domingo, 1 de julho de 2012

CRISTIANISMO E CATOLICISMO

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística(IBGE) divulga que a Igreja Católica teve redução de 1,7 milhão de fiéis, uma redução de 12,2%. De 1970 para 2010 a redução de católicos brasileiros, foi de 91.8% para 64,6%. 

Na contramão, os evangélicos crescem e no mesmo período subiu de 5,2% para 22,2% O aumento desse segmento foi puxado pelos pentecostais, que se disseminaram pelo país na esteira das migrações internas. A população que se deslocou era, predominantemente de pobres que se instalaram nas periferias das grandes cidades. Com fraca presença da igreja católica nestes locais, as igrejas pentecostais se aproveitaram da situação e construíram suas igrejas e tiveram a preferência desta população. 

Previsão dos demógrafos é o fim da maioria católica no Brasil a partir de 2030. Como isto é apenas uma previsão com base na evolução recente, tudo pode ser diferente. 

O que é ser católico? É ser batizado? Ir à missa? Levar os filhos na catequese? 

Católico, significa universal. 

Ser católico poderia ser todo aquele que assim se declara? Esta é sim a definição sociológica dada pelos pesquisadores. 

A culta Europa tem como católicos, segundo pesquisa da própria Igreja Católica, apenas 25% de sua população. 

Como sempre ocorre quando de trata da história, o passado nos ajuda a entender o presente, nos leva a compreender os desafios contemporâneos que a Igreja Católica e o catolicismo enfrentam. 

O cristianismo se originou a 2 mil anos como uma seita judaica marcada por uma obsessão: o fim do mundo e o julgamento final dos homens, o apocalipse, que é também o título do último livro do chamado Novo Testamento. A Palestina judaica de então era uma colcha de retalhos de movimentos políticos e religiosos com tendências beligerantes e fanáticas. A grande maioria dos judeus recusava o carpinteiro Jesus como Messias, por ter fracassado em realizar a esperada libertação do seu povo do domínio romano. 

Grande polêmica ao redor da cristologia é sobre quem é Cristo? Homem? Deus? Homem e Deus? Como se relacionam nele essas duas naturezas, a divina e humana. Onde termina uma e começa a outra? Quando Jesus chora no jardim da oliveiras ou se desespera na cruz, é o homem ou Deus? Como pode Deus agonizar? São questões de grande profundidade que esta identidade teológica de Jesus impõe para pensarmos os desafios do catolicismo na atualidade. 

Qual o impacto disso no necessário diálogo inter-religioso, bem como nas próprias polêmicas internas do catolicismo romano? As controvérsias históricas e teológicas são infindáveis, e o número de documentos e suas interpretações são mais que um oceano de possibilidades. 

Quem eram os primeiros cristãos? Judeus pobres, em sua maioria. Em seguida judeus helenizados e romanizados, já de maior poder aquisitivo. 200 anos após, o cristianismo era uma religião dos povos mediterrâneos, helenizados e romanizados, agora já atingido camadas sociais mas abastadas. 

Eruditos cristãos que dominavam o grego e o latim realizaram a fusão entre uma seita judaica primordial e o que veio a ser, um corpo cultural razoavelmente sólido e dominante no Império Romano e no ocidente medieval. A tradição filosófica grega foi assimilada, tal como a ideia da alma, psicologia, política, ética e moral, entre outros. 

O Cristianismo nunca foi em sua história uma unidade. Sempre houve, assim como hoje, várias formas de cristianismo, sendo o catolicismo romano, assim como conhecemos, apenas uma delas, embora a mais importante e com maior número de seguidores, com grande importância simbólica e histórica. Se o cristianismo nunca foi um só, nos dias atuais vemos que esta multiplicidade de denominações cristãs esta amplificada. Entre os exemplos mais significativos, podemos citar os seguintes: catolicismo romano, ortodoxia bizantina, protestantismo histórico, pentecostalismo, neopentecostalismo, testemunhas de Jeová, o espiritismo de origem kardecista e a umbanda caracterizado pelo sincretismo religioso. 

