sábado, 7 de julho de 2012

CINCO MINUTOS DE CORAGEM

Quantas vezes na vida é preciso ter coragem? Alguns dizem que para sobreviver neste mundo competitivo é preciso matar um leão por dia, portanto, toda a coragem será pouca. Minha visão é diferente, não mais que 5 minutos de coragem na vida são suficientes. Vou tentar explicar. 

A vida é perigosa. Frente ao perigo a mente humana calcula riscos, utiliza a lógica, pesa os prós e contras e como um negociante astuto decide se vai enfrentar ou recuar diante da situação imposta. Saltar de pára-quedas, escalar um vulcão, praticar esqui aquático podem machucar quem pratica. É natural que alguns fiquem receosos e não queiram enfrentar estes desafios. Não tem nada a ver com covardia ou coragem, é apenas o cérebro se protegendo ou divertindo. Nem todos gostam de adrenalina demais circulando pelo corpo. . 

Acontece que nem sempre se dispõe de tempo suficiente para raciocinar. Quando somos pegos desprevenidos, o instinto de sobrevivência fala mais alto, assume o comando e determina a adequação de enfrentar ou fugir do perigo. Entrar em luta corporal com um assaltante ou saltar de um prédio em chamas necessariamente não envolvem coragem, por vezes os protagonistas relatam que agiram sem pensar e nem lembram direito como aconteceu. Foi tudo muito rápido, instintivo, reptiliano... 

Acredito também que poucas pessoas têm a coragem de ser covardes diante de testemunhas, ou seja, alguns valentões de plantão muitas vezes estão jogando muito mais para a torcida do que para eles próprios. O show da vida inclui todas as espécies de coragem, desde a mais espetacular até a mais discreta. . 
Coragem não é algo que requeira qualificações excepcionais, fórmulas mágicas ou combinações especiais de hora, lugar ou circunstância. É uma oportunidade que mais cedo ou mais tarde será apresentada para cada um de nós, e sua demonstração vai depender da disputa entre cérebro e coração. 
A palavra coragem deriva do francês “coeur”, que significa coração. Quando o coração desafia a lógica do cérebro e enfrenta os medos e perigos que este construiu, estamos falando de coragem. Poderíamos também chamar de duelo entre razão e emoção, ou como Freud sugeriu, luta entre “id” e “superego”. Os termos são diferentes, mas os significados se assemelham. 
Para a maioria das pessoas, talvez a razão predomine sobre a emoção. Comigo é assim. Quando ambas estão do mesmo lado é ótimo, mas se houver discordância, a razão geralmente fala mais alto e termina levando vantagem. Isto nem sempre é bom, pois emoção reprimida pode ser somatizada ou se transformar em doença. 
Em alguns raros momentos o alarme biológico dispara, a emoção reúne forças, supera a pressão cerebral e decide enfrentar o perigo e partir rumo ao desconhecido. É chegado o dia da mudança, a hora da virada, o ponto a partir do qual não é possível retornar. É a convicção de que é preferível enfrentar e talvez não sobreviver a nunca mais viver plenamente. A emoção, apesar de morrer de medo, se expõe, perde a vergonha, transitoriamente declara sua independência, assume os riscos e se transforma em coragem. 
São instantes preciosos, pois definem uma existência. Cinco minutos desta forma de coragem podem ser suficientes para terminar um relacionamento, abandonar uma profissão, assumir um erro, pedir alguém em casamento, ousar, renunciar, falar, calar...Cinco minutos apenas, o depois é conseqüência. 

É assim que a coragem me parece hoje. Sua coragem também funciona assim? Por: Ildo Meyer

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