguém. Ninguém.

Se eu pudesse, não, se eu quisesse. Pois é, tem dias que a gente está assim, mas passa. Por: Danúsa Leão

sábado, 18 de agosto de 2012

A DIFÍCIL ARTE DE SE MANTER MOTIVADO


Motivação é um assunto em alta no momento. O que nos motiva a trabalhar? O que motiva os atletas? O que nos motiva a buscar novos rumos? O que motiva os funcionário a produzirem mais? Fala-se em motivar, em palestrantes motivadores, em atividades motivacionais. Mas onde está a motivação? Mudanças. Empresas passam constantemente por mudanças para se adequar aos altos e baixos do mercado, das exigências do mundo. E nesta montanha russa, devemos nos manter motivados, e motivar aqueles ao nosso redor. Mas como fazer isso? Existe uma fórmula mágica? Um elixir motivacional. Muito fácil, não teria graça.. Temos que enfrentar o desafio.. Isso por si já é um ponto motivacional.

Acordar, enfrentar a segunda feira passar pelos primeiros momentos do dia com o sorriso no rosto de quem é vitorioso. Espalhar carisma e afeto. Dar bom dia para o espelho, e para todos os demais que encontrar. Pequenos gestos que mantém e reforçam a motivação. Mas, se este é o caminho, por que.. O titulo de "a difícil arte de se manter motivado"?? Simples.. Pelo motivo de que é muito mais fácil e rápido se desmotivar, do que se motivar. Talvez seja por isso que em épocas de eleições, seja tão comum se escutar que tal partido vai trazer o "fulano" para uma palestra motivacional.. Manter um grupo unido não é tarefa fácil, principalmente quando os interesses individuais são maiores dos que os interesses coletivos. E ai voltamos novamente no tema.. Como manter um grupo motivado.. É possível? A resposta é sim.. Fácil? Não! Devemos entender que as pessoas pensam de formas diferentes, e por tanto, tem interesses diferentes. Isto é um desafio para manter um grupo motivado, achar o ponto de equilíbrio, o ponto de união. E ai então, utilizar este ponto quase que diariamente para criar a manutenção desta motivação. Motivar é uma tarefa árdua e particular, e deve ser "alimentada" diversas vezes por dia. Encontre a sua forma, cumprimente o espelho pela manhã.. Faça um elogio.. E vamos ver onde isso vai parar. Por: Por: Profº Paulo de Tarso Ferreira

ATENÇÃO É O SEGREDO DA MEMÓRIA



Evento discute as melhores formas de evitar esquecimento e mostra que processo permanente de aprendizado é fundamental


Dos jovens aos mais velhos, é raro encontrar alguém que não reclame de esquecer coisas importantes, seja um livro recente, uma palestra, um compromisso ou um comunicado. A tendência é achar que há problemas de memória. A boa notícia é que, na maioria dos casos, não há nenhuma deficiência no funcionamento do cérebro. O indivíduo só precisa estar mais atento, focar em suas atividades, além de sempre exercitar a mente. E mais, o esquecimento é um processo absolutamente natural, que faz parte do aprendizado do ser humano. É o que garantiram especialistas que participaram da quinta edição dos Encontros O GLOBO Saúde e Bem-Estar, na última quarta-feira, sobre a memória.

— Na maioria dos casos, quando não há uma doença, o problema de memória é, na verdade, um problema de atenção — afirmou a neurocientista Suzana Herculano-Houzel, da UFRJ.

Com o advento da internet, uma das dificuldades do mundo moderno é lidar com a enxurrada de dados e imagens, segundo o cardiologista Cláudio Domênico, coordenador do evento, que citou o autor americano bestseller Nicholas Carr.

— Uma das frases dele é que “a mente linear, focada, sem distrações está sendo expulsa por um novo tipo de mente que quer e precisa tomar e aquinhoar informação em surtos curtos, desconexos, frequentemente superpostos, quanto mais rapidamente, melhor”. Realmente, hoje há um excesso de informação e a internet tem aquela história de surfar, a gente não se aprofunda — criticou.