Historicamente, teologia e política sempre estiveram unidas, como quando da permissão do culto da religião cristã no império romano pelo imperador Constantino no inicio do século IV , e quando dá oficialização do cristianismo pelo imperador Teodósio já ao final do mesmo século. 

De sua raiz judaica o cristianismo trouxe uma marca que será bem importante para o catolicismo do final do século XX, que é a crítica ética, social e política. A vocação de crítica ética e política, também chamada de profetismo hebraico, ao encontrar as utopias políticas modernas, descendentes de Jean-Jacques Rousseau e karl Marx, geraram um dos fenômenos teológicos mais importantes da história do catolicismo romano da segunda metade do século XX, a Teologia da Libertação. 

O domínio da Igreja Católica na Europa ocidental entre os séculos V e XV é quase pleno. A idade média, mais conhecida como a idade das trevas, mito este criado pelos iluministas franceses do século XVIII. A idade média é essencial na história do catolicismo porque nela a Igreja Católica quase realizou sua vocação de herdeira do espólio do Império Romano, para legislar sobre toda a Europa. 

Além das pressões internas e externas com o crescimento do islamismo e das cruzadas, o renascimento, movimento iniciado na Itália, esta tendência levou ao racha protestante com Lutero e Calvino. Lutero foi protagonista de um fenômeno que marcou definitivamente a história do cristianismo, com a quebra da unidade ocidental e a perda definitiva de Roma sobre todo o ambiente cristão. Este também foi o evento que dá inicio a separação da Igreja e do Estado, daí a expressão Estado laico. 

É comum dizer que a ciência a partir do século XVII matou Deus. Isto nada tem de científico. Deus não é uma variável passível de ser testada em laboratório. O que a ciência fez foi dar ao homem um método para construir teorias sobre o mundo que fossem passíveis de alguma medida, de teste em laboratório. 

A partir das teorias de Renê Descartes, a ciência avançou muito e uma vida racional acaba assumindo contornos de um confronto crescente entre verdades religiosas e verdades científicas, republicanas e democráticas. O próprio crescimento das sociedades modernas e sua multiplicidade cultural e religiosas, dentro do convívio republicano, fará surgir uma série de impasses que o catolicismo romano terá de enfrentar nos dias atuais. 

O movimento conservador vê na religião um fato essencial da vida psicológica e social, sem o qual a moral entraria em decadência, segundo estes. Esta defesa poderia ser religiosa em si ou apenas estratégica, tendo a religião como aliada necessária na defesa do tecido moral e político de uma sociedade em vias de destruição pelo processo modernizador. 

A modernidade é muitas vezes vivida como um trauma histórico, cheio de emoções, amor e ódio. Época inaugurada pelas revoluções sociais, pelo protestantismo, pela ciência e pelo secularismo, o que resume as agonias do catolicismo desde então: perda da hegemonia da cultura cristã, perda do monopólio da verdade para a ciência, perda do poder público para o estado laico. Estas são as agonias de toda a cultura ocidental que é judaico-greco-romana. 

Na filosofia, é sabido que as religiões sempre tiveram papel preponderante naquilo que os povos compreendem como fundamento dos valores morais. Religiões são definidas como sistemas de sentido para a vida das pessoas neste mundo e no mundo vindouro que elas acreditam existir. 

Originalmente moral e ética são sinônimos. Com o tempo a moral acabou por constituir-se no estudo dos hábitos e costumes, e a ética passou a designar a disciplina filosófica específica que busca estabelecer as normas para esses comportamentos de modo reflexivo e racional. 

A ciência e sua filha a tecnologia se aceleram constantemente e a igreja católica com sua hierarquia rígida é marcada por uma grande lentidão decisória. Enquanto isto as igrejas pentecostais são ágeis, bastando encontrar um espaço abandonado, uma bíblia e alguém que fale bem, microfone e algumas cadeiras, para abrir uma nova igreja, via de regra nas periferias onde a igreja católica está ausente. 

Enquanto a Igreja Católica se perdeu numa pastoral política, os pentecostais trabalham o cotidiano concreto da vida das pessoas, onde ter casa própria, casamento estável, dinheiro, emprego etc. são resumidas na formula da abundância de bênçãos. Max Weber imortalizou essa ideia na relação que fez entre espírito do capitalismo e burguesia protestante do norte europeu em sua obra clássica A Ética protestante e o espírito do capitalismo. 

Seria o fato de o Brasil ter predominância de pobres e iletrados que leva a ganhos pastorais de propostas como estas? 

A filha da ciência, a tecnologia, trás através das redes sociais e a comunicação rápida entre os jovens, desafios e oportunidades adicionais a todas as correntes religiosas, somando-se ainda temas como homossexualidade, novos modelos de família, ambientalismo e sustentabilidade. 

O que podemos dizer é que o catolicismo, apesar de todos os desafios, permanece sendo uma das denominações cristãs de maior apelo como sistema cotidiano de sentido, e eternidade. Tem ainda uma enorme elasticidade e capacidade de adaptação às transformações históricas, mesmo depois de muita gente afirmar sua morte, sucumbindo às ideias de Freud, Nietzsche, Marx e Darwin. A igreja tem a seu favor 2 mil anos de experiência com a psicologia do humano e suas mazelas, através da observação empírica e do enfrentamento delas. 

O foco de sua atenção tem sido identificar no que a modernidade fracassaria como agente doador de sentido para homens e mulheres contemporâneos. 

O catolicismo continua a encantar muita gente.

Por: Aloysio Tiscoski

3 comentários:

Anônimo disse...

Meu caro Aloysio,

Fica claro ser esta obra objeto de intenso estudo e pesquisa. Porém, mesmo tendo observado o rigor científico na elaboração do texto, ele consegue transcender e mostrar um "frescor" de uma boa "conversa de boteco".
Foi revigorante ler este texto, num domingo à noite, após dias seguidos de intenso trabalho na política local.
Fico grato pelo envio do e-mail.

Saudações e obrigado!

Silmar

Anônimo disse...

Bom dia Aloysio.

Como costumo dizer, este assunto é como ácido em minhas úlceras.
Muito bom seu artigo! E é isso aí, divulgue seu trabalho. O que é bom deve ser divulgado.
Vou compartilhá-lo no meu blog também.

Forte abraço e ótima semana!


André P. Topanotti

Anônimo disse...

Oi Aloysio!


Muito interessante teu texto. bem polêmico ,na verdade a religião nos passa valores ,que no decorrer da vida não se mostra assim.
Escreverei alguma coisa que li num texto e achei bem importante: O mito da separação. A visão de si mesmo como vítima está arraigada no homem há milênios, No Ocidente ,essa visão contou com o reforço de algumas crenças religiosas A filosofia de Cristo,por exemplo, nunca foi suficientemente bem entendida A idéia de integração com a fonte de vida sempre esteve implícita em seus ensinamentos. "Eu eo pai somos um' , vós também sois deuses". anulando a noção do homem separado de Deus e consequentemente vítima desse ser essa imagem de um ser distante que julga e castiga, aliada à consepção da impureza do homem, fortaleceu o mito da separação, ou seja , mantém o homem na ilusão de estar separado de Deus e de toda a natureza.
Quando o homem está na dependência externa , são os outros que comandam sua vida, E le não desenvolve a capacidade de usar as habilidades, interiores para criar resultados benéficos como a pressão é muito forte , o homem imcapaz de corresponder a todas as normas impostas começa a sentir: revolta medo de viver e errar, por que acredita em punição e castigo( e somos nós que sempre nos impomos punições) medo da reprovação alheia e da rejeição. (na verdade nós estamos rejeitando a nossa própria essência) em suma o paternalismo não deixa o indivíduo crescer.
Agora sou eu que te peço desculpas pela extenção do texto ., mas pra ti que costuma ler muito isso é insignificante abraços
Cristina