quarta-feira, 13 de junho de 2012

AGRICULTURA ORGÂNICA

"Transformar a agricultura do mundo em orgânica é um absurdo", afirma pesquisador Para Tim Benton, não há espaço suficiente para transformar o mundo em produtor orgânico. 

Desde que praticada com responsabilidade, a agricultura industrial é o caminho para a produção sustentável de alimentos no futuro. Para o ecologista Tim Benton, o Brasil não deveria expandir muito as fronteiras agrícolas, mas deveria receber ajudar do mundo para encontrar formas de aumentar a produção de alimentos na mesma área plantada (Pamella Vasconcellos) As prateleiras com produtos orgânicos nos supermercados enchem os olhos de quem busca uma alimentação mais saudável – e, claro, pode pagar bem mais caro por eles. Mas quando se deixa de lado a preferência individual, ou de nicho, e esse tipo de cultivo é analisado como parte da economia global, aflora a verdade: a agricultura orgânica não é a solução para tornar a segurança alimentar, isto é, o acesso universal a alimentos de qualidade, algo sustentável. As lavouras orgânicas são pouco produtivas e ocupam muito espaço. Se o mundo fosse tomado por esse tipo de prática, não haveria como alimentar a humanidade. Essa é a opinião de Tim Benton, coordenador por parte da Inglaterra de um programa governamental na Europa chamado Global Food Security, sobre segurança alimentar. Para o cientista da Universidade de Leeds, na Inglaterra, a comunidade de ambientalistas não admite a vantagem da agricultura industrializada ao conseguir produzir mais alimentos em menos espaço. “Como ecologista, é preciso admitir que isso é melhor para o meio ambiente”, diz. “Desde que as práticas sejam responsáveis”, ressalva. Benton refere-se ao uso desenfreado de agrotóxicos e a expansão desenfreada da área agrícola como meios de aumentar a produção. LEIA TAMBÉM: Cientistas querem ambientalistas e agricultures trabalhando juntos Durante o Fórum de Ciência, Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento Sustentável, evento que vai preparar um documento com sugestões da comunidade científica para a cúpula da Rio+20, o cientista conversou com jornalistas e disse que o problema da produção de alimentos de forma sustentável é uma jornada permanente. “Não chegará o dia em que vamos dizer: somos sustentáveis, o trabalho está feito. É algo que vamos perseguir continuamente”. Ele acredita que o mais importante não é encontrar a dieta ‘sustentável’ ideal, mas encontrar formas de estimular as pessoas a comprarem e ingerirem alimentos saudáveis. “Não adianta forçar as pessoas a comer aquilo que é saudável, elas precisam ser encorajadas a fazer melhores escolhas na hora de comprar”, diz. O ‘estímulo’ viria do bolso do consumidor. “Um dos caminhos que experimentamos na Europa é o aumento de impostos para alimentos que não são saudáveis”, afirma. O senhor disse que a agricultura orgânica não é a solução para tornar a segurança alimentar ‘sustentável’. Por quê? Qual caminho devemos seguir? Qualquer prática orgânica reduz a produção quando a demanda aumenta ou é a mesma. Para aumentar a produção, você precisa de mais terra e isso vem a um custo ecológico. Especialmente quando não se tem mais terra agrícola e quando é preciso derrubar florestas ou quando as terras utilizadas já estão saturadas. Na Inglaterra, fizemos um experimento em que controlamos alguns tipos de plantações em diferentes localidades. A produção com práticas orgânicas rendeu metade do que se conseguiria com agricultura industrial no mesmo espaço. Ou seja, é preciso uma área duas vezes maior para manter o cultivo orgânico e continuar alimentando as pessoas. Então, a ideia de que podemos transformar o mundo em um lugar mais orgânico é absurda, não há espaço para isso. Os ganhos com a qualidade dos alimentos orgânicos não seriam uma vantagem desse sistema? Posso imaginar daqui 20 anos a prática agrícola industrial se tornando mais ‘verde’ e mantendo a alta produção. Contudo, o cenário não é o mesmo para a produção orgânica. Será cada vez mais difícil manter a alta produção. Sempre haverá uma situação em que um bom fazendeiro orgânico pode ter sua plantação atacada por uma peste e ele vai perder anos de investimento porque optou por não usar agrotóxicos de forma alguma. Isso não me parece uma situação muito útil. Como ecologista, tudo que reduz a pressão no ambiente e aumenta a produção é uma alternativa positiva, embora a comunidade ecológica não tenha reconhecido isso. A alta produção significa, muitas vezes, salvar um grande espaço de terra em outro lugar. Assim temos a convivência relativamente equilibrada entre a produção de comida e a preservação dos ecossistemas. O Brasil enfrenta esse dilema: expandir a área agrícola ou preservar os ecossistemas. O Brasil tem sorte porque aqui há muita biodiversidade, uma reserva rica de carbono e muitos recursos