segunda-feira, 21 de julho de 2014

A CRISE RELIGIOSA QUE PRECISAMOS RESOLVER

A crise religiosa que estamos enfrentando é basicamente uma luta entre Deuses Nômades versus Deuses Comunitários.
Quem diria que a grande crise do Século XXI seria novamente uma crise religiosa?
Atentados, guerras e ódios estão crescendo não por falta de espaço vital ou por domínio de colônias e matérias primas, mas sobre questão de valores compartilhados e objetivos comuns de vida.
Vejam 11 de Setembro, Afeganistão, Iraque, Islã, Imigração, Israel x Palestina, que são questões no fundo religiosas.
Para piorar a situação, a Igreja Católica está com problemas de pedofilia, a Igreja Anglicana com problemas de casamentos gay, o povo está caindo no discurso de novas igrejas mercenárias que só procuram dinheiro.
Vou tentar dar um diagnóstico do problema, sabendo que é um campo minado, religião não se discute impunemente.
Por isto peço a paciência do leitor, e peço que pensem nestas ideias, antes de criticá-las.
Não sabemos como as religiões começaram 40.000 anos atrás, na época não existia escrita.
Portanto, tudo que vou relatar é fruto da lógica e da razão.
Naquela época havia dois tipos de povos.
Aqueles que habitavam um local rico e fértil, tipo Paraíso, e os que tinham que se deslocar cada vez que consumiam tudo, que eram os povos Nômades. Os que viviam num Paraíso vou chamar de Comunitários.
Os que habitavam locais férteis criaram Deuses territoriais, que protegiam não somente o povo, como também as terras, os rios e os animais. Estes faziam parte do ecossistema do Paraíso.
Estes Deuses eram eminentemente ecológicos que acreditavam em autossustentabilidade.
Vemos este discurso hoje na famosa carta do chefe Sioux Seattle, que pergunta ao Presidente Americano como ele poderia comprar as terras se elas pertenciam a Deus, como os rios, os pastos etc.
Todo território Comunitário tinha o seu Deus específico local, que impunha seus valores compartilhados específicos, sua ética e moral própria, seus costumes etc. Estes valores comuns e compartilhados eram essenciais para a sobrevivência da Comunidade. 
Se você fosse um comerciante que viajasse para a cidade de Uruk, na Mesopotamia, você enquanto estivesse naquela Comunidade não iria rezar para o “seu” e sim iria rezar para o Deus Anu, Deus de Uruk.
Muito embora o seu Deus fosse Hapi, o Deus do Nilo. Mas este não tinha como lhe proteger em Uruk. Nem poderia. 
Portanto, ao contrário de hoje, não havia nenhuma incompatibilidade em louvar a dois Deuses.
Que no Cristianismo, Islamismo e Judaísmo seria totalmente proibido. Início da encrenca para um mundo moderno.
Naquela época cada Deus protegia um lugar, e você pedia que cada Deus local ou Comunitário o protegesse enquanto você estivesse sob a sua guarda, o território em que você estivesse no momento.
Agora atentem para as consequências de um Deus assim definido.
Um Deus Comunitário não incentivaria guerras territoriais.
Combater um povo vizinho era uma coisa, combater também o seu Deus era outra. 
Pior, o Deus que lhe protegia ficava para trás e você e sua tropa ficavam temporariamente desprotegidos.
Mas 40.000 anos atrás havia também centenas de povos nômades e povos de pastoreio, que mudavam sistematicamente de território com seus animais.
Quando a área ficava totalmente depredada, procuravam novas regiões férteis e não depredadas pelos próprios povos.
Estes povos obviamente não desenvolveram Deuses locais, territoriais e Comunitários, e sim Deuses portáteis ou ambulantes.
Deuses acompanhavam o povo ao longo de seus longos trajetos, de local em local.
Estes Deuses eram intimamente ligados com seus Povos, e não com seus territórios ou locais.
Eram Deuses não tão ecológicos e preocupados com a sustentabilidade da Terra e o Ambiente. Animais eram para serem sacrificados, frutos eram para serem comidos, porque sempre haveria o suficiente. Bastava mudar de local.
Eram Deuses não muito preocupados com investimentos em casas, ruas, sistemas de esgoto, produção, máquinas produtivas e legados para as futuras gerações. Nada que fosse difícil de levar de local para local.
Mas eram ferrenhos defensores do Povo que protegiam.
Eram exigentes, mas leais.
Eram Deuses que protegiam seus povos inclusive de outros Deuses, coisa que os Deuses Comunitários não faziam.
Os Deuses dos Nômades defendiam seus povos com todas as suas forças, mesmo que tivessem que destruir o inimigo. Eram Deuses que tinham inimigos. Os Deuses de outros povos chamados de hereges. 
Tragicamente, esta visão de Deus de povos Nômades incentiva a Guerra.
Os Povos com Deuses especiais se sentiam super protegidos nas suas lutas, porque Deus estaria sempre ao seu lado, como sempre esteve.
Deus os ajudariam a conquistar um novo território inclusive, mesmo que fosse temporariamente.
Por isto, guerras entre nômades e povos territoriais eram sempre sangrentas.
Eram guerras religiosas, entre dois Deuses.
É importante enfatizar aqui que nada disto foi premeditado, é simplesmente consequência lógica de ser um povo nômade ou ser um povo sedentário e Comunitário.
É fácil entender porque um povo nômade desenvolveria um conceito de Deus que protege e segue o povo, e não o território que nunca é o mesmo.
É fácil entender porque um povo nômade será mais cheio de si e arrogante sabendo que tem um Deus o protegendo.
É fácil entender porque um povo sedentário não achará que Deus protege mais o povo do que as árvores, o ar, os ventos, as montanhas, as plantas.
É fácil entender porque um povo sedentário é menos belicoso, que se preocupará mais em se defender dos povos nômades do que atacar.
É fácil entender porque um povo sedentário irá desenvolver Deuses da água, do ar, dos ventos.
É fácil entender o problema religioso do mundo moderno, quando adeptos de Deuses Comunitários começam a mudar de cidades, e adeptos de Deuses Nômades começam a se fixar em cidades, e ambas as religiões começam a ter que conviver entre si. 
É fácil de compreender que a crise religiosa que estamos enfrentando tenha seguido justamente a fase de surgimento da agricultura, do urbanismo e da globalização, que vimos no século XX.
A crise religiosa que estamos enfrentando é basicamente uma luta entre Deuses Nômades versus Deuses Comunitários.
E transcende a Religião e já passou para a Política.
Isto fica claro nos Estados Unidos, onde os Republicanos são basicamente os Estados comunitários e agrícolas do centro dos Estados Unidos, onde a comunidade é mais importante do que a mobilidade.
E os Democratas são basicamente os nômades que mudaram do campo para as grandes cidades do Leste e o Oeste.
Agora vem a grande pergunta.
Qual é a concepção de Deus que melhor se adequaria aos tempos modernos, o Deus Nômade que protege o Povo ou o Deus Territorial que protege a Ecologia e o Meio Ambiente do qual fazemos parte?
Algo para Se Pensar
Por: Stephen Kanita : http://blog.kanitz.com.br/

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