segunda-feira, 30 de junho de 2014

DEUS CASTIGA?

Muitos dizem que o Deus do Antigo Testamento foi sanguinário e irado. Atribuem a Deus uma espécie de esquizofrenia ao tentarem contrapor o Deus do Novo Testamento com o do Antigo. Como se houvesse uma alteração em Sua personalidade, de repente, o Deus sanguinário se tornou o Deus misericordioso. Não! Deus não muda. Ele é perfeito desde toda eternidade. É o mesmo Deus que se apresenta, ora com sua face irada e ciumenta, ora com sua face misericordiosa e salvífica. O que inicialmente pode parecer contraditório está em perfeita sintonia com toda a história da salvação. A verdade é que SIM, Deus castiga. E o faz, não porque seja um Deus mau, pelo contrário, é justamente por ser um Deus de amor que corrige os seus filhos. A questão a ser entendida é em que consiste a correção divina.


O grande doutor da Igreja, Santo Tomás de Aquino, em sua famosa obra Suma Teológica, ao falar sobre a vingança explica o que significa o castigo divino. Para ele, a vingança tem uma conotação diversa daquela que é compreendida atualmente, enquanto, na linguagem moderna vingança representa um ato de fúria contra alguém que nos faça o mal, para Santo Tomás, adaptando para a nossa linguagem, trata-se de um castigo infligido para a conversão de um pecador.

Sabemos que Deus ama o homem e quer salvá-lo (conf. Jo 3,16), assim, como um pai amoroso, permite o sofrimento para que o filho se volte para Ele, pois nisto consiste a salvação. São inúmeros os casos de conversão ocorridas após um grande sofrimento, perda ou doença. É verdade também que Deus procura atrair o homem com vínculos humanos de amor, mas nem sempre funciona, nem sempre a linguagem do carinho é entendida e, nesses casos, é preciso que o reto caminho seja ensinado por meio da disciplina.

Santo Tomás afirma que Deus administra a questão do sofrimento da humanidade quase da mesma forma que o homem administra um sistema penal, ou seja, penalizando as pessoas primeiro para que se convertam e segundo para evitar dificuldades na sociedade. Para ele, o que justifica o castigo é a intenção.

"A vingança se consuma quando se inflige ao pecador um mal de pena. Por conseguinte, na vingança deve-se levar em conta o ânimo daquele que a exerce. Porque se a intenção dele recai principalmente sobre o mal daquele de quem se está vingando, e nisto se compraz, então isto é absolutamente ilícito, porque o fato de se comprazer com o mal de outrem é da ordem do ódio, que repugna à caridade, pela qual devemos amar todos os homens. E ninguém se desculpa alegando querer o mal daquele que injustamente lhe fez mal; da mesma forma que ninguém se desculpa de odiar aqueles que o odeiam." (Suma Teológica II-II, q. 108, a. 1)

Portanto, é lícito castigar desde que a intenção seja para salvar o transgressor, para corrigir o transviado e converter o pecador, mas nunca motivado pelo ódio irracional que deseja a destruição e a morte.

No caso das correções divinas, porque Deus é Sumo Bem, sabemos que tudo o que Ele faz concorre para o bem de seus filhos. É necessário enxergar nas desventuras da própria vida o cuidado e o amor de Deus, enxergar que a Sua misericórdia muitas vezes se manifesta em forma de correção. Isso ocorre por motivos simples, mas contundentes: Ele ama seus filhos e quer o bem e a salvação de todos.
Por: Padre Paulo Ricardo

MEU CORPO É UMA JAULA

Assistindo a um famoso seriado estadunidense, Dr. House, ouvi uma canção interpretada por Peter Gabriel intitulada “My body is a Cage”. Essa expressão quer dizer, “meu corpo é uma jaula”, ou seja, “o corpo é o que me prende”. No decorrer da música, Peter diz que o corpo é uma jaula, mas que sua mente é a chave. O restante da música é composta por uma série de emoções que localizam a pessoa muito para baixo, onde ela vive um sofrimento profundo, mesmo dizendo o contrário. Ela está muito mal porque seu corpo é uma jaula, pois o impede de dançar com quem ama, mas sua mente é a chave para sair disso. Para ele, pelo menos na música, a mente é o caminho a seguir para sair do que lhe estiver impedindo de chegar perto de quem ama.


Passei algum tempo pensando nisso e nas pessoas que conheci pela vida. Para muitas delas seu corpo sempre será uma jaula. Pessoas como estas fizeram da mente o meio através do qual vivem sendo que ao corpo resta apenas realizar e acompanhar, pelo menos tentar. São corriqueiras as expressões que denotam a falta de agilidade do corpo frente a uma mente tão rápida. Expressões como: “precisaria ao menos três de mim para o que pensei em fazer hoje”; “eu ainda estou aqui, mas minha cabeça já está lá na frente”; “sou desastrado, pois acho que já fiz alguma coisa, mas meu corpo ainda está fazendo”. No caso do autor da música e da música em si, diz que suas emoções não podem ser vividas por causa de seu corpo. Para muitas pessoas é assim: se não fosse o corpo seriam o casal perfeito, os pensamentos, as ideias e tudo o mais têm a mesma velocidade, mas seus corpos não acompanham. Pessoas assim normalmente se encontraram cedo demais ou tarde demais.

Em outros casos a mente é justamente o que torna inviável as experiências do corpo e não uma solução. Essas pessoas são aquelas que vivem através do corpo e a mente é um acompanhante que pode ou não ser agradável. Quando o corpo estiver bem, os pensamentos dessas pessoas estarão bem, como exemplo podemos citar: “quanto estou com sono não consigo pensar em nada”; “se estiver com fome não consigo raciocinar”; “quando estou doente não consigo me concentrar nem na leitura”. Estas expressões dizem com clareza que o ponto de partida é o corpo, para estas pessoas a chave para viver bem com o que amam está longe da mente. Pessoas assim, para viver bem com o que amam devem estar com o corpo bem, assim poderão pensar e realizar as coisas com mais clareza. Para estas pessoas a prisão pode ser o pensamento, quando não conseguem parar de pensar algo ruim, quando estão com medo, quando cometem pecados. A chave será viver as coisas do corpo, as sensações, cheiros, cores, gostos e sons.

Aqui estão apenas dois exemplos de possibilidades da relação entre o corpo e a mente, em cada um tanto o corpo quanto a mente são e se relacionam de maneira diferente. Alguns serão mais de acordo com o corpo e suas vivências serão mais sensoriais, já outros terão a maior parte de suas vivências enquanto ideias, conceitos, abstrações. O que fará do corpo ou da mente uma prisão é o que não me deixa sair e a chave para isso dependerá de como a prisão foi construída. Em cada um de nós estão as chaves para abrir os cadeados existenciais que forem necessários abrir.
Por: Rosemiro A. Sefstrom

sexta-feira, 27 de junho de 2014

MINHA "FACE"

Na década de oitenta, a popularização do telefone possibilitou ao ser humano uma maior conectividade. Nos anos noventa, o telefone móvel e o computador passaram a fazer parte da vida das pessoas, tornando-as mais próximas. No fim dos anos noventa e início do século vinte e um, com a popularização da internet boa parte das pessoas teve acesso a um novo mundo: o digital. Através do mundo digital as possibilidades de comunicação se tornaram praticamente infinitas, onde uma pessoa pode instantaneamente se comunicar com uma pessoa do outro lado do mundo.

Na carona da conectividade surgiram sites especializados em criar teias de relacionamento, as redes sociais, sendo que o primeiro a se popularizar foi o Orkut. Este site foi criado em 2004 e leva o nome de seu criador, o engenheiro TurcoOrkut Büyükkökten. Nesse site as pessoas criavam contas onde disponibilizavam uma série de informações suas que eram compartilhadas com pessoas que faziam parte de sua rede de relacionamento, os amigos. Essa ferramenta rapidamente se tornou febre pelo mundo, mas realmente ficou famosa no Brasil, onde chegou a deter cinqüenta por cento de seus usuários. Na carona do Orkut surgiu o Facebook, este criado por Zuckerberg,em 2004, junto com Dustin Moskovitz e Eduardo Saverin e Chris Hughes, quando eram estudantes da Universidade Harvard. O Facebook, assim como o Orkut segue a mesma linha, onde pessoas colocam seus conteúdos, os quais são compartilhados com os amigos.

Com a criação desses sites, abriu-se a possibilidade de um novo modo de se expressar e se expor, ou seja, foi criado um novo canal de comunicação, mas também de exposição da pessoa.

Em Filosofia Clínica temos um tópico, assim como um submodo, que são chamados de Expressividade. De forma sucinta, Expressividade é a parte da clínica filosófica que se ocupa em saber o quanto de mim está naquilo que comunico. Relacionando a febre das redes sociais e a expressividade pode ser proposta a questão: quanto daquilo que é postado no Facebook realmente representa quem você é? Quando uma pessoa posta seu conteúdo ela pode ou não estar falando muito de si mesma, algumas pessoas apenas encontraram neste site uma maneira de construírem a sua verdadeira “Face”.

Muitos ao serem interpelados em torno do que postam, curtem, comentam ou compartilham dizem ser apenas brincadeira. Mas, seria interessante pensar o quando sua “Face” pode ficar evidente para quem nunca te viu. Você pode dizer que aquilo que se encontra no seu Facebook não é você, mas quem não conhece e avalia pelo que é postado, curtido, comentado ou compartilhado pode não achar a mesma coisa. Pense que postar seria o mesmo que dizer, pintar, cantar, ou seja, comunicar a uma outra pessoa seus conteúdos. No Facebook se comenta para centenas. Veja que interessante, tudo o que você disser pode ser usado contra você por centenas de pessoas de uma forma facilitada, pois está documentado.

Além de se postar, que seria o equivalente ao falar, ainda se pode curtir, ou seja, aprovar o que outras pessoas postam. Assim, ao curtir você está dizendo que aprova, que é isso mesmo, que é legal. Nos comentários, cada um coloca claramente sua opinião. Por fim compartilhar, sendo que muitas pessoas não têm a menor ideia do que isso quer dizer: compartilhar que dizer fazer parte daquilo. A atitude de compartilhar é dizer que aquilo que a pessoa postou também está em você e você oferece isso aos outros, ou seja, o que você compartilha pode ser a sua “Face” diante dos seus “amigos”.
Por: Rosemiro A. Sefstrom  Do site: http://rosemirosefstrom.blogspot.com.br/

quinta-feira, 26 de junho de 2014

MONTESQUIEU

Neste ano comemoramos os 259 anos de falecimento de um dos grandes filósofos políticos do século XVII. Charles-Louis de Secondat ou como era conhecido Charles de Montesquieu nasceu em um castelo próximo a cidade de Bordeaux em janeiro de 1689 e faleceu em 10 de fevereiro de 1755. Montesquieu veio de uma família abastada o que lhe garantiu bons estudos, onde teve formação iluminista, legando a sua opinião um tom sempre áspero e duro a monarquia absolutista. Um homem de boa formação e importante escritor, deixando obras como Cartas Persas de 1721, também O Espírito das Leis de 1748, participando inclusive da elaboração da primeira Enciclopédia, entre outras obras.


No século em que Charles nasceu houveram muitas modificações na forma de pensar do povo europeu. Uma das grandes transformações foi o Tratado da Vestfália (1648), que depois de longos anos do embate entre a Igreja e os Protestantes afirmam que o Estado tem autonomia para decidir qual seria sua religião oficial. Nesse período a França vivia a monarquia absolutista, forma de governo em que o pode é centralizado nas mãos de um único governante. Seu país se dividia em três classes ou, como chamavam, os três estados: o clero, a nobreza e o povo. Sendo que só a última classe social pagava os impostos que mantinha a luxuosa vida da corte no Palácio de Versalhes.

Charles nasceu em um dos períodos de transição na política francesa e com certeza contribuiu de maneira decisiva para que a revolução tivesse êxito. Lembrando que ele viveu em um período em que havia um único governante com poderes totais ele desenvolve a teoria política da separação dos poderes. Para Montesquieu haveriam três poderes, cada um com a incumbência de cuidar de uma parte da administração pública. Também, é importante lembrar que Charles era formado em direito e depois da morte do tio assume o título de Barão e a presidência do parlamento de Bordeaux.

Em sua proposta os três poderes seriam o legislativo, o executivo e o judiciário. O legislativo é formado por um parlamento que tem por objetivo elaborar leis que serão aplicadas a população. O segundo poder, ou seja, o executivo, é desempenhado por um governante que tem por objetivo fazer com que se cumpram as leis. Já o judiciário compõe a terceira esfera de poder do estado, aqui se aplicam os julgamentos às partes conflitantes. Com essa divisão, desde a criação das leis, aplicação e julgamento de eventuais atritos entre partes o poder permanece livre das decisões unilaterais.

Hoje a colaboração de Charles-Louis de Secondat é sentida em praticamente todos os países democráticos de todo o mundo, países governados pelo povo e para o povo. Mas falta muito ainda para que possamos atingir objetivos como aqueles que inspiraram o Barão de Montesquieu. O Egito acordou depois de trinta anos sendo governado por um ditador, pôs seus medos de lado e entrou na briga pelos seus interesses. Para eles foram necessários trinta anos, quantos outros serão para que possamos transformar nossas velhas estruturas e fazer a tão falada Reforma Política?
Por: Rosemiro A. Sefstrom

quarta-feira, 25 de junho de 2014

MUDAR SEM MUDAR!

Há um tempo, comentava com uma partilhante acerca de uma peculiaridade de nossa região, algo hoje menos visto. Quando eu era pequeno, uma das coisas que me impressionavam eram as casas transportadas em cima de caminhões. Pensava: “como seria possível a um caminhão levar uma casa inteira, levar um lar sobre algumas poucas rodas?”. Hoje mudar de lugar e levar a casa já não é mais possível, a maioria delas é feita de tijolo e cimento. Essa lembrança retrata muitas pessoas que pedem no consultório para mudar de vida, que gostariam de ser diferentes. Mas como seria esse “ser diferente”? Pense um pouco nisso, identifique exatamente o que gostaria de mudar.


Depois de pensar no que queria mudar em você há outra pergunta interessante. O que aconteceria se agora você recebesse uma oportunidade de mudar de vida? Uma das formas de se mudar de vida é ganhando muito dinheiro, boa parte das pessoas que se conhece hoje pensam ser esse o caminho das pedras. Mas nem todas se perguntam como seria se se tornassem realmente ricas. Onde morariam, o que comeriam, ondem trabalhariam, como fariam para manter o status quo. Sim, o que fariam para manter seu padrão de vida, enriquecer não é tão difícil assim, manter-se rico já parece ser um tanto mais complicado. Basta perguntar a uma grande maioria que ganhou nas loterias e hoje vive na pobreza.

Quando se quer mudar de vida, é necessário lembrar que algumas coisas da vida que leva-se hoje terão de ficar para trás. Se quiser ficar rico, a primeira coisa que terá de deixar é a vizinhança onde vive atualmente, talvez alguns lugares deverão deixar de ser frequentados, inclusive a casa de alguns amigos. Na verdade, alguns amigos irão se afastar por saberem que a diferença entre eles e você torna a convivência um tanto complicada. Indo um tanto mais fundo e sendo mais radical, alguns parentes, pessoas do seu sangue você não poderá mais visitar. Mudar de vida significa abandonar muitas coisas que fazem parte dela agora, e nem todos estão dispostos a sacrificar o que tem para sair de onde estão.

Além de mudar, é necessário fazer amarrações de modo que a mudança tenha sustentação. Ainda há pouco via no jornal as várias tentativas em se tirar os traficantes da vida das pessoas de comunidades pobres do Rio de Janeiro. Mas a maneira como era feito é que não estava certa. Os policiais entravam na comunidade, prendiam os bandidos e se certificavam de que estava tudo em paz. Depois disso deixavam a favela e tudo voltava ao “normal”, inclusive com uma nova facção criminosa que tomava lugar da que foi presa ou morta. Sustentar pode ser significado como aguentar, tornar comum essa nova situação de vida e alimentá-la. Aos que desejam a riqueza, recomenda-se cultivar o que faz parte desse mundo: a cultura, a leitura, as conversas, as pessoas com quem se convive. Se não estiveres disposto a assumir a condição da riqueza, provavelmente será difícili de “ser” rico.

A palavra mudança está na cabeça de muitas pessoas que buscam a terapia, muitas delas pedem com todas as letras: “Doutor, eu gostaria de ser diferente”. Mas nem todas elas, na verdade em sua maioria, não sabem que para ser diferente precisarão abandonar o que são hoje e adquirir as características do que desejam ser. Infelizmente, algumas coisas têm de ficar para trás, coisas que se gosta, pessoas que se gosta. Além de abandoar também é necessário assumir, tanto coisas que se gosta quanto coisas de que não se gosta. Mudar é deixar e assumir, o que e quem for necessário.
Por: Rosemiro A. Sefstrom

terça-feira, 24 de junho de 2014

MUNDOS

Olhando pela janela, dentro de casa e até mesmo dentro de cada um há uma representação de mundo. Quando alguém diz que o mundo é ruim, mau, bom, certo, errado, isso é assim para a pessoa que disse, da maneira como ela disse. Isso pode ser algo que ela construiu a partir das próprias vivências, pode ser algo gravado do que outras pessoas disseram, também pode ser o resultado de uma longa e bibliográfica reflexão e assim será para cada um. O mundo como uma representação foi uma teoria criada pelo filósofo Protágoras, do qual já se deve ter ouvido falar. Mas outro filósofo mais atual foi além, falou que o mundo é a minha representação, que não existem duas pessoas que vivam no mesmo mundo, assim como não existem duas representações. Sendo assim, em cada um de nós existe um mundo completamente diferente do mundo do outro e é a partir desta visão de mundo que a pessoa se posiciona diante daquilo que a cerca. E é justamente sobre isso que aqui vamos tratar.


Algumas pessoas olham para o mundo como um cenário pronto onde elas precisam se encaixar. Estas pessoas, quando olham para o mundo entendem que ele já está feito e o seu papel é ver o que precisam fazer para se colocar, ou seja, arrumar o seu espaço. Esta visão trata o mundo como coerção, uma realidade esquadrinhada que obriga o ser humano a se adaptar. Em certo ponto Rousseau concordaria com estas pessoas, lembrando que para ele o “homem nasce bom e a sociedade o corrompe”. Pessoas que vêem a realidade deste jeito comumente usarão frases como: “está tudo pronto, tenho que ver onde me encaixo”. Dentro de uma empresa é aquele funcionário que acha o seu cantinho na estrutura e permanece ali, talvez tenha ambição de evoluir, mas o mais que conseguirá é evoluir para outro cantinho.

Há outras pessoas para as quais o mundo é uma questão de representação: estas são aquelas que entenderão que o mundo é diferente em cada um, como o pregado por Protágoras e Schopenhauer. As poucas pessoas que conseguirem chegar a este ponto terão uma vida em que o outro é um ponto de referência para suas considerações e não uma sentença. Para estas, o fato de alguém não gostar de sua cor preferida, de não entender como alguém pode achar que Deus existe será apenas mais uma opinião. Para saber quem tem o mundo desta maneira basta observar frases como estas: “Isso é assim para você”. Elas entendem que há opiniões diferentes e que devem ser respeitadas, mas não significa que tenham de aceitar. Numa empresa, o funcionário entende que seu gerente vê a empresa de determinada maneira, que não é bom nem mau, mas é assim para ele. E vendo diferente deste, encontra outros caminhos para chegar aonde deseja.

Muito mais raros que os anteriores, será possível encontrar pessoas que tem o mundo enquanto criação. Um mundo que tem sua estrutura pronta, que é diferente em cada um, mas que pode ser recriado a cada dia. Pessoas que olham para a realidade como um caminho de possibilidades, os poucos que ficaram conhecidos pela história ganham títulos diferentes: desbravadores, inventores, criadores, empreendedores e assim por diante. Estes raros seres humanos percebem que é possível ir além do discurso formatado criando possibilidades de ser e fazer diferente. Como no filme Matrix, são pessoas que não se encaixam no que vêem, acreditam no que vêem, mas, muito mais do que isso, acreditam que vai muito além do que está dado. Numa empresa são aquelas pessoas conhecidas como pessoas de criação, que vêem portas em paredes, janelas em muros. Aqueles que imaginam e colocam de tal forma o mundo imaginado que este se torna real.

A boa nova, como diz Lúcio Packter, é que não estamos presos a nenhum destes mundos. Cada pessoa tem a oportunidade de mudar, ir além do momento presente e se construir como um ser melhor. O mundo como coerção, representação ou criação não são bons e nem maus por si só, mas são de acordo com a história de vida de cada um. Quantos empreendedores deixaram de ser um sucesso por verem o mundo por coerção? Observe sua história e veja para onde está caminhando. Se não está gostando do destino de sua caminhada, pode redirecionar.
Por: Rosemiro A. Sefstrom

segunda-feira, 23 de junho de 2014

NAMORO QUE NÃO DÁ CASAMENTO!

