sexta-feira, 22 de junho de 2012

DEUS NÃO É CRISTÃO

Querido leitor, paz! Hoje vamos refletir sobre Deus e o cristianismo. O artigo de hoje vem sendo protelado há alguns meses. Parte de mim dizia para escrever e outra parte dizia para não escrever, mas, enfim, depois de uns bons meses, decido escrever. Como o leitor sabe, escrever diariamente sobre questões filosóficas, econômicas, teológicas, enfim, sobre questões gerais, sem dar um conselho, um direcionamento, tudo isso é uma tarefa desafiadora. E tenho tentado nesses quase dois anos do programa Como o Mundo me Parece. E, na grande maioria das vezes, conseguido lograr êxito. Eu acho. Tenho observado durante todo este tempo que quando toco no tema espiritualidade e acabo entrando na religiosidade, menciono, é claro, o mestre Jesus Cristo. Pouco ou quase nada de ponderações. Mas que em outras ocasiões, quando também menciono outros iluminados como Krishna, Maomé, Buda, dentre outros, aqui, somente aqui, quando não falo do cristianismo com exclusividade, recebo críticas pesadas. Confesso que isso me mexeu muito e procurei refletir sobre a questão sem fazer o mesmo jogo de alguns de meus interlocutores, que é jogar com o preconceito. Minha reflexão mais aguda continuou até a semana passada, quando acalmei minha alma ao me deparar com um livro esclarecedor cujo título é instigante: refiro-me ao livro “Deus não é Cristão”. Escrito pelo arcebispo da Igreja Anglicana da África do Sul, Desmond Tutu, o livro “Deus não é Cristão” é uma boa fonte aos homens de boa vontade, a perceber que Jesus é verbo, não substantivo. Desmond Tutu está longe de ser um líder cristão convencional, já que sua presença na mídia é constante, mas não dirigindo programas evangelísticos de TV ou vendendo bíblias e livros. Sua imagem e sua história estão ligadas as lutas pacíficas por igualdade social e racial, pela dignidade do ser humano, pela tolerância e, é claro, pela paz, causa que lhe valeu o Prêmio Nobel da Paz em 1984. Tutu não tem medo de gerar debates em torno de um tema tão delicado, pois, para ele, há uma insistência milenar do ser humano em se arvorar como “dono da verdade”. Quando escreve que Deus não é cristão, o arcebispo, que é cristão, faz questão de ressaltar que a obra não se trata de um livro contra o cristianismo, e sim, uma forma franca de demonstrar que é possível identificar manifestações da misericórdia e do amor divino em todo o mundo, em diversas religiões e líderes iluminados. Em outras palavras, Deus não é patrimônio único de cristãos, muçulmanos, budistas, judeus ou fiéis de quaisquer credos, mas uma realidade incontestável em toda atitude de graça. Mesmo que o filho não siga as orientações do pai e que até não reconheça o criador como pai, o filho vai ser sempre filho. Ou um é mais filho que o outro? Faço minhas as palavras de Desmond Tutu, como privatizar, como deixar exclusivo algo que é universal? Afinal de contas, boa parte da humanidade não tem Cristo como mestre e outra parte sequer ouviu falar na sua vida, nos seus milagres. Ao rezar “meu Deus”, talvez pudéssemos refletir mais profundamente sobre o “nosso Deus”, “o Pai nosso”, pois em sua causa ainda se faz guerras, matou-se milhões de pessoas e se justificou a exploração econômica como a escravidão quando se dizia que o negro não tinha alma. Deus não tem chancela, não tem agremiação, não tem país. Deus é a união de todos os “Eus”, por isso De Eus, por isso Deus. Que tenhamos sabedoria para respeitar as diferenças e que estas nos levem cada vez mais ao Pai, embora existam muitas moradas na sua Casa. É assim como o mundo me parece hoje. E você, o que pensa sobre a exclusividade de Deus? Por: Beto Colombo

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