segunda-feira, 29 de setembro de 2014

AS PEQUENAS RAPOSAS QUE DESTROEM A VINHA

Na luta pela santidade, é preciso tomar cuidado com os pecados veniais, que entravam a união da alma com Deus e dispõem a alma para os pecados mais graves.


O apóstolo João escreve que “ omnis iniustitia peccatum est, et est peccatum non ad mortem – toda injustiça é pecado, mas existe pecado que não conduz à morte” [1]. Trata-se da conveniente distinção dos pecados quanto à sua gravidade. Não é verdade, como insinuam alguns intérpretes desautorizados das Escrituras, que todos os pecados são iguais. Algumas faltas extinguem imediatamente a chama da caridade, fazendo perder a bem-aventurança eterna; outras, no entanto, embora desordenadas, “conservam a ordenação para o último fim” [2]: assim, um pecado de adultério – está claro – é muito mais grave que uma palavra suja.

É preciso, no entanto, refrear o perigo de ter em pouca conta os pecados veniais, já que eles não só atrasam o nosso progresso na vida de santidade, como são sumas ofensas contra Deus.

Antes de explicar como o pecado venial não só impede nossa união como Deus, como dispõe nossa alma para a prática das faltas mais graves [3], é preciso lembrar a altíssima vocação para a qual fomos chamados e à qual, infelizmente, poucas vezes correspondemos devidamente: Nosso Senhor comprou-nos com o Seu sangue para que, pelo auxílio de Sua graça, nos tornássemos santos. A meta de muitos cristãos, levados pela onda de relaxamento de nossa época, tem beirado a mediocridade. Ao invés de buscarem a cada dia mais a presença de Deus, vivendo conforme a Sua vontade, muitos têm se conformado com a ideia de “reservar um lugar no purgatório”, esquecendo que o trabalho da salvação deve ser feito “ cum metu et tremore – com temor e com tremor” [4] e que Nosso Senhor pede de nós nada menos que a perfeição de vida: “Estote ergo vos perfecti, sicut Pater vester caelestis perfectus est – Sede, portanto, perfeitos, como o vosso Pai celeste é perfeito” [5].

No caminho para a perfeição, não se chega ao cume do “Monte Carmelo” enquanto não se elimina o afeto às criaturas. É o que ensina São João da Cruz, quando diz que, “enquanto houver apego a alguma coisa, por mínima que seja, é escusado poder progredir a alma na perfeição. Pouco importa estar o pássaro amarrado por um fio grosso ou fino; desde que não se liberte, tão preso estará por um como por outro” [6].

Além disso, o apego aos pecados veniais não só entrava a subida da alma para Deus, como a prepara para os grandes pecados. É o que diz o Espírito Santo no livro do Eclesiástico: “ Qui spernit minima, paulatim defluit – Quem despreza as coisas pequenas, aos poucos cairá” [7], e o que Nosso Senhor indica quando afirma: “Qui fidelis est in minimo, et in maiori fidelis est; et, qui in modico iniquus est, et in maiori iniquus est – Quem é fiel nas pequenas coisas será fiel também nas grandes, e quem é injusto nas pequenas será injusto nas grandes” [8]. O livro dos Juízes narra o castigo que Deus aplicou aos filhos de Israel porque, ao invés de exterminarem os seus inimigos, fizeram aliança com alguns deles [9]. São João da Cruz, comentando essa passagem, preleciona que:

“Deus procede justamente assim com muitas almas. Tirou-as do mundo, matou os gigantes dos seus pecados, exterminou a multidão dos seus inimigos que são as ocasiões perigosas encontradas neste mundo, a fim de lhes facilitar o acesso à terra da Promissão da união divina. Mas, ao invés de responderem a tantos favores do Senhor, elas fazem amizade e aliança com a plebe das imperfeições, em lugar de exterminá-la sem piedade. À vista de tal ingratidão, Nosso Senhor se enfada, deixando-as cair nos seus apetites de mal a pior.” [10]
Chega a ser injurioso referir-se aos pecados veniais como “leves”, quando se tratam de ofensas a Deus. Interroga Santo Anselmo: “Quem terá a ousadia de dizer: isto é só um pecado venial, e, portanto, não é um grande mal? Se Deus é ofendido, como se poderá afirmar que isso é um pequeno mal?” [11]. Por isso, São Domingos Sávio repetia incessantemente: “Antes morrer do que pecar”, decretando guerra também contra os pecados veniais.

“Capite vulpes parvulas, quae demoliuntur vineas – Caçai as pequenas raposas que destroem a vinha” [12], diz o autor sagrado. “Estes pecados, que chamamos leves, não os tenhas por insignificantes”, exorta Santo Agostinho. “Se os tens por insignificantes quando os pesas, treme quando os contas. Muitos objetos leves fazem uma massa pesada; muitas gotas de água enchem um rio; muitos grãos fazem um monte” [13].

Por Equipe Christo Nihil Praeponere  Do site: padrepauloricardo.org

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

RÓTULO!

Acordei pela manhã, olhei para o lado, uma linda mulher diz: “Amor!” Meu coração derrete, sou um romântico apaixonado, cheio de amor para compartilhar com ela. Levanto, me preparo e vou para a cozinha, lá um menino de uns 16 anos diz: “Pai!”. Fico sisudo, com cara de quem está organizando um time de futebol, converso em tom sério, poucas palavras, mas todas com medidas exatas. Trato com carinho, mas com cuidado para não deixar de entender que pai é aquele que comanda a família. Logo depois, um pouco atrasada chega à mesa do café uma pequena de 04 anos e diz: “Paizinho!” Mesmo sério, o coração derrete, pego a pequena no colo, faço brincadeiras com ela e encaminho seu café.

Ao sair de casa encontro pela estrada pessoas que me chamam de vizinho, ou seja, alguém que está próximo a eles. Nesse papel, sou uma pessoa admirada, correta, que tem boas relações com as pessoas próximas ao local onde moro. Ainda pela estrada em direção ao meu trabalho, sou parado pela polícia que faz uma blitz. Para estes, sou motorista, não interessa a eles se sou marido, pai, paizinho ou vizinho. A eles cabe avaliar-me como condutor, pedem meus documentos e os do veículo e analisam para saber se sou bom motorista.

Alguns minutos depois, estou na empresa onde trabalho. Logo na entrada, uma moça ao telefone me chama de senhor. No caso dela, senhor porque sou encarregado daquele setor. Como senhor, chefe ou encarregado, um dos muitos nomes que dão para os gerentes administrativos sou um homem duro, com poucas palavras e muita ação. Comando meus colaboradores com tranquilidade, pois sou respeitado pela minha trajetória na empresa. Quando chego ao meu setor de trabalho, minha mesa para ser mais exato, encontro meus colegas de trabalho, pessoas que compartilham o cargo de gerência em outros setores. Com estes minha relação é de iguais, tanto para mim quanto para eles procuro agir de maneira a privilegiar a empresa e não o gerente X ou Y. E assim passo o meu dia.

Na volta para casa encontro minha mãe, para quem sou o filho, neste caso nada interessante. Para minha mãe sempre fui o filho problemático, aquele que mais deu trabalho, que tinha tudo para ser o dono da empresa, mas sou gerente. Sou também aquele que casou com a mulher errada e assim por diante, mas, segundo ela, ela me ama mesmo assim. Chegando em casa encontro minha esposa e retomo minha rotina de marido, pai e paizinho.

Aqui misturei dois ingredientes muito interessantes. O primeiro deles é o Papel Existencial que tenho em cada um dos lugares em que passo. Esse papel existencial é como um rótulo que uso e com ele todas as atribuições referentes a este rótulo. Mas adicionei também o que penso de mim mesmo em cada um destes rótulos ou Papéis Existenciais. Porque algumas vezes sou o meu papel existencial, ou seja, algumas vezes sou pai mesmo, marido, e tenho as características que o rótulo exige. Em outros casos, são outras pessoas que vêem e identificam singularidades que me fazem ser isto ou aquilo, não sou eu que digo de mim, mas outras pessoas.

Algumas vezes o que penso de mim mesmo e/ou os meus papeis existenciais combinam. São aqueles casos em que a pessoa tem clareza do papel que exerce em cada momento de sua vida. Existem os casos contrários, em que a pessoa não tem a menor ideia a respeito de si própria e assume o que é dito pelos outros, vivendo a mercê do que os outros lhe impuserem como rótulo. Há muitas possibilidades, mas podemos pensar em duas: na primeira eu me torno refém da ideia que tenho a respeito de mim mesmo, e na segunda torno-me refém de pessoas que algumas vezes nem conheço.
Por: Rosemiro A. Sefstrom Do site: 


domingo, 21 de setembro de 2014

SUICÍDIO

Já estive envolvido em muitas conversas sobre suicídio, na maior parte delas surge uma pessoa que afirma: “A pessoa que se suicida, nada mais quer do que matar alguma coisa em si”. Para quem diz isto, o suicida na verdade quer apenas se desfazer de algo em si mesmo. No entanto, como o ser humano é um todo e não há a possibilidade de separar apenas a parte que a pessoa não suporta mais, o suicídio acontece. Estas pessoas, por não saberem como matar, ou seja, retirar de si aquilo que as aflige, acabam por retirar a vida corporal.

Em Filosofia Clínica, o entendimento é de que o ser humano é um todo, mas este todo é constituído de partes, algumas mais e outras menos divisíveis. Quando um filósofo clínico interage com uma pessoa no consultório ele a observa como um todo, ou seja, como uma pessoa que lhe procurou. Mas, ao longo do processo ele coleta a história de vida da pessoa e com esta história monta o que chamamos de Estrutura de Pensamento. Esta estrutura nada mais é do que o conteúdo da história compartimentado segundo sua peculiaridade. Desse modo, o que a pessoa diz de si mesmo é o tópico 02. O que a pessoa disser no consultório a respeito de medo, amor, ódio, alegria, etc., são conteúdos, por exemplo que serão categorizados por emoções.

A montagem a Estrutura de Pensamento leva em conta trinta tópicos, ou seja, trinta identidades diferentes que o conteúdo da história de vida da pessoa pode ter. Esses trinta tópicos podem estar em relação harmoniosa, quando a pessoa sente-se bem, vive um bem estar subjetivo. Mas, estes conteúdos também podem estar em choque e quando isso acontece diz-se que há choque entre tópicos. Seria o caso de uma pessoa que tem medos terríveis de ficar sozinha, mas não consegue manter o casamento. O mal estar subjetivo vai ser mais ou menos evidente de acordo com cada pessoa, algumas podem estar morrendo por dentro, mas nem a pessoa mais próxima perceberá.

Quando dois tópicos entram em choque, em algum tópico da Estrutura de Pensamento a pressão aparecerá. O exemplo mais corriqueiro é aquele em que o empresário tem uma série de decisões para tomar, mas não sabe se o resultado será bom ou ruim à empresa. Isso o incomoda por alguns dias e logo lhe aparecem aftas na boca, outros têm gastrite, alguns emagrecem e assim será diferente para cada pessoa. No exemplo acima, o choque entre dois tópicos causou uma pressão nas sensações que apareceram em forma de afta, gastrite ou emagrecimento.

Retomando o caso do suicídio, agora conhecendo um pouco mais de Filosofia Clinica, a pessoa pode sim, querer tirar apenas uma parte dela e por isso acaba tirando a própria vida. Mas, assim como um cirurgião corta e retira do corpo um nódulo, também é possível que o filósofo ao longo de um trabalho terapêutico retire da pessoa aquilo que tanto lhe faz mal. Para algumas pessoas, a terapia parece não ser a solução para o seu problema, mas pedir ajuda, significa entender que muitas vezes na vida é preciso caminhar acompanhado.

Tudo o que está escrito acima sobre o suicídio é apenas uma das possibilidades, faço questão de deixar claro que não existem duas pessoas iguais. Para muitas pessoas, o suicídio será totalmente diferente do que está acima, podemos lembrar o caso de Getúlio Vargas que em carta deixou registrado o que foi o suicídio para ele: “Eu vos dei a minha vida. Agora ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na história.”
Por: Rosemiro A. Sefstrom Do site: http://rosemirosefstrom.blogspot.com.br/


quarta-feira, 17 de setembro de 2014

QUAL O TAMANHO DO PAVIO?

Uma das alegorias mais comuns sobre o temperamento das pessoas é o pavio. Às pessoas que tem paciência e agüentam grande carga de problemas sem reclamar ou “explodir” com outras pessoas, são chamadas de pavio longo. Já aquelas pessoas que por pouco, quase nada “explodem” com quem estiver por perto, recebem o termo “pavio curto”. Esse processo de encher acontece com pessoas que usam o procedimento que chamamos de adição, ou seja, elas somam o que acontece durante o dia.


A adição, ou processo de soma, pode acontecer de muitas maneiras, uma delas é a adição de coisas ruins. É fácil sentar em um banco pela cidade e ficar meia hora ouvindo as conversas e perceber que algumas pessoas contam muitos eventos ruins. Algumas pessoas ouvem estas informações dos jornais, por exemplo, e esquecem logo em seguida. Mas muitos dos que ouvem podem fazer o processo aditivo, somar um assassinato, com um assalto, com uma briga, com o aumento da gasolina, com a inflação e tudo o que fizer parte da conversa. Essa pessoa provavelmente terá muito conteúdo ruim para trabalhar, uma vez que adicionou tudo que lhe foi dado. Muitas pessoas têm o hábito de adicionar o que é ruim, e as coisas boas que passam perto sequer são identificadas.

Coloquemos este processo aditivo em uma relação de marido e mulher. Imagine que sua esposa faz o processo de adição, mas é um processo muito curto, em alguns dias ela se incomoda com as coisas e logo briga, chora, grita. Você, com o tempo acostuma e a cada tanto ela faz esse processo, mas logo depois tudo volta ao normal, à rotina. No entanto, o marido faz um processo aditivo muito mais longo, leva algum tempo, um , dois, dez anos até atingir o limite e explodir. Quando a explosão acontece é algo tão fora da realidade da esposa, que nunca viu tal evento que ela pode significar como falta de amor.

A explosão se refere ao momento em que a pessoa chegou ao seu limite e termina por colocar toda sua insatisfação para fora. Utilizei o termo explosão por ser um comportamento geralmente descontrolado, no qual a pessoa grita, bate, chora, algumas vezes simplesmente desmaia. É importante perceber que em muitos casos a explosão acontece com quem nada tem a ver com o ocorrido. Como a esposa que espera o marido em casa, depois de um dia cansativo, o marido chega em casa e percebe algo que lhe desagrada. Naquele momento ele explode, diz coisas que jamais diria se não fosse naquelas condições.

O conteúdo da explosão em muitos casos em nada tem a ver com o que aconteceu no momento, uma vez que a pessoa adiciona elementos diferentes. Quem acompanha este processo, deve entender que pode não ter a ver com o que está acontecendo e que a pessoa está simplesmente descarregando de forma bruta. O conteúdo elaborado, bonitinho, socialmente correto, nessas horas fica de lado. Pode não ser fácil, mas seria ideal se houvesse a compreensão por parte de quem acompanha a explosão que percebesse que pode não ter a ver com o acontecido. Mas que a pessoa precisa jogar todo aquele lixo que guardou para fora.