Nos dias atuais, para muitas pessoas me parece que namorar não está mais na moda. Para algumas pessoas isso soa muito estranho, pois para muitos o caminho para o casamento passa pelo namoro. Antigamente o homem interessado em conhecer a moça, literalmente, conhecer a moça, precisava da permissão dos pais dela. Nesse processo de conhecer passavam um bom tempo conversando, apenas conversando. Quando era possível (e dificilmente era) eles pegavam um na mão do outro, quando muito davam um beijinho ou outro, às escondidas. Esse processo lento levava meses, e o homem ia vagarosamente conhecendo a moça até saber se realmente chegariam ao casamento. Ele sabia do que ela gostava, do que ela não gostava, sabia sua religião, se ela queria ter filhos e quantos, enfim conhecia praticamente o que a moça entendia por casamento.


Nos dias de hoje (isso não é regra) o namoro leva tempo quase nenhum e de conversa quase nenhuma. A maioria dos jovens se conhecem, logo estão beijando e não muito tempo depois estão transando. Nesse tempo de namoro tanto um quanto outro falam de muitas coisas, mas pouco do que poderiam e deveriam falar: casamento. Quando, depois de alguns meses de namoro, resolvem casar é que vão pensar sobre o assunto, a festa de casamento. Quando chegam em casa e colocam-se sob o mesmo teto é que começam prestar atenção na pessoa que vai dividir o mesmo espaço. Essa atenção começa a mostrar coisas que não foram ditas no período em que “namoraram”, ou “ficaram” como alguns chamam. Ela e ele não sabiam exatamente o que iriam compartilhar até terem de compartilhar.

Quando os namorados passam a viver juntos colocam, cada um, seus conteúdos em relação ao outro. Por isso é tão importante a convivência, é o momento em que o homem ou a mulher sabe se um realmente é para o outro. Às vezes durante o período que namoravam, a música estava tão alta, a bebida era tanta e as pessoas ao redor eram tantas que ele não conseguiu ouvir que na casa dela quem manda é ela. Ela também pode não ter conversado sobre o hábito que ele tem de ir ao bar, nem mesmo se deu conta que ele não tem o menor problema em comprar e não pagar.

Cada um dos namorados, muito antes de se encontrarem começaram a construir um conjunto de verdades que são a base de suas vidas. As verdades que cada um tem não são verdades finais, como a força da gravidade, mas são princípios de verdade. São pequenos e grandes conceitos que cada um coloca na relação com o outro. Como no caso dos namorados, imagine que a menina não suporta homem que fica devendo para os outros, esse princípio de verdade impediria ela de namorar um homem que não paga suas contas. Quando os princípios de verdade são fortes, por mais que a pessoa goste da outra, suas verdades falam mais alto.

Não existem verdades que sejam boas ou más, certas ou erradas, mas verdades que se tornaram os fundamentos da vida de cada um. Estas verdades, quando colocadas em interseção com outras pessoas podem nos aproximar ou nos afastar, unir ou separar. É importante saber quais são as suas verdades, elas podem estar lhe aproximando de pessoas e coisas boas, assim como o contrário. Talvez seja só no meu mundo que exista isso, mas pessoas que não vêem problemas em comprar coisas roubadas, muitas vezes também são roubadas.
Por: Rosemiro A. Sefstrom

domingo, 22 de junho de 2014

ERAM OS DEUSES ASTRONAUTAS?


Livro: Eram os Deuses Astronautas? de Erich Von Däniken - Resumo

Se os astronautas da terra pousassem em um planeta do cosmos que tivesse vida humana com uma evolução igual na idade da pedra, os seres existentes ficariam chocados com a nave espacial, objeto estranho para eles, se esconderiam no fundo das cavernas e poderiam supor que fossem deuses, que desciam do céu. Aos poucos iriam se aproximando, e haveria um cruzamento entre algumas mulheres com os astronautas, surgindo uma geração mais evoluída. Quando os astronautas voltassem para a terra, deixariam naquele planeta, seus conhecimentos, seus objetos e desenhos. Isto pode ter acontecido em nosso planeta terra, pois ainda hoje existem muitos fatos inexplicáveis. O almirante Piris Reis, oficial da marinha deixou mapas antigos com desenhos completos e muita precisão. Há um campo de pouso na antiga cidade de Nacza e nas montanhas no Peru ao sul de Lima, foram encontrados enormes desenhos.

Em Tiahuanaco foi encontrado um calendário pré-histórico com estações do ano. No Velho Templo foi encontrado o Grande ídolo com sete metros e vinte toneladas. Condutores de água feitos em pedra, cabeças de pedra, estranhos capacetes, uma escultura com 3 metros de altura e cinco metros de largura denominada como “Porta do Sol” e terraços murados. Em Ezeon-Geber foi encontrada uma fundição que é a maior do Oriente Médio, com forno ultramoderno e cinco mil anos de idade. Na colina de Kuyundjick, antiga Ninive, encontraram numeração com quinze casas, 12 placas de argila com gravação de epopéia heróica – Poema de Gilgamés.

O terraço de Balbec é uma plataforma construída com blocos de pedra, situada ao norte de Damasco, e supõe que seja uma planície de aterrisagem. A pirâmide de Quéops possui uma circunferência que dividida pelo dobro da altura tem como resultado o famoso número de Ludof, o “Pi” que é igual 3,1416. Ninguém consegue entender como 2.600.000 blocos foram serrados das pedreiras, transportados e ajustados com exatidão entre si. A construção mais antiga erguida pelos maias é o “Observatório de Chilchén”, com três terraços superposto, uma escada em caracol e orifícios para ver as estrelas.

Em relação ao “Poço Sagrado” de Chilcén Itzá, Diego de Landa afirma que eram jogados meninas e garotos para abrandar a ira do deus da chuva, nos tempos de seca. Foram encontrados no ano de 1900, destroços de um navio com máquina como se fosse uma espécie de computador, carregando estátuas de mármore e bronze, que se encontra guardada no Museu de Arqueologia em Atenas. No Museu Britânico de Londres há uma placa com registros dos eclipses lunares do passado e do futuro.

Existem várias lendas: A lenda de “Orjina” que seria uma mulher com quatro dedos, que veio das estrelas em uma espaçonave dourada, “deu à luz a setenta filhos e regressou às estrelas”. A lenda maia “Popol Vuch” relata que os deuses conheciam o Universo, os quatro pontos cardeais e a face redonda da terra. Kunti ficou grávida do deus Sol, colocou a criança em uma cestinha e soltou no rio. Adhirata pescou a cestinha e criou a criança. O cavalo “Arremessador de Cascos” leva a serva Gna da deusa Frigg para diversos mundos, elevando-se no ar e locomovendo do céu. O deus criador “Viracocha” criou o mundo, o homem e animais de barros para que eles voassem para vários continentes com o fim de habitá-los. O deus Quetzalcoalt veio de uma terra do sol, ensinou o povo a produzir espigas milho do tamanho do homem, algodão colorido, depois embarcou em um navio e foi para a estrela d''alva.

Muitas bibliotecas antigas foram queimadas como a biblioteca de Jerusalém, a biblioteca de Pérgamo com duzentas mil obras, em Éfeso textos foram destruídos por Paulo; Hitler mandou incinerar livros em praças públicas. Na biblioteca de Alexandria quinhentos mil volumes pertencentes ao sábio Ptolomeu Sóter foram destruídos. Em um edifício de Edfu está registrado que a construção é de origem supra terrena, com planta desenhada por um ser endeusado Im-Hotep. Na caverna de Qumsram, Mar Morto foram encontrados textos que falam de carros celestes, de rodas, de fumaça e de filhos do céu. Há muitas passagens da bíblia como a da mulher de Ló que olhou para o sol atômico, a do profeta Ezequiel que viu descer do céu um metal brilhante, o relato de Moisés dizendo que Deus manda construir a Arca da Aliança, a luta de Davi com o gigante de seis dedos, e a visão de Eva de um carro de luz puxado por águias cintilantes.

Há uma expectativa de que no futuro o homem possa colonizar Marte, quando a terra se tornar inabitável devido à radioatividade. Hoje muitas pessoas se sustentam devido à pesquisa no espaço cósmico. Acreditam que teremos que buscar material nuclear em Marte ou Vênus para iluminar nossas cidades quando as energias da terra se esgotarem. Foram vistos e comprovados objetos voadores na terra muitas vezes. Em Nova York foram enterradas duas cápsulas do tempo com grandes quantidades de modelos que existem hoje, com o objetivo de transmitir nosso modelo de vida ao futuro, caso haja explosão atômica que destrua tudo.A NASA possui um programa de pesquisa completo, com oito sondas planejadas e dezoito centros que poderão se tornar estações de partida no futuro para vôos cósmicos.

ERAM OS DEUSES ASTRONAUTAS? FILME COMPLETO E DUBLADO

sábado, 21 de junho de 2014

NÓS SOMOS OBRIGADOS A PAGAR DÍZIMO?

Os católicos são obrigados a pagar o dízimo, no sentido estrito do termo? Ou seja, devem dar 10% de seus rendimentos à Igreja? Essa pergunta se faz necessária porque é cada vez mais frequente ouvir, dentro da Igreja, um eco da pregação protestante, segundo a qual a determinação do Antigo Testamento de pôr à parte "o dízimo de todo fruto de tuas semeaduras, de tudo o que teu campo produzir cada ano" [1], deveria ser seguida ao pé da letra.

Para responder adequadamente a esta questão, é importante distinguir três leis: a lei natural, a lei da Igreja e a lei da caridade.

Com relação à primeira, Santo Tomás de Aquino diz que existe um fundamento natural para que o povo sustente os seus ministros. Diz ele: "Que o povo deve sustentar o os ministros do culto é determinação da razão natural, como também recebem do povo salário para seu sustento aqueles que servem o bem comum: os governantes, os militares, e outros" [2]. E ainda: "O preceito da paga dos dízimos, quanto ao seu aspecto moral, foi dado pelo Senhor e está no Evangelho de Mateus: 'Digno é o operário do seu salário'" [3].

