sexta-feira, 20 de abril de 2012

Lembranças e Mudanças

Para quem já viveu algumas décadas, os eventos da infância dizem respeito a um passado distante, que as novas gerações desconhecem, ou pouco conhecem, principalmente se aconteceu fora das grandes cidades. Vida cotidiana sem energia elétrica, televisão, bicicleta, motocicleta, automóvel, telefone, internet, celular e sem computador. Vida simples em casa de madeira sem trancas, onde atos de violência e insegurança eram uma exceção. As roupas que usávamos, apesar de escassas e que passavam de irmão para irmão, eram separadas em três categorias; roupa para o trabalho, para a missa e o uniforme para a escola. Um par de sapatos de borracha e usado apenas para ir a missa. As roupas do trabalho quando desgastavam eram remendadas com tecido, geralmente de outra cor, mais parecia um mosaico. Homem com calças remendadas na altura do joelho e coxas era considerado trabalhador. Homem com calças remendadas na altura da bunda era considerado preguiçoso, visto que a mesma sofria desgaste por sentar com frequência. Fumar cigarro de palha e usar um facão com bainha na cinta, sinal que o menino virou homem. Ferramentas de trabalhos eram a enxada, machado, foice, facão, canivete e foice de mão. O trator da época era uma boa junta de bois. Nosso pai era mestre em domar bois novos. Lembro de uma junta que marcou época em nossa fazenda de 18 hectares, chamados, Salino&Sereno. Nós que estamos entre 40 e 60 anos somos a última geração que obedeceu regiamente nossos pais e também a primeira a obedecer nossos filhos. As mudanças foram bruscas. O que impressiona é a capacidade de nos adaptarmos rapidamente. Senão vejamos; o computador e o celular, talvez os que mais impuseram mudanças, hoje fazem parte da vida de cada um como se sempre estivessem disponível. Nos permitem falar com pessoas de todo o planeta vendo seus rostos, acessar todo e qualquer informação gratuita e instantaneamente. Caminham para fundir-se com a televisão. Outras mudanças menos evidentes, porém não menos importantes estão ocorrendo, como a valorização da futilidade. Em outras épocas admirávamos pessoas cultas, a boa música, o canto coral, o professor sabia e sabia transmitir conhecimento, o padre era visto com respeito e era conselheiro familiar e da comunidade. Pais e avós eram conselheiros de toda hora. Nos dias atuais a música sacra e o canto coral foi substituído pelo bate-estaca e congêneres. Surgem e desaparecem como relâmpagos. Quem não ouve a música ou cantores da moda, como o Michel Teló, “esta por fora”. Os livros mais vendidos, tem importância econômica pelo volume vendido, porém de valor literário duvidoso. Encontrar bons livros esta cada vez mais difícil. Cantores decadentes em suas terras de origem, lotam estádios no Brasil. Ou gostamos do que a maioria gosta, ou logo somos taxados de querermos ser superiores aos demais, como se crime fosse não estar alinhado com a maioria. Um amigo professor me informou que a literatura mundial foi substituída nas escolas por autores nacionais. Nada contra autores nacionais mas como ficamos sem ler clássicos como Platão, Aristóteles, Tomás de Aquino, Agostinho, Cervantes, Nietzsche, dentre muitos outros? Existe vida inteligente fora da leitura, principalmente leitura de boa qualidade?  Nossas vidas sofrem transformação por vários motivos, mas a leitura transforma e liberta de forma definitiva. Impossível conhecer o mundo sem leitura, mesmo para um viajante contumaz. Com o advento da internet a leitura ficou extremamente facilitada e o acesso aos grandes clássicos da literatura mundial estão a poucos clics. Será que é isto que a juventude anda fazendo, ou estão apenas acessando filmes, músicas e navegando nas redes sociais, onde no entanto as futilidades tem expressão maior. A comunicação predomina através da imagem. O grande avanço, ao que parece ocorreu apenas na tecnologia e esta pode libertar ou aprisionar, depende como cada um lida com isto, lembrando que isto é assim para mim. Por Aloysio Tiscoski

3 comentários:

Martin Wharton disse...

Concordo! Os atuais jovens dizem que os antigos velhos são atrasados e limitados. Mas quem, em sua juventude tola, nunca procurou os verdadeiros sábios do mundo? Aqueles que, não só possuem o verdadeiro conhecimento, mas também vivenciaram a verdadeira liberdade da vida e do pensamento? Hoje, o que vemos são jovens presos ao simples fato de apenas viverem em um mundo sem ideias ou profundidade. Viva aos poucos que ainda enxergam a grande verdade da vida!!!

Alfredo Benatto disse...

Com a idade vamos perdendo os movimentos pois já não precisamos mais correr tanto, nem possuímos mais força para tanto, nossa alimentação estará reduzida (não precisamos mais tantas proteínas, carboidratos, etc.), em suma, o mecânico vai aos poucos se esvaindo enquanto vai dando lugar a reflexão mais calma, mais detalhada, mais apaziguadora. Jovens mudam o mundo com seus rompantes, com sua energia, assim sua orientação deve ser firme e com conteúdos universais para que possa mudar, melhorar, criar, recriar, etc.
Nem sempre será a maioria, somente alguns.

Será????

Andre Topanotti disse...

Caro colega, muito bom o artigo. Tem tudo a ver com a matéria que estou lecionando na Unesc sobre as recentes e relevantes mudanças de comportamento em nossa sociedade. Reflete muito bem a sutil transição da Geração "Bloomer" para a Geração "X" e o forte contraste destas duas primeiras com a Geração "Y", principalmente evidenciada após a chegada da última no mercado de trabalho. Vou colocar a turma no compromisso de ler este artigo. Muito bom! Parabéns!


André Topanotti