sexta-feira, 6 de junho de 2014

EU COMIGO!

Há alguns termos em Filosofia Clínica que são corriqueiros. Um deles é “Estrutura de Pensamento”, geralmente tratada só por EP. Esse termo significa a estrutura construída pelos dados que retiramos da história de vida da pessoa. Todo o conteúdo de vida da pessoa é alocado em trinta tópicos, os quais se combinam e derivam criando uma estrutura única. Dos trinta tópicos, um deles chama-se Interseção de EPs, o qual mostra ao filósofo que escuta a história de vida da pessoa o modo como ela se conecta a outra pessoa. Essa conexão pode se dar de diversas formas, mas basicamente tem quatro qualidades, pode ser: positiva, negativa, variável ou confusa. A interseção recomendável para um trabalho terapêutico entre o partilhante e o filósofo é a positiva, mas há casos em que as outras qualidades também podem acontecer.


Quando estabeleço uma interseção de EP com outra pessoa, coloco uma série de conteúdos meus na relação com o outro, como por exemplo, uma mulher que começa um relacionamento porque está apaixonada pelo homem. Ela coloca suas emoções em contato com ele, além de muitos outros conteúdos, mas o que liga ela ao homem é o amor. Ele, por sua vez percebe nela uma mulher bonita e se liga a ela pela beleza dela. Veja que interessante: um coloca amor e outro senso estético. Não há nada de mais, se para ela e para ele a relação está de acordo, tudo bem. Mas nem sempre a interseção que estabelecemos é com o outro, algumas vezes essa interseção se dá com a gente mesmo.

Quando eu sou meu próprio companheiro, como sou? Há alguns amigos que gostam muito de caminhar e geralmente ouço a frase: “É no caminho que a gente se encontra”. Quando dizem essa frase, para mim ao menos, estão dizendo que é ao longo da solidão do caminho que entram em contato consigo mesmos. Algumas pessoas estão tão voltadas para o mundo externo que deixaram de si mesmas e não sabem mais como voltar. Se encontrar não é algo necessariamente bom, algumas pessoas já se encontraram e descobriram que são péssimas companhias para si mesmas. São pessoas que quando estão sozinhas se dão filmes ruins, livros ruins, pensamentos ruins, emoções ruins, enfim, são pessoas que se dão a si mesmas o que não dariam a seu pior inimigo.

É interessante constatar que muitas dessas pessoas procuram terapia sem saber porque sempre que estão sozinhas sua vida vai mal. Não entendem o motivo de sua vida ficar tão ruim nos momentos em que estão sós. Em muitos casos o que ocorre é que estas pessoas não são boas em cuidar, dar carinho, ter paciência e orientar a si mesmas. Esse comportamento de tratar mal a si mesmo faz com que tenham que se afastar de si para que não se machuquem. Não tem nada de mais, algumas pessoas descobriram que são péssimos companheiros para si mesmos, por isso buscam companhia em outras pessoas.

Quando estivermos sozinhos com nós mesmos, temos a oportunidade de nos dar o que cultivamos de melhor. Quando estou só, posso me dar aquilo que mais gosto, por exemplo bons pensamentos. Também posso me dar uma boa conversa comigo mesmo, aquela conversar de amigo, companheiro, que entende que a jornada da vida não é uma linha reta. Um companheiro, que sabe que o tempo e a beleza passam, mas que se continuar se acompanhando e cultivando aquilo que tem de melhor pode ficar muito bem. Não há uma receita, mas uma recomendação: procure ser um bom companheiro para si mesmo, nem sempre estaremos acompanhados na vida.
Por: Rosemiro A. Sefstrom Do site: http://rosemirosefstrom.blogspot.com.br/


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