quinta-feira, 19 de julho de 2012

PRISÃO

Querido leitor, que você esteja vivendo livre. Nosso tema hoje é sobre prisão.

Nessa minha saga de estudar Emmanuel Lévinas, deparei-me com o Talmude, que é um livro sagrado dos judeus constantemente usado pelos rabinos. Importante esclarecer que rabino quer dizer professor, mestre.

E é dele, do Talmud, que retirei sobre “O Sofrimento Inútil”, que diz assim:

“Hanina caiu doente e Yohanan foi visitá-lo e perguntou-lhe: teus sofrimentos te convêm? - Nem eles, nem as recompensas que prometem. - Dá-me tua mão, disse então o visitante ao enfermo. E o visitante o levanta da sua cama. Mas, depois, eis que o próprio Yohanan cai doente e é visitado por Hanina. Mesma questão: Teus sofrimentos te convêm? - Nem eles, nem as recompensas que prometem. - Dá-me tua mão, disse então o visitante ao enfermo. Dá-me a mão, diz Hanina e levanta Yohanan da sua cama. Questão: Yohanan não podia se levantar sozinho? Resposta: O prisioneiro não poderia libertar-se sozinho de sua prisão”.

Neste texto com oito linhas, muita filosofia, muita sabedoria, muita simplicidade. Para mim, uma metáfora belíssima: quantas vezes caímos, quantas vezes entramos nessas prisões e não podemos sair? Mais do que isso, ficamos trancafiados e caminhando em círculos sem alguém para nos retirar da prisão a que nós mesmos nos metemos.

Estas prisões podem ser a da partilhante que só consegue sentir o ódio de uma separação não compreendida. Aqui, os 20 anos de casamento se resumem equivocadamente em um único sentimento. Do jovem que depois de um namoro de quase três anos cai na droga depois que viu sua ex-namorada ficando com outro rapaz. Da empresa que faliu e virou uma depressão do fundador.

Prisão, para mim, é tudo aquilo que usamos como muleta quando não enfrentamos responsável e maduramente uma situação. A demissão da empresa, a perda de uma pessoa próxima e querida, enfim, fatos e situações não tão simples assim, pois só quem sente é quem sabe, mas pode se tornar simples na medida em que encontro a chave para abrir as portas e sair dessa prisão. Muitas vezes a chave não está com a pessoa, pois ela se encontra presa em sua cela e não consegue ver outros horizontes, além daquele projetado em sua mente.

Muitas vezes projetamos a chave da nossa libertação no esposo ou esposa, que é quem realmente vai me libertar, achando que essa pessoa é a responsável pela minha felicidade. Pode ser meu colega de trabalho que não faz a sua parte, meu irmão que se joga nas cordas e se faz de louco, deixando tudo para mim. É provável que o outro, fonte onde buscamos a chave para sair, também não possa nos ajudar porque também está preso. E, sabemos, é muito difícil alguém dar algo que não tem.

Mais do que estar na prisão, é preciso se perceber nela. Algumas vezes, é claro, a chave pode ser acionada por mim, mas na maioria das vezes é acionada por um terceiro, um terapeuta atento. Mas tanto numa situação quanto na outra, a chave está dentro de cada um de nós, apenas não sabemos onde achar ou então que gavetas de nossa estrutura de pensamento ela se encontra.

É assim como o mundo me parece hoje. E você, o que pensa sobre prisão? Por: Beto Colombo

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