No entanto, na história da Igreja, esse direito já foi contestado. Os movimentos protestantes anteriores à Reforma, por exemplo, contestavam o dízimo como direito natural. Não à toa a Igreja exigia dos valdenses, a quem ela acolheu no século XIII, após muito tempo de divisão, que confessassem o seguinte: "Cremos que se deve doar aos clérigos sob as ordens do Senhor o dízimo, as primícias e as oblações" [4]. Na mesma linha, um dos erros de John Wycliffe condenados pelo Concílio de Constança dizia: "Os dízimos são também esmolas, portanto os paroquianos podem negá-los a seu juízo em razão dos pecados de seus prelados" [5]. Ou seja, os pecados dos bispos ou dos sacerdotes não cancelam o dever de justiça que os fiéis têm de sustentar as suas necessidades.

Mas, nesse campo, não existe apenas a lei natural, como também a lei da Igreja. Santo Tomás diz que oferecer a Deus a décima parte dos próprios rendimentos não está na natureza das coisas, mas é um preceito judicial, uma determinação que pode ser mudada de acordo com as circunstâncias [6]. No Antigo Testamento, a tribo de Levi precisava ser sustentada pelas demais tribos de Israel; era razoável, portanto, que elas tivessem que lhe pagar 10% de seus rendimentos. Mas, assim como as leis chamadas cerimoniais – como oferecer bodes e carneiros no templo de Jerusalém –, essas leis judiciais não são mais vinculantes.

Agora, o que devem ser seguidas são as determinações das Igrejas locais. O Catecismo, ao explicar os mandamentos da Igreja, diz: "O quinto preceito ('prover às necessidades da Igreja, segundo os legítimos usos e costumes e as determinações') aponta ainda aos fiéis a obrigação de prover às necessidades materiais da Igreja consoante as possibilidades de cada um" [7]. Trata-se de um resumo do que estipula o Código de Direito Canônico, ao estabelecer que "os fiéis têm a obrigação de prover às necessidades de Igreja, de forma que ela possa dispor do necessário para o culto divino, para as obras de apostolado e de caridade, e para a honesta sustentação dos seus ministros" [8].

O mesmo Código estabelece, noutro lugar: "Os fiéis concorram para as necessidades da Igreja mediante subvenções que lhe forem solicitadas e segundo normas estipuladas pela Conferência episcopal" [9]. Atendendo a isto, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, em legislação complementar aprovada pela Santa Sé, determinou:

"Cabe à Província Eclesiástica dar normas pelas quais se determine a obrigação de os fiéis socorrerem às necessidades da Igreja, conforme o cân. 222, § 1. Busquem-se, contudo, outros sistemas que – fomentando a participação responsável dos fiéis – tornem superada para a manutenção da Igreja a cobrança de taxas e espórtulas." [10]

Então, é preciso consultar as Províncias Eclesiásticas para descobrir as normas que regulam a obrigação de socorrer às necessidades da Igreja. O caminho preferencial escolhido no Brasil é fazer que as pessoas tomem consciência de sua responsabilidade, mais do que simplesmente dar taxas e espórtulas à Igreja.

No que diz respeito à obrigação dos 10%, Santo Tomás não parece ser muito favorável a uma imposição estrita, afinal, esse valor se figura um pouco excessivo para a sustentação do clero. Além do mais, escreve o Aquinate, "os ministros da Igreja devem dedicar-se mais em promover o bem espiritual do povo do que em receber os bens temporais" [11]. Já que estamos na lei da graça, é mais interessante que a doação dos fiéis brote de sua generosidade do que de uma lei escrita. Isso quer dizer que as pessoas podem dar menos ou até mais de um décimo de suas rendas, de acordo com as necessidades de sua Igreja local e a generosidade que lhes inspira.

Quanto à lei da caridade, é importante notar que a Antiga Lei não tinha estabelecido o dízimo apenas para o sustento dos ministros, mas também para socorrer os pobres e necessitados. Para isso, não existem limites. Santo Tomás, com grande inteligência e fidelidade ao Evangelho, diz:

"A terceira espécie de dízimos, destinada a alimentar os pobres, foi aumentada na Lei nova, porque não somente a décima parte seria dada aos pobres, mas também o que sobrava, em cumprimento do preceito evangélico: 'O que sobrar, dai como esmola'. Quanto aos dízimos entregues aos ministros da Igreja, eles mesmos os dispensarão aos pobres." [12]

Não se deve esperar leis para fazer o bem. Existem, de fato, a lei natural e a lei eclesiástica; mas a lei da caridade deve brotar disto que está no Evangelho: Jesus, rico que era, fez-se pobre para nos enriquecer a todos. Do mesmo modo, devemos seguir essa " imitatio Christi – imitação de Cristo" e socorrer os mais necessitados.
Por: Padre Paulo Ricardo

Referências

Dt 14, 22. A razão de ser desse dízimo estava explicada no versículo 29 desse mesmo capítulo: serviria para o levita, para o estrangeiro, para o órfão e para a viúva.
Suma Teológica, II-II, q. 87, a. 1
Suma Teológica, II-II, q. 87, a. 1, ad 2. Cf. Mt 10, 10
DS 797
DS 1168
Suma Teológica, II-II, q. 87, a. 1
Catecismo da Igreja Católica, 2043
Código de Direito Canônico, cân. 222, § 1º
Ibidem, cân. 1262
Legislação Complementar ao Código de Direito Canônico emanada pela CNBB Decreto nº 2/1986
Suma Teológica, II-II, q. 87, a. 1, ad 5
Suma Teológica, II-II, q. 87, a. 1, ad 4. Cf. Lc 11, 41

sexta-feira, 20 de junho de 2014

QUAIS AS CONSEQUÊNCIAS DE SE CRER NA REENCARNAÇÃO?

O número crescente de pessoas aderindo à doutrina espírita foi notado pela Igreja ainda na época do Concílio Vaticano II. Em um de seus principais documentos - a Constituição Dogmática Lumen Gentium -, faz um alerta, recordando as Sagradas Escrituras:


Mas, como não sabendo o dia nem a hora, é preciso que, segundo a recomendação do Senhor, vigiemos continuamente, a fim de que no termo da nossa vida sobre a terra, que é só uma, mereçamos entrar com ele para o banquete de núpcias e ser contados entre os eleitos… (DH 4168)

Apesar disso, muitos têm buscado nessa doutrina errônea uma espécie de consolo, muito embora ela não apresente nenhum fundamento bíblico, nenhuma prova empírica ou científica e muito menos qualquer substrato lógico. A reencarnação nada mais é do que uma tentação ao comodismo, uma tentação infantil, pois, as crianças, quando brincam, entram no mundo do faz-de-conta. Elas pensam que a vida é um jogo eletrônico: pode-se consumir as "vidas" e se der Game Over, basta começar tudo outra vez.

Elas não aprenderam ainda a responsabilidade da existência. Quanto aos adultos, espera-se deles que saibam que a vida não é um jogo e que cada passo dado tem consequências, algumas irreversíveis. Nem todas agradáveis. Esta realidade de causa-consequência que se vê no mundo material é a pedagogia de Deus para mostrar que a vida é séria.

Todavia, parece ser mais confortável pensar que se pode sempre recomeçar. Na verdade, é uma armadilha do diabo para alcançar seu objetivo primeiro que é perder as almas. Ao convencer mais e mais pessoas de que tudo é permitido e que novas chances de "evolução" virão com uma nova vida, ele consegue seu intento. E sem muito esforço, é preciso dizer, pois existe uma tendência no homem a crer nesse "recomeço" - uma tendência muito bem conhecida e aproveitada pelo diabo.

Não é possível, porém, enganar-se: existe uma só vida, dizem as Sagradas Escrituras. Também de modo claro, o Catecismo da Igreja Católica:

A morte é o fim da peregrinação terrestre do homem, do tempo da graça e da misericórdia que Deus lhe oferece para realizar sua vida terrestre segundo o projeto divino e para decidir seu destino último. Quando tiver terminado o único curso da nossa vida terrestre, não voltaremos mais a outras vidas terrestres. Os homens devem morrer uma só vez. Não existe reencarnação depois da morte. (1013)

Historicamente, muitos povos e culturas creram na reencarnação. Antes mesmo da vinda de Jesus e também nas religiões orientais que professam a reencarnação ou a metempsicose.

Até mesmo dentro do cristianismo a reencarnação conseguiu encontrar adeptos, como por exemplo, Orígenes, que, por influência do neoplatonismo, ensinava que as almas um dia estiveram junto de Deus, mas "esfriaram", vieram para o mundo e foram aprisionadas. As almas foram guardadas dentro de um "sôma", corpo, que recorda a palavra "sema", túmulo, ou seja, as almas estariam aprisionadas dentro de um "corpo de morte". E o homem verdadeiro seria somente a alma, não o corpo. Diante disso, nota-se que a antropologia da reencarnação não pode ser considerada cristã. Para os reencarnacionista, o homem é somente a alma e o corpo é uma caixinha, um invólucro, uma embalagem descartável. A alma será preservada e sucessivamente melhorada até que chegue a Deus.

Esta é uma heresia que a Igreja condenou inúmeras vezes ao longo dos séculos. Orígenes recebeu contra si os anátemas (conf. DH 403-411), como também os albigenses na Idade Média (conf. DH 800 e seguintes) e mais recentemente, no Concílio Vaticano II. Com efeito, é importante compreender que, embora a ideia da reencarnação seja atraente, ela carrega em si uma perversão: o homem se torna a sua própria salvação. Jesus Cristo não é necessário. Cada homem, por seu esforço e cruz carregada, construirá uma Torre de Babel e um dia chegará ao céu.

A reencarnação não somente não leva a vida a sério, como não leva a redenção de Cristo a sério. Portanto, aqueles que creem na reencarnação não podem ser chamados verdadeiramente de "cristãos". E, se os espíritas se dizem cristãos, o são somente em sentido muito amplo, posto que consideram Jesus apenas um espírito de luz que veio para guiar as almas.

Ora, o Cristianismo não é isso. Cremos que o Verbo (Deus) se fez homem inteiro, corpo e alma e, deste modo, cada um irá um dia triunfar com Deus no céu. Os espíritas, dizem crer na reencarnação, nós, cristãos dizemos: "creio na ressurreição dos mortos e na vida eterna. Amém." 
Por: Padre Paulo Ricardo Do site: https://padrepauloricardo.org/


terça-feira, 17 de junho de 2014

NÃO ESTOU OUVINDO NADA!

Não é de hoje que escuto histórias sobre pessoas que só ouvem o que querem ouvir. Normalmente pode-se falar de tudo perto da pessoa que ela não escuta, mas se falar sobre algo que a interessa ou chame sua atenção, logo ela se manifesta: “Hã?” Parece estranho, mas isso não acontece só com pessoas mais velhas que usam a desculpa da surdez para não se envolver em alguma questão sem sentido. Esse recurso também é muito usado por pessoas mais novas. Essa “surdez existencial” acontece por alguns motivos, podemos pensar em alguns.


Imagine que você trabalha como vendedor e está com seus produtos ou portfólio mostrando a um cliente que se mostra reticente, nega a compra. Você, como o perspicaz vendedor que é não escuta a negativa e continua tranquilamente argumentando por seu produto. Não é que não tenha escutado, mas é conveniente fazer de conta que não escutou. Essa surdez serve a um propósito: a venda de um produto. Imagine se o vendedor parar de mostrar o seu produto cada vez que receber um não? Quantos produtos você já comprou pela insistência do vendedor? Sem essa surdez, provavelmente o vendedor não sobreviveria com suas vendas.

Outro caso é daquelas pessoas que não ouvem uma parte de si, são surdas para si mesmas. Você, será que é surdo? “Claro que não!”, podes responder, mas acho que muitos provavelmente são surdos para si mesmos. Quantos de vocês já sentiram dores de dente, o corpo já está avisando que é hora de voltar ao dentista, mas nem por isso foi. Há também o antigo, na verdade novo problema criado pela balança. Basta ver a quantidade de pessoas que percebem claramente o corpo dizendo para diminuir a quantidade de alimento, de bebida, mas não param. Um último exemplo desses é a mulher que se casou com um marido violento, a razão dela diz que ela corre perigo, mas nem por isso ela vai embora.

O ouvido, assim como os olhos, os músculos e qualquer outra parte de nosso organismo precisa ser treinado para que tenha um bom desempenho. Um atleta que treina para um campeonato de tiro, enquanto engatilha sua arma e olha para o alvo, presta cem por cento de atenção naquilo que vai lhe dar o resultado. Um maestro, enquanto rege sua orquestra, percebe cada um dos instrumentos, desde a afinação, o tom, o tempo, tudo. Essa atenção se dá pelo objetivo que ele tem, ou seja, fazer com que o som produzido seja o melhor possível.

O problemático é que sem ouvir não há como responder e muitas pessoas respondem mesmo sem entender o que foi dito. São como surdos que erraram a leitura labial, mas respondem mesmo assim. Como saber? Na maior parte das vezes é bastante simples examinar se a resposta tem a ver com o que foi falado, ver se o que é dito tem a ver com o assunto. Pessoas que não escutam frequentemente reclamam de maus entendidos, mas na maioria das vezes elas mesmas provocaram o mal entendido.

Se você disser a sua mulher: “Como você está linda hoje!” e depois disso ela lhe perguntar se estava feia ontem, provavelmente ela não lhe ouviu. Limpe os ouvidos dela dizendo: “Não foi isso que eu disse. Eu disse que você está linda hoje. Não falei de ontem”. É preciso estar atento ao discurso do outro, de modo a ouvir o que ele realmente diz, não aquilo que você quer ouvir.
Por: Rosemiro A. Sefstrom

segunda-feira, 16 de junho de 2014

MANUAL DE MIM!

Vou lhe fazer uma pergunta simples: como é que você funciona? Veja que interessante, quando vamos ao médico, com suas ferramentas, conhecimento da fisiologia, anatomia e outras questões mais, ele sabe dizer se estamos funcionando bem ou mal. Quando nos relacionamos com outras pessoas, algumas vezes alertamos sobre o que gostamos ou não, o que aceitamos ou não, assim acabamos, até certo ponto, dando uma ideia de como funcionamos. Quando vamos preparar um almoço ou até mesmo comer em um restaurante escolhemos os alimentos de acordo com aquilo que nos faz bem. Quando compramos um shampoo também temos o cuidado de escolher um que possa tratar bem nossos cabelos, não deixar caspa, ponta dupla, ressecado. Todas estas questões mostram que num nível bem básico boa parte das pessoas tem que se conhecer um mínimo possível para viver bem.


Mas, em muitos casos, boa parte das pessoas não se conhece a níveis mais profundos que os colocados acima. Quando pergunto pelo seu funcionamento estou pensando um pouco além. Pense no seguinte: quais pensamentos lhe fazem bem, ou seja, no seu dia-a-dia quais os pensamentos que você deveria evitar, por exemplo. Essas questões levaram algumas pessoas com quem trabalho como terapeuta a fazerem um pedido: “Bem que você poderia elaborar um manual de como funcionamos, assim poderíamos consultar as vezes que tivermos dúvidas a respeito de nós mesmos”. O pedido é interessante. A maior parte das pessoas entende que o funcionamento de si próprio se dá de maneira automática, sem que seja necessário fazer nada. No entanto, desde que acordamos até a hora que vamos nos deitar realizamos diversas atividades e muitas delas vão contra o nosso funcionamento.

Para que possamos respeitar o nosso funcionamento existem algumas coisas que podem ser levadas em conta. Vamos começar pelo bem estar subjetivo, quanto que você se sente bem com você mesmo ao longo do seu dia. Outra questão que pode ser observada é se o seu bem estar subjetivo pode ser visto exteriormente, se as pessoas com quem você passa o seu dia veem que você está bem. Também é interessante observar se quando você está bem as pessoas ao seu redor também estão bem. Uma recomendação: estar bem consigo mesmo machucando quem está ao seu redor não vale, estar bem consigo mesmo também pode fazer as pessoas ao seu redor estarem bem. Existem muitas outras questões que que poderiam ser observadas para saber se você está bem, mas estas já servem como início.

A partir do momento em que você começa a se observar, provavelmente vai perceber diversas pequenas coisas que antes passavam despercebidas. Algumas delas boas, outras podem ser que nem tanto. Quando isso acontecer, não fique pensando mal de si mesmo, mas veja como algo a ser melhorado. Ao se perceber procure ver como é que você funciona para cada atividade. Quando chega em casa e conversa com a esposa, o assunto lhe faz bem? Se não faz bem, troque de assunto, fale sobre outra coisa. Não estou falando de assuntos necessários, mas de assuntos fúteis, como a briga interminável das mulheres na novela. Quando estiver pensando, pense no que está pensando e veja se seus pensamentos lhe fazem bem.

Ao olhar para você mesmo durante alguns dias muitas questões podem aparecer e serem trabalhadas. Muitas delas, com um pouco de paciência consigo mesmo, se pode melhorar sozinho. Quando tiver dificuldade para fazer, peça ajuda: pode ser a esposa, esposo, amigo, uma boa leitura, filme. Caso seja necessário, existem profissionais que podem lhe ajudar. Elaborar um manual de si mesmo é um caminho para se viver melhor.
Por: Rosemiro A. Sefstrom

4 Pilares da Educação: 2º APRENDER A FAZER (RUBEM ALVES)

domingo, 15 de junho de 2014

NÓS PODEMOS AFIRMAR QUE TODAS AS RELIGIÕES SÃO CAMINHOS DA SALVAÇÃO?

Pluralismo e tolerância são palavras bastante populares na cultura atual. Mesmo dentro de ambientes considerados dogmáticos, como a religião, os dois conceitos têm adquirido enorme espaço, a ponto de alguns ensinamentos catequéticos se tornarem, de certo modo, assuntos "politicamente incorretos". É o caso do tema da salvação. Numa época em que domina o lobby globalista a favor do relativismo religioso, "ter uma fé clara, segundo o Credo da Igreja" - como denunciava o Cardeal Joseph Ratzinger, em 2005 - "muitas vezes é classificado como fundamentalismo."

Para a elite que deseja um "governo global", o pluralismo religioso tem grande importância. Trata-se de uma verdadeira agenda ideológica. Unificando todos os credos numa superreligião, cria-se a - errônea - sensação de que qualquer uma delas é válida para a salvação, até a mais absurda. A tática consiste na elaboração de um neopaganismo, no qual não exista nenhuma autoridade planetária que não a política. Obviamente, a doutrina católica, sobretudo a do papado, torna-se uma pedra de tropeço para estes intentos, uma vez que o ensinamento sobre a necessidade da Igreja para a salvação é um artigo irrenunciável da fé cristã.

O Magistério da Igreja, preocupado com a onda relativista, procurou esclarecer esses assuntos em várias ocasiões. O Verbo de Deus se encarnou uma única vez, somente Nele se encontra a plenitude da revelação, os meios necessários para o autêntico encontro com Deus. É através de Jesus Cristo e de sua continuação histórica na terra, ou seja, a Igreja Católica que o homem pode ser salvo. Lembrando a Declaração Dominus Iesus, "como existe um só Cristo, também existe um só seu Corpo e uma só sua Esposa" e não há outro nome debaixo do céu pelo qual a humanidade possa alcançar a salvação.

Em 2001, a Congregação para a Doutrina da fé, em nota sobre o livro "Para uma teologia cristã do pluralismo religioso", do padre jesuíta Jacques Dupuis, elencou cinco pontos básicos e inegociáveis da doutrina católica, principalmente na temática da salvação. A Santa Sé visava corrigir certos equívocos do padre Dupuis e, ao mesmo tempo, ajudar os católicos a praticarem uma reta reflexão acerca do pluralismo e da tolerância religiosa.

O primeiro ponto aborda a doutrina de Jesus Cristo como "o único e universal mediador da salvação de toda a humanidade". A notificação rechaça a tese de "uma ação salvífica do Verbo" alheia à Pessoa de Cristo, ou seja, "independentemente da humanidade do Verbo encarnado". Com isso, a Congregação reafirma a supremacia do cristianismo sobre todas as outras religiões. Somente na fé cristã Deus se encarnou, sofreu e morreu na cruz pela humanidade. A ideia segundo a qual Deus teria se encarnado em todas as religiões e que Jesus seria apenas mais uma dessas encarnações é simplesmente absurda, sem qualquer respaldo teológico ou bíblico.

A notificação destaca também a unicidade e a plenitude da revelação em Jesus Cristo. É um dever de todo cristão crer firmemente na mediação de Cristo, no cumprimento e na plenitude da revelação Nele e através Dele, sendo "contrário à fé da Igreja" afirmá-la "limitada, incompleta e imperfeita". Não há uma única verdade de fé necessária à salvação que não esteja contida na doutrina cristã. E embora existam verdades nas outras religiões, todas elas, de uma maneira ou de outra, derivam "em última análise da mediação fontal de Jesus Cristo".

