segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

VIVER DA MORTE

Há pouco tempo ficamos sabendo que um grande amigo estava doente, acompanhamos a distância todo o seu tratamento e o sofrimento da família. Depois de certo tempo estava ele recuperado de um grave problema no fígado, era assim que parecia. Pouco tempo depois o problema retorna e agora somente um transplante pode realmente mantê-lo vivo. Diante desta situação sua esposa comenta em uma conversa: “é ruim imaginar que alguém deve morrer para ele viver”. Para ela não é um dilema vazio, mas a dura realidade de que alguém vai ter de morrer para que seu marido continue vivo. Para ela, o fato de o marido viver da morte de outra pessoa é algo que desconforta, incomoda. Depois de refletir um pouco sobre sua situação pensei na minha própria, de terapeuta. Por natureza um terapeuta é alguém que vive do sofrimento de outras pessoas, ou seja, se não houvesse sofrimento, dor, provavelmente não haveria ganhos. Há, muito provavelmente, muitos outros profissionais que vivem da morte do outro, do sofrimento alheio.

No entanto, quando uma pessoa chega ao ponto de precisar de transplante, por qualquer motivo que seja ela está dando ao órgão da pessoa que faleceu a chance de continuar vivo. Por exemplo, morre um jovem em um acidente de automóvel, seus órgãos estão em perfeito estado, a pessoa que precisa destes órgãos pode dar a eles continuidade de vida. Já houve alguns casos em que a família do doador vê na pessoa que recebeu o órgão a continuidade da vida, alguém com quem estabelecem um vínculo para o resto da vida. Por mais que a pessoa que precisa de transplante espere pela morte de alguém para continuar vivendo não é ela quem diz quem e quando vai morrer para obter o que precisa. É ela o receptáculo para a continuidade, a oportunidade que um órgão tem de continuar vivendo, como uma parte de uma pessoa que continua sua jornada em outro lugar.

Na terapia não é muito diferente: o terapeuta é aquele que, mais do que muitas outras pessoas, consegue trabalhar com a dor do outro. É ele a pessoa que tem as condições para, mesmo com toda a dor que compartilha com a pessoa, encontrar um caminho onde não exista dor ou sofrimento. Não é o terapeuta quem provoca ou deseja a dor, mas sim aquele que estuda, se prepara, para estar diante de alguém como um caminho. Muito ao contrário do que parece, não vive ele da dor das pessoas que lhe procuram, mas da alegria de suas realizações, do encantamento de seus sonhos, do brilho ainda existente em cada olhar. Quando não consegue auxiliar uma pessoa em seu caminho também se chateia, chora, sofre a dor de não ter conseguido.

Assim, profissionais que pretensamente vivem da morte do outro, assim como pessoas que esperam pela morte do outro para a doação do órgão, são as oportunidades de a vida continuar. É muito provável que um médico não tenha como sonho ver as pessoas doentes, mas que elas estejam bem, saudáveis. A dor e a doença fazem parte da vida de cada um, assim como os profissionais que abraçaram a causa de estar junto nos momentos mais difíceis. Muitos destes profissionais dedicam suas vidas para que os outros possam continuar vivos, dedicam sua saúde para que outros possam permanecer saudáveis, dedicam sua sanidade para que outros permaneçam sãos. Não se vive da morte do outro, mas se dá oportunidade do outro continuar vivo em mim.

OBS.: Esta é uma fotografia tirada por mim do Santo Sepulcro em Jerusalém/ Israel.
Por: Rosemiro A. Sefstrom Do site: http://rosemirosefstrom.blogspot.com.br/

sábado, 22 de fevereiro de 2014

FUI AMPUTADO!

Há algum um tempo um amigo disse que não era mais o mesmo depois que entrou em um relacionamento. Segundo ele, desde que começou a namorar, deixou de fazer diversas coisas que sempre fez, de ver pessoas com quem tinha estreita convivência. Continuou dizendo que se sentia preso, como se diz, com a rédea curta. Até certo ponto suas reclamações pareciam até normais, pois de homem solteiro passou a homem comprometido, isso por si só já lhe tolhia a liberdade. Aprofundando um pouco mais a conversa contou que sua amada pediu que queimasse todas as fotos que tinha de antigos relacionamentos. Até aí tudo bem, contava ele, mas quando ela pediu que ele começasse a visitar somente quem ela aprovasse, aí ficou difícil. A dificuldade aumentou mais ainda quando ela começou a verificar as ligações, e-mails e até compartilhamentos e curtições do facebook. Terminou ele dizendo: “me sinto cada vez menor.”

Essa conversa lembra um filme, um clássico produzido em 1993, chamado “Encaixotando Helena”. Este filme conta a história de um médico que se apaixona por uma mulher, mas esta mulher não quer um relacionamento duradouro. Ele, envolvido por sua paixão, amputa as pernas e braços da amada. Ao amputá-la ele garante, ao menos para ele, que terá sua presença, que ela não o deixará. Há um toque de morbidade no filme, mas mostra de forma clara e chocante o que acontece em muitos relacionamentos. Ela, por ser objeto de amor do outro, se torna refém de uma condição que não tem como escapar.