O tamanho do pavio de cada um tem a ver com quanto conteúdo é possível de se adicionar. Para algumas pessoas o processo de adição e nada é a mesma coisa, elas esquecem, simplesmente deixam para trás e seguem seu caminho. Mas as pessoas que o fazem vivem sob a pena de catalogar e alocar cada conteúdo vivido. Aqueles que convivem com estas pessoas devem prestar atenção ao processo e perceber que tipo de conteúdo é adicionado e como isso acontece. Basta prestar atenção às expressões como: “Outra vez; de novo; mais um dia; está me enchendo; parece que vou explodir.” E tantas outras expressões que denotam a operação de soma.
Por: Rosemiro A. Sefstrom Do site:

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

SÍSIFO

Um mito muito conhecido na filosofia mas pouco conhecido no senso comum é o Mito de Sísifo. Este conta a história de um jovem de nome Sísifo, o qual era muito astuto e enganou os deuses por duas vezes. Cada uma das vezes que enganou os deuses foi reconduzido ao Tártaro, algo similar ao inferno. Na terceira vez que foi aprisionado, recebeu o castigo de rolar uma pedra de mármore até o topo de uma montanha. Cada vez que atingir atingisse o topo rolando a pedra, ela rolava novamente até o ponto de início e ele começava tudo novamente. Este mito tem diversas interpretações. Albert Camus, por exemplo, fala que mostra alguém que queria viver a vida ao máximo e foi condenado a uma tarefa sem sentido. Algumas pessoas fazem o mesmo que Sísifo: passam a vida rolando conteúdos existenciais que deveriam ser deixados de lado, abandonados pelo caminho. Mas, quando mais se dedicam a estas coisas, como o personagem à sua pedra, mas estas coisas fazem parte de sua vida.

Naturalmente aprende-se que o que desejamos afastar deve ser empurrado para longe e lá deve ficar. Isso pode ser visto em diversos lugares de nosso cotidiano: quando uma pessoa não quer mais um sofá, ela o pega e leva ao lixo. Dali o velho sofá segue o seu caminho até que não exista mais. Assim também acontece com a sujeira do corpo, toma-se o banho e ao lavar-se a água leva embora o que nos matinha sujos. Só que não aprendemos como afastar aquilo que existencialmente está em nós, ou seja, afastar algo que é parte nossa. Não foi ensinado o que fazer com a mágoa que corrói o coração, com um amor que sabidamente não pode ser vivido, com a dor da perda de alguém que pode ser irremediável. Não é possível depositar estas coisas num saco plástico colocá-lo no cesto que fica do lado de fora do muro e esperar que alguém dê o destino. Assim como não é possível entrar em baixo do chuveiro ensaboar-se e tirar com água aquilo que maltrata a alma.

O que se ensina como maneira de lidar com este tipo de dor é que devemos colocar para fora, vivenciar, não desviar a cara, enfrentar o que tanto incomoda. Em todos estes ensinamentos a pessoa é levada em direção aquilo que traz sofrimento e mais do que isso, é obrigada a vivenciar esta dor supondo que passará. Em alguns casos, somente pesquisando a história da pessoa é que saberemos se é assim para ela, se é possível realmente que a pessoa viva a dor e depois siga a vida em frente. Em muitos casos, ao vivenciar a dor a pessoa está aumentando aquilo que gostaria de diminuir, ou seja, ao tentar afastar-se ela está fazendo o contrário. Este movimento de aparente solução é um método não apropriado em muitos casos, a pessoa ao reviver a situação falando, vendo, lendo, ouvindo está tornando o sofrimento presente em sua vida.
Para exemplificar: há pessoas que buscam desesperadamente livrar de si a inveja e prestam tanta atenção nela, cuidam tanto dela que isso faz muito mais parte de sua vida do que a humildade.

Pessoas que se concentram muito na dor, em sua forma, dimensão, extensão, estão fazendo desta dor muito mais parte de si do que os bons pensamentos que podem ter. Quando se coloca algo a frente da pessoa e ela se coloca a empurrar, enquanto estiver empurrando, este objeto fará parte dela, de suas vivências de seu ser. Se a pessoa coloca a sua frente amor, amizade, perdão, humildade, isso será parte dela, e estes caracteres serão muito mais parte dela do que coisas com as quais ela não se ocupa. Nem tudo que se deseja afastar é necessário empurrar, algumas coisas estão passando e só farão parte da vida se houver dedicação em torno delas.
Por: Rosemiro A. Sefstrom Do site:

domingo, 7 de setembro de 2014

PARA QUE SERVE A INTELIGÊNCIA?