Exatamente por isso, a Sagrada Congregação, no terceiro ponto, recorda a capacidade do Espírito Santo de agir "de maneira salvífica tanto nos cristãos como nos não-cristãos". Todavia, a mesma notificação ensina ser "contrário à fé católica pensar que a ação salvífica do Espírito Santo possa estender-se para além da única e universal economia salvífica do Verbo encarnado". Isso quer dizer que toda ação do Espírito Santo tem por meio a Igreja - sacramento universal da salvação -, mesmo entre os não-cristãos.

O quarto pilar recorda a vocação universal do homem. Toda a humanidade foi orientada para Jesus: existe uma vocação específica dos seres humanos de todos os tempos, de todos os lugares da história para a Igreja de Cristo. Com isso, a Congregação afirma que "também os seguidores das outras religiões estão orientados para a Igreja e todos são chamados a fazer parte dela", não sendo possível "considerar as várias religiões do mundo como vias complementares à Igreja em ordem à salvação".

Finalmente, a notificação da Congregação para a doutrina da fé responde à pergunta central: "nós podemos afirmar que todas as religiões são caminhos de salvação?" O dicastério esclarece que se por um lado "é legítimo defender que o Espírito Santo realiza a salvação nos não-cristãos também mediante os elementos de verdade e de bondade presentes nas várias religiões", por outro "não tem qualquer fundamento na teologia católica considerar estas religiões, enquanto tais, caminhos de salvação, até porque nelas existem lacunas, insuficiências e erros, (16) que dizem respeito a verdades fundamentais sobre Deus, o homem e o mundo". As verdades contidas nestas religiões contribuem para a salvação dos membros enquanto verdades ligadas à Pessoa de Jesus Cristo.

Com este ensinamento a Igreja não quer dificultar o diálogo interreligioso, tampouco insuflar a intolerância. Para que exista um saudável diálogo é necessário que ambas as partes sejam sinceras e conscientes de suas identidades. Caso contrário, corre-se o risco de edificar a casa sobre a areia da mentira, condenando-a, futuramente, ao desmoronamento. Foi o que explicou o próprio Cardeal Ratzinger a propósito das polêmicas relacionadas à Declaração Dominus Iesus.

A missão da Igreja é universal, pois corresponde ao chamado do Mestre: "ide pelo mundo e fazei discípulos entre todas as nações" (Mt 28, 19). A salvação dos homens só acontece por meio de Jesus Cristo, na sua continuação histórica nesta terra: a Igreja Católica.
Por: Padra Paulo Ricardo

Referências

"EU NÃO QUERIA QUE FOSSE ASSIM"

Há muito tempo, quando comecei minha caminhada como terapeuta, um grande mestre contou-me uma história. Disse ele: “Há muito tempo, quando comecei minhas pesquisas para elaborar a Filosofia Clinica atendi um homem que procurou por meu auxílio. No atendimento fiz o que era possível ter feito, dada a história de vida da pessoa e suas implicações práticas. Depois de alguns atendimentos, num certo dia, recebo a notícia de que a pessoa que atendia havia se suicidado. Fiquei desolado, pensei em parar com tudo o que estava fazendo, mas antes disso conversei com um homem que considero muito sábio. Este homem, ouviu atentamente tudo o que lhe contei e ao final sentenciou: “Você não acha muita arrogância decidir até quando o outro deve viver?” Essa versão está um pouco distante da original, até mesmo por uma questão de ética.


Guardei profundamente essas palavras e diariamente, ao atender cada pessoa lembro que acima de tudo, a decisão cabe à pessoa. Esta semana um colega me contava em uma conversa que seu casamento estava ruim, seu filho não queria mais morar com o casal, havia decidido ir morar com os avós. Esse colega sentou com o filho e ponderou o quanto seria importante ele permanecer em casa, convivendo com a família. Depois de ouvir atentamente sua história ponderei: “Para quem é importante que ele permaneça em casa?” A pessoa desmoronou, disse que senão fosse o filho, provavelmente o casamento estaria terminado. O filho era o único laço que restara entre ele e sua esposa. Segundo ele: “Não queria que fosse assim”.

O que este pai queria para o filho não tinha nada a ver com o filho, mas com o que ele queria para si. O mesmo aconteceu com o terapeuta, queria que a pessoa a qual atendia continuasse vivendo, mas não era bem assim que seu partilhante entendia. Algumas coisas, para não dizer a maioria das coisas que nos rodeiam funcionam independentes de nossa vontade. Um dia, caso você levante mais tarde, vai perceber que o sol nasceu, que o ônibus passou, que os passarinhos cantaram. O mundo e tudo o mais que há nele é modificado pelo simples fato de existirmos, mas nem por isso ele fará o que queremos. 

Querer que uma determinada escolha seja diferente diz respeito às buscas, o que eu quero. Mas, nossas buscas são nossas, por mais que entenda ser minha a melhor ideia, o melhor caminho. O que eu busco pode ser totalmente diferente do que a outra pessoa busca. Há meninas que se casam por que tem que se casar, não porque tem interseção com seu companheiro. Quando percebem que isso é uma grande bobagem se separam, não queriam que fosse assim, mas foi.

Nossas escolhas afetam-nos, mas as escolhas de outras pessoas também podem nos afetar. Isso dependerá do quanto colocamos na mão do outro o nosso poder de direcionar a nossa própria vida. O que queremos que seja pode ser só para nós, é preciso entender que o outro pode querer diferente.
Por: Rosemiro A. Sefstrom Do site: http://rosemirosefstrom.blogspot.com.br/


sábado, 14 de junho de 2014

FOCO

Durante a vida cada um de nós presta atenção em algumas coisas, assim como deixa de lado outras tantas. Ao prestar atenção em alguma coisa específica diz-se em Filosofia Clínica que a pessoa está indo Em Direção ao Termo Singular, ou seja, de tudo o que ela vive está prestando atenção em algo específico. Outro movimento que acontece é o de abertura do leque existencial, que acontece quando a pessoa abre o foco e vai Em Direção aos Termos Universais. Esse movimento leva a pessoa de um ponto específico em direção ao todo. Tanto o foco específico quando o movimento em direção aos universais são comuns no dia-a-dia, porém, mal utilizados por muitas pessoas.


Uma das muitas formas de se utilizar Em Direção ao Termo Singular é quando se tem problemas. Há pessoas que quando tem problemas concentram toda a sua atenção no problema criando um hiperfoco, ou seja, tudo desaparece e fica só o que está incomodando. Por exemplo: você sai pela manhã e lembra que abril é o mês do imposto de renda. Você vai ao contador, ele lhe apresenta uma soma razoável a ser paga até o final do mês. A partir desse momento o único assunto que ronda sua cabeça é o imposto de renda, você não come direito, não dorme direito, não se relaciona direito, etc.

Já o uso de Em Direção aos Termos Universais pode acontecer num momento de discussão com a esposa. O casamento já não anda aquelas coisas e em algum ponto do mês a esposa diz que não dá mais. Digamos que você associe isso ao fato de que seu assunto é exclusivamente imposto de renda. Você diz a ela que vai parar falar sobre o assunto, que fará cara de paisagem e falará sobre outras coisas. Mas ela começa a dizer que essa é apenas a gota d’água, que ela não se sente mais amada, que não tem sua atenção, que a sexualidade ficou de lado, que não tem mais conversas de qualidade. Enquanto você vai Em Direção ao Termo Singular ela caminha Em Direção ao Termo Universal.

Alguns de nossos grandes mestres dizem que onde estiver nosso foco aí estará nossa grande felicidade assim como o nosso inferno. Como é que é isso? Para onde está voltada sua atenção? Caso você tenha uma atenção focal no seu casamento dali podem vir todas as alegrias, assim como podem vir também todas as suas tristezas. A fixação do foco pode lhe alienar, como uma pessoa que se tranca dentro de casa e sai depois de vinte anos. Durante este tempo o foco foi só a casa, dali vinham as alegrias, mas também as tristezas.

Pessoas que caminham em direção aos universais têm como característica observar o todo, mesmo que vejam as partes o todo é que tem relevância. A questão é que algumas pessoas têm uma tendência a ver as coisas ruins da vida, sendo que para elas o que há de bom são pequenos pontos, enquanto a vida é um mar de lágrimas. Outras aprenderam a ver as coisas boas da vida e os problemas que elas encontram na caminhada são pequenos pontos escuros na grande foto.

Um caminho interessante a ser feito por muitas pessoas é aprender a utilizar foco para o que precisa de foco e universais para o que precisa ser entendido no todo. Seria assim: supomos que você saia de casa, vá até o contador e lá diante do contador toda sua atenção se volte ao Imposto de Renda, mas saindo de lá sua atenção volte novamente ao todo, ou seja, ao carro que está no estacionamento, às compras que sua mulher pediu do supermercado, ao amigo que pediu uma visita. Não recomendo usar uma lupa para olhar uma paisagem, mas é uma boa pedida para ver uma formiga mais de perto.
Por: Rosemiro A. Sefstrom Do site: http://rosemirosefstrom.blogspot.com.br/


sexta-feira, 13 de junho de 2014

FORA DE MIM!

Diariamente estamos em relação com pessoas, objetos, sentimentos, pensamentos, sensações. Nossas relações podem, em certa medida, mostrar como estamos em relação ao mundo e alguns dos motivos pelos quais sofremos. Relacionar-se é estar em contato, ou seja, criar uma ponte que me liga ao outro, ao diferente, àquilo que não sou eu. Essa relação pode ocorrer em caráter positivo, negativo, confuso ou indefnido. O recomendável é o positivo, mas algumas relações só serão produtivas se forem negativas. Este, no entanto, não é o foco do que estamos trabalhando neste escrito. O que interessa aqui são as formas como criamos essas pontes em relação ao outro.


Uma forma de se construir uma relação com o outro é pela necessidade, ou seja, a falta me leva a buscar o outro. Nesta relação eu me coloco em direção ao outro porque preciso dele, como o corpo que precisa de alimento, e essa necessidade só passará quando for saciada. Este tipo de relação, a necessidade, torna-me dependente do outro na medida em que preciso dele. Precisar é inevitavelmente estar amarrado, fadado a viver na dependência daquilo que preciso e a sua ausência terá consequências. Esta relação de necessidade torna tanto o sujeito quanto o objeto prisioneiros de sua condição, é uma relação de causa e efeito.

Outro tipo de relação é a de propriedade, muito comum nos dias de hoje, onde eu me relaciono com as coisas porque elas me pertencem. Aqui a relação se dá no nível de pertença, sendo assim, a minha ponte com o outro é a minha propriedade sobre ele: eu sou aquele a quem o objeto pertence. Pode-se pensar no caso dos relacionamentos, onde a menina ou o menino diz que o outro é “seu” namorado ou namorada, assim como a “minha” esposa e assim por diante. A relação de propriedade reduz o objeto a minha vontade, é meu, faço o que me for conveniente, perigosa esta ideia, mas fora da ética ela anda solta. 

Há uma forma de relação da qual se fala pouco, mas que a ciênca tem feito de tudo para alcançar: a relação de dominação. Diferente da relação de pertença onde o outro é meu, agora eu domino, posso não ter propriedade, mas tenho controle. Forma estranha de se criar uma ponte com o outro, como se fosse realmente possível dominar pensamentos, emoções, etc. Mas mesmo sendo um tipo de relação pouco falada é por ela que muitos relacionamentos afetivos se dão, onde o marido controla a esposa, os filhos. Esse tipo de relação é quase o “pátrio poder” que se vivia na Grécia Antiga, mas é uma relação que dá certa segurança a quem domina. Uma ponte em que um lado está acima do outro, onde o dominador tem o controle, uma relação em que pode haver oprimidos. Algumas pessoas gostam de ser controladas, precisam disso, mas será que é para todos assim?

Nos dias atuais, depois de centenas de anos de escravidão e discriminação, o discurso é que temos de ter relações de igualdade, afinal somos todos iguais. É um discurso amplamente estranho, uma vez que me relaciono com o outro como me relaciono comigo. Então, o outro é nada mais do que um eu copiado em outro corpo, é o mesmo eu vivendo numa roupagem nova, o eu que não está em mim. Esse tipo de relação é a mais perigosa, visto que algumas pessoas não se tratam muito bem, não se cuidam. Apenas como iustração, se eu fumo e acho isso bom, então isso é bom para todos, porque somos todos iguais.

O melhor ou a melhor forma de construir uma relação é entender que o outro, por mais que seja como eu, é ainda diferente. É justamente na igualdade que somos tão difentes, somo seres de diferença. Só é possível acessar ao outro realmente se ele se deixar vir a mim, é na relação com o outro que chego a ele, pela vontade dele e não pela minha. É o outro quem se doa a mim e não eu que entro na realidade dele.
Por: Rosemiro A. Sefstrom Do site: http://rosemirosefstrom.blogspot.com.br/


quinta-feira, 12 de junho de 2014

IDEIAS E IDEAIS

Há um termo que costumeiramente pode ser confundido em clínica. Quando uma pessoa conta sua história, parte do relato dela pode ser dar a partir daquilo que ela pensa, imagina, reflete, ou seja, dados que existem apenas nas suas ideias. Outro conteúdo que também pode estar presente na história de vida são os encaminhamentos existenciais, ou seja, suas buscas. Aparentemente são muito diferentes, mas podem se apresentar de maneira muito parecida e enganar a pessoa que ouve. No dia a dia, pode ser confundido quando uma pessoa apresenta ideias que mostrem uma realidade diferente da que está posta. Quem apresenta essa ideia fica conhecido como quem tem o Ideal de realizar aquilo que prega.


O primeiro termo apresentado foi ideia, mas o que seria uma ideia para a filosofia? O termo ideia, segundo livros e sites, pode ser usado como o sinônimo de conceito ou como uma expressão que denuncia uma intencionalidade. Em sua raiz Grega a palavra ideia vem de eidos e quer dizer imagem, essa palavra despertou ainda uma controvérsia entre Platão e Aristóteles e por fim gerou o conceito de representação. Fazendo um pequeno resumo, pode-se dizer então que a ideia é uma imagem de algo real, isso gera a minha representação. Pode-se dizer isso de várias maneiras, mas acredito que essa seja a que mais se identifica com a Filosofia Clínica.

O outro termo é ideal, essa palavra que significa aquilo que se aspira, é uma perfeição que o espírito imagina, mas não pode alcançar, ou ainda, aquilo que só existe na ideia: imaginário. Um ideal pode ser definido como uma ideia perfeita não realizável. A pessoa pode ao longo da vida imaginar o casamento perfeito, dizer como ele seria, mas nunca alcançá-lo. O fato de não alcançar o casamento ideal, entre outras coisas, pode denunciar que este casamento é tratado de forma ideal, ou seja, não atingível. A pessoa coloca o casamento como um horizonte, de modo que, quanto mais ela anda, mais ele se afasta dela, ela jamais chegará a viver o casamento ideal.

Mas há uma diferença entre a ideia e o ideal: dentro das ideias pode não haver ideais. No entanto, sempre haverá ideias dentro dos ideais, uma vez que sempre que a pessoa elaborar uma imagem mental daquilo que tem por ideal está elaborando uma ideia. Agora que temos clara a diferença entre ideia e ideal, vamos diferenciar um ideal de uma busca. Uma busca é algo que a pessoa tem como objetivo, ou seja, aquilo que ela quer. Todo o querer é tido como uma busca, desde o querer mais próximo até os mais distantes, sabendo que alguns deles são relevantes e outros nem tanto na história de vida da pessoa.

Quais são seus ideias? Onde eles estão? Para muitas pessoas, mesmo tendo em suas mentes seus ideais, elas não buscam. Você deve conhecer algum profissional que diga como seria o profissional perfeito em sua área, mas que ele mesmo não tem a menor intenção de ser esse profissional. Assim como algumas pessoas também sabem como seria o mundo perfeito, mas elas não têm a menor intenção, ou seja, não está nas suas buscas as práticas que fariam deste mundo um lugar melhor.

Por isso, cuidado com pessoas com lindos ideais, estas podem ter apenas os ideais e não fazerem aquilo que é necessário para caminhar nesta direção. Para as empresas isso é ainda mais complicado, pois estas pessoas apresentam ideais lindos, a empresa ficará perfeita. No entanto, todas as práticas mostram que suas buscas estão em outra direção. Na vida, seus ideais são suas buscas ou apenas ideias que vagueiam e são ditas da boca para fora?
Por: Rosemiro A. Sefstrom Do site: http://rosemirosefstrom.blogspot.com.br/


terça-feira, 10 de junho de 2014

EU EM UMA FRASE!

Minha mãe dizia: “Abra o olho e ache o ladrão”. Essa é uma frase que se encontra no filme Ray, obra que conta a história de vida de um dos maiores nomes da música mundial. Ray Charles faleceu em 2004 quando o filme que conta sua história estava quase pronto. A citação de sua mãe é por apontar o quanto o que a mãe lhe disse tinha peso na sua forma de pensar e de ver o mundo. Essa influência que Charles recebeu de sua mãe fica expressa em uma frase, mas para ele é muito mais do que isso, sua mãe é a eterna companheira. Em cada parte de sua vida foi acompanhado e encaminhado por aquilo que sua mãe disse e não apenas por uma ou duas frases. Uma frase, duas frases de sua mãe se tornariam vazias ao longo do tempo e poderiam ser interpretadas de qualquer forma, sem compromisso com o real significado do dito.


A questão que levanto através do filme Ray é o quanto conhecemos de alguém para tomarmos o que ele diz como verdade. No caso do mundo acadêmico, ainda mais forte, de retirar de um autor com cinco, seis, sete, dezenas de obras apenas uma frase e dizer: “Com essa frase resumimos o pensamento do autor tal”. Esse resumo é roubar, afanar, retirar do autor tudo aquilo pelo qual ele escreveu suas obras. Provavelmente, isso falo a partir de mim, se você ler esse artigo e tentar resumir, muito do que está escrito se perderá. Mas, se você tentar explicar com suas palavras o que está escrito, dessa forma você se apropria do que está escrito e acrescenta o seu modo. Resumir um autor é como editar de suas obras apenas aquilo que se entende resumir o seu pensamento.

Se tentássemos resumir tudo o que você viveu até aqui em uma frase, o que diria? Diga, pode ser só para você mesmo. Agora, pense um tanto a respeito, veja se não é uma pretensão gigantesca resumir uma vida de trabalho, estudo, relacionamento, conhecimento e outras tantas coisas em algumas poucas palavras. Piorando um pouco mais, imagine agora que você pega essa frase e a coloca na sua sala, para que cada um quando entre veja lá a frase que resume sua vida. Há pessoas, e são muitas, que reduzirão tudo o que você fez a isso, uma frase. Sócrates deve estar se revirando no túmulo quando dizem: “Só sei que nada sei”. Por que ele disse isso? A que se referia?

Dizer uma frase e fazer dela um bordão, um jargão, uma linha que ficará nos anais da história não faz dela o resumo de tudo o que um pensador disse. Imagine que a frase de sua parede seja: “Nasci, vivi e morri por aqueles que amo”. Bom, por essa frase pode-se dizer que tudo o que fez na vida foi pelos outros, mas será que é mesmo isso que quer dizer ou fui eu quem entendeu assim? E muitas vezes o que eu entendo não é o que o autor disse, ele pode ter dito outra coisa, mas eu, por ter visto apenas uma pequena frase, entendi errado.

Conhecer a vida de um autor, ler suas obras, estudar um pouco sobre sua cultura faz com que se possa entender um pouco melhor aquilo que ele disse. Um autor quando escreve, mesmo que uma frase, ele nada quer dizer, ele disse. Por isso resumir o pensamento de um autor no que ele “quis” dizer em apenas uma frase faz com que tudo o que ele disse se torne vão.
Por: Rosemiro A. Sefstrom Do site: http://rosemirosefstrom.blogspot.com.br/


segunda-feira, 9 de junho de 2014

PSYCHÉ

A palavra “Psyché” em grego ou psique em qualquer um dos idiomas em que é utilizada se refere à alma. Um belo mito está por trás deste nome: a história de amor entre Éros e Psyché, contada pelo romano Apuleio no livro “O Asno de Ouro”. Da forma grega o mito procurava explicar a realidade e orientar as práticas das pessoas de acordo com a vontade de seus deuses. Atualmente, após mais de dois mil anos a psique se dissociou da alma, hoje a alma é da religião e a psique é da ciência. A alma platônica vinha pronta, acabada e chegada ao corpo tinha como função subjugá-lo para que o homem pudesse relembrar tudo o que esqueceu no processo vindo da alma para o corpo. Seríamos então a junção de dois elementos, o corpo e a alma.


