segunda-feira, 13 de agosto de 2012

SOBRE A EMBRIAGUEZ E A ARTE


Para que haja arte, para que haja alguma ação e contemplação estéticas, torna-se indispensável uma condição fisiológica prévia: a embriaguez. 

A embriaguez tem de intensificar primeiro a excitabilidade da máquina inteira: antes disto não acontece arte alguma. 

Todos os tipos de embriaguez, por muito diferentes que sejam os seus condicionamentos, têm a força de conseguir isto: sobretudo a embriaguez da excitação sexual, que é a forma mais antiga e originária de embriaguez. 

Também a embriaguez que se segue a todos os grandes apetites, a todos os afetos fortes; a embriaguez da festa, da rivalidade, do feito temerário, da vitória, de todo o movimento extremo; a embriaguez da crueldade; a embriaguez da destruição; a embriaguez resultante de certos influxos meteorológicos, por exemplo a embriaguez primaveril; ou a devida ao influxo dos narcóticos; por fim, a embriaguez da vontade, a embriaguez de uma vontade sobrecarregada e dilatada. 

O essencial na embriaguez é o sentimento de plenitude e de intensificação das forças. 

Deste sentimento fazemos partícipes as coisas, constrangemos a que participem de nós, violentamo-las, ? idealizar é o nome que se dá a esse processo. 

Libertemo-nos aqui de um preconceito: o idealizar não consiste, como se crê comumente, num subtrair ou diminuir o pequeno, o acessório. 

Um enorme extrair os traços principais é, isso sim, o decisivo, de tal modo que os outros desapareçam ante eles. 

Crepúsculo dos Ídolos, de Friedrich Nietzsche 

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