Você sabe o que é inteligência artificial? Em geral nosso conhecimento sobre o assunto não vai muito além de pensar em algo parecido com um computador super inteligente. Na verdade, inteligência artificial ainda é uma mistura de sonho e realidade. 


A tecnologia já foi alcançada. Máquinas com capacidade de memória, raciocínio e argumentação superiores aos humanos estão disponíveis em qualquer esquina, no entanto, carecem de recursos emocionais. Até onde isto pode ser considerado inteligência? Como o próprio nome diz, são apenas máquinas que buscam dados armazenados e os combinam em alta velocidade. 

Cientistas buscam ir além e compreender o fenômeno da inteligência, procurando decifrar o modo como os seres humanos pensam e representam suas vivências. Elaboram teorias e modelos matemáticos de inteligência e depois os transferem para dentro de computadores, com o objetivo de multiplicar a capacidade racional do ser humano de resolver problemas, pensar ou, em última análise, ser inteligente.

Afinal de contas, qual critério define um ser inteligente? Cientistas definem um agente inteligente como um sistema que percebe seu ambiente e toma atitudes que maximizam suas chances de sucesso.

O sonho é saber se a nova geração de computadores terá realmente capacidade de aprender, pensar e quem sabe até ter sentimentos, pois são justamente as emoções quem validam, dificultam e fazem o contra ponto às decisões racionais. É preciso refletir também o que vamos fazer com tais máquinas e o que elas poderão fazer conosco.

Partindo do princípio que toda esta estrutura tecnológica de inteligência artificial foi criada através de modelos que copiam o cérebro humano, por que sentimentos também não poderiam ser criados de maneira semelhante? O que impede? Uns dizem ser impossível, outros dizem que é uma questão de tempo. 

Algumas destas máquinas são programadas para dialogar baseando-se em palavras chave. Por exemplo, cada vez que o interlocutor disser que está triste, o computador buscará uma série de expressões que se assemelhem neste contexto, como “fiquei chateado com sua tristeza”, “isso me deixa sem palavras”, “estou solidário com sua tristeza”, “se tivesse lágrimas estaria chorando com você”.

Máquinas também podem ser montadas com câmeras e microfones acoplados a sistemas que reconheçam fisionomias, sons e sinais de alegria, tristeza, raiva, mentira, sonolência. Logo que um sinal for identificado, a máquina buscará dados em seu arquivo para interagir conforme os sinais emitidos. 

Máquina se programando para amar: abrir um pouco mais os olhos, acelerar respiração, aquecer a pele, mudar o tom de voz, tocar o outro suavemente. Muita gente pode confundir tais respostas mecânicas artificiais com sentimentos genuínos e acreditar que finalmente foram criadas máquinas com capacidade de se emocionar.

Seres humanos, sem perceber, fazem este tipo de comportamento todos os dias. Emitem frases, abraçam, fazem carinhos mecanicamente, sem que isto represente sentimento algum. Atitudes e pensamentos robotizados. Observe as pessoas cantando "parabéns a você" numa festa de aniversário ou dando pêsames num funeral. Olhares, expressões e discursos vazios, apenas cumprindo um ritual, representando papéis existenciais. Tão falsificados quanto bonecos com inteligência artificial simulando sentimentos programados.

Até onde viramos bonecos e os bonecos podem ser humanos? Quanto restou de sentimento humano para ser assimilado pelas máquinas? Por que estamos desenvolvendo bonecos para nos relacionar emocionalmente?

"Dentro de poucos anos teremos os meios tecnológicos para criar uma inteligência super humana. Algum tempo depois, a era humana vai terminar" - Vemor Vinge. Antes de investir em inteligência artificial, talvez fosse melhor fazer algo relacionado à nossa mente natural.

Inteligência artificial pode ser suficiente para interagir, não para sentir. A luz artificial das lamparinas não encanta os girassóis, ela apenas e somente engana os insetos. Inteligência artificial, sonho ou pesadelo? Por: Ildo Meyer do site: www.ildomeyer.com.br