segunda-feira, 13 de agosto de 2012

A REBELIÃO DAS MASSAS


Somos aquilo que nosso mundo nos convida a ser, e as feições fundamentais de nossa alma são impressas nela pelo perfil do contorno como por um molde. 

Naturalmente: viver não é mais que tratar com o mundo. 

O semblante geral que ele nos apresenta será o semblante geral de nossa vida. 

Por isso insisto tanto em fazer notar que o mundo de onde nasceram as massas atuais mostrava uma fisionomia radicalmente nova na história. 

Enquanto no pretérito viver significava para o homem médio encontrar a sua volta dificuldades, perigos, escassez, limitações de destino e dependência, o mundo novo aparece 
como um âmbito de possibilidades praticamente ilimitadas, sem dúvida, onde não se depende de ninguém. 

À volta desta impressão primária e permanente vai se formar cada alma contemporânea, como em volta da oposta se formaram as antigas. 

Porque esta impressão fundamental se converte em voz interior que murmura sem cessar umas como palavras no mais profundo da pessoa e lhe insinua tenazmente uma definição da vida que é, ao mesmo tempo, um imperativo. 

E se a impressão tradicional dizia: "Viver é sentir-se limitado e, por isso mesmo, ter de contar com o que nos limita", a voz novíssima grita: "Viver é não encontrar limitação alguma; portanto, abandonar-se tranqüilamente a si mesmo. 

Praticamente nada é impossível, nada é perigoso e, em princípio, ninguém é superior a ninguém".

De Jose Ortega y Gasset 

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