quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Desejo de sucesso!

Desejo de sucesso! Doutor José Nazar Você quer o sucesso? Pergunte-se, então, até que ponto está disposto a se sacrificar por ele. Trata-se de um querer verdadeiro, decidido? Pode ser que sim, pode ser que não. Pois você pode dizer a si mesmo que o deseja, mas não se dispõe a pagar por ele, pagar o preço justo de uma possível conquista. O sucesso requer de cada um disciplina e esforços. Fundamentalmente, exige de você constantes questionamentos. São muitas renúncias que se interpõem no meio do caminho. Como construir o edifício do sucesso, como mantê-lo sem se atrapalhar com ele? Mesmo porque, o caminho em direção ao sucesso, é o de uma obra que carrega consigo o estilo particular de cada um. Não se trata de ganhar dinheiro ou ficar rico. Isso pode ser uma consequência. O que importa é o seu nome atrelado à uma realização que produz uma marca diferencial. O sucesso em sua vida depende de um desejo. Que lugar você ocupou no desejo de seus pais, de seus antepassados? De quê maneira você vai lidar com o que herdou? Como você vai responder com dignidade ao desejo que o habita? Isso não é qualquer coisa, pois requer um movimento vivo de uma insistência tenaz, específica. O pai ou a mãe podem ter faltado como presença física, mas o lugar do desejo já estava colocado em sua origem. Bem como um outro pode ter dado algum suporte para que ele vigorasse. Muitos reagem mal diante de uma falta, gozam de pobres coitados, tornam-se vítimas eternas, necessitando de ajuda. Outros, reagem de uma maneira distinta, tomam a falta como causa de seu desejo, insistem num movimento de progresso e respondem dizendo não à posição de vitimização. O vazio da falta, o som mudo de uma perda servem de fonte de ensinamentos. A vida é uma eterna escola para aqueles que desejam sucesso! Deixe de lado o orgulho e a arrogância, abandone a posição de querer ser amado, seja desejante. Em outras situações, pode ser que você não se lembre de um desejo específico de seu pai ou de sua mãe, querendo que você fosse bem sucedido, nisto ou naquilo. Por exemplo, que você fosse um grande médico, que se tornasse um engenheiro magistral, que se realizasse como um famoso homem público, etc.. Ou seja, alguém bem realizado na vida. Hoje, mais do que nunca, pais querem filhos vitoriosos. Eles educam seus filhos com muito sacrifício, tendo como meta o sucesso. Os pais se tornaram reféns do futuro de seus rebentos. Os pais não gozam de tranquilidade, pois não deixam muito espaço para que seus filhos cumpram sua parte nessa empreitada que, diga-se, não é nada fácil. Os pais estão sempre de prontidão. Eles se antecipam quanto aos passos dos filhos rumo a um possível sucesso, muito mais no âmbito profissional, que na vida amorosa. Por isso mesmo, a distância entre o sucesso e o fracasso tem estado cada vez menor, são vizinhos, separados por uma tênue linha onde reside o perigo. Exigências excessivas, fracassos iminentes! O sucesso pleno é muito difícil. Talvez ele não exista. Quase sempre perde-se alguma coisa. Você pode ser muito bom naquilo que faz mas, e sua vida amorosa, sexual? Tem sobrado tempo para ser um bom amante? Uma coisa é importante. Devemos ter clareza sobre o desejo que habita cada um de nós. Você deve mergulhar fundo em si mesmo e arrancar as letras deste desejo que o constituiu. O desejo carrega as marcas da historicidade de um passado que determinará nossos rumos na vida. O melhor e o pior, os acertos e os erros, os sucessos e os fracassos. Pode ser que você não se dê conta de que o encaminhamento de sua vida é sediada por medos e preocupações. Isso pode acarretar impedimentos em direção a um possível sucesso. Desejo é algo carnal que sustenta uma vida em todas as direções. Até mesmo em direção ao fracasso, à morte. Portanto, meu caro, não existe nenhum modelo prévio , cartilha, ou código de rota para o sucesso. Com frequência, encontramos pessoas que dizem não querer repetir a história de seu pai ou sua mãe. Procuram tomar rumos distintos e quando se dão conta, estão repetindo os mesmos erros, os mesmos fracassos. Há variações de desejos, apostas e desistências! De toda maneira, temos desejos contrariados. Como retificá-los? Pensar, sempre pensar, este ainda é o caminho. É difícil, mas não é impossível, você delinear um caminho próprio que torne possível a construção sucessiva de boas realizações. Acredite, insista, realize diálogos com os mais velhos, os mais experientes. Até mesmo um livro, pode ser um bom interlocutor. Insista, ainda é possível. * Escola Lacaniana de Psicanálise - RJ

