quarta-feira, 11 de abril de 2012

Quem somos nós?

Querido leitor, que você esteja em paz. Nosso artigo hoje é sobre uma questão que atravessa gerações e chega a nossos dias sem uma resposta conclusiva: Quem somos nós? Trazendo para a primeira pessoa do singular, pode-se perguntar: quem sou eu? Quantos de nós pensa que é a sua profissão? Eu sou padre, pedreiro, advogado, jornalista, médico, carpinteiro, enfim, ele fala que é aquilo que faz profissionalmente. Talvez, pior do que isso é nunca sair do salto ou deixar esse papel nem que seja por alguns momentos. O professor, por exemplo, deixa de ser aluno e aprender, pois se fecha no papel de ensinar e não se abre para aprender. O empresário trabalha o tempo todo em que está em vigília e continua na sua função mesmo quando dorme. Lembro-me que recentemente, em um sábado final da tarde, estava caminhando na beira-mar, em Florianópolis, quando encontro a paisagista que contratamos para nos ajudar a embelezar nossa casa. Insensível, ela veio ao meu encontro e logo começou a falar de trabalho. “Quero tua permissão para trocar aquelas mudas de rosas, pois elas são sazonais, quero trocá-las por perenes”, comentou. “O que estás dizendo?”, perguntei. Ela meio sem entender, repetiu a frase, coisa que também fiz: “O que estás dizendo?” Era meu jeito de dizer que estava ali caminhando, descontraindo, encontrando amigos e falando sobre outros temas, outros assuntos. A questão do jardim, que não era emergente, poderia ser deixada para o momento certo, a oportunidade correta. Quem sou eu? Quem somos nós? Aprofundando um pouco mais esse tema, lembro do Padre Edson que recentemente estudou Filosofia Clínica com um grupo e brasileiros na Universidade Hebraica, de Jerusalém, em Israel. Durante todo o tempo estava entre nós debatendo, discutindo, defendendo seu ponto de vista e ouvindo atentamente o dos outros. Já no final dos estudos, em Jafa, reza uma missa para todos e, de viva voz, agradece a cada um por não tê-lo visto como padre. “Quero agradecer vocês por não me reduzirem a um padre e terem me dado a oportunidade de me apresentar como eu sou, não só como padre, mas também”. Esse bonito exemplo do padre Edson nos remete a uma reflexão profunda, já que muitos de nós, em alguns casos, se fixam em seus papéis, se identificam com eles e não conseguem beber em outras fontes, estudar outros conhecimentos, conhecer outras verdades. Ao contrário do padre Edson, existem pessoas que às vezes até exigem que o outro os veja somente daquela única forma. Como diz o filósofo Karl Marx, de manhã sou pescador, a tarde agricultor e a noite poeta, sem ser unicamente pescador, agricultor e poeta. Quem somos nós, afinal? O outro, é possível, seja muito mais aqueles que não se apresenta, que está encoberto, do que aquele que faz questão de ser, de se apresentar em curriculum intermináveis, cursos e diplomas. Talvez seja isso: quando nos reduzimos a um único papel, quando deixamos de nos ver de forma inteira e pluralista, corremos o risco de nos perdemos. Nós somos muito mais que o nosso papel, às vezes único papel, como médico, pedreiro, dentista, carpinteiro, advogado, empresário. Eu sou muito mais. Nós somos muito mais. É assim como o mundo me parece hoje. E você, qual resposta daria a pergunta “quem sou eu”? Por: Beto Colombo

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