domingo, 22 de julho de 2012

SEARA SC, TERRA DAS BORBOLETAS


Museu na região Oeste reúne a maior coleção de insetos da America Latina

Sozinho, o pesquisador Fritz Plaumann ajudou a trasnformar Seara na Terra das Borboletas



Museu na região Oeste reúne a maior coleção de insetos da America Latina Sirli Freitas/Agencia RBS
Borboleta Morpho anaxibia mede 10 centimetros e virou símbolo na cidade de SearaFoto: Sirli Freitas / Agencia RBS
Sozinho, Fritz Plaumann, provocou uma pequena revolução. Ajudou a trasnformar Seara, município do Oeste de SC, na Terra das Borboletas. A coleção invejável tem 80 mil insetos — a maior da América Latina. No museu montado na casa construída em estilo alemão, 95% das espécies são da região do Alto Uruguai. Motivo suficiente para atrair curiosos de todos os cantos e despertar interesse de professores da Europa e professores japoneses.

Há 100 anos, nascia um homem que transformou Seara, no Oeste de SC, na Terra das Borboletas. Graças a Fritz Plaumann, milhares de alunos, professores da Europa, cientistas do Japão e também curiosos vão anualmente até o distrito de Nova Teutônia para ver o maior museu Entomológico da América Latina.

É até difícil acreditar que um único homem é o responsável por uma coleção de 80 mil insetos. Se ele coletasse apenas, identificasse e catalogasse um inseto por dia, levaria 219 anos para montar a coleção.

A missão foi ainda mais difícil: Plaumann começou tudo num ambiente inóspito, de mata virgem, que passou a ser desbravado no início do século 20. Isso sem apoio de órgãos governamentais ou centros de pesquisa. A rede elétrica só chegou em Nova Teutônia na década de 1970. O asfalto, só em março do ano passado.

O distrito onde está localizado o museu ainda guarda traços da arquitetura da colonização alemã. Ainda este em pé uma casa de 1925, construída um ano após a chegada da família Plaumann a Seara. Há ainda um antigo hotel que virou museu e guarda objetos das famílias de imigrantes. Lá, dá pra entender um pouco como era a realidade vivida pelo jovem cientista.

Cerca de 95% dos exemplares são do Alto Uruguai Catarinense. Ainda é fácil observar as borboletas que encantaram Fritz Plaumann fazendo voos imprevisíveis em volta do museu. Mas muitas espécies só podemser observadas dentro do casarão. Há mosaicos de cores e estampas que poderiam inspirar muitos estilistas.Há borboletas de dois centímetros a até 11 centímetros de envergadura.

Uma dos exemplares mais famosos é a Morpho anaxibia. O macho é todo azul mas a fêmea, para se tornar mais atraente, ganhou tons em preto e amarelo na borda das asas. Ela virou uma espécie de símbolo de Seara.

Símbolo espalhado por toda a cidade

Dentro do museu, ela parece imóvel e delicada. Mas ganhou o gigantismo e a robustez de concreto nas paradas de ônibus do município. Também transformou-se em metal nas placas indicativas das ruas. Há até lembrancinhas em crochê inspiradas no formoso inseto.

Tudo em Nova Teutônia lembra borboleta. Há esculturas em madeira, enfeites de plástico, adesivos e casulos. Até o túmulo de Fritz Plaumann, que fica próximo ao museu, tem uma borboleta em granito.

Os gregos acreditavam que, quando uma pessoa morria, seu espírito saía do corpo em forma de uma borboleta. Talvez por isso ela seja símbolo de renascimento. Assim foi com o trabalho de Fritz Plaumann. As borboletas sempre estiveram em Nova Teutônia. Mas se não fosse Fritz Plaumann, dificilmente as pessoas iriam até lá para vê-las.

Muito menos para observar besouros, percevejos, abelhas, vespas, formigas e até baratas. Plaumann reuniu um exército de insetos, de 17 mil espécies diferentes. Somente ele descobriu 1,5 mil espécies novas. E foi homenageado em 150 delas. Como o besouro Homelocerus plaumanni.

Plaumann deu a esses seres muitas vezes desprezados uma aura nobre, de ciência e até atração turística. Como homenagem, deu nome a um museu, a um parque ambiental em Concórdia e tem seu trabalho reconhecido mundialmente.


A guardiã das memórias
Uma senhora grisalha que gosta de servir café e biscoitos para as visitas é a guardiã de outra riqueza, tão atraente quantos os insetos no museu. Gisela Plaumann, filha adotiva do pesquisador, guarda tesouros: os materiais utilizados para montar o acervo de 80 mil espécies.