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Raizes do Brasil

Professor: Luiz Henrique Passador Resenha do livro: Raízes do Brasil de Sérgio Buarque de Holanda O momento era pós Revolução de 30, de descrença no liberalismo tradicional, quando os ideais integralistas e socialistas estavam fortemente presentes, e em conseqüente constante divergência. Levado por tais tensões contemporâneas, Sérgio Buarque de Holanda procura, em Raízes do Brasil, não apenas compreendê-las, mas também compreender e explicar o Brasil e o brasileiro, ou seja, o modo de ser ou a estrutura social e política. Inovador no tom ensaístico e no conteúdo, Raízes do Brasil tem respaldo teórico na História Social dos franceses e na Sociologia da Cultura dos alemães, além de conter elementos das teorias sociológica e etnológica ainda inéditas no Brasil, e perspectiva psicológica. Num tempo de saudosismo patriarcalista, Sérgio Buarque sugere em Raízes do Brasil que, do ponto de vista metodológico, o conhecimento do passado deve estar ligado aos problemas do presente. Dentre os intelectuais alemães mais falados na época, Sérgio Buarque encontra identificação na obra de Max Weber, cujo exemplo mais claro de sua influência em Raízes é a metodologia dos contrários. Utilizando o critério tipológico de Weber, Sérgio Buarque focaliza em pares de tipos sociais, e não na pluralidade deles, explorando conceitos polares como rural/urbano, trabalho/aventura, Estado/família patriarcal e público/privado. O esclarecimento dos conceitos contrários não é a opção por um deles, mas sim o jogo dialético entre ambos, onde cruzando e misturando conceitos opostos, chega-se a uma conclusão. Como explica Antônio Cândido no prefácio que faz ao livro: “A visão de um determinado aspecto da realidade histórica é obtida pelo enfoque simultâneo dos dois; um suscita o outro, ambos se interpenetram e o resultado possui uma grande força de esclarecimento” (p. XIV). No conjunto da obra em questão, houve um capítulo que se destacou, tornando-se essencial à compreensão da identidade brasileira. Capítulo V – O Homem Cordial aborda características próprias do brasileiro como conseqüências dos traços do passado. Sérgio Buarque começa o livro falando sobre nossas origens remotas, os países ibéricos – Portugal e Espanha -, que, menos europeizados que os demais países europeus, não tiveram uma hierarquia feudal tão enraizada, tendo como conseqüência disso uma frouxidão organizacional trazida ao Brasil, além de uma burguesia mercantil precoce em relação aos demais, que não gostava de trabalho físico, do trabalho regular e das atividades utilitárias, mas sim de serem senhores. A frouxidão das instituições abriu portas para o tradicional personalismo, para a cultura da personalidade que, segundo Sérgio Buarque, é o traço mais decisivo na evolução dos hispânicos: “Pela importância particular que atribuem ao valor próprio da pessoa humana, à autonomia de cada um dos homens em relação aos semelhantes no tempo e no espaço, devem os espanhóis e portugueses muito de sua originalidade nacional” (p. 4). Os ibéricos são conceituados por Sérgio Buarque como aventureiros, ou seja, aquele que pensa diretamente no objetivo final, busca novas experiências e a mira de seu esforço tem tanta relevância capital que chega a dispensar os processos intermediários para chegar ao ponto final. Quer ganhar dinheiro fácil. Ao contrário do trabalhador – que estima a segurança e o esforço, que enxerga primeiro o obstáculo a vencer e aceita compensações em longo prazo – o português chegou ao Brasil graças a seu espírito aventureiro. E aqui permaneceu graças a sua grande capacidade de adaptação. Unindo sua forte adaptabilidade e a não disposição para trabalho braçal junto à fidalguia trazida de sua terra, o português instaurou no Brasil a lavoura de cana como ocupação da terra e dinheiro fácil unida ao trabalho escravo que resolvia, de maneira lucrativa, a não disposição ao trabalho, mas sim à senhoria. Antônio Cândido ainda completa: “A lavoura de cana seria, nesse sentido, uma forma de ocupação aventureira do espaço, não correspondendo a ‘uma civilização tipicamente agrícola’ (pág. 18), mas a uma adaptação antes primitiva ao meio, revelando baixa capacidade técnica e docilidade às condições naturais” (p. XVI). A vida rural foi um marco muito forte na formação da sociedade brasileira. A estrutura de nossa sociedade colonial era rural, já que quem detinha o poder na época colonial eram os senhores rurais. Em 1850 instaura-se a lei Eusébio proibindo o tráfico de escravos. Entre 1851 e 1855 há notável crescimento urbano por causa das construções das estradas de ferro. O progresso chegando, o café como nova fonte de capital e os filhos de fazendeiros sendo mandados para nas cidades estudarem. Dessa classe rica e intelectual veio um progresso social que demoliu suas próprias bases: a escravidão. A partir daí, os capitais ociosos do tráfico foram para as cidades, para investimentos e especulações. Aqui nessa época Sérgio Buarque enfoca a enorme incompatibilidade entre o mundo tradicional e o moderno, entre rural e urbano. O Brasil não tinha estrutura econômica, política e social para desenvolver a indústria e o comércio. Os homens do campo que migravam para a cidade eram os mais importantes, os colonos que diziam que o trabalho físico não dignificava o homem, mas sim o intelectual. Dessa forma, é possível imaginar as dificuldades que chegaram com a Revolução Industrial, onde o homem vira máquina. Assim, a vida na cidade se desenvolveu de forma desorganizada e prematura, o que nos leva ao capítulo seguinte: o estudo da importância da cidade como instrumento de dominação e como ela foi fundada nesse sentido. Aqui Sérgio Buarque prende-se um pouco nas colonizações portuguesa e espanhola, identificando-os como semeador e ladrilhador. O ladrilhador seria o espanhol que coloniza parte da América construindo cidades planejadas, com a intenção de estabelecer um prolongamento estável na Metrópole. Suas cidades eram construídas nas regiões internas do continente tomando conta, assim, de toda cultura local. Os portugueses, semeadores, agarraram-se ao litoral semeando cidades irregulares, sem ordem e sem objetivos fortes de dominar a cultura do local, norteados por uma política de feitoria, querendo fortuna rápida para tornarem-se nobres. A urbanização no Brasil, irregular que foi, criou um desequilíbrio social. O peso da família tradicional dificultou a formação da sociedade urbana moderna. No Brasil, círculo familiar e família patriarcal, muitas vezes são confundidos com Estado. Sérgio Buarque afirma e reafirma que são completamente diferentes, explicando que um comportamento pessoal e familiar não funciona numa burocracia democrática, pois um é individual e o outro é coletivo, um é privado e o outro é público. “O Estado não é uma ampliação do círculo familiar e, ainda menos, uma integração de certos agrupamentos, de certas vontades particularistas, de que a família é o melhor exemplo. (…) Há nesse fato um triunfo do geral sobre o particular, do intelectual sobre o material, do abstrato sobre o corpóreo e não uma depuração sucessiva” (p. 101). O homem cordial é aquele que vem da família, é o homem hospitaleiro e generoso. No entanto, sua polidez é apenas aparente, um disfarce que serve de defesa ante a sociedade, preservando a sensibilidade e emoções do indivíduo e mantendo sua supremacia ante o social. A manifestação de respeito, por exemplo, aqui no Brasil, concretiza-se no desejo de estabelecer intimidade: os tratamentos pelo diminutivo ou pelo primeiro nome são exemplos disso. Dessa forma, é possível aproximar pessoas e objetos dos sentidos e do coração, demonstrando um certo horror à distância. Sérgio Buarque diz que a mentalidade cordial é uma sociabilidade aparente que não se impõe ao indivíduo e também não exerce efeito positivo na estruturação de uma ordem coletiva. Deste fato, ocorre o individualismo do homem cordial manifestando relutância a alguma lei que o contrarie. Em seguida, critica a satisfação do brasileiro com um saber aparente, levantando, com isso, dogmas que levam à confiança máxima nas idéias, mesmo quando inaplicáveis, o que traz à tona o positivismo no Brasil. Critica o Brasil que acredita em fórmulas. Aproveita e também afirma que a ausência de partidos políticos na época é um sintoma de nossa inadaptação ao regime legitimamente democrático, criticando a democracia no Brasil, numa época em que não se falava nela, dizendo que falta-nos um verdadeiro espírito democrático. A salvação para o Brasil, segundo Sérgio Buarque, seria uma revolução que daria fim aos resquícios da história colonial e começar a traçar uma história brasileira, diferente, particular e moderna. Trata-se de adotar o ritmo urbano e elevar as camadas oprimidas da população, pois apenas estas poderão revitalizar a sociedade e propiciar novo sentido à vida política, já que são fisicamente melhores que a classe alta e também o seriam mentalmente se as oportunidades fossem favoráveis, como seriam no caso da “revolução”. Porém, com a cordialidade, o brasileiro dificilmente chegará nessa revolução.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Fora de mim!

Fora de mim! Diariamente estamos em relação com pessoas, objetos, sentimentos, pensamentos, sensações. Nossas relações podem, em certa medida, mostrar como estamos em relação ao mundo e alguns dos motivos pelos quais sofremos. Relacionar-se é estar em contato, ou seja, criar uma ponte que me liga ao outro, ao diferente, àquilo que não sou eu. Essa relação pode ocorrer em caráter positivo, negativo, confuso ou indefnido. O recomendável é o positivo, mas algumas relações só serão produtivas se forem negativas. Este, no entanto, não é o foco do que estamos trabalhando neste escrito. O que interessa aqui são as formas como criamos essas pontes em relação ao outro. Uma forma de se construir uma relação com o outro é pela necessidade, ou seja, a falta me leva a buscar o outro. Nesta relação eu me coloco em direção ao outro porque preciso dele, como o corpo que precisa de alimento, e essa necessidade só passará quando for saciada. Este tipo de relação, a necessidade, torna-me dependente do outro na medida em que preciso dele. Precisar é inevitavelmente estar amarrado, fadado a viver na dependência daquilo que preciso e a sua ausência terá consequências. Esta relação de necessidade torna tanto o sujeito quanto o objeto prisioneiros de sua condição, é uma relação de causa e efeito. Outro tipo de relação é a de propriedade, muito comum nos dias de hoje, onde eu me relaciono com as coisas porque elas me pertencem. Aqui a relação se dá no nível de pertença, sendo assim, a minha ponte com o outro é a minha propriedade sobre ele: eu sou aquele a quem o objeto pertence. Pode-se pensar no caso dos relacionamentos, onde a menina ou o menino diz que o outro é “seu” namorado ou namorada, assim como a “minha” esposa e assim por diante. A relação de propriedade reduz o objeto a minha vontade, é meu, faço o que me for conveniente, perigosa esta ideia, mas fora da ética ela anda solta. Há uma forma de relação da qual se fala pouco, mas que a ciênca tem feito de tudo para alcançar: a relação de dominação. Diferente da relação de pertença onde o outro é meu, agora eu domino, posso não ter propriedade, mas tenho controle. Forma estranha de se criar uma ponte com o outro, como se fosse realmente possível dominar pensamentos, emoções, etc. Mas mesmo sendo um tipo de relação pouco falada é por ela que muitos relacionamentos afetivos se dão, onde o marido controla a esposa, os filhos. Esse tipo de relação é quase o “pátrio poder” que se vivia na Grécia Antiga, mas é uma relação que dá certa segurança a quem domina. Uma ponte em que um lado está acima do outro, onde o dominador tem o controle, uma relação em que pode haver oprimidos. Algumas pessoas gostam de ser controladas, precisam disso, mas será que é para todos assim? Nos dias atuais, depois de centenas de anos de escravidão e discriminação, o discurso é que temos de ter relações de igualdade, afinal somos todos iguais. É um discurso amplamente estranho, uma vez que me relaciono com o outro como me relaciono comigo. Então, o outro é nada mais do que um eu copiado em outro corpo, é o mesmo eu vivendo numa roupagem nova, o eu que não está em mim. Esse tipo de relação é a mais perigosa, visto que algumas pessoas não se tratam muito bem, não se cuidam. Apenas como iustração, se eu fumo e acho isso bom, então isso é bom para todos, porque somos todos iguais. O melhor ou a melhor forma de construir uma relação é entender que o outro, por mais que seja como eu, é ainda diferente. É justamente na igualdade que somos tão difentes, somo seres de diferença. Só é possível acessar ao outro realmente se ele se deixar vir a mim, é na relação com o outro que chego a ele, pela vontade dele e não pela minha. É o outro quem se doa a mim e não eu que entro na realidade dele. Rosemiro A. Sefstrom

