domingo, 12 de agosto de 2012

CERVEJAS OU CHAMPANHE?




Produtores criam cervejas que seguem os padrões de grandes vinhos, champanhe e do Jerez


Conheça as bebidas que podem custar até R$ 250 a garrafa


RIO — A cerveja Deus não tem esse nome à toa. É mesmo divina. Produzida na Bélgica através de longa fermentação, é enviada para Reims, em Champanhe, na França, onde passa pelo mesmo processo dos grandes vinhos espumantes: a segunda fermentação na garrafa, seguida do chamado remuage, processo que resulta no acúmulo dos sedimentos no gargalo da garrafa, para serem removidos antes de ser colocada a rolha definitiva em forma de cogumelo. Não é só o método de produção, o preço também é de champanhe: custa entre R$ 160 e R$ 250 em lojas e restaurantes como Bazzar, Delirium Café e BeerJack HideOut. Sua compatriota, a Malheur, é inteiramente fabricada na Bélgica, com o mesmo processo, incluindo uma versão escura, feita a partir da Malheur 12. O Brasil também já faz cervejas neste estilo, como a mineira Wäls Brut e a catarinense Lust, da Eisenbahn (vendidas entre R$ 150 e R$ 200).

Produzidas através do método champenoise, elas não são as únicas a usar processos de fabricação similares aos de alguns vinhos. O italiano Teo Musso vive no Piemonte, berço de muitos dos melhores vinhos de seu país. Mas ele não fermenta uvas, como é habitual por ali, mas cevada e outros cereais, para fazer algumas das mais incríveis e autênticas cervejas de tudo o mundo, como a linha Baladin Xyauyù. Além de ter um processo de produção inspirado no Jerez, é uma cerveja com indicação de safra, como a maioria dos vinhos.

— O Teo Musso faz algo diferente de tudo — diz Cristiana Beltrão, sócia do Bazzar, um dos primeiros restaurantes do Rio a apostar em menus harmonizando comidas e cervejas. — O mosto é hiperconcentrado e, depois, fervido por duas horas e meia. Depois da filtragem, a cerveja é transferida para tanques de aço com uma membrana transparente e um “chapéu” de oxigênio, com o objetivo de permitir que sofra um processo de oxidação, como acontece no Jerez. O processo é controlado por dois anos e meio. Muita oxigenação arruína a bebida e pouca oxigenação não adiciona sabor no processo de envelhecimento. Depois de inúmeros testes nesses dois anos e meio, ele decide quando é hora de engarrafar, dependendo sempre da velocidade de oxidação. Por isso, a sua produção é superpequena. A garrafa é sempre a de champanhe, com rolha de boa qualidade. Lembra também um vinho Madeira — compara Cristiana.

É uma cerveja potente, com alto teor alcoólico (14%), e deve ser servida em copinhos de conhaque ou de licor, como muitas vezes é servido o próprio Jerez. Podemos encontrar safras diferentes deste rótulo no mercado brasileiro, como a Baladin Xyauyù Etichetta Oro, de 2004. Da mesma família Xyauyù, também encontramos por aqui a Etichetta Argento 2007 (R$ 300), com 13,5% de álcool, muitas vezes comparada ao Chateau Chalon, o mais famoso rótulos da região francesa do Jura, que produz o vin jaune, parecido com o Jerez.

Alguns rótulos melhoram com o tempo

Além de fazer uma cerveja inspirada no Jerez, Teo Musso explora os vinhos do Piemonte na produção de outros rótulos, como o Baladin Lune, feito em homenagem aos “grandes vinhos brancos italianos”, como diz o rótulo, e o Baladin Terre, elaborado para celebrar os tintos (ambos da safra 20110, vendidos a R$ 270 cada, na Beer Jack). São envelhecidos em barris usados em alguns dos grandes vinhos da mundo, como Barolo e Barbaresco, custando mais caro do que muitos desses vinhos emblemáticos da Itália.

Outro ponto que aproxima a cerveja do vinho é a indicação de safra. A grande maioria das cervejas, especialmente as mais leves, do tipo pilsen, as mais populares no Brasil, foi feita para ser bebida o mais cedo possível. Porém, existem alguns rótulos que melhoram com o tempo, como a inglesa Fuller’s Vintage Ale (que custa cerca de R$ 80), feita anualmente, com os melhores maltes da safra. É para ser consumida anos depois, segundo indica o fabricante, que só estabelece um prazo de validade de cinco anos por obrigação legal. Depois de engarrafada, evolui na garrafa, ganhando nuances de sabor e aroma, a ponto de já haver pessoas organizando “degustações verticais”, quando são abertos vários rótulos de um mesmo vinho. No caso, de cerveja.

— Já bebi cervejas com até dez anos, e estavam ótimas — conta Hélio Junior, sócio do Delirium Café, que vende outras cervejas safradas, como a Chimay azul (R$ 26,90).

Uma dessas que só melhoram com o tempo é a belga Cuvée Van de Keizer, a maior referência quando o assunto é cerveja safrada. Produzida desde 1999 pela Het Anker, é uma dessas cervejas de guarda, que podem ultrapassar uma década engarrafada, como poucos vinhos são capazes de fazer.

— Ela é produzida anualmente, apenas no dia 24 de fevereiro, para comemorar o aniversário do imperador Carlos V — explica Hélio Júnior, servindo uma garrafa do ano 2000, absolutamente deliciosa mesmo 12 anos depois de produzida. 

Copos. Rótulos especiais merecem ser servidos adequadamente, como vinhosFÁBIO SEIXO 
O GLOBO







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