Gisela ainda mora na casa reformada e ampliada em 1954, quando Fritz Plaumann mudou-se para o local com a mulher Klara Anamaria Links. As paredes duplas de madeira em tom verde escuro com janelas vermelhas compõem um cenário com um quê europeu. Dá para imaginar Fritz Plaumann catalogando os insetos perto da janela e observando os morros cobertos de mato, que muitas vezes ficam encobertos pela neblina.

Nas inúmeras gavetas, há estoques de lâminas que nunca foram utilizadas. Há também linotipos com letras menores do que a cabeça de um alfinete, utilizados para catalogação.

Em armários de madeira maciça, estão as enciclopédias de entomologia, que serviram de base para a pesquisa. Em outro armário, que foi construído pelo próprio Plaumann, estão os químicos utilizados para deixar os animais incoscientes. Até o chapéu dele está pendurado na sala.

Gisela conta que, às vezes, acordava às 3h e preparava frango e outros alimentos para o lanche, nos dias de coleta. Depois, saía com o pesquisador e suas redes catar o insetos pela região, até voltar, no início da noite.

–Tem uma espécie de um besouro no museu que fui eu que encontrei!


Calor da chaminé ajudava a atrair os insetos
Com carinho, ela mostra os cômodos: calor da chaminé do fogão servia para secar os insetos; outra armadilha, com lâmpada, ajudava na coleta. Tem até um galpão construído para guardar tocos de madeira e atrair insetos para a pesquisa.

Gisela conta que trabalhou como empregada na casa de Fritz Plaumann em 1924, aos 21 anos. Com seus pais biológicos já falecidos, foi adotada como filha. Como o pesquisador não teve herdeiros, ela é quem cuida de tudo, como sempre cuidou. E sente-se realizada por ter dedicado sua vida ao pesquisador, que carinhosamente chama de pai.

Vida dedicada à ciência

A imagem de Fritz Plaumann na maioria das fotografias do museu entomológico, mostram um senhor de idade, com óculos e bigode. Falecido em 1994, Fritz Plaumann dedicou toda a sua vida ao estudo dos insetos.

De acordo com uma das guias do museu, Elfride Freyer, ele era um senhor calmo. Sua filha adotiva Gisela, lembra que quando ele ia a uma festa de aniversário, ficava pouco mais de uma hora e depois ia para casa.

Quando não coletava e catalogava os insetos, arrumava alguma coisa na casa ou no jardim. Ele fez alguns móveis, instalação elétrica e até na cozinha ajudava.

Tinha como hobby tocar violino e harmônio. Quando chegou em Seara, em 1924, começou a trabalhar como agricultor. A partir de 1925 deu início às suas pesquisas. Deu aulas de português e alemão, até montar um pequeno comércio. Todo o dinheiro era revertido para a compra de equipamentos para a sua pesquisa. 

Esse teria sido um dos motivos para a separação de sua esposa Klara, que voltou para a Alemanha. Nos finais de semana viajava para fazer fotos das famílias da região, também para angariar recursos. Plaumann mostra um certo desgosto com a burocracia brasileira, pois chegou a ser impedido de coletar insetos sob alegação que estava dizimando a fauna. 

A mágoa está revelada num trecho do livro Diário de Fritz Plaumann, organizado por Mary Bortolanza Spessatto: "...tudo isso que fiz foi para o proveito do nosso Brasil, que tornou-se a minha segunda pátria e realizou-se sem que fosse necessário gastar um único cruzeiro dos cofres públicos. Creio que no Brasil não se encontra outra pessoa que fez o mesmo por conta própria e de único punho."

O interesse pelos insetos começou no primário, na cidade de Preussich Eylau, cidade da Prússia Oriental, na Alemanhã, onde nasceu em 2 de maio de 1902. Lá ele catava os besouros e perguntava o que era para seu professor. Somente ao final de sua vida, teve o trabalho reconhecido, recebendo diversas honrarias, como o Mérito Universitário da UFSC e a Grã-Cruz de Mérito da Alemanha.

Como chegar

— Saíndo de Chapecó, ir pela SC-283 em direção à Seara, percorrendo cerca de 35 quilômetros até o trevo de acesso a Nova Teutônia, antes de chegar na cidade.
— Daí, são mais 10 quilômetros em estrada pavimentada até o museu. Quem vem do litoral pode ir até Xanxerê e pegar a SC-466, que passa por Xavantina, até a SC-283. Vira à direita e vai até o trevo de acesso à Nova Teutônia.
— Outra opção é ir por Concórdia, pegar a SC-283, passar a cidade de Seara e ir até o trevo de acesso de Nova Teutônia.

Horários de visita

— Segunda à quinta-feira, das 8h30min às 17h
— Sábado, das 9h às 16h
— Ingresso: R$ 3 (adulto) e R$ 2 (estudantes até o ensino fundamental)
— Telefone: (49)3453-1191, Ramal 214

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