quarta-feira, 3 de julho de 2013

INTERSEÇÃO

Em Filosofia Clínica a palavra Interseção designa o contato entre duas pessoas, assim como na matemática Intersecção ou Interseção refere-se aos elementos compartilhados por dois conjuntos. O contato matemático é definido por aquilo que os conjuntos compartilham entre si. Em Filosofia Clínica, esse conceito tem ainda outro desdobramento: a definição da qualidade desse contato. Em outras palavras, para um filósofo clínico, ao observar o contato entre duas pessoas ele presta atenção no que é partilhado no contato e ainda na qualidade desse contato. Sendo assim, uma Interseção pode ser positiva, negativa, confusa ou indeterminada. 

O programa Super Nanny que passa na TV aberta mostra a interseção entre os pais e os filhos. A relação exposta no início do programa geralmente mostra filhos dos quais os pais não “dão mais conta”. Crianças extremamente desobedientes, boa parte das mesmas agressivas com os pais e os irmãos, geralmente usando de agressão para conseguirem o que desejam. Quando suas vontades são supridas, as crianças se acalmam até que venham a ter uma nova necessidade que deverá ser satisfeita pelos pais. Em outras palavras, a interseção com os pais é positiva para a criança enquanto ela consegue o que quer, caso contrário a interseção fica extremamente negativa. 

Referente a um outro artigo chamado de “Arapuca”, onde eu falava dos pais que se tornaram reféns das necessidades dos seus filhos, recebi um comentário no qual uma pessoa disse mais ou menos assim: “Os filhos não vêm com manuais de instrução, não sabemos como eles vão receber o que damos”. O parágrafo acima praticamente responde esta questão: os filhos aprendem inclusive a receber com seus pais. Então, quando um pai entrega algo a um filho, e o dá como sendo algo sem valor como espera ele que o filho aprenda a valorizar? Pode até ser que aprenda na escola, com um vizinho, mas com certeza não aprenderá em casa. O programa Super Nanny é claro ao mostrar que desde muito cedo a criança deve aprender que ela tem direitos, mas também muito deveres e o que ganha é mérito seu. 

A interseção pode ser de grande ajuda na hora da educação, uma criança que tem interseção positiva com a mãe, com o pai talvez seja mais facilmente ensinada. Diferente daquela criança que vive uma interseção confusa em que hora recebe agrados, pouco depois xingões, sem nem mesmo saber o que houve. É necessário que o pai ou a mãe sente-se junto e mostre o motivo pelo qual a qualidade da interseção ficou ruim. Aponte para a criança que quebrar os brinquedos deixa o pai e a mãe triste, mostre a ela, de um jeito que ela entenda, que deve ser diferente. Promover uma atitude consciente na relação da criança com os pais e dela com os objetos é um bom caminho para a educação.

Em muitos casos pais e filhos chegam na escola e não tem a menor ideia de como está a sua interseção. São interseções de qualidade indeterminada, nem boa, nem ruim, mas também não é confusa, é uma interseção onde a criança não sabe o que esperar do pai ou da mãe. Muitos destes casos vêm de pais que de alguma maneira não estão bem e deixam as crianças a ver navios, sob a tutela de empregados, avós. Nem sempre a interseção positiva é recomendável, algumas vezes punir o filho pode ser extremamente negativo para a interseção, mas positivo enquanto educação. Como dizia Pitágoras: “Eduquem as crianças e não será necessário punir os homens”.

Rosemiro A. Sefstrom

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