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Deus é...

16/02/2012 Deus É... Um dos assuntos mais complicados de em Filosofia é aquele que trata de Deus, sua existência ou não e sua presença. Deus, na Filosofia foi definido como sendo o “primeiro motor imóvel” aristotélico, também como o “Demiurgo” de Platão. Afora a Filosofia na Bíblia Deus aparece basicamente de duas formas: a primeira no Antigo Testamento, onde Ele é duro, de certa forma até mau. Nestes livros bíblicos se pode ver um Deus que castiga, mas mesmo após o castigo retorna a relação com o homem. Numa segunda parte da Bíblia, Deus é descrito a partir de Jesus Cristo, onde este o coloca como sendo Pai, Filho e Espírito Santo. Agora Ele é amor, perdão, Aquele que entregou o seu Filho para redimir a humanidade dos seus pecados. Tanto no Antigo quanto no Novo Testamento Deus tem uma significação a qual exige daqueles que acreditam uma forma de se relacionar. A orientação do que fazer ou não em relação ao próprio Deus é dada pela significação que ele ganha em cada cultura. No Antigo Testamento, quando Moisés se aproxima da sarça ardente, ele tira as sandálias, cobre o rosto para não ver. Aqui fica clara a distância que se coloca entre a divindade e o humano, a separação é física mesmo. A partir do momento em que Jesus, enquanto representante do Pai, retira todo o afastamento e se permite morrer pelo humano, pela carne, a relação com Deus supõe significados diferentes dependendo da cultura na qual a religiosidade está inserida. É importante destacar que não é só de maneira coletiva que se significa Deus e por conseqüência se orienta a maneira de se relacionar com Ele. Em muitos casos se esquece de que quando se atribui um significado está se depositando no significante uma série de predicados. Para ficar mais claro digamos que Deus pode ser significado como pai, pastor, amor, etc.. Socialmente cada uma destas palavras tem em si uma maneira de ser entendida, mas também tem uma forma pessoal de compreensão. E é muitas vezes nesta relação de significado pessoal que se encontra o grande problema no que diz respeito à relação do homem com Deus. Quando se diz que Deus é Pai, está se colocando em uma entidade as características de um ser. Em outras palavras, pegamos Deus e o vestimos como sendo Pai, mas o pai tem em si uma série de características que o fazem pai, como por exemplo: ter filhos. Só que nem todos os pais poderiam servir como modelo para representar Deus. Aí surgem as contradições que causam as confusões para algumas pessoas, dizem-lhes que Deus é Pai, mas a elas pai é aquele que foi embora, deixou a mãe e cinco filhos pequenos para criar. Pai é aquele que bebe e bate na mãe cada vez que chega em casa, uma pessoa violenta que em nada lembra amor. Será que este pai que a pessoa gravou pela vida vai ser harmônico com Deus? Existem ainda aqueles que pregam que Deus é amor, certo, mas que amor? Não é difícil aparecer na televisão, internet, rádio, revistas e outros meios de comunicação um indivíduo que matou a namorada dizendo que a ama. Complicado. Imagine a cabeça de uma criança ao ouvir que Deus é amor, mas todo o exemplo de amor que tem é quando a mãe diz que o ama depois de espancá-lo por causa do uso de drogas. A tentativa de diminuir a distância entre a divindade e as pessoas, o humano, muitas vezes cai em deturpações como estas. Sabe-se que para a Igreja o amor, pai, salvador, tem um significado muito específico, mas este significado pode ser diferente em cada um. Nos dias de hoje, a relação com um Deus Pai leva muitos fiéis a exigirem um milagre de Deus, assim como fazem com seus pais quando querem alguma coisa. Isso é bem diferente da postura na qual se seguia os mandamentos antes para se esperar por uma graça, se assim fosse da vontade. Na maior parte das vezes as pessoas não se relacionam com o ser em si, mas como o significado que têm deles. Rosemiro

