domingo, 7 de julho de 2013

CARTA AO JOVEM BRASILEIRO

Dirijo-me a você, jovem brasileiro, não sem correr o risco de ser chamado de ingênuo, de alguém ultrapassado, de um desses que não percebe o que está se passando.


Insisto, desejo lhe dizer algo que julgo de extrema importância: frente à esse momento de turbulência política e econômica vivida por nosso País peço-lhe, meu caro jovem: Acredite! 

Acredite que é possível uma democracia mais saudável, ética, com valores morais e não moralista, preconceituosa. Ter ideais é próprio do jovem mas, devo lhe prevenir, todo ideal – seja ele uma ideologia política, religiosa ou outra qualquer -, é enganador. Apesar disso, é próprio da juventude se sustentar nos ideais porque eles são a centelha de liberdade da transição da família para o mundo adulto.

Hoje, como em toda história de mudança, você é aquele que clama pelo novo, pela verdade, pela queda do conformismo. Você, meu caro jovem, nos desperta do sono alienado de quem não acredita mais em mudanças. Portanto, jovem, cabe a você a responsabilidade de renovar as esperanças adormecidas em nossa comodidade cotidiana, nossa desesperança por lutar por um Brasil mais justo, que começa com o exemplo de políticos mais dignos de nos representar.

Mudanças virão pela frente, passo a passo, mas alguma coisa certamente já se encontra em andamento. Não é comum alguém se dirigir a um jovem através de uma carta. Sei que você, como tantos outros, receberá essa mensagem com um certo ar de desconfiança. Afinal, sempre há aproveitadores de ocasião para fazer valer suas ideias mirabolantes e perversas, mal intencionadas, no bojo de um movimento justo e sinceramente engajado na direção de uma verdadeira mudança para o País.

Acredite, você é o operador das mudanças necessárias para o que está aí! Acredite, mas não se deixe cooptar pelas forças, oportunistas, que querem se aproveitar da legitimidade de um movimento para impor velhas decisões cujo único intuito é a manutenção do poder pelo poder. Reivindiquem um verdadeiro discurso político e não se deixem conduzir pela politicagem barata que, afinal, custa caro para todos, ricos e pobres, jovens e velhos: o preço de uma estagnação social, econômica, política e, porque não, do desejo de cada um.

Se você olhar nos olhos de seus pais verá que estão sem brilho, tomados de um certo medo do que está por vir, cansados de promessas jamais realizadas, oprimidos por impostos cuja razão – serviços – não são justificáveis. A angústia deles é o espelho da situação incompreensível em que se encontra um País que, sob o olhar estrangeiro, teria sido “a bola da vez”. No entanto, o País continua com sua velha política autoritária de infantilizar seu povo, supondo que sabe o que ele precisa, ao invés de perguntar a todos os segmentos sociais, e não somente a um, suas reais e legítimas aspirações.

Afinal, não se constrói uma nação apenas distribuindo a renda amealhada com os duros impostos injustificáveis, pagos com o suor do trabalho de muitos. Todos querem um Brasil mais justo porém, este Brasil não pode ser desenhado com as canetadas irresponsáveis daqueles que julgam que o sangue do povo é a boa tinta para seus decretos!

Jovem, queira um País habitado por seres de desejo e não, infantilizados por bolