quarta-feira, 4 de abril de 2012

O jardim da vizinha

Querido leitor, que você esteja bem. Nosso tema hoje é sobre o jardim da vizinha. E esta história é verídica. Minha vizinha está construindo a sua casa, a casa dos sonhos e a casa está praticamente pronta. Tudo foi visto de acordo com a visão ecossustentável, o gosto e o jeito dos futuros moradores: o quarto de estudo, a varanda, o alpendre, a lareira, adega, nada passou sem ter desprendido um bom tempo discutindo. O período de construção passou com leveza e tranquilidade, um ajuste aqui outro ali, só isso. Aquele processo que muitas vezes causa rusgas entre todos que trabalham na construção, sejam engenheiro, construtores, pedreiros, carpinteiros, serventes, pintores, não ocorreu na casa dela. Tudo caminhava para um desfecho perfeito. Caminhava... De longe eu observava a parte final da sua casa, no acabamento. Um toque aqui, um retoque ali, faltava pouco, bem pouco. “Só falta o jardim”, disse-me ela emocionada. Chegou o momento de contratar um profissional para fazer o jardim da casa dos sonhos. Provavelmente o jardim dos sonhos que, como a casa, também teve a pitada dos futuros moradores. Estudou os profissionais, empresas, orçamentos e optou por um, ou melhor, por uma. Agora é mãos à obra. De comum acordo, decidem-se as peças, os ornamentos, os tipos de flores, folhagens, enfim, tudo conversado. Qual não foi a surpresa quando a futura moradora, que vivia distante, chega à sua casa dos sonhos e tem um pesadelo com o que vê: pedras destoando, flores exóticas, plantas com espinhos, enfeites sem identificação, trabalho que até escondia a bela arquitetura planejada. Voltou à conversa inicial e o combinado verbalmente retorna à ordem do dia. A própria dona da casa, no caso a minha vizinha, vai ao jardim com a profissional contratada e começa, com carinho, a retirar o que destoa e acerta detalhes de como quer o jardim. Inclusive mostrou tudo num rabisco, numa prancheta. Dias depois, volta à sua casa e percebe que a profissional contratada insiste em colocar as flores que deseja, as peças que avalia, os detalhes que deseja, os espinhos ao redor da cerca. Discussão acalorada e ouve-se a expressão: “Este é o meu jardim”, desabafa a paisagista. “Seu jardim? Quem vai morar aqui?” - perguntou irritada minha vizinha. Refletindo sobre este episódio, me vem a mente quantas vezes entramos evasivamente na vida, na casa, no lar, na empresa das pessoas. Chegamos e vamos dizendo o que elas têm que fazer, o que comprar, aonde ir. “Eu, no teu lugar, não faria isso”, alguns metidos comentam. Até qual programa de televisão às vezes damos pitaco na casa dos outros. O outro é o outro e eu sou eu. Talvez não tenhamos o direito de ser tão ácidos nas colocações, até mesmo que nos forem solicitadas nossas opiniões. O outro é solo sagrado e ao adentrar no seu mundo as botas sujas do esterco do jardim precisam ficar de fora. O que sabemos do outro para impor espinhos no jardim de sua morada? É assim como o mundo me parece hoje. E você, o que pensa sobre interferir na vida do outro? Por: Beto Colombo

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