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

O passado condena

O passado condena 20 de fevereiro de 2012 Autor: Merval Pereira Um dos pontos mais importantes para a atividade política decidido ontem, na segunda sessão de votação da Lei da Ficha Limpa, que acabou sendo aprovada para entrar em vigor já nas eleições municipais deste ano, foi a possibilidade de impugnar-se candidaturas por fatos passados. Da mesma maneira como a vigência da lei, esse seu detalhe fundamental foi aprovado por 7 votos a 4, alterando-se apenas dois votos: o ministro Dias Toffoli, que votou contra a lei, não viu inconstitucionalidade em relação à possibilidade de causas de inelegibilidade atribuídas a fatos anteriores à vigência da lei. Já o ministro Marco Aurélio Mello, que votou a favor da lei, foi contra a utilização de fatos pretéritos como motivo para impugnação de candidaturas. “Vamos consertar o Brasil, mas vamos consertá-lo daqui para a frente”, disse o ministro. Na sua visão, aprovada como foi essa possibilidade, em vez de uma renovação normativa, temos “uma revolução”. Mesmo que Toffoli mude sua posição, pois ele se disse sensível a revê-la nesse aspecto, a maioria de 6 a 5 se imporá. O ministro Cezar Peluso chegou a afirmar não conhecer “nem em regimes autoritários” a legislação atingir o passado. Ele foi irônico ao ser confrontado com o fato de que a maioria estava contra a sua posição: “A lei assim perde o caráter prospectivo e geral, ganha caráter particular. Ela deixa de ser lei e passa a ser um confisco de cidadania.” Por essas razões “e com o respeito à douta maioria, sempre mais sábia”, Peluso registrou que há nessa decisão uma “retroatividade maligna”. O presidente do Supremo usou um argumento quase filosófico para reafirmar sua convicção: “Nessa situação, há supressão da responsabilidade ética, pois a pessoa não tem sequer a possibilidade de evitar a conduta censurada.” O ministro Ayres Britto em seu voto definiu que existem três valores consagrados: a democracia, o meio ambiente equilibrado e a moralidade da vida publica. “Valores que todo povo que se preze consagra na sua experiência histórica.” E por que a Constituição reage de forma tão severa à improbidade?, perguntou o ministro, para colocar o dedo na ferida: “Porque nossa reputação nesse campo não é boa. Permitam-me citar um trocadilho do padreAntônio Vieira: “Os governadores chegam pobres às Índias ricas (como o Brasil era chamado) e voltam ricos das Índias pobres”.” Ayres Britto defendeu a tese de que a Constituição mandou considerar a vida pregressa do candidato, “que não pode estar imersa em nebulosidade no plano ético”, pois a palavra “candidatura” vem de “cândido”, “limpo”. Para ele, a Lei da Ficha Limpa tem uma ambição de implantar no país “uma qualidade de vida política e acabar com uma cultura perniciosa”. O ministro Celso de Mello disse que a decisão, na realidade, “é o reconhecimento da possibilidade de o legislador imputar a situações pretéritas já consumadas a irradiação de novo efeito de Direito fundamental de participação política.” O ministro Luiz Fux rebateu: “O cidadão teria o direito adquirido de cometer o ilícito e ainda poder concorrer?”. Ao quê, Ayres Britto aduziu: “A renúncia não pode significar blindagem.” Para ele, ao falar expressamente em “vida pregressa”, a Constituição se referia ao passado. “Se a vida pregressa é pautada por esse namoro com o ilícito, é de se supor que vá aprofundar esse namoro no cargo público.” A certa altura do julgamento, o ministro Gilmar Mendes criou um embaraço ao dar um exemplo do que seria uma exorbitância da lei. “Fico com a preocupação de o legislador amanhã querer ampliar a lei e abarcar outros fatos do passado. Na semana passada, discutimos a Lei Maria da Penha, que tem um sentido próprio de afetar culturas. Imagine se todas as pessoas que se envolveram em espancamento de mulheres (que, embora lamentável, parece ser um esporte nacional) ficassem inelegíveis? O ato é torpe, mas razoável apanhar esse fato para refletir sobre efeitos futuros?”Acontece que a ministra Cármem Lúcia, justamente na discussão da Lei Maria da Penha, havia reafirmado que as mulheres, inclusive as ministras do Supremo, sofriam discriminação. Mesmo criticando, chamar o espancamento de mulheres de “esporte nacional” não foi a melhor maneira de defender sua tese. Os ministros criticaram duramente os políticos. Celso de Mello disse que a grande falha é imputável “não ao povo, mas aos partidos, que escolhem mal seus candidatos”. Ayres Britto lembrou que a lei veio 16 anos depois da Emenda Constitucional Revisora número 4, que previa a análise da vida pregressa. “O Congresso estava em mora, não atendeu por conta própria o chamamento da Constituição. O povo cansado,desalentado, se organizou sob a liderança de mais de 70 organizações e criou a iniciativa popular.” O ministro Gilmar Mendes não se deixou intimidar pelas afirmações de que a vontade popular vai no sentido de aprovação da lei, afirmou: “Ao meu ver, é completamente equivocada a evocação de um desejo de uma maioria popular momentânea, a vontade do povo, para justificar o prejuízo de um princípio tão importante quanto a presunção de inocência.” E ainda provocou: “Este é o mesmo povo que elege os chamados candidatos “ficha-suja”. Qual vontade popular é a mais legítima?” Para o ministro Gilmar Mendes, a população passará a acreditar que a Lei da Ficha Limpa é solução porque não é muito difícil para a população acreditar no forte teor simbólico dessa lei. “Mas a função desta Corte é aplicar a Constituição, mesmo contra a opinião majoritária. E porque o problema continuará”, frustrando as expectativas populares.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Papel-moeda não é dinheiro

