sábado, 28 de abril de 2012

Preparado para morrer

Querido leitor, paz! Nosso tema hoje é sobre decidir morrer. Há meses venho acompanhando um partilhante em Florianópolis. Está em estado bastante avançado de câncer e tem consciência de que tem poucos meses de vida. Um exemplo de garra e de determinação no que se refere a enfrentar sua questão de vida e de morte. Aposentado com uma confortável tranquilidade econômica, ele se diz um católico, apostólico, romano e praticante. Durante o tempo em que ainda tinha saúde, sempre se doou à religião e aos trabalhos como catequeses, grupos de casais, retiros, ministro da Eucaristia. Realmente uma pessoa do bem, da luz. Depois que descobriu o câncer ele me disse que se transformou em outra pessoa. Na verdade, confidencia, acessou uma outra pessoa que estava latente nele. “Transformei-me num bicho acuado que busca alimento, só que aqui, nesta situação, busco a cura”, explicou-me. Até aí, tudo bem, tudo certo. Se não fosse a ideia errônea, na sua cabeça, de buscar vida em outras possibilidades oferecidas pela sociedade em geral que não seja a recomendada pela sua religião. Ele me disse meio que se penitenciando que havia viajado longe em busca da sua cura, sem sucesso até então. Foi, inclusive, fazer cirurgias espirituais fora do país. “Queria tentar me reconectar novamente com a vida, queria uma nova chance”, repetiu meu partilhante várias vezes. Diante do fato concreto de que os exames comprovavam que o câncer aumentava e ele sentia o resultado na sua saúde física, em sua performance diária, rendeu-se a realidade e estava administrando seus dias de vida sem pensar na morte. “Um dia de cada vez”, vibrava ele. Mas o fato dele ser católico praticante era o que mais lhe incomodava, já que saiu da sua conduta para buscar esperança em outras fontes. Depois de vários encontros, ele mesmo lembrou que mais do que algumas religiões, alguns religiosos ameaçam caso a exclusividade seja questionada. Ele fez uma retrospectiva de sua vida e do que está escrito no livro Sagrado: “Existem muitas moradas na casa de meu Pai”. Depois de passar pelos processos de negação, revolta, busca e conforto pela situação, ele agora já fala que a vida lhe deu muitas coisas boas e está preparado para passar para outra existência, já aceita a morte como algo natural. Isso se deu, principalmente, depois dele perder o medo do que fez na busca pela vida, indo atrás de outras curas. Isso ocorreu em seguida ao entendimento de que o que ele fez não é pecado, não avilta suas crenças e nem depõe contra sua história. Ele, mais leve e puro, decidiu que já pode morrer. O que há de se fazer a não ser respeitar sua decisão? “Não quero morrer”, alerta ele, explicando que “a morte vai me encontrar assim mesmo. Mas sei que, agora, já estou preparado para ela”. “Eu perdi o meu medo da chuva, pois a chuva voltando pra terra pras coisas do ar; aprendi o segredo da vida, vendo as pedras morando sozinhas no mesmo lugar”. É assim como o mundo me parece hoje. E você, o que pensa sobre já estar preparado para morrer?Por: Beto Colombo

Nenhum comentário: