quarta-feira, 6 de março de 2013

OS ETERNOS ADOLESCENTES

Imaturidade. A palavra virou clichê. Quando se quer interromper uma discussão, lança-se logo que o outro é imaturo. Quando não se quer estabelecer os limites de uma relação, solta-se o brado triunfante: “você é imaturo! não tenho tempo para ficar trocando juízo com crianças!” O problema é que boa parte das pessoas que acusam outras de serem imaturas são, também elas, um bando de criancinhas. Quem tenha maturidade exporá ao outro, sem chiliques, sem frescuras, os problemas e as discordâncias, e isso numa conversa franca, ponto a ponto.


O que faz com que o homem cresça, porém não cresça? O mesmo verbo é aqui usado em dois sentidos: crescer em estatura e crescer como pessoa. Muitas são as causas do fenômeno da eterna adolescência: os gurizões, gente com corpo de homem feito e cabeça de bebê. Numa listagem rápida, pode-se enumerar como principais:

- O protecionismo exagerado dos pais – na maior parte dos casos, da mãe – que impede o filho de tomar as próprias decisões naquilo que pode decidir e o cria numa bolha, sem responsabilidades, sem conseqüências, com tudo sendo jogado para os braços do papai e da mamãe;

- A absurda proibição de que os jovens trabalhem e o estímulo generalizado a que sejam promíscuos: quem pouco se acostuma ao suor e à dor e vive como se só existisse prazer não raro tem no lugar do cérebro um monte de algodão doce cor-de-rosa (ou embalagens de camisinha);

- Um ambiente de instabilidade familiar, que gera insegurança e medo constante na criança: ela cresce vendo os pais sempre a ponto de separar-se e, quando mais velha, sempre vê o risco de perder algo antes da chance de ganhar;

- Ausência de correção na educação dos filhos: pais que sempre passam a mão na cabeça das crianças subvertem-lhe o senso moral, do que é certo e do que é errado; estão criando monstros egoístas e inescrupulosos.

São apenas alguns poucos motivos para o problema, entre tantos.

Um sintoma claríssimo da decadência na educação dos filhos é o esquecimento dos tradicionais ritos de passagem da adolescência para a vida adulta. Todas as culturas possuíam algum tipo de ritual de passagem que marcava o fim do menino e o nascimento do homem. No Ocidente, foram célebres neste sentido as ordens de cavalaria medievais, com ritos de admissão e criação do cavaleiro que influenciaram todo o conceito de virilidade do Ocidente.

Léon Gautier, no livro “Chivalry” – o melhor livro sobre cavalaria já escrito na história – fala do código de honra dos cavaleiros e enumera os seus dez principais mandamentos – após, é claro, os Dez Mandamentos da Lei de Deus. Entre os comandos, defender a Igreja e a santa religião, respeitar os fracos e defendê-los quando em perigo, ser generoso, estar sempre de prontidão a combater o inimigo e nunca titubear diante dele, obedecer às leis (desde que não sejam contrárias à Lei de Deus), amar a pátria, ter palavra e não mentir (são o mesmo comando, estas duas).

Mediante o rito de admissão, o jovem cavaleiro assumia para si todos valores expressos no código de conduta; ajoelhava-se como criança e levantava-se como homem, ciente dos valores que assumira para si e das responsabilidades que agora tomara.

Durante gerações famílias tiveram seus próprios ritos de condução dos jovens à vida adulta: as mães com suas filhas, os pais com seus filhos. Hoje o costume perdeu-se completamente. Quem não descobre sozinho, diante das intempéries, o caminho para ser homem feito (e mulher feita), ou fica eternamente adolescente ou eternamente depressivo ou eternamente sem rumo – e as três coisas não se excluem. Não há mais quem mostre para as crianças o caminho para ser homem, o caminho da responsabilidade e da maturidade. O resultado são eternos adolescentes, seres mesquinhos que, com 30 ou 40 anos, continuam a agir como bebezinhos chorões ao enfrentarem qualquer dificuldade. O modo de encarar a morte é sinal disso: chegamos a um momento da história em que ninguém quer encarar a morte, todos têm medo dela, mas todos a procuram pelos atos mais irresponsáveis e desvalorosos (os cavaleiros não procuravam a morte, mas tinha hombridade para enfrentá-la quando fosse preciso morrer por algo maior; e, sim, há coisas pelas quais vale à pena morrer).

Um problema como a eterna adolescência só pode ser resolvido mediante uma educação total da personalidade e, mais ainda, de toda uma sociedade. As pessoas são imaturas e a sociedade (por conseqüência lógica, já que é o consórcio das pessoas) é cada dia mais de uma imbecilidade sem tamanho. Coisas como a “Lei da Palmada” e o “Ai, se eu te pego” que o digam.

Embora não seja uma solução em si, recuperar um código de conduta sério e formular para a própria família um rito de passagem da infância para a vida adulta, onde estes valores são tomados sobre si, é um bom modo de começar, além de possuir um excelente impacto simbólico. A propósito, para quem lê gringolês, The Art of Manliness – um de meus sites preferidos – publicou tempo atrás um artigo sobre isso, intitulado “Coming of Age: The Importance of Male Rites of Passage”. Vale à pena a leitura.

Para os homens, o seguinte vídeo pode dar uma idéia do que falo sobre os valores que o homem deve assumir para si, sob pena de ser um eterno adolescente. É um vídeo curtinho, de apenas um minuto; um comercial do Chivas Regal da campanha “Live with Chivalry”:

Por: Taiguara Fernandes de Sousa é diretor de marketing e relações públicas na revista Vila Nova, em cujo site foi publicado o presente artigo.

Um comentário:

Alfredo Benatto disse...

Texto esclarecedor que nos colaca em reflexão sobre nossos atos e nossas relações. Bom, também, por quê questiona a educação onde têm-se delegado a escola aquilo que deveria ser feito em casa, pois quem educa é pai e mãe num exercício contínuo de pura paciência para corrigir, delegar, corrigir, delegar, corrigi. Amarras com os filhos devem ser soltas no omento certo e sempre com precisão.
Devem aprender que seus atos são de sua inteira responsabilidade e que pai e mãe são protetores sim, mas não cumplices de atos irresponsáveis.

Parabéns ao autor deste texto que elucida boa parte dos comportamentos cafagestes que vemos de criancinhas birrentas todos os dias no nosso convívio.

Alfredo Benatto