Papel-moeda não é dinheiro ESCRITO POR KLAUBER CRISTOFEN PIRES | 17 FEVEREIRO 2012 ARTIGOS - ECONOMIA Papel-moeda não é dinheiro porque não é mercadoria (não tem valor intrínseco), não é raro e não é aceito de forma espontânea e universal. As crises que têm convulsionado os Estados Unidos e que atualmente vão assolando a Europa têm causas já bem conhecidas, especialmente pelos economistas chamados de “austríacos”, muito embora continuem sendo negadas por razões de interesse da parte de certos grupos que compartilham o poder. E não se enganem. O Brasil está muito longe da alegada imunidade que o governo tem proclamado. Em outras palavras: nós somos eles amanhã. O propósito das linhas a seguir é explicar de uma maneira bem didática e fácil aos leitores um pouco mais leigos as três principais razões pelas quais o Ocidente passa por mais essa fogueira tão pouco depois da “irracional prosperidade”, segundo as palavras de um dos principais responsáveis por tal estado de coisas, o ex-presidente do Banco Central norte-americano, Alan Greenspan. Cabem os méritos a Ludwig von Mises por ter descoberto por que ocorrem os chamados “ciclos econômicos”, conhecidos em inglês pela expressão “Boom-Bust” (“boom” = explosão, no sentido de grande momento de prosperidade; “bust”= explosão ou estouro também, mas agora com o sentido inverso, isto é, de golpe, pancada, ou mais precisamente, quebra e falência). Apenas como um aposto, digne-se mencionar o quanto os defensores dos ideais socialistas prezam os “ciclos econômicos”, que segundo eles, refletem não mais do que as contradições do capitalismo e a sua natural propensão histórica a ser substituído pela implantação do socialismo (“devenir histórico”). Todavia, o que precisa ser desmascarado é que os ciclos econômicos são o resultado de intervenções estatais concebidas justamente à moda socialista, mais especificamente sob as teorias keynesianas. A saga da moeda percorreu por milênios um caminho tortuoso marcado por erros e acertos, bem como, em certa medida, também pelas condições tecnológicas disponíveis. A humanidade, em seus atos comerciais, deu um grande passo à frente ao descobrir as vantagens das triangulações das trocas, mediante a realização de transações com uma mercadoria que fosse universalmente aceitável e divisível (Um boi, por exemplo, seria inviável para adquirir, digamos, uma peça de roupa cujo valor de troca fosse menor). Daí por diante, tornou-se questão de aprimorá-la. O antigo império romano já fez uso do sal para tal fim, daí a origem do termo “salário”, que era pago aos seus soldados. Entretanto, hoje esta mercadoria, embora ainda universalmente aceitável, demandaria grandes quantidades físicas para adquirir bens de pouco valor, donde se conclui que outra qualidade desejável para a moeda é a de ser relativamente rara. Por fim, consagrou-se o ouro, pelas seguintes razões: é uma mercadoria (isto é, possui um valor intrínseco); é relativamente raro, é divisível (cunhável em moedas e barras de diferentes tamanhos), e é universalmente aceito de modo espontâneo. Nos dias atuais, entretanto, não realizamos mais transações em ouro, mas por algo que recebe o nome de papel-moeda de curso forçado. Para que ninguém tenha dúvidas, trata-se de um mero pedaço de papel pintado (com alguns artifícios para dificultar a sua falsificação por terceiros), que não possui um valor intrínseco nenhum, não é relativamente raro (já explico adiante e detalhadamente por quê), e não é universalmente aceito de forma espontânea, mas ao contrário, tem a sua circulação tornada obrigatória pelo seu emissor, e é válido apenas em seu território (salvo algumas exceções, e ainda assim limitadas, como o dólar, o ouro e o yen). Vamos agora às consequências práticas da diferença entre o padrão-ouro e o papel-moeda. Por primeiro, quem tem moedas de ouro, tem as mesmas moedas em qualquer lugar do mundo. Pode ser que este ou aquele bem ou serviço custem mais caro em um país do que em outro, o que é muito normal, haja vista a diferença de disponibilidades de recursos naturais entre eles. Ainda assim, a pessoa que detiver uma certa quantia em ouro permanecerá com ela, que é sua propriedade e que tem valor. Muito ao contrário, quem tem, digamos, reais em mãos, dificilmente há de conseguir trocá-los no exterior, a não ser em certos países vizinhos e mediante relações de troca bem desfavoráveis, de modo que, se alguém decidir fazer uma viagem para a Austrália, já terá chegado lá com uma significativa perda do seu poder aquisitivo antes mesmo de comprar um mero cartão postal. A bem da verdade, manter reais consigo no próprio Brasil já implica em perda de poder aquisitivo, por conta do primeiro fator causador de crises que Mises apontou: o poder estatal de imprimir dinheiro. Não é possível criar ouro. Há quem diga que isto seja possível, mas mesmo assim, seria anti-econômico (gastar-se-ia mais com o processo do que com o resultado). Porém, é possível imprimir mais notas, e é isto o que os governos mais fazem para custear seus gastos cada vez maiores. Imprimir mais notas implica em realizar uma espécie de tributação, porque cada nota que temos em mãos, por tornar-se menos rara, perderá uma parte do seu valor de compra. É como se recebêssemos diariamente como salário um copo de leite e dia após dia o governo fosse adicionando, progressivamente, um pouco mais de água ao leite, com a finalidade de prover mais copos a mais pessoas. Em determinado dia, o copo de cada um permaneceria cheio, mas então de uma mistura praticamente transparente formada basicamente por água com algumas gotinhas de leite. Arrecadar tributos sob a forma de expansão monetária (impressão de notas, ou mais modernamente, por meros comandos eletrônicos) é algo que os governos prezam e não abrem mão, por ser muito mais discreto do que decretar formalmente aumentos dos impostos, o que seria impossível no padrão-ouro. Não bastante, outra forma de criar riqueza do nada, ou melhor, uma aparência de riqueza, prosperou com a invenção do papel-moeda: as chamadas reservas fracionárias bancárias. Tratam-se de operações contábeis efetuadas pelos bancos segundo as quais se possibilita que o mesmo dinheiro que foi emprestado a João o seja também a Márcio, Paulo, Juliana, e assim por diante, praticamente sem solução de continuidade. Se alguém vender um mesmo lote de terra a João e em seguida a José, ninguém duvidará que este sujeito praticou um ato de estelionato. Contudo, os bancos fazem exatamente isto, e o fazem sob proteção legal (às vezes ilegal também, eis que prosperam denúncias de vendas “a granel” de títulos de papel que dizem representar ouro físico!). Com mais dinheiro impresso pelo governo ou mais créditos oferecidos pelos bancos sem que haja uma verdadeira produção de riqueza que lhes legitime, os beneficiários disputarão no mercado pela mesma quantidade de bens produzidos. Agora basta raciocinar com base na lei da oferta e da procura: se há mais pessoas disputando os mesmos bens, é óbvio que estes últimos aumentarão de preço. Além disso, no antigo padrão-ouro os bancos somente podiam emprestar dinheiro a terceiros mediante contrato com os donos dos depósitos, sendo que, ao autorizarem suas disponibilidades, viam-se automaticamente sem elas. Desta forma, quem tomasse empréstimos tinha as matérias-primas para seus investimentos sob condição de oferta (e portanto, de preço) inalterada, já que os emprestadores ficaram temporariamente desprovidos exatamente daquelas quantias. Na verdade, ambos, emprestadores e tomadores tinham por acordo tácito justamente isto: segurar voluntariamente o consumo para investir e lucrar com o resultado futuro. Porém, no atual sistema de papel-moeda e crédito praticamente ilimitado, as matérias-primas não estão à disposição dos investidores, porque os emprestadores continuam com o mesmo poder de compra, quiçá até mesmo aumentado. Isto significa que seus investimentos custarão mais caro do que o esperado, se não tiverem de esperar que se tornem fisicamente disponíveis. Isto fará com que os investimentos se malogrem, e daí, as crises. Ainda, isto não é toda a desgraça a ser contada. No antigo regime do padrão-ouro, detinha moedas de ouro quem trabalhava e produzia, ou quem deles recebesse alguma quantia, e o governo possuía exatamente o fruto da arrecadação dos impostos, que não podiam ser majorados ilimitadamente sob pena de revolta ou colapso de toda a economia. Com o novo poder de criar dinheiro do nada, mediante a simples impressão de cédulas de papel, a cada dia os governos puderam aumentar seus gastos com funcionários públicos, aposentados, pensionistas e beneficiários de programas assistenciais, e foram neste rumo transformando significativamente a estrutura social, ao criar a cada dia mais pessoas dependentes. Isto é exatamente o que está acontecendo na Europa, onde há mais pessoas recebendo salários como funcionários públicos, como aposentadorias ou pensões, do que gente trabalhando e produzindo. Aos amigos leitores que ultimamente têm assistido às chocantes cenas de revoltas na Grécia, podem ter certeza de uma coisa: quem por lá carrega o piano nas costas não participou de nenhum daqueles atos de vandalismo. Resumindo, para fechar: impressão de dinheiro falso, empréstimo falso de dinheiro falso e estilo falso de vida e de estrutura social. Não é imprevisível de que um dia um grande acerto de contas teria de vir à tona. Veio.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Deutschland über alles

Deutschland über alles! ESCRITO POR HEITOR DE PAOLA | 16 JANEIRO 2012 INTERNACIONAL - EUROPA “Não posso evitar um sorriso quando, como chefe de um país ocupado, eu sento com os líderes dos países ocupantes, tais como Mr. Eden e M. Bidault. Apesar do fato de que a Alemanha ainda não ser completamente soberana, seu impacto econômico e político é sentido em todos os assuntos mundiais.” Konrad Adenauer (1) “Há vários anos nossa política econômica tem sido nossa política externa.” Helmut Schmidt (2) Ainda meio sonado, pego o jornal de hoje e leio a manchete principal: França “cai” e Europa fica nas mãos da Alemanha! Levo um susto: será que voltei no tempo? Terá sido o meu amigo Jack (Daniels) da véspera que estava “envenenado”? Estarei eu em 20 de setembro de 1870? Ou em 1915? Talvez 25 de junho de 1940? Olho a data e vejo que sofri apenas um nada patológico déjà vu tantas foram as quedas deste país frente à Alemanha. Uma das especialidades francesas, além dos queijos e vinhos, é o colaboracionismo e a derrota frente aos eternos rivais. Mas, desta vez, não foi frente aos canhões de Bismarck, do Kaiser ou das Panzerdivisionen do Führer, mas frente às tropas muito mais potentes do Deutche Bundesbank, comandadas pela Führerin Angela Merkel. Não poderia ser novidade para ninguém que conhece a história européia que o Euro já nasceu com data certa para acabar e que passaria a ser apenas o velho Deutschmark (ou Reichsmark?) com novo nome, imposto a todos os países em sua volta. O que o Führer Adolf não conseguiu, a Führerin Angela, sabendo onde atacar financeiramente, está em vias de conseguir: converter a Europa numa “Grande Alemanha”, totalmente dependente de Berlim: eis o verdadeiro nome da União Européia. A cotação do Euro despencou hoje: Desta vez a França não conta com seus eternos salvadores, aos quais é ingrata: a aliança anglo-americana. A Inglaterra nunca cedeu aos acenos do Euro e manteve sua libra, hoje em alta assim como o franco suíço, e não aceitou os pactos que os colaboracionistas gregos, portugueses, espanhóis a italianos toparam. Diga-se de passagem, Papandreu, Berlusconi e Zapatero, não aceitariam as exigências às quais seus substitutos, principalmente Mario Monti e Rajoy, dobraram a espinha. Não por serem covardes, mas por serem cúmplices na EU. E exclusivamente por esta razão foram escolhidos por Berlim para ocuparem seus postos. Por sua vez, os EUA estão nas mãos de um queniano muçulmano e anti-semita cujo verdadeiro objetivo é destruir as tradições judaico-cristãs fundadoras do país que o elegeu através da destruição da economia americana e pouco se lhe dá o que está acontecendo na Europa. Ou, pelo contrário, a queda da segunda economia européia vem como uma notícia benfazeja para seus irmãos em Allah. Há 21 anos o jornalista Edwin Hartrich escreveu o livro The Fourth and Richest Reich: how the Germans conquered the postwar world (3), já citado por mim em várias ocasiões. Recomendo sua leitura por ter sido profético. Posteriormente comentarei mais a fundo este livro e o que ele já previa em 1980.