O amigo citado no início sentia-se, de certa forma, como Helena, amputado de seus membros, diminuído em seu corpo. Cada pessoa tem seu corpo em algum lugar, não necessariamente esse de carne e osso que nos dá a referência. Para algumas pessoas seu corpo é sua casa, para outros suas amizades, para outros seu carro, enfim, cada um tem seu corpo de forma diferente. Considerando o corpo de cada um, dependendo do relacionamento, a pessoa pode ser amputada de diferentes formas. Imagine que seu corpo é sua biblioteca, você entra em um relacionamento que a pessoa começa a separar e doar parte de sua biblioteca, provavelmente, você pode se sentir amputado.

No relacionamento do amigo, sua esposa foi cortando aos poucos seu corpo, que eram as suas relações. Quando ele se percebeu pequeno, reduzido, encaixotado, começou a ter problemas de convivência com sua esposa. Ela, de sua parte dizia que fazia isso para o bem dele, que o relacionamento com certas pessoas não fazia bem ao casamento. No entendimento dela, cercear as relações do esposo garantia a continuidade do casamento, mas isso vinha mostrando o contrário. Num trabalho feito com o casal, foi possível desenvolver um meio termo onde tanto para ela quanto para ele seria possível manter a relação.

Se perceber amputado ou ser aquele que amputa não é bom nem mau, nem certo e nem errado, tudo precisa ser avaliado no relacionamento em questão.
Por: Rosemiro A. Sefstrom Do site: http://rosemirosefstrom.blogspot.com.br/


quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

FUNDAMENTOS

Numa conversa informal, alguém me contou que teve muita dificuldade em conversar com outra pessoa. Segundo este alguém, a dificuldade estava em concordar com as ideias que a outra apresentava, segundo ela, sem fundamento. Depois que a pessoa saiu fiquei pensando só na palavra fundamento. Entendo que quem me contava a respeito de seu contato com este outro falava dos fundamentos para os argumentos apresentados. Mas, com um pouco de paciência quero trabalhar um pouco os fundamentos, as bases do pensamento de uma pessoa a partir da Filosofia.

Na Filosofia, ao longo dos séculos, cada pensador expôs suas ideias tendo por base algum fundamento, ou seja, uma base, um alicerce. Tomando como exemplo Platão, quais seriam os fundamentos para ele dizer o que disse, afirmar o que afirmou? Este filósofo que pode ter vivido entre 428 e 348 a.C. dizia que tudo o que temos aqui na terra, ou seja, tudo o que podemos ter acesso pelos sentidos existe em quantidade e qualidades perfeitas no mundo das ideias. Vejam, ele diz que existem dois mundos, um mundo onde tudo existe em quantidade e qualidade perfeitos, a este mundo chama “Mundo da Ideias”. No outro mundo, neste em que vivemos, as coisas, objetos, se entregam aos sentidos, podemos ver, cheirar, degustar, tocar. No entanto, para ele, este mundo dos sentidos é uma imitação precária, mal feita de tudo aquilo que existe em perfeição no mundo das ideias. Parece um tanto descabido, uma doidice, mas foi com a contribuição deste filósofo que se produziu e se produz grande parte dos estudos que ainda hoje servem de base para a nossa vida.

Para se ter uma ideia, René Descartes, filósofo nascido mais de mil anos depois de Platão chegou ao auge dizendo que nós nem sequer estamos aqui. Para Descartes nosso pensamentos está produzindo tudo o que vivemos, até mesmo as sensações são fruto do pensamento. Isso parece estranho, mas é com base neste autor que uma ciência como a medicina age. Quando você vai ai médico e ele lhe pergunta os sintomas, dores, sensações, para ele tudo isto é físico, realmente está acontecendo. Sabemos que muitas vezes as aftas da boca são fruto de um negócio mal feito na empresa, as dores de estômago são conseqüência de uma demissão contra a vontade. Não se vai resolver a dor simplesmente pelo corpo, nestes casos, se vai apenas remediar. Assim como outras áreas do conhecimento, a medicina também busca na Filosofia conceitos que orientam o seu trabalho. Lembrando que acerca do que que foi colocado acima existem tanto correntes a favor quanto contra, é parte do discurso.

Agora que conhecemos a ideia de Platão e de Descartes, volto a questão inicial: qual o fundamento para uma ideia como esta, a de que o corpo está separado do espírito? Eu, você e talvez o maior dos especialistas, Platão e Descartes não tenhamos certeza de onde ele realmente tirou essa ideia, mas sabemos como eles fundamentaram. Tanto em um quanto noutro filósofo o fundamento para suas ideias foram suas experiências de vida, toda uma história de estudo e dedicação. Agora, será que eu, na minha pretensão posso dizer que o que estes pensadores disseram é bobagem? Se o fizer, provavelmente nunca li seus escritos ou não entendo do que falam. Por mais que não tenham fundamento para mim, mas tem para aqueles que pensaram a respeito. Trazendo para nosso tempo, será que o que o outro, essa pessoa que me fala, o que ela diz não tem fundamento? Pode ser que eu não entenda, não concorde, mas sempre há um fundamento para o que o outro diz, ele mesmo.
Por: Rosemiro A. Sefstrom Do site: http://rosemirosefstrom.blogspot.com.br/


quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

DOENTE, NORMAL OU EU?