A neurologista Carla Tocquer concorda que a internet distrai e aconselhou a focar em apenas um assunto:

— É preciso engajar a atenção, estar presente no agora. Aquele comportamento da internet de passar de um assunto a outro, acaba sendo nocivo à memória. Como posso melhorar o registro? Se estiver 100% presente, disponível no momento, amanhã quando eu quiser me lembrar do dia de hoje vai ser muito mais fácil.

A ideia da internet como vilã, porém, não é aceita como argumento por Suzana Herculano-Houzel.

— É muito fácil colocar a culpa na internet. Não existe informação demais hoje. Sempre existiu informação demais para o cérebro da gente, desde o início dos tempos. O problema é que o cérebro só consegue prestar atenção em uma coisa de cada vez — defendeu.

A construção da identidade

Muito além de apenas um sistema de armazenamento de informações no cérebro, a memória está ligada ao aprendizado e é responsável por definir a identidade de cada um, por mudar o cérebro conforme as experiências.

— O cérebro aprende, muda, faz diferente, isto é memória. Há a mudança do comportamento por causa das experiências anteriores. Perder a memória quer dizer passar pela vida em branco. Seu cérebro não registra o que aconteceu, e é como se nada tivesse acontecido ao seu redor — afirmou Suzana.

A neurocientista também explica que a memória é um processo físico, que envolve mudanças de conexões do cérebro, que são as sinapses, onde os neurônios trocam informações uns com os outros. Até a década de 1950, acreditava-se que o indivíduo já nascia com um número estabelecido de sinapses. Hoje se sabe que novas sinapses são criadas e outras, perdidas, ao longo da vida.

— Uma parte importante do aprendizado é de remoção daquilo que não serve, do que não funciona. Mas ao mesmo tempo, aquelas sinapses que servem para alguma são fortalecidas. Enfraquecer ou fortalecer uma sinapse quer dizer, essencialmente, diminuir ou aumentar o impacto que um neurônio tem sobre o seguinte. É um processo de lapidação, a memória é a escultura que fica.

Não existem pílulas milagrosas

A capacidade de aprendizado na infância é maior do que na idade adulta, assim como é mais comum o idoso ter queixas de perda de memória do que o jovem. Mas uma série de pesquisas lança otimismo em relação ao envelhecimento do cérebro, e aponta para a possibilidade de recuperação da memória se ela for estimulada, por exemplo, com exercícios físicos e com o hábito da leitura frequente.

Por outro lado, há fatores que influenciam negativamente na memória humana, e acabam por agravar os efeitos do tempo. Álcool e outras drogas, depressão, alimentação inadequada, assim como algumas doenças e deficiências nutricionais.

Técnicas para melhorar a memória tiveram espaço de destaque durante o debate, assim como o alerta para comprimidos que se dizem milagrosos e que prometem melhorar o desempenho cerebral:

— Há uma pílula que acabou de sair chamada Cognizin, está à venda por R$ 69,99. Para quem adora vitamina, é uma ótima maneira de fazer um xixi mais caro, não serve para absolutamente nada — comentou Domênico.

Segundo ele, não há fórmula mágica: ler, boa alimentação e exercícios são as melhores formas de desenvolver o cérebro. Já Carla Tocquer deu outra dica:

— O relaxamento vai deixar a pessoa mais disponível e a meditação vai ajudar não só no registro como no armazenamento da informação. O Globo

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

MEU CORAÇÃO ME TRAIU!


Cada pessoa ao se conectar a uma outra, ou, como se diz em Filosofia Clinica, ao construir uma interseção com a outra, põe uma série de conteúdos em comum. Algumas pessoas colocam mais conteúdos nessa interseção, outras muito menos, de modo que se constrói um espaço que forma a relação. A essa construção compartilhada chamamos de relação, conexão, amor e outras milhares de palavras que apontam a interseção entre duas pessoas. Mas, há um problema, como saber se a pessoa com quem estou conectado é a pessoa certa? Como saber se numa relação em que dedico o meu amor a outra pessoa está interessada em continuar comigo? 