Obviedades estratégicas

Obviedades estratégicas ESCRITO POR OLAVO DE CARVALHO | 06 FEVEREIRO 2012 ARTIGOS - CULTURA Se vocês querem algum dia ter no Brasil um movimento conservador vigoroso, apto a conquistar e exercer o poder, comecem por meditar os seguintes pontos: 1) Os grupos que dominam a política, a mídia e o mercado livreiro provêm das universidades e especialmente do movimento estudantil. A elevação dos líderes estudantis às posições de poder leva aproximadamente trinta anos. Quem domina as universidades hoje dominará o país em trinta anos. 2) Dominar as universidades não é um processo espontâneo. É o resultado de um trabalho sistemático de ocupação de espaços, de remoção dos adversários, de interproteção mafiosa e de conquista progressiva dos altos postos, que não rende frutos em menos de uma geração: mais trinta anos, que podem se reduzir a dez porque a conquista da hegemonia universitária e a formação da nova geração de estudantes não são fases estanques, mas fundidas e superpostas. O tempo necessário para a formação de um movimento político viável é, pois, de quarenta anos aproximadamente. O acerto desse cálculo é ilustrado por exemplos inumeráveis. Data dos anos 60 o início da conquista das universidades da Europa, dos EUA e da América Latina pela "nova esquerda" inspirada na Escola de Frankfurt e naquilo que seus críticos viriam a rotular, sem muita precisão, de "marxismo cultural". Decorridas quatro décadas, a ideologia do "politicamente correto", do feminismo, do gayzismo, do abortismo, do racialismo e do ódio anti-ocidental e anticristão dominava, e domina até hoje, a política, a mídia e o mercado editorial em toda essa área – um terço da superfície terrestre. 3) O trabalho de conquista, primeiro das universidades, depois do poder em geral, depende de duas condições: (a) só pode ser empreendido por organizações estáveis e duradouras, capazes de esforço concentrado e sistemático ao longo de pelo menos duas gerações; (b) exige organizações que estejam firmemente decididas a realizá-lo e que vejam nele a sua obrigação mais essencial e incontornável, ao ponto de sacrificar a ele todos os seus demais interesses políticos, sociais, culturais, financeiros etc. Em todo o planeta, há quase dois séculos, só se interessaram seriamente por esse objetivo as organizações ligadas ao movimento revolucionário mundial em todas as suas variantes internas (comunismo, nazifascismo, terceiromundismo, "nova esquerda" etc.). Nenhuma outra. Não estranha que a mentalidade revolucionária, em suas várias versões, incluindo as mais inconscientes de si próprias, tenha se tornado a chave dominante do pensamento político – e até da moralidade pública – em todo o mundo ocidental. Hoje em dia, uma nova versão do movimento revolucionário – o radicalismo islâmico – está fazendo um sério, bem organizado e bem financiado esforço para conquistar as universidades da Europa e dos Estados Unidos. Se esse esforço for bem sucedido, será impossível evitar a islamização forçada do Ocidente no prazo de uma ou duas gerações. 4) Os grupos conservadores, liberais (no sentido brasileiro), cristãos, judeus sionistas etc. têm-se limitado a opor à hegemonia revolucionária nas universidades o combate intelectual, a "guerra cultural" ou "luta de ideias". Apostam nisso o melhor das suas forças. Mas é estratégia absolutamente impotente, pois o que está em jogo não é realmente nenhuma "luta de ideias" e sim uma luta pela conquista dos meios materiais e sociais de difundir ideias – coisa totalmente diversa. Você pode provar mil vezes que tem a ideia certa, mas, se o sujeito que tem a ideia errada é o dono das universidades, da mídia e do movimento editorial, o que vai continuar prevalecendo é a ideia errada. Basta ler revistas como New Criterion ou a Salisbury Review para notar que, em comparação com a "esquerda", os conservadores têm hoje uma superioridade intelectual monstruosa. Nem por isso eles mandam no que quer que seja. Em política, a superioridade intelectual tem apenas um valor instrumental muito relativo. Se você não sabe usá-la para quebrar a autoridade do adversário, para tomar o cargo dele e colocar lá alguém da sua confiança, ela não serve para absolutamente nada. O movimento revolucionário já entendeu há tempos que "ocupar espaços" não é vencer debates letrados. Concentrando-se na "luta de ideias", recusando-se nobremente a praticar a ocupação de espaços, a infiltração nos postos decisivos e o boicote aos adversários, os conservadores deixam a estes o exercício do poder e se contentam com a satisfação subjetiva de sentir que são mais inteligentes e moralmente melhores. O senso de solidariedade mafiosa, então, escapa-lhes por completo. Dificilmente um conservador ou liberal chega a reitor, a ministro ou mesmo a diretor de departamento, sem imediatamente rodear-se de auxiliares esquerdistas, só para provar a si próprio (e para grande satisfação do adversário) que seu respeito pelas pessoas está "acima de divergências ideológicas". Essa boniteza moral é fonte de tantos malefícios políticos que chega a ser criminosa. 5) A luta pela ocupação de espaços pode comportar uma parte de debate político-ideológico, mas tem de ser uma parte bem modesta. O essencial não é vencer as "ideias" do adversário, mas o próprio adversário, pouco importando que seja por meios sem qualquer conteúdo ideológico explícito. Trata-se de ocupar o seu lugar, e não de provar que ele está do lado errado. Isso se obtém melhor pela desmoralização profissional, pela prova de incompetência ou de corrupção, pela humilhação pública, do que por um respeitoso "debate de ideias" que só faz conferir dignidade intelectual a quem, no mais das vezes, não tem nenhuma.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