naturais. A última coisa que o Brasil quer é que suas matas sejam derrubadas. Seria um tiro pela culatra. Haveria um ganho em curto prazo em relação à produção de alimentos, mas o custo seria altíssimo em longo prazo porque isso afetaria o clima do mundo inteiro. Qual caminho o Brasil deveria seguir? Faz mais sentido o Brasil expandir a área agrícola, mas não muito. Isso afetaria a biodiversidade do país. Por outro lado, o mundo precisa ajudar o Brasil a encontrar formas de aumentar o volume de produção na mesma área, de modo que isso não prejudique os ecossistemas. É aí que chegamos no argumento da especialização. Em locais onde já se pagou a maior parte do custo, como você maximiza o uso da terra para que não seja preciso aumentar a área de plantio? Mas o Brasil não pode ser escravo da preservação sem ter para onde crescer economicamente... Sim, mas é importante ressaltar que a não preservação da biodiversidade brasileira afetaria não apenas o Brasil, mas o mundo inteiro. Trata-se também de um problema de governança. A proteção de áreas importantes deveria ocorrer entre países, como no caso da Amazônia ou da África subsaariana, ou ao redor do mundo? Um dos fatores que têm aumentado a pressão no solo é o aumento do consumo de carne no mundo. A demanda de carne na China ou na Europa está provocando desmatamento aqui e ali, em locais distantes dessas regiões. Precisamos entender como decisões em uma parte do mundo causam impactos ambientais em outras. Precisamos definir como será a governança porque se acordamos daqui 30 anos e tivermos exaurido os recursos naturais da Terra, não há volta. O que se foi, se foi. Temos que aprender a proteger o ambiente porque no futuro precisaremos cada vez mais dele. Qual o papel da carne em relação à segurança alimentar? Uma das razões para a obesidade humana é que comemos a proporção errada de certos alimentos, como vegetais e carnes. Hoje sabemos que devemos comer muitos vegetais e pouca carne, mas em algumas partes do mundo as pessoas se acostumaram a comer carne três vezes por dia. Isso torna a situação difícil porque é preciso plantar comida para o animal, esperar o animal crescer e depois servir um alimento que as pessoas estão consumindo em grande quantidade. O problema não é fazer com que as pessoas sejam vegetarianas, isso não funciona. Temos que fazer com que elas comam menos carne. A redução do consumo de carne tem relação com o aquecimento global? Um estudo americano mostrou que se as pessoas ingerissem carne branca uma vez por semana em vez de carne vermelha, haveria uma redução de gás carbônico muito significativa. Nossas escolhas em comer menos carne vermelha podem ser muito poderosas em termos de nos aproximar da sustentabilidade. Existe alguma dieta sustentável? Não temos esse conhecimento ainda, mas estamos chegando lá. O problema não é qual seria a dieta ideal, mas como estimular as pessoas a ingerir essa dieta. A tendência das pessoas é maximizar o prazer. Não tomamos as melhores decisões. Muitos de nós praticamos atividades que não são saudáveis, mesmo sabendo disso. Comemos muito, fumamos, não fazemos exercícios. Porém, muitos querem uma comida ‘sustentável’ se ela custar o mesmo tanto que se paga por um produto similar. Como estimular as pessoas a ingerirem o alimento saudável então? Na Europa, estamos pensando em formas de arquitetar escolhas mais saudáveis ao comprar alimentos. Uma forma de fazer isso é cobrando um imposto maior para alimentos não saudáveis. Desenhar a dieta ideal é mais difícil do que definir qual é a dieta correta. Já temos ideia do que ela é: comer mais vegetais e menos carne. O que é uma agricultura sustentável? Não é possível definir. Não é possível medir. É possível definir relativamente. Se você tem duas práticas agrícolas de mesma produção, mas uma é melhor para o ambiente, essa é mais sustentável. O que normalmente acontece é que a prática mais sustentável tem uma produção menor. Qual seria o custo de aumentar a produção? Se a Inglaterra se tornar completamente orgânica, ela vai precisar comprar comida de outros lugares que têm prática de impacto ambiental. O aumento da população exerce uma pressão sobre a produção de alimentos e, por consequência, no aquecimento do planeta? É verdade que toda boca que se acrescenta à humanidade, significa mais uma boca para ser alimentada. Contudo, é preciso enxergar o problema além dos números. Uma boca subsaariana é muito diferente de uma boca em um país desenvolvido. Um cidadão da África subsaariana consome muito menos daquilo que chamamos de ‘parte justa’. Um cidadão de um país desenvolvido chega a consumir cinco vezes mais daquilo que seria uma distribuição justa. Ou seja, não seria uma questão apenas de números, mas de formas de diminuir essa desigualdade.Por: Marco Túlio Pires, do Rio de Janeiro

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