Um relacionamento pode se iniciar por vários motivos, basta ver nos filmes: alguns começam porque a moça ou moço é bonito, rico, inteligente, esperto, engraçado, mas isso pode ser apenas um termo de passagem de um encontro em um relacionamento. Depois de um primeiro contato, o casal começa a construção da interseção, de modo que cada um põe os conteúdos em comum e partilha os conteúdos do outro. É ilusão achar que os relacionamentos começam ou duram e até mesmo acabam por causa de amor. Para muitas pessoas o amor é apenas uma sombra, sem cor, sem forma, elas sabem que até pode existir, mas não estão interessadas. Cada relacionamento tem suas peculiaridades, tanto a literatura quanto a vida são ricos em exemplos. Tenho certeza que não sou o único que conhece um casal que vive de aparências, isso segundo os vizinhos. Se a aparência faz o casal estar junto, vivem bem assim, o que há de errado? Ou será que a maior parte dos homens e mulheres quando vão para a balada estão em busca só de uma mente brilhante? 

Mas, existem muitos casos nos quais é realmente o amor que faz a relação acontecer. A menina ou o menino realmente ama seu par, faz juras e espera que essa sensação boa dure tanto quanto possível. Quando isso não acontece, às vezes a decepção é muito grande, porque a pessoa depositou todo o seu amor em uma pessoa que não era a certa. Mas como saber? O coração simplesmente diz, aponta para a pessoa e nada se pode fazer contra ele, mas ele, assim como razão, também erra. Mas vamos fazer ainda pior, digamos que uma moça tenha plena certeza de que aquele menino não é para ela, mas ainda assim se apaixona. O coração traiu. 

Para a pessoa que vive o dilema, não parece tão simples quanto as palavras que escrevo, porque para ela a razão aponta um caminho e o coração outro. Quando a razão tem mais força, facilmente o problema é resolvido, mas algumas vezes o coração tem mais força. São aqueles casos em que, contra todas as possibilidades, a menina ou menino se apaixona pela pessoa errada. Uma situação ainda mais dura acontece quando tanto a emoção quanto a razão tem força, nestes casos a dúvida é o que fica evidente. O caso mais interessante acontece quando as emoções não conversam com a razão, parece estranho, mas acontece. É o caso de uma pessoa que não tem a menor ideia do porque, mas tem uma vontade louca de estar com a outra. Nesse caso a razão e a emoção não se conversam.

Para não ser traída ou traído pelo coração observe em sua história as vezes em que seu coração indicou o caminho e se esse caminho foi bom. Assim como o coração, nossa razão também pode errar. Não há como dizer quem é melhor, razão ou emoção, mas cada um deve pesquisar em sua história de vida quando usou um ou outro para decidir. Quando perceber o uso da razão, preste atenção nos resultados da decisão, quando for o caso da emoção, a mesma coisa. Você pode ser enganado pela emoção, mas também pode tentar conhecê-la e, quem sabe, tornar-se um pouco mais independente.

Rosemiro A. Sefstrom

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

LIMPEZA DO CÉREBRO



Cientistas americanos descobrem um sistema de limpeza do cérebro

Drenagem ajuda a eliminar resíduos e pode ter aplicação na pesquisa de doenças como Alzheimer e Parkinson

5Sistema atua como se fossem encanamentos que aproveitam os vasos sanguíneos - Reprodução
Neurocientistas do Centro Médico da Universidade de Rochester (EUA) descobriram um sistema de drenagem com o qual o cérebro elimina os resíduos, segundo um estudo publicado na "Science Translational Medicine", que esperam que tenha aplicação na pesquisa dos males de Alzheimer e de Parkinson.

O sistema atua como se fossem encanamentos que aproveitam os vasos sanguíneos do cérebro e parece realizar a mesma função no cérebro que o sistema linfático no resto do corpo: drenar de resíduos.
A autora principal do artigo e co-diretora do Centro de Neuromedicina da Universidade de Rochester, Maiken Nedergaar afirmou que "a limpeza de resíduos é de vital importância para todos os órgãos e há muito tempo temos perguntas sobre como o cérebro se desfaz de seus resíduos".

"O trabalho demonstra que o cérebro está se limpando de uma maneira mais organizada e em uma escala muito maior do que se tinha pensado anteriormente", disse Nedergaard que expressou seu desejo de que a descoberta sirva para tratar doenças cerebrais.

"Temos a esperança de que estes resultados tenham implicações para muitas condições que afetam o cérebro, como lesões cerebrais por traumatismo, o mal de Alzheimer, derrames cerebrais e o mal de Parkinson", acrescentou.

A equipe de Nedergaard chamou o novo sistema de "o sistema glinfático", já que atua de maneira similar ao sistema linfático, mas está administrado pelas células do cérebro conhecidas como células da Glia.

A equipe fez o descobrimento em ratos, cujos cérebros são muito similares aos dos humanos.

Os cientistas apreenderam que o líquido cefalorraquidiano tem um papel importante na limpeza do tecido cerebral, encarregado de levar os produtos de resíduo e os nutrientes ao tecido cerebral através de um processo conhecido como difusão.

O sistema recentemente descoberto circula por todos os cantos do cérebro de maneira mais eficiente, através do que os cientistas chamam de fluxo global.

"É como se o cérebro tivesse dois coletores de lixo - um lento que já conhecíamos e um rápido que acabamos de conhecer", disse Nedergaard.

"Dada a alta taxa de metabolismo no cérebro e sua grande sensibilidade, não é de se estranhar que seus mecanismos para se desfazer dos resíduos sejam mais especializados e amplos do que se pensava", acrescentou.

A IMPORTÂNCIA DE SE DOMINAR A TEORIA


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O provérbio que diz que as coisas podem funcionar bem na teoria mas não necessariamente funcionam na prática é bem conhecido. A intenção normalmente é a de menosprezar a importância da teoria, sugerindo que ela pode ser bonita mas pode estar muito distante das exigências práticas, sendo de pouca valia para ajudar a resolver o problema em questão.

O filósofo prussiano Immanuel Kant (1724—1804), em seu ensaio de 1793, "On the Popular Judgment: 'This May Be True in Theory, But It Does Not Apply in Practice" (Sobre o Juízo Popular: 'Isso Pode Ser Verdade Na Teoria, Mas Não Se Aplica à Prática'), respondeu a esta crítica. Com efeito, ele respondeu com este seu ensaio à crítica feita à sua teoria ética pelo filósofo Christian Garve (1742—1798).

Kant argumentou que a teoria fornece "princípios de natureza suficientemente geral", ou seja, ela fornece regras gerais. No entanto, a teoria não diz ao homem como ela deve ser aplicada, diz Kant. Para isso, faz-se necessário o ato do discernimento próprio:



O conceito da compreensão, o qual pertence à regra geral, tem de ser complementado por um ato de discernimento, por meio do qual o adepto distingue exemplos em que a regra se aplica daqueles em que ela não aplica.

O filósofo prussiano, de maneira efetiva, afirma que qualquer indivíduo atuante tem de respeita o papel exercido pela teoria:



Aquele que finge ser versado em um determinado ramo do conhecimento e ainda assim trata a teoria com escárnio irá inevitavelmente se expor como um ignorante em sua área.

Em sua obra metodológica, Ludwig von Mises (1881—1973) enfatizou, em sua nível mais fundamental, a importância da teoria para o indivíduo que age, observando que a teoria e a ação humana são inseparáveis. Escreveu Mises:



O pensamento precede a ação. Pensar é deliberar sobre a ação antes de agir, e refletir em seguida sobre a ação efetuada. Pensar e agir são inseparáveis. Toda ação está sempre baseada em uma ideia específica sobre relações causais. Quem pensa uma relação causal, pensa um teorema. Ação sem pensamento e prática sem teoria são inimagináveis. O raciocínio pode ser falso e a teoria incorreta; mas o pensamento e a teoria estão presentes em toda ação. Por outro lado, pensar implica sempre imaginar uma futura ação. Mesmo quem pensa sobre uma teoria pura pressupõe que a teoria é correta, isto é, que uma ação efetuada de acordo com o seu conteúdo teria por resultado um efeito compatível com seus ensinamentos. Para a lógica, o fato de esta ação ser factível ou não é irrelevante.

Com a teoria sendo inseparável da ação humana, a questão crucial passa a ser: Qual é a teoria correta? Por motivos óbvios, o indivíduo que age estará interessado na teoria correta: "Não importa como ela seja vista, simplesmente não há como uma teoria falsa ter maior serventia a um indivíduo, a uma classe ou a toda a humanidade do que uma teoria correta."