O dogma do coletivismo

O dogma do coletivismo ESCRITO POR LUDWIG VON MISES | 10 FEVEREIRO 2012 ARTIGOS - CULTURA (Extraído do capítulo 11 do livro Theory and History.) O que distingue o coletivismo do realismo conceitual ensinado pelos filósofos não é seu método de aplicação, mas as tendências políticas implícitas. O coletivismo transforma a doutrina epistemológica em uma pretensão ética. Ele diz às pessoas o que elas devem fazer. Não existe uma ideologia coletivista uniforme, mas várias doutrinas coletivistas. Cada uma delas enaltece uma entidade coletivista diferente e exige que todas as pessoas decentes se submetam a elas. Cada seita idolatra seu próprio ídolo e é intolerante com todos os ídolos rivais. Cada uma ordena a total subjeção do indivíduo; todas são totalitárias. O caráter particularista das várias doutrinas coletivistas poderia ser facilmente ignorado, pois elas normalmente utilizam como ponto de partida a oposição entre a sociedade em geral e os indivíduos. Nesse contraste, existe apenas um coletivo, o qual abrange todos os indivíduos. Não é possível, portanto, surgir nenhuma rivalidade entre várias entidades coletivas. Porém, no curso detalhado da análise, um coletivo especial é imperceptivelmente substituído pela abrangente e única 'sociedade'. Vamos primeiro examinar o conceito geral de sociedade. Os homens cooperam uns com os outros. A totalidade das relações inter-humanas criadas por tal cooperação chama-se sociedade. A sociedade não é uma entidade por si mesma. Ela não tem vida própria. A sociedade é uma expressão da ação humana. A sociedade não existe ou vive fora da conduta das pessoas. Ela é apenas uma orientação da ação humana. A sociedade não pensa e nem age. São os indivíduos que, ao pensarem e agirem, constituem um complexo de relações e fatos que são chamados de relações sociais e fatos sociais. Essa questão acabou sendo confundida com uma metáfora aritmética. Seria a sociedade — perguntam as pessoas — apenas uma soma de indivíduos ou seria mais do que isso e, por conseguinte, uma entidade provida de uma realidade independente? Tal pergunta não faz sentido. A sociedade não é a soma de indivíduos; e também não é nem mais e nem menos do que isso. Conceitos aritméticos não podem ser aplicados a essa questão. Outra confusão surge da não menos vaga pergunta sobre se a sociedade é ou não anterior aos indivíduos — tanto na lógica quanto no tempo. A evolução da sociedade e a evolução da civilização não foram dois processos distintos; foram o mesmo. A passagem biológica de uma espécie de primatas para além do nível da mera existência animal e sua transformação em homens primitivos já denotava o desenvolvimento dos primeiros princípios da cooperação social. Quando o Homo sapiens surgiu no curso dos eventos terrenos, ele não era nem um solitário em busca de comida nem um membro de um rebanho gregário, mas sim um ser que conscientemente cooperava com outros seres de sua espécie. Foi somente por meio da cooperação com seus semelhantes que ele conseguiu desenvolver a linguagem, essa indispensável ferramenta do pensamento. É impossível imaginar um ser racional vivendo em total isolamento e não cooperando um mínimo que seja com os membros de sua família, clã ou tribo. O homem, sendo um homem, é necessariamente um animal social. Algum tipo de cooperação é uma característica essencial de sua natureza. Porém, ter consciência desse fato não justifica lidar com as relações sociais como se elas fossem algo mais do que meras relações, ou com a sociedade como se ela fosse uma entidade independente, que está fora ou acima das ações dos indivíduos. Finalmente, existem as interpretações erradas causadas pela metáfora orgânica, que diz que podemos comparar a sociedade a um organismo biológico. A tertium comparationis é o fato de que a divisão do trabalho e a cooperação existem entre as várias partes de um corpo biológico assim como existe entre os vários membros da sociedade. Porém, a evolução biológica que resultou no surgimento dos sistemas estruturais-funcionais das plantas e dos animais foi um processo puramente fisiológico, em que não se pode descobrir nenhum traço de atividade consciente das células. Por outro lado, a sociedade humana é um fenômeno intelectual e espiritual. Ao cooperar com seus semelhantes, os indivíduos não se desfazem de sua individualidade. Eles retêm o poder de agir antissocialmente, e frequentemente o fazem. Entretanto, cada célula do seu corpo invariavelmente se mantém no mesmo lugar. Os indivíduos espontaneamente escolhem a maneira como eles se integram na cooperação social. Os homens têm ideias e escolhem fins específicos, ao passo que as células e órgãos do seu corpo não possuem tal autonomia. É algo manifesto que ninguém é capaz de observar e analisar a sociedade como um todo. Tudo o que pode ser observado é apenas a ação de indivíduos. Ao interpretarem os vários aspectos das ações do indivíduo, os teóricos criam o conceito de sociedade. Não há como analisar a parte analisando-se o todo. Qualquer propriedade de uma sociedade só pode ser descoberta por meio da análise da conduta de seus membros individuais. Ao contrastar sociedade e indivíduo, e ao negar a este qualquer realidade "verdadeira", as doutrinas coletivistas veem o indivíduo meramente como um rebelde teimoso e insubmisso. Este infeliz pecador tem o atrevimento de dar preferência aos seus interesses egoístas e insignificantes em detrimento dos sublimes interesses de toda a grande deusa sociedade. É claro que o coletivista designa essa eminência somente para o ídolo social que ele considera justo e probo, e não para qualquer aspirante. Quando o coletivista glorifica o estado, ele não está se referindo a todo e qualquer estado, mas somente àquele regime que ele aprova, não importa se tal estado já existe ou se ele terá de ser criado. Para os irredentistas tchecos na antiga Áustria e para os irredentistas irlandeses no Reino Unido, os estados cujos governos residiam em Viena e em Londres eram usurpadores; seu estado justo e probo ainda não havia sido criado. Especialmente notável é a terminologia dos marxistas. Marx era severamente hostil ao estado prussiano da dinastia dos Hohenzollern. Para deixar claro em sua proposta que o estado que ele desejava ver onipotente e totalitário não era exatamente aquele tipo de estado cujos soberanos residiam em Berlim, Marx recorreu ao truque de rotular o estado de 'sociedade'. A inovação era meramente verbal. O objetivo de Marx era abolir toda e qualquer esfera de iniciativa individual, transferindo o controle de todas as atividades econômicas para o aparato social de compulsão e repressão, o qual é comumente chamado de estado ou governo. O embuste conseguiu seduzir várias pessoas. Mesmo hoje ainda existem ingênuos que crêem que há diferença entre economia socializada e outros tipos de socialismo. A confusão entre os conceitos de sociedade e estado se originou com Hegel e Schelling. É costumeiro diferenciar duas escolas de hegelianos: a de esquerda e a de direita. A distinção refere-se apenas à postura desses autores em relação ao Reino da Prússia e à Igreja Evangélica da Prússia. O credo político de ambas as ideologias era essencialmente o mesmo. Ambas advogavam a onipotência do governo. Foi um hegeliano de esquerda, Ferdinand Lassalle, quem mais claramente expressou a tese fundamental do hegelianismo: "O Estado é Deus."[1] O próprio Hegel havia sido um pouco mais cauteloso. Ele declarou apenas que é "o percurso de Deus através do mundo que constitui o Estado" e que ao lidarmos com o estado devemos contemplar "a Ideia, o próprio Deus presente na terra."[2] Os filósofos coletivistas são incapazes de perceber que o que constitui o estado são as ações dos indivíduos. Os legisladores, aqueles que impõem obediência à lei pela força das armas, e aqueles que se submetem aos ditames das leis e da polícia constituem o estado por meio de seu comportamento. Apenas nesse sentido o estado pode ser considerado algo real. Não existe estado fora destas ações individuais dos homens.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Pensar dialético