Uma das discussões mais presentes no cotidiano das pessoas é sobre o que é a doença. Pode-se procurar a definição em diversos lugares, inclusive na internet. Doença é, em resumo, um distúrbio das funções de um órgão, da psique ou de um organismo. Então eu posso ter um coração doente, sofrer de uma doença mental ou sofrer de uma doença física. Parece simples, mas não é. Quando olho apenas para um órgão e percebo que ele tem um distúrbio, por exemplo, meu coração funciona incorretamente e eu tenho pressão alta, pode-se dizer que tenho um órgão doente. Quando eu sofro de uma mania repetitiva, faço várias vezes a mesma coisa, nesse caso posso ser diagnosticado como transtorno obsessivo compulsivo. Neste caso, considera-se que estou com uma doença psíquica. Quando tenho um distúrbio sistêmico no meu corpo, como uma infecção, meu corpo está doente.

O outro lado da discussão é sobre a normalidade. Não há como falar em doença sem falar em normalidade. A definição de normal encontrada em diversos materiais tem a ver com padrão, ou seja, é normal aquilo que segue um determinado padrão. Esse padrão pode ser considerado algo determinado física, psíquica ou socialmente. Na questão física é um tanto fácil dizer o que é doente ou normal, isso do ponto de vista dos padrões que a medicina desenvolveu. O mesmo acontece para a questão psíquica, onde a normalidade é uma questão de a pessoa combinar ou não com o meio onde se encontra. Já na questão social a doença ser normal é seguir um padrão, ser igual ou parecido com as outras pessoas que nos cercam. O diferente, em qualquer aspecto que seja é ou pode ser considerado anormal, geralmente entendido como doente.

Na Filosofia Clinica estes dois termos nos passam longe dos olhos, ou seja, não sei o que é normalidade, muito menos o que é doença. Digo pelas minhas palavras, entre o normal e o anormal estamos cada um de nós. Pode-se dizer que entre a normalidade e a doença está você, eu e todas as outras pessoas. Quando uma pessoa vem para a terapia não a conheço, não tenho como saber o que é ou não normal a ela. Então, o problema não está em definir ou não a doença ou a normalidade, mas a maneira como se constrói essa definição. 

Pense em você mesmo, nas suas manias, nos seus hábitos. Se eu fosse acompanhar você durante um dia, será que acharia normal tudo o que você faz? É possível achar normal uma pessoa que sai para trabalhar às sete horas da manhã, chega às onze da noite e sonha com dias melhores? É possível achar uma pessoa normal aquela que compra um carro que vale mais do que a casa em que vive? Eu, você e qualquer outra pessoa temos nossas esquisitices, temos nossa própria normalidade, somos normais do nosso jeito. Ser normal do meu jeito significa entender que algumas coisas fazem parte do meu padrão, pensamentos, emoções, sensações, buscas.

Da mesma forma que sou normal do meu jeito, também fico doente do meu jeito. Minhas doenças podem ser normalidades para muitas pessoas, algumas pessoas realmente estão doentes quando estiverem sentadas na frente da televisão assistindo novela ao invés de ler um livro. Algumas pessoas estarão doentes quando não estiverem trabalhando, outras quando brigarem com os filhos, perderem a mãe. São doenças próprias de cada um, entre a normalidade e a doença está cada um de nós, normal e doente, do seu jeito.
Por: Rosemiro A. Sefstrom Do site: http://rosemirosefstrom.blogspot.com.br/


terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

TERAPIA DE CASAL

Das muitas experiências que um consultório lega a um terapeuta, a terapia de casais é, para mim, uma das mais interessantes. Casal, palavra que vem do latim casale ou ainda do latim casalis, quer dizer algo que pertence à casa, podendo também ser interpretado como doméstico. O casal também é tido como a união entre duas pessoas, estes formam um casal, seria então o casal algo próprio da casa, doméstico, assim como a união entre duas pessoas. O sentido que interessa aqui é a união entre duas pessoas, sendo que em muitos casos essa união não é harmoniosa, existem ruídos que prejudicam o bom andamento da relação. Quando os ruídos se tornam mais fortes alguns casais procuram ajuda, procuram uma terceira pessoa que possa mediar a relação. O homem ou a mulher, enfim, o que busca ajuda relata uma série de situações que precisam ser resolvidas para que a relação funcione bem.


No início do trabalho há apenas uma versão da história, um dos lados conta o que está funcionando mal, para ele os problemas são claros. Ao longo do processo, algumas vezes é possível trazer o marido ou a esposa, este ou esta vem contar o outro lado da história e dizer o que para ela(e) não está funcionando bem. Esta é a parte mais interessante, perceber o que, em cada um, é percebido como falho na relação. Até o momento ainda não vi um casal em que os dois concordem com o que causa ruído, cada um aponta questões diferentes como origem dos problemas na relação. A partir dos relatos, e coletados os dados de cada um dos dois é possível perceber que em muitos casos o motivo é o mesmo, mas a maneira como cada um vê é diferente. Isto quer dizer que o problema enfrentado pelo casal é o mesmo, mas cada um sente de maneira diferente e, por isso, relata de maneira diferente o ruído na relação.