II.

Na versão da ciência econômica que hoje é a dominante, o real valor de uma teoria é definido por meio de testes que seguem a hipótese do "se-então". Por exemplo, economistas testam se um aumento na oferta monetária leva a um aumento nos preços, ou se um aumento na oferta monetária causa elevação nos preços — ou se o inverso é verdadeiro.

Tal procedimento é típico do positivismo-empiricismo-falsificacionismo — uma abordagem metodológica que, na ciência econômica, não apenas deve ser rejeitada como sendo confusão intelectual, como também tem de ser criticada por ser propensa a abusos demagógicos.

Afinal, se alguém é adepto da ideia de que nada pode ser conhecido (com certeza) sem ser testado, então tal pessoa, por definição, tem de colocar em prática todas as suas ideias. E é aí que jaz o perigo.

Tão logo uma teoria passa a ser vista como boa ou benevolente — tal como a teoria que diz que um aumento na oferta monetária gera prosperidade para todos, ou a teoria que diz que déficits orçamentais criam novos empregos —, as pessoas irão adorar vê-la em prática.

O que é pior, sob o atual reinado do positivismo-empiricismo-falsificacionismo, existem enormes incentivos econômicos para se difundir teorias politicamente eficazes que, obviamente, visam apenas ao bem de políticos — mesmo que tais teorias sejam falsas. Aqueles que fornecem uma convincente legitimação científica para ações perseguidas pelo governo podem previsivelmente esperar altas recompensas dos burocratas.

Fornecendo uma ilustração metafórica: para fazer com que o roubo seja algo socialmente aceitável, o ladrão estará disposto a dividir uma fatia do seu esbulho com aqueles que estão ajudando a fazer com que, do ponto de vista das vítimas, o crime seja aceitável. Em suma, o ladrão tem todo o interesse em premiar o intelectual que justifica "cientificamente" seu roubo.

No que concerne a teorias econômicas aparentemente benevolentes, considere os seguintes exemplos:
O estado é indispensável para a paz e a prosperidade; sem o estado haveria caos social, agressões impiedosas aos mais fracos e miséria dantesca.
A produção e a oferta de dinheiro têm de ser monopolizadas pelo estado, pois simplesmente não há outra maneira de se obter dinheiro de forma confiável.
Foi uma boa ideia substituir o dinheiro metálico (ouro e prata) pelo papel-moeda fiduciário de curso forçado, pois apenas esse tipo de dinheiro permite um contínuo e adequado aumento na oferta monetária — aumento este que, por sua vez, é indispensável para que haja crescimento da economia e do emprego.
O capitalismo explora a classe trabalhadora e gera um aumento exacerbado da pobreza, guerras e imperialismo; já o socialismo irá manter a paz e elevar o padrão de vida de todos.
A democracia (a escolha da maioria) é a única forma de organização política que respeita a liberdade individual e os direitos de propriedade, e que gera cooperação pacífica e prosperidade.

Estes exemplos são suficientes para o meu ponto: tão logo algumas teorias passam a ser consideradas benevolentes, pode-se ter a certeza de que elas serão colocadas em ação. Quanto mais benevolente uma teoria, maior a possibilidade de ocorrer experimentos sociais.

No entanto, praticar experimentos sociais com o suposto propósito de se estar testando verdades é algo que possui um preço muito alto — às vezes, um preço proibitivamente alto, como deixou evidente o experimento socialista em vários países.

III.

No campo da ciência econômica, no entanto, é possível decidir se determinadas teorias são corretas ou incorretas sem que haja a necessidade de se recorrer a experimentos e testes.

Mises reconstruiu a ciência econômica como sendo uma das áreas da 'lógica da ação humana', que ele chamou depraxeologia (práxis = ação; a lógica da ação). Sendo uma teoria apriorística, a praxeologia permite a dedução de verdades irrefutáveis — ou apodícticas — partindo-se do irrefutavelmente verdadeiro axioma da ação humana.

Nas palavras de Mises,



A praxeologia não é uma ciência histórica, mas uma ciência teórica e sistemática. Seu escopo é a ação humana como tal, independentemente de quaisquer circunstâncias ambientais, acidentais ou individuais que possam influir nas ações efetivamente realizadas. Sua percepção é meramente formal e geral, e não se refere ao conteúdo material nem às características particulares de cada ação. Seu objetivo é o conhecimento válido para todas as situações onde as condições correspondam exatamente àquelas indicadas nas suas hipóteses e inferências. Suas afirmativas e proposições não derivam da experiência. São apriorísticas, como a lógica e a matemática. Não estão sujeitas a verificação com base na experiência e nos fatos.

A praxeologia fornece uma metodologia que permite separar teorias econômicas corretas de teorias econômicas falsas, tudo em bases apriorísticas — isto é, sem ter de recorrer a experimentos sociais.

Em vista da ilustração dada acima (e sem se aprofundar extensivamente no argumento), podemos saber com toda a certeza que o estado não é a solução, mas sim a raiz dos mais severos conflitos sociais. 

Utilizando a praxeologia, também podemos saber com certeza que o dinheiro é uma criação do livre mercado; que o dinheiro-commodity — a escolha lógica das ações incorridas no livre mercado — é a moeda forte; e que o monopólio estatal da produção de dinheiro irá gerar uma moeda fraca e continuamente depreciada. 

Também sabemos com certeza que um aumento na oferta monetária não torna uma economia mais rica; tal aumento irá beneficiar exclusivamente aqueles que primeiro receberem este dinheiro recém-criado, pois terão uma maior renda a preços ainda inalterados. Seu poder de compra irá aumentar. Quem perde são todos aqueles que irão receber o dinheiro mais tarde (ou que sequer irão recebê-lo), quando os preços já estarão maiores. O poder de compra destes foi diminuído. 

Também se pode deduzir da praxeologia que o socialismo leva a uma grande miséria, pois se trata de uma forma de organização social que não tem como funcionar. Qualquer experimento genuinamente socialista está fadado ao fracasso, sendo o capitalismo a única forma economicamente viável de organização social. 

Finalmente, pode-se mostrar com base na praxeologia que a democracia é incompatível com a preservação das liberdades individuais, dos direitos de propriedade e, consequentemente, da prosperidade e da cooperação pacífica. 

O poder de se desmascarar e desmistificar falsas teorias econômicas utilizando um raciocínio apriorístico — ou seja, sem ter de recorrer a experimentos sociais — é certamente um dos mais fascinantes aspectos da Escola Austríaca de economia.

Em sua introdução à Crítica da Razão Pura (1787), Kant intitula o capítulo 3 como "A Filosofia Necessita de uma Ciência que Determine a Possibilidade, os Princípios e a Extensão de Todos os Conhecimentos "A Priori"". Para a ciência econômica, Mises fez exatamente isso.


 "O termo 'teoria' é normalmente entendido como algo cuja explicação sugerida já foi satisfatoriamente provada, não mais estando aberta a questionamentos." Joyce, G. H. (1908), Principles of Logic, Longmans, Green & Co, London et al., p. 362.

 Kant, I. (1992 ), Über den Gemeinspruch: Das mag in der Theorie richtig sein, taugt aber nicht für die Praxis, Zum ewigen Frieden, H. F. Klemme, ed., Felix Meiner Verlag Hamburg, p. 3 [A 202], tradução própria.

 Ibid, p. 4 [276], tradução própria.

 Mises, L. v. (1957), Theory & History, p. 124.

Ver, nesse contexto, Hoppe, H. H. (2006), Austrian Rationalism in the Age of the Decline of Positivism, in: The Economics and Ethics of Private Property, Studies in Political Economy and Philosophy, 2nd ed., Ludwig von Mises Institute, Auburn, US Alabama, pp. 347–379.

 Murray Rothbard define o estado como sendo

Aquela instituição que possui uma ou ambas (quase sempre ambas) das seguintes características: (1) adquire sua renda por meio da coerção física conhecida como "tributação"; e (2) declara ter — e normalmente tem — um monopólio coercivo da oferta de serviços de defesa (polícia e tribunais) sobre uma dada área territorial.

Rothbard fornece uma definição positiva do estado: ele diz o que o estado realmente é, e não o que ele deve ser (definição normativa).

Thorsten Polleit é professor honorário da Frankfurt School of Finance & Management.