Inicio por lembrar que cada pessoa é um mundo, uma realidade completamente diferente de todas as outras. Isso faz com que cada um de nós seja diferente, desde nossa realidade física até a cognitiva. Digo isto apenas para salientar que, quando usar neste artigo a expressão “tipo de pessoa” estou me referindo a uma forma de se relacionar com a exterioridade que é o mundo. O mundo é tudo aquilo que é exterior a mim, ou seja, o sol, as nuvens, as árvores, etc. Além de tudo isso que existe e constitui o mundo de cada um há também pessoas, os outros. Nós, no dia-a-dia nos relacionamos, inevitavelmene, com o mundo e com os outros. Das várias formas de se relacionar vamos nos dedicar a uma em especial, a relação dialética. A dialética enquanto método ganhou conhecimento por Hegel, mas diz-se que o pai desta teoria pode ser Zenão de Eléia ou até mesmo Sócrates, o qual se popularizou entre os gregos por levar as pessoas à verdade. O pensamento dialético cresceu, se popularizou na filosofia e foi adotado por muitos filósofos como método científico, assim como foi condenado por muitos outros como não sendo nada científico. Enfim, científico ou não, interessa em que medida essa metodologia contribui para a Filosofia Clínica. A dialética enquanto método se realiza em três estágios: a tese, a antítese e a síntese. Na tese eu tenho aquilo que é como teoria, ou seja, tenho uma ideia já formada. Pense no conceito que você tem de você mesmo: essa ideia que você elaborou de você mesmo pode ser considerada uma tese. Num segundo momento vem uma ideia contrária a que você formou de si mesmo, essa ideia contrária é a antítese. Vamos dizer que você se considera uma pessoa bondosa e desprendida, essa é a sua tese, mas um amigo seu, muito sincero, diz que você não é bom e muito menos desprendido. Para ser mais sincero, este amigo diz que você é avarento. Agora, com a tese a respeito de você e a antítese dada por seu amigo também a respeito de você, irá surgir uma terceira e nova ideia: a síntese. A síntese é o resultado da união da tese com a antítese, não a simples negação de uma pela outra. Pessoas que têm o pensamento dialético costumam ter uma ideia feita, pronta a respeito das coisas da vida. No entanto, no dia-a-dia, no convívio com as pessoas e com as coisas, elas podem tanto receber quanto perceber opiniões diferentes das que têm. Quando isto acontece, elas entram num processo de reflexão a respeito daquilo que sabiam com o que receberam, para então formular algo novo. Se o processo dialético foi feito por simples negação, pode acontecer o famoso oito ou oitenta, onde a pessoa aceita ou nega aquilo que veio de fora. O processo dialético não precisa necessariamente de um agente externo, algumas pessoas fazem esse caminho sozinhas. Elas mesmas, pela maneira como se desenvolveram na vida, precisam da contradição como maneira de desenvolver o seu pensamento. Não é certo, nem errado, bom, nem mau, é apenas uma das formas de se pensar. Há tantas outras com eficácia igual ou maior e também menor do que esta. Na relação com o outro, seja ele coisa ou pessoa, qualquer processo de conhecimento só acontece na medida em que eu recebo o outro. Alguns filósofos falaram em sair de si como processo de antítese, mas a antítese só acontecerá realmente se eu me abrir para o outro, é ele quem me trará o diferente, e não eu. Como em Heráclito, só me darei conta de que não me banho duas vezes no mesmo rio se eu deixar que o rio passe por mim e não eu por ele. Rosemiro A. Sefstrom

Desocupação no Pinheirinho

José Nêumanne - O Estado de S.Paulo
Josef Stalin morreu, já não se fala em "centralismo democrático" como antigamente, mas a prática da obediência à palavra de ordem emanada do Comitê Central permanece viva, uma chama acesa a incendiar não mais os corações e mentes dos seres humanos, mas a velha e boa ordem da democracia burguesa. Antigamente o militante recebia o nome do candidato que tinha de sufragar na eleição por baixo da porta, por cuja fresta também chegava a palavra de ordem da ocasião. E a palavra de ordem do momento é "pau neles!" Vale a metáfora e também vale o sentido literal: em artigos em jornais e até no púlpito presidencial, a reintegração de posse do terreno pertencente à massa falida do "megaespeculador" Naji Nahas invadido há oito anos e, desde então, progressiva e definitivamente ocupado por sem-teto é um ato brutal contra um punhado de desvalidos da terra. O discurso é duro, a causa é nobre. Mas a palavra é débil: estamos num ano eleitoral e é preciso partir para o desforço físico, que machuca o adversário e introduz o protesto no noticiário do dia.
"A falta de ação política positiva, capaz de gerar consensos e soluções, ficou evidente no Pinheirinho", escreveu nesta página o professor titular de Teoria Política e diretor do Instituto de Políticas Públicas e Relações Internacionais da Unesp, Marco Aurélio Nogueira. Seu artigo publicado sábado 28 de janeiro está carregado de correção política e legitimidade acadêmica. Falta-lhe, contudo, verdade histórica. O professor se condói da situação dos 6 mil desabrigados pela força policial. Qualquer um o faria. É uma terrível injustiça esses trabalhadores não terem onde morar e o Estado brasileiro, representado pelos governos federal, estaduais e municipais, não dispor de nada que se possa chamar de uma política capaz de reduzir nosso vergonhoso déficit habitacional. O mestre relatou que "município, Estado e União assistiram ao crescimento do bairro e nada fizeram para gerenciar o que ali se estava gestando". Apoiado! A omissão da autoridade, contudo, não pode ser corrigida com outra: vige no Brasil o Estado Democrático de Direito, o império da lei. Pratica-se a propriedade privada e a democracia se realiza na obediência à lei interpretada pelo juiz: a Justiça mandou entregar o terreno de volta aos donos. Cabia ao governador mandar cumprir a ordem judicial. Só isso.
A polícia exorbitou? Ninguém percebeu a fotografia publicada nos jornais de uma tropa armada de paus e pedras para defender direitos inexistentes sobre solo alheio? Ninguém, de sã consciência, esperava que tropas policiais enfrentassem esses resistentes levando flores no cano de fuzis, em vez de baionetas. Um crítico isento aplaude o fato de a Polícia Militar (PM) paulista ter conseguido desarmar aquela resistência sem derramar sangue de ninguém e, sobretudo, sem produzir um cadáver. Em ano eleitoral, sangue e cadáveres costumam interferir em resultados de urnas. A invasão sangrenta da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) às vésperas dos pleitos municipais de 1988 ajudou a eleger Luiza Erundina (PT) prefeita de São Paulo, a 400 quilômetros de Volta Redonda (RJ).
Em Porto Alegre (RS) a presidente da República, Dilma Rousseff, manifestou-se uma oitava acima da crítica do professor sobre o assunto. Classificou de "barbárie" a ação policial e garantiu que nunca algo similar será praticado pelo governo federal sob suas ordens. O compromisso é uma tautologia enganadora, mais do que isso, uma verdade óbvia e insidiosa, pois essa não é uma tarefa atribuída pela ordem constitucional ao âmbito federal, mas uma obrigação estadual. A autoridade encarregada de empregar a força para fazer valerem decisões judiciais é da Polícia Militar, subordinada a governadores. Ou seja, Sua Excelência, com a devida vênia, prometeu o que cumprirá porque não lhe diz respeito algum.
Já a definição presidencial da operação ordenada pelo adversário político é simplesmente errada. Bárbara não foi a ação policial que desocupou o terreno, mas a situação social e a omissão governamental (muito bem descrita pelo professor Nogueira) que permitiram sua ocupação sem autorização do legítimo dono. Pode-se discutir se a PM paulista usou mais ou menos violência do que o necessário para fazer a ordem judicial ser cumprida. Mas negar à Justiça, na democracia, o uso do braço forte para obrigar quem viola a lei a se enquadrar em seus cânones é desconhecer o princípio básico da ordem democrática. Se não for um excesso de irreverência, talvez seja o caso de dizer que falou mais alto no coração da chefe (ou ela preferiria chefa?) de Estado seu passado de militante do que seu juramento de fazer cumprir a Constituição.
Agora, já que a presidente falou em barbárie, ou seja, no estágio anterior ao convívio civilizado dos humanos, convém alertá-la de que bárbaros são os militantes que tentaram impedir a saída do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (PSD), da Sé, na festa do aniversário da cidade, e do secretário estadual da Cultura, Andrea Matarazzo, da nova sede do Museu de Arte Contemporânea (MAC), a pretexto de protestarem contra a desocupação da comunidade. Kassab administra um município a 100 quilômetros de distância do território conflagrado. Foi agredido gratuitamente, portanto, à saída da catedral, e numa praça onde se realizaram grandes encontros cívicos pela conquista da liberdade de pensar, agir e empreender. Matarazzo é titular de uma pasta responsável por teatros, museus, oficinas e salas de espetáculos e tem tanto que ver com o episódio de São José dos Campos quanto o bei de Túnis ou o califa de Bagdá. O desforço físico é a tentativa, essa, sim, bárbara de compensar a influência que a população nega nas urnas aos grupelhos de esquerda que plantam barracos em áreas proibidas para colherem sangue e cadáveres em ano de eleições.
O saber do mestre e a imensa popularidade da presidente não conseguirão atenuar a barbárie de quem, não tendo votos, recorre a paus, pedras e ovos para tentar impor seus argumentos.
*Jornalista e escritor, é editorialista do Jornal da Tarde