Não muito diferente daquela época ainda hoje somos seres amplamente mitológicos, ainda utilizamos figuras fantasiosas para explicar o que a ciência não explica. Entre estes “mitos” existe um muito popular em nossa região: a benzedura. É algo interessante, basta parar por meia hora em uma roda de conversa de pessoas de pouco mais de vinte anos para ouvir histórias diversas de pessoas que foram curadas pela benzedura. Em alguns lugares dizem que a benzedura vai contra a religião, e é justamente o contrário: benzer é a atividade de um rezador, alguém que lida com o que é bento, com o que é de Deus. Como explicar que uma senhora, com pouca ou nenhuma educação consiga promover verdadeiros “milagres” com a sua oração em favor de alguém? Como é possível que um apelo à alma cure as doenças do corpo?

Algumas pessoas têm o que chamam de dom da revelação, que seria a capacidade de executar certas atitudes com base na fé. Outros têm o dom da Cura, da Palavra, enfim são dons por meio dos quais as pessoas agem em nome de seu deus. Estas atitudes são utilizadas também como forma de mostrar a presença e a ação de Deus entre as pessoas, são os Dons do Espírito Santo. Também existem as marcas, chamadas de “chagas da cruz”, que são as marcas que a crucificação deixou em Jesus, sendo que algumas pessoas recebem estas marcas pela sua ligação com Cristo. As chagas podem ser vistas em filmes como “Estigmata”, onde uma mulher recebe as marcas da cruz.

Fenômenos sem explicação, vivências singulares e ainda sem explicação são vistas em Filosofia Clínica como um Tópico chamado de Singularidade Existencial. Para os filósofos, benzer, dons, marcas da cruz, ver aura, telecinese, enfim, todo tipo de vivência singular não comum é vista como algo a ser estudado e não expurgado. Essa postura diante do novo é uma postura de respeito, de cuidado, de entender que ainda não temos explicação para tudo. A Filosofia Clínica entende que cada um é singular, cada um têm vivências propriamente de tudo o que acontece neste mundo. Estar diante do outro entendendo-o como um fenômeno único, singular é entender que ele pode viver algo somente seu, sem ser doente ou normal, apenas ser singular.

No entanto, ao longo da vida aprendemos o mito da normalidade, o mito de que existe um jeito certo de ser, em detrimento de um jeito errado. Quem vive na mitologia do normal, faz o que é normal, se comporta como o normal, sendo que é alguém ou alguma instituição que diz o que é normal, assim como também diz o que é doente. Alguns já perceberam que vivemos uma época onde todos estão em maior ou menor grau doentes, ou seja, em maior ou menor grau não conseguem ser “normais”. A alma, diferente do corpo, é onde podemos viver o fenômeno da singularidade, podemos ser diferentes de todos e qualquer um. Ser singular é assumir que posso não ser o que atribuem por normal, mas sou do meu jeito.
Por: Rosemiro A. Sefstrom Do site: http://rosemirosefstrom.blogspot.com.br/


sexta-feira, 6 de junho de 2014

EU COMIGO!

Há alguns termos em Filosofia Clínica que são corriqueiros. Um deles é “Estrutura de Pensamento”, geralmente tratada só por EP. Esse termo significa a estrutura construída pelos dados que retiramos da história de vida da pessoa. Todo o conteúdo de vida da pessoa é alocado em trinta tópicos, os quais se combinam e derivam criando uma estrutura única. Dos trinta tópicos, um deles chama-se Interseção de EPs, o qual mostra ao filósofo que escuta a história de vida da pessoa o modo como ela se conecta a outra pessoa. Essa conexão pode se dar de diversas formas, mas basicamente tem quatro qualidades, pode ser: positiva, negativa, variável ou confusa. A interseção recomendável para um trabalho terapêutico entre o partilhante e o filósofo é a positiva, mas há casos em que as outras qualidades também podem acontecer.


Quando estabeleço uma interseção de EP com outra pessoa, coloco uma série de conteúdos meus na relação com o outro, como por exemplo, uma mulher que começa um relacionamento porque está apaixonada pelo homem. Ela coloca suas emoções em contato com ele, além de muitos outros conteúdos, mas o que liga ela ao homem é o amor. Ele, por sua vez percebe nela uma mulher bonita e se liga a ela pela beleza dela. Veja que interessante: um coloca amor e outro senso estético. Não há nada de mais, se para ela e para ele a relação está de acordo, tudo bem. Mas nem sempre a interseção que estabelecemos é com o outro, algumas vezes essa interseção se dá com a gente mesmo.

Quando eu sou meu próprio companheiro, como sou? Há alguns amigos que gostam muito de caminhar e geralmente ouço a frase: “É no caminho que a gente se encontra”. Quando dizem essa frase, para mim ao menos, estão dizendo que é ao longo da solidão do caminho que entram em contato consigo mesmos. Algumas pessoas estão tão voltadas para o mundo externo que deixaram de si mesmas e não sabem mais como voltar. Se encontrar não é algo necessariamente bom, algumas pessoas já se encontraram e descobriram que são péssimas companhias para si mesmas. São pessoas que quando estão sozinhas se dão filmes ruins, livros ruins, pensamentos ruins, emoções ruins, enfim, são pessoas que se dão a si mesmas o que não dariam a seu pior inimigo.

É interessante constatar que muitas dessas pessoas procuram terapia sem saber porque sempre que estão sozinhas sua vida vai mal. Não entendem o motivo de sua vida ficar tão ruim nos momentos em que estão sós. Em muitos casos o que ocorre é que estas pessoas não são boas em cuidar, dar carinho, ter paciência e orientar a si mesmas. Esse comportamento de tratar mal a si mesmo faz com que tenham que se afastar de si para que não se machuquem. Não tem nada de mais, algumas pessoas descobriram que são péssimos companheiros para si mesmos, por isso buscam companhia em outras pessoas.

Quando estivermos sozinhos com nós mesmos, temos a oportunidade de nos dar o que cultivamos de melhor. Quando estou só, posso me dar aquilo que mais gosto, por exemplo bons pensamentos. Também posso me dar uma boa conversa comigo mesmo, aquela conversar de amigo, companheiro, que entende que a jornada da vida não é uma linha reta. Um companheiro, que sabe que o tempo e a beleza passam, mas que se continuar se acompanhando e cultivando aquilo que tem de melhor pode ficar muito bem. Não há uma receita, mas uma recomendação: procure ser um bom companheiro para si mesmo, nem sempre estaremos acompanhados na vida.
Por: Rosemiro A. Sefstrom Do site: http://rosemirosefstrom.blogspot.com.br/


quinta-feira, 5 de junho de 2014

LEI DA ATRAÇÃO

Não são poucas as vezes que ouvi perguntas sobre mentalização, pessoas querendo saber o que é e como ela funciona. Por detrás desta técnica existe o que chamam de Lei da Atração, ou seja, aquilo que você pensa é o que você atrai. Segundo alguns, a teoria vai ainda mais longe: aquilo que você mentaliza se materializa. Dizem ainda que as pessoas de um modo geral não melhoram de vida porque não colocam isso em suas mentes, não colocam isso como futuro. Sendo assim, se penso que estou doente ou ficando doente, logo ficarei doente. Alguns podem dizer que não é tão simples assim, concordo. Mas há ainda a questão: e as pessoas que fazem mentalizações e nada acontece? Segundo os pregadores destas teorias, a pessoa está fazendo errado.

A Lei da Atração encontra seus opositores há muito tempo, entre as críticas à teoria, duas são interessantes e relevantes. A primeira crítica diz respeito a cientificidade do assunto: não há na física nada que possa provar que realmente o pensamento possa atrair algo, quanto mais materializar. Sendo assim, por falta de cientificidade a comunidade científica desacredita na Lei da Atração. Outra crítica, não menos verdadeira, é a de que este tipo de pensamento pode levar quem mentaliza a culpar a vítima. Como? É a história de pessoas que outorgam culpa aos outros, ou seja, se eu mentalizo só depende de mim, mas se não der certo outras pessoas receberão a culpa.

A Lei da Atração existe e pode ser provada cientificamente no que diz respeito à eletricidade e ao magnetismo. Ali sim, a lei realmente é uma lei. Pois lei é um processo científico que foi testado e comprovado como infalível, como a lei da gravidade. Até o momento não sabemos de alguém que conseguiu desfazer a gravidade. Só que, mesmo assim, ainda fica aquele ponto de interrogação sobre o fato do pensamento atrair ou não coisas boas e ruins.

Das várias formas de se trabalhar a questão do pensamento coloco duas, as mais comuns. O pensamento por si só é apenas pensamento de alguma coisa, mas algumas pessoas aprenderam a ligar o pensamento ao corpo, ou seja, o que elas pensam se reflete no corpo. Nestes casos, a força do pensamento está intimamente ligada ao corpo, se elas estiverem mal nos pensamentos provavelmente o corpo também estará mal. Este mal se manifesta de diversas formas, um deles é a afta na boca (alguns empresários devem saber do que estou falando). Há ainda a famosa gastrite, quando a pessoa está com a cabeça muito atribulada é o estômago o primeiro a dar o sinal. Para isto a explicação é muito simples: chama-se somatização, algumas pessoas conseguem fazer isto, outras não.

Outra maneira de se tratar disto é pela direção em que o pensamento está, pelos conteúdos que tenho no meu pensamento. Cada um durante o dia pensa em muitas coisas, alguns mais, outros menos. Mas, de qualquer forma o pensamento é pensamento de alguma coisa. Assim, quando eu passo o dia pensando nas minhas dívidas, no que tenho para pagar e não me concentro em outras coisas que tem o meu dia, provavelmente minhas dividas irão aparecer bem mais que todo o resto. É assim também com um namoro, o menino começa o relacionamento e logo pensa que não vai dar certo, está sempre tenso porque sabe que não vai dar certo. O seu pensamento, não por ser negativo, mas por tirar sua atenção ao momento faz com que ele torne-se uma péssima companhia e aí sim, pode dar tudo errado.

O pensamento positivo, ou seja, em torno de coisas que se quer, se deseja, são sim bons e deveriam ser cultivados. Ao cultivar bons pensamentos provavelmente terei sempre boas companhias, bons momentos. Ao pensar estou vivendo as situações, assim, quando o meu pensamento se colocar numa certa direção, antes mesmo de chegar lá já estarei vivendo o acontecimento, mesmo que nunca se torne material.
Por: Rosemiro A. Sefstrom Do site: http://rosemirosefstrom.blogspot.com.br/