Uma mulher, por exemplo, chega no consultório e aponta como problema de sua relação a dificuldade de conversar com o marido, que ele já não lhe escuta mais, não tem mais tempo para ela. Depois de alguma insistência ele vem ao consultório e se abre dizendo que o problema é ela que cobra demais, sempre quer mais, por mais que tenha parece que sempre está faltando alguma coisa. Muitos casais esquecem-se com rapidez como se conheceram, como conviviam nos primeiros anos de casamento, o que lhes fazia feliz juntos. Em muitos casos a solução para o casal é simples: basta recuperar o que foi perdido ao longo do caminho, o diálogo. Em outros casos, como o do casal acima, o auxílio do terapeuta pode estar em apontar para cada um onde está o real ruído, fazendo com que cada um observe a si mesmo no relacionamento.

Assim o marido pode percebe que não está mais dando tanta atenção à esposa porque agora tem filhos, dois para ser mais exato e estes tem a mensalidade da escola. Para pagar as contas ele aumentou o tempo de trabalho na empresa para não faltar dinheiro e dar o necessário à esposa e às crianças. Mas também ele não observa que ela sente sua falta, que precisa de um tempo com ele, não para falar sobre as contas, sobre os filhos, mas para cultivar o relacionamento amoroso. O relacionamento que existia ao longo do tempo foi murchando e se tornando um contrato burocrático entre um mantenedor e uma associação educativa, nem homem e nem mulher existem mais. O homem pode voltar a ver sua mulher, a pessoa com quem ele se casou e conversar, voltar a alimentar a relação e quem sabe eliminar os ruídos.
Por: Rosemiro A. Sefstrom Do site: http://rosemirosefstrom.blogspot.com.br/

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

MODELO MENTAL


Kant, filósofo alemão, diz que o homem tem um esquema mental que o permite reconhecer e agrupar as coisas de acordo com suas categorias. Para ele as categorias já estão em nós, ou seja, é uma característica inata do ser humano, aspecto que a Filosofia Clínica discorda. 

Outro filósofo, chamado Arthur Schopenhauer, diz que o mundo é de acordo com minha representação, ou seja, existe um mundo diferente para cada pessoa. Unindo as ideias destes dois grandes pensadores pode-se dizer então que para cada um o mundo é vivido de maneira diferente e ainda que cada um tem um modelo mental através do qual percebe e classifica o mundo que está a sua volta. Desse modo, alguns modelos mentais permitem que algumas pessoas andem pela cidade e percebam certas coisas, como carros, pessoas, estradas, prédios, mas não lhe permitem ver as flores, os pássaros, os cachorros, a grama verde.

Agora, imagine que você gerencie uma organização. Nela, de acordo com o seu modelo mental que orienta a sua representação de mundo, existem muitos problemas. Ao longo de sua vida como gestor procura acertar as questões que percebe para tornar seu negócio cada vez mais rentável, mais competitivo, mais viável. Um pai de família faz o mesmo em sua casa, quando percebe que tem problemas em sua família procura corrigir, conversar, ensinar. Assim também acontece, provavelmente, com um professor, pois este identifica o que precisa ser ensinado e começa seu trabalho. Enfim, de acordo com o modelo mental de cada um e a representação de mundo gerada pelas vivências só é possível resolver algumas coisas, muitas outras ficam de fora.

Um gestor pode, ao longo de sua caminhada, perceber que resolveu todos os problemas que parecia ter e ainda não conseguir chegar ao seu objetivo. Ao perceber isto contrata um consultor, uma pessoa que vai auxiliá-lo na identificação das questões que limitam seu desenvolvimento. O consultor, pelo seu modelo mental percebe muitas coisas que são tão ou mais importantes do que as questões trabalhadas pelo gestor. O consultor faz o levantamento, aponta as questões e sugere soluções, que em sua visão terão o melhor efeito para as questões propostas. Cada um a partir de seu ponto de vista percebe algumas coisas e não percebe tantas outras. Um gestor atento se apropria do conhecimento trazido pelo consultor e agora também ele tem em seu modelo mental abertura para as questões observadas pelo consultor.

Em uma família, assim como na gestão, cada qual tem seu modelo mental diferente. Há casos encontrados no consultório onde marido e mulher já não se entendem, estão com dificuldades em afinar suas conversas. Ao observar cada um em separado, existe a vontade de melhorar o relacionamento, mas cada qual a seu modo está tentando do jeito errado. O modelo mental do marido aponta que o problema no casamento só pode ser de ordem financeira, enquanto pelo modelo dela o problema no casamento só pode ser de ordem extraconjugal. Assim, ele procura cada vez ganhar mais para tentar solucionar o problema do casamento com dinheiro e ela tenta resolver o problema do casamento marcando em cima. Como terapeuta é preciso apontar ao casal que existem diversos problemas que podem afetar o relacionamento e assim abrir aos olhos para uma questão simples: talvez o problema do casamento é o fato de que não conversavam mais antes de tomar uma decisão.

Kant estava certo sobre os modelos mentais, sua incorreção estava em entender que todos tínhamos o mesmo modelo. Em Filosofia Clínica percebemos que para cada ser humano existe um modelo mental único, e assim precisa ser tratado em cada contexto. Um modelo mental está em constante construção, algumas vezes o que a você é impensável alguém já pensou. Se em seu modelo mental existem problemas, podem haver modelos mentais nos quais existam soluções para os seus problemas.
Por: Rosemiro A. Sefstrom Do site: http://rosemirosefstrom.blogspot.com.br/

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

TEXTO SEM CONTEXTO

Na semana passada abri o Facebook para postar o texto da semana e percebi que fui marcado numa imagem. Abri a imagem e junto a ela havia um texto bastante longo que falava sobre as palavras imutáveis da Bíblia, ou seja, que as palavras do texto Bíblico devem ser entendidas à risca. Uma das frases do texto: “Eu tenho um vizinho que insiste em trabalhar aos sábados. Êxodo 35:2 claramente afirma que ele deve ser morto. Eu sou moralmente obrigado a matá-lo eu mesmo ou contrato alguém para fazer a vontade de Deus?” Essa é apenas uma das muitas frases que apontam a literalidade do entendimento bíblico. Cito ainda outro trecho do escrito: “Eu sei que não é permitido ter contato com uma mulher enquanto ela está em seu período de impureza menstrual (Levítico 15:19-24). O problema é: como eu digo isso a minha esposa ? Eu tenho receio que ela se ofenda comigo”. Esse texto me fez refletir sobre princípios básicos que fazem da Filosofia Clínica uma ferramenta tão objetiva.


Uma das bases essenciais para o entendimento de qualquer pessoa para a Filosofia Clínica é a historicidade, ou seja, para os filósofos clínicos todo ser humano é dotado de história. A história é contada pela própria pessoa ao terapeuta que apenas ouve atentamente a construção de uma auto biografia. É claro que ao longo da narrativa alguns dados serão omitidos, outros mentidos, talvez distorcidos, aumentados, mas esta foi a maneira como a pessoa relatou. A história de vida da pessoa faz com que tudo que ela vive hoje ganhe contexto.

O contexto segundo o Dicionário de Filosofia de Abbagnano (...) é o “Conjunto dos elementos que condicionam, de um modo qualquer, o significado de um enunciado”. O contexto pode ser considerado o que em Filosofia Clínica chamamos de Exames Categoriais, ou seja, Assunto, Lugar, Tempo, Relação e Circunstância. Com as categorias, um filósofo pode identificar elementos que ao envolverem o enunciado podem significá-lo, pode dizer de onde aconteceu, em que tempo histórico, quais as relações, suas circunstâncias. Um texto sem contexto não é nada. Usando uma analogia pergunto: Como seria se você andasse de carro de boi? Bom, nada de anormal, mas se perguntasse um pouco melhor: Como seria se você andasse de carro de boi no centro de Criciúma? Isso pode lhe parecer muito estranho, mas é o que acontece com quem toma um assunto fora de seu contexto. O que se deve fazer é atualizar os dados de forma que eles possam se enquadrar nos novos contextos e aí sim ver se os assuntos ainda tem validade ou não.

Voltando ao caso da Bíblia, sem favorecer nenhuma religião, suas verdades são tomadas como imutáveis, ou seja, conteúdos atemporais. Em clínica muitas pessoas fazem o mesmo: pegam conteúdos de suas histórias e os tornam atemporais. Assim acontece quando o pai trata sua filha como uma menina indefesa, não esquecendo que o pai tem por volta de oitenta anos e sua filha cinqüenta. É assim que acontece quando uma mãe olha para um filho como o maior monstro do mundo por ele ter sido uma criança sapeca. Os dados históricos da vida dessas pessoas cristalizaram e com estes dados as suas práticas. Para não cometer o erro de tratar a pessoa com conteúdos caducos, o filósofo clínico precisa, além de fazer o Exame das Categorias, prestar atenção aos dados padrões e aos dados atualizados.

Os dados padrões são aqueles que indicam como normalmente a pessoa funciona, quais são os caminhos rotineiros no seu estado de ser. Já os dados atualizados indicam o que ao longo do tempo vem se transformando ou até mesmo o que mudou de uma semana para outra. Se os pregadores de verdades imutáveis abrissem os olhos aos dados padrões poderiam sim ver que há coisas que não mudam, mas há outras em que há muito não são as mesmas. Aquele pai que olha a filha como uma menina indefesa pode sim olhar para a filha como ela é, mas precisa atualizar dados como tempo, lugar, relação, circunstância. Entender que as práticas do passado estavam rodeadas de elementos que as condicionavam, que davam significados a elas. Se trouxermos as práticas do passado sem atualizarmos os elementos vizinhos elas podem ter um significado muito diferente do que se deseja.

Por fim gostaria de render os méritos do texto bíblico, segundo a postagem do Facebook, a Jodan Campos.
Por: Rosemiro A. Sefstrom Do site: http://rosemirosefstrom.blogspot.com.br/

domingo, 9 de fevereiro de 2014

TRANSITÓRIO


Em alguns anos de terapia comecei a perceber que algumas pessoas são afligidas por um pequeno problema: a passagem das coisas. Uso a palavra coisas porque tudo o que está ao redor destas pessoas não pára, não permanece exatamente como está, inclusive elas mesmas. Este pequeno problema começa a aparecer quando estas pessoas começam a pensar em sua vida como uma linha do tempo, deixam de olhar a vida como experiências isoladas e passam a perceber o contínuo. Ao perceber a transitoriedade descobrem que estão sujeitas também às mudanças e em cada caso existem mudanças que assustam mais. Para algumas pessoas o que as assusta é a possibilidade que a passagem do tempo possa levar as pessoas que elas amam, pai, mãe, irmão, marido, filhos, etc. Outras pessoas têm medo de perder sua aparência física , são devotos do próprio corpo, passam horas ao dia cultivando a beleza que temem perder. Um último exemplo são as pessoas que veem na passagem do tempo o problema de terem de mudar, se adaptar, renovar, ou seja, para elas o ideal é que as coisas continuassem sempre assim, pois estavam boas do jeito que estavam. 

Estas pessoas que se assustam com a passagem do tempo, em boa parte, estão agarradas a algo que têm medo de perder com o passar dos dias. Não percebem que a vida acontece no agora, que tudo o que está a sua volta faz parte da vida como transitoriedade, ou seja, são coisas que estão de passagem, inclusive elas mesmas. Essa transitoriedade remete a um conceito simples: participação, ou seja, tudo quanto faz parte de minha vida agora, participa de minha vida agora. Hoje você tem um carro modelo X, ano X, valor X, mas daqui há algum tempo compra outro e este deixa de participar de sua vida. Uso o carro como um primeiro exemplo desta participação porque é um bem do qual muitas pessoas se desfazem com certa facilidade. Mas uma casa também pode servir de exemplo, a casa ou apartamento no qual você vive participa de muitas coisas. É interessante perceber que tudo o quanto pode ser vivido está apenas de passagem, elas participa de sua vida e você participa destas coisas, mas apenas momentaneamente. Mesmo as coisas que estão há muito tempo com você também estão de passagem, apenas têm um tempo de passagem maior que outras.

Quanto for possível perceber que tudo participa de nossa vida e nós participamos destas coisas se tornará possível escolher quando e quanto participar. Se você percebe, por exemplo, que seu marido está de passagem em sua vida, a participação dele pode ser muito melhor aproveitada. O mesmo pode acontecer com ele em relação a você, ele pode querer participar muito mais de você. Pense em sua casa, o quanto você participa daquilo que dispõe? Há muitos dos casos em que a mulher ou o marido compram objetos e os guardam, estes objetos acabam não participando de suas vidas de fato, estão ali, deixados de lado. A participação lembra que é possível viver ao máximo um fim de semana na praia, porque ele passa, mas eu posso participar dele ou ficar chateado porque ele vai passar.

A noção estática da vida faz com que boa parte das pessoas pare no tempo, deixe de se atualizar, deixe de se melhorar. Por incrível que pareça, algumas pessoas deixam de participar da própria vida. Participar das coisas que estão ao nosso redor e permitir que elas participem de nossa vida é uma das maneiras de viver o agora, tanto com vinte quanto com cinqüenta anos de idade. Em cada etapa a participação é diferente, não melhor nem pior, apenas diferente.
Por: Rosemiro A. Sefstrom Do site: http://rosemirosefstrom.blogspot.com.br/


quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

RE-UNIR OS CACOS!

Em Filosofia Clinica existe um procedimento clinico, ou seja, uma ferramenta que o filósofo usa no seu trabalho que se chama reconstrução. A própria palavra já diz praticamente tudo, é uma ferramenta que possibilita ao terapeuta remontar à pessoa situações que viveu e que se perderam. No dia-a-dia muitas pessoas já usam a reconstrução, fazem o processo de recuperar antigas vivências, mas nem sempre de maneira produtiva. O terapeuta, quando precisa usar esta ferramenta, ele sabe o que vai reconstruir junto com a pessoa. O relato Werther no livro Os sofrimentos do jovem Werther mostra um pouco de como funciona essa técnica.


“Foi um magnífico nascer do sol: a floresta úmida e a planície cochilavam. Ela perguntou-me se eu não queria fazer o mesmo acrescentando que eu não me acanhasse por causa dela.

_ Enquanto eu puder ver esses olhos abertos – respondi, olhando-a intensamente -, não corro o risco de adormecer ”. (Página 37)

No relato acima a pessoa reconstruiu boas memórias, um momento em que provavelmente viveu algo muito bom. Mas nem sempre é assim, existem muitas pessoas que passam os dias retomando memórias, emoções, sensações, muito ruins. Estas pessoas habilidosamente pegam um evento em sua vida que lhes causa grande sofrimento e retomam desde o início até o fim. Em cada pedaço de sofrimento, até que este sofrimento esteja presente agora, assim como foi no passado. O problema é que estas pessoas fazem reconstruções de coisas que lhes fazem mal, usam uma ferramenta poderosa para machucar a si própria e os que a rodeiam.

Outras pessoas ao longo da vida quebram, uma empresa, um casamento, um namoro, uma amizade. Os motivos pelos quais elas quebram não vem ao caso, mas interessa saber que muitas delas querem reconstruir o que quebrou. Algumas destas pessoas reconstroem tudo com tanta perfeição que até mesmo os defeitos que haviam na empresa, relação. Esse tipo de reconstrução levará a pessoa a reviver tudo novamente, ou seja, provavelmente irá quebrar outra vez.

Há quem diz que se reconstruir um casamento faz com que ele não seja mais o mesmo, verdade. Em muitos casos ele fica muito melhor, algumas pessoas, diferente daquelas do parágrafo anterior, quando reconstroem, elas aprendem com os erros de sua última construção. Pessoas assim costumam caminhar para frente, aprendendo com as vezes que quebraram.

No entanto, muitas pessoas não usam este procedimento, muitas pessoas quebram e deixam os pedaços pelo caminho. Para estas o passado é diferente do presente, que vai ser diferente do futuro e não há motivos para ficar reconstruindo se podemos fazer coisas novas. Para quem vive com pessoas que não fazem reconstrução uma dica, quando estas pessoas quebrarem algo, provavelmente não tem volta. E elas pode quebrar um casamento, uma amizade, um grande amor, mas mesmo querendo, não vão voltar. Para estas pessoas a vida só caminha para frente, não há como reunir as peças.

Reconstruir é juntar os cacos, reorganizar as partes em torno daquilo que antes já foi um todo. Usar este procedimento pode ser de grande valia se estivermos reconstruindo boas memórias, sentimentos, ideias, sensações. Da mesma maneira a reconstrução pode ser um Calvário aos que retomam suas piores dores, seus piores pesadelos.
Por: Rosemiro A. Sefstrom Do site: http://rosemirosefstrom.blogspot.com.br/


terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

JEITO DE SER!

Talvez você conheça uma pessoa assim, ela repetitivamente cria objetivos, terminando um, logo cria outro. Além disso, ela se vê presa a cada objetivo que cria e não consegue levar sua vida adiante a menos que termine o que começou. Três fatores que aparecem acima são interessantes, o primeiro é a repetitividade, ou seja, a característica de se repetir sempre um mesmo movimento. A segunda característica que aparece é a de criar objetivos, ou seja, metas, lugares onde chegar. Em algumas pessoas é comum a característica de desejar, querer, intencionar. E a terceira e última é a prisão que cada objetivo representa, uma vez que prende a pessoa ou instituição ao objetivo. Para reconhecer pessoas que funcionam assim é bastante simples, basta perceber se a pessoa a diz que não consegue parar, que tem que terminar.

O primeiro fator a ser verificado é a repetitividade em forma de ciclo, que podem ser desde ciclos muito pequenos até ciclos muito grandes. Desde tomar banho uma vez por dia até ir visitar um parente distante a cada dez anos. Estes ciclos são chamados em Filosofia Clínica de Paixões dominantes, um motivo muito simples para isso é a força que os ciclos exercem sobre a pessoa. De onde isso vem? Isso dependerá de cada pessoa, não há um motivo específico. Uma pessoa que tem as paixões dominantes fortes tende a repetir e repetir os comportamentos, mesmo que não veja neles significado algum. Para algumas pessoas sair do ciclo gera medo, insegurança, ansiedade, enfim, não sentem-se bem. Em outras pessoas é justamente o contrário, a rotina é que lhes dá a sensação de segurança, bem estar. Estes ciclos não são bons e nem maus, o significado que é dado por cada um é que os faz serem o que são. Como fazer o balanço de uma empresa, para alguns momentos de alegria, momento de contabilizar o sucesso de um trabalho bem feito. Já, para outros este momento é um momento de chateação, uma vez que o que tem para contabilizar já há um tempo são os pré-juízos.

O segundo fator são as orientações criadas pela pessoa em cada ciclo, buscas que a pessoa ou instituição cria. Uma busca é um direcionamento, um anseio, uma vontade, desde as mais próximas até as mais distantes. Cada pessoa ou instituição, de acordo com sua estrutura, tem determinadas buscas, direcionamentos. Não há nada de mais e é muito normal que pessoas, empresas, instituições tenham objetivos diferentes. Uma empresa quando cria um planejamento anual, o termo anual já dá o ciclo onde ele acontece, ela está apontando determinadas direções para este ano. Boas ou más elas deverão ser concretizadas, como forma de cumprir o ciclo. Na vida pessoal não é diferente, para as pessoas que funcionam assim. Pessoas que criam objetivos de curto, médio ou longo prazo, estão dando às suas vivências um direcionamento. Se irão chegar onde querem, isso realmente dependerá da trajetória e de vários outros fatores ligados às estrutura de cada um.

No terceiro fator está a Armadilha Conceitual, o termo sugere que a armadilha é e existe somente enquanto conceito. E é assim mesmo, a prisão só existe se aquele que estiver preso conceitualmente se sentir assim. Como um empresário que olha para a empresa e diz: “Acho que fiz o que podia ser feito, vai quebrar”. Ao seu lado um jovem funcionário diz: “Há uma saída”. Enquanto um vê o fim do túnel, o outro vez a luz no fim do túnel, ou seja, a prisão dependerá do ponto de vista de quem está olhando. Uma armadilha é uma prisão, um mecanismo que lhe impede de sair do lugar. Para fazer um exercício bem simples e entender, pense no que lhe impede de sair correndo e gritando agora. Tudo o que você pensar é uma armadilha. Não é que você não possa, mas existem mecanismos que dizem que você não pode e você acredita neles.

Juntando tudo, temos uma pessoa que a cada tempo quer algo e vai em busca, sem terminar não pára. Não há nada de errado em ser assim e viver assim, mas algumas pessoas a certo ponto da vida acham sinceramente que já está bom onde chegaram, mas não conseguem viver sem estar buscando. Para outras o problema está nos objetivos que colocaram são inatingíveis, a pessoa quer seguir em frente, mas estão presas. Podem acontecer diversos outros tipos de problemas que levem a pessoa a não viver bem. Cada um está estruturado diferente dos outros e é exatamente por isso que os problemas de vida de cada um, são imensamente diferentes dos problemas da vida do outro.
Por: Rosemiro A. Sefstrom Do site: http://rosemirosefstrom.blogspot.com.br/


domingo, 2 de fevereiro de 2014

PESSOA CERTA, TEMPO ERRADO!

Em Filosofia Clínica, antes de entrar na análise dos pormenores dos dados da historicidade da pessoa, o filósofo observa os Exames da Categorias. Esta etapa é aquela na qual o terapeuta observa na narrativa da pessoa como ela se localiza existencialmente no mundo em que se coloca. A localização existencial é dada pela pessoa mesmo, ou seja, não é o filósofo que interpreta estes dados a partir da história, e sim, percebe literalmente segundo o que é contado pela pessoa. As categorias que ele observa são: assunto imediato e último, circunstância, lugar, tempo e relação. Em cada uma destas categorias se observa como a pessoa está existencialmente em cada etapa de sua vida.


É interessante o estudo destas categorias porque algumas vezes o problema que deverá ser trabalhado nada tem a ver com os tópicos da Estrutura de Pensamento. Em vários casos o problema está na localização da pessoa, ou seja, onde ela se colocou existencialmente. Uma das categorias nas quais pode ocorrer problemas pode ser o tempo. Nesta categoria o filósofo se dedica, a saber, qual é a relação entre o tempo subjetivo e o tempo convencionado. Ele verá, segundo as vivências da pessoa, a duração dos eventos e o tempo verbal em que eles são vividos. O tempo subjetivo diz respeito ao rápido ou demorado que costumeiramente se diz. Como uma pessoa que afirma que nos dias em que as coisas vão bem ela sente como se o tempo passasse mais rápido, assim como o contrário. Só é possível que a pessoa diga que o tempo passou rápido se houver um parâmetro de comparação, e tal parâmetro é o tempo do relógio. Então, a relação entre o tempo convencionado do relógio e a sensação temporal da pessoa é que dão ao filósofo a possibilidade de dizer qual é a localização temporal das suas vivências.

Mesmo falando de um só tópico, apenas no parágrafo anterior encontram-se teorias de nada mais nada menos que Aristóteles e Kant. Não se trata de uma cópia de suas categorias, mas sim, uma adaptação dos conceitos desenvolvidos pelos dois para o trabalho terapêutico..O tempo, como já conceituado anteriormente, é a categoria que cuida da relação entre o tempo objetivo e subjetivo.

No consultório, dia destes, um partilhante dizia que já era tempo de encontrar alguém na vida que lhe fosse “completar”, em suas palavras: “Alma gêmea”. Depois de alguns meses de trabalho, a pessoa encontrou um par, segundo ela, perfeito. Conversa vai, conversa vem e o que parecia perfeito acabou se revelando um problemão, pois a pessoa perfeita era 20 (vinte) anos mais nova e isso tornava o relacionamento impossível. Não é que assim seja para o terapeuta ou para a sociedade, mas segundo os valores da pessoa era algum inimaginável, muito menos praticável. Veio então a expressão: “Pessoa certa no tempo errado”. Esta pessoa estava agora, depois de se constituir na vida, no tempo de aproveitar, de abrir as asas e voar, mas precisava de alguém com quem compartilhar este vôo. No entanto, da maneira que aconteceu, não seria a ela possível dar continuidade ao que poderia ser um relacionamento.

A temporalidade é diferente em cada pessoa, o tempo que cada um leva para ser “adulto” é diferente. Vários são os casos nos quais a pessoa é “obrigada” a amadurecer bem mais cedo e o tempo de suas vivências é alterado. Muitas vezes você cruzará com o seu par perfeito no tempo errado, mesmo sendo perfeito, ou é cedo demais ou é tarde demais. O ideal é estar aberto para as experiências, um amor pode vir cedo demais, mas pode vir uma vez só.
Por: Rosemiro A. Sefstrom Do site: http://rosemirosefstrom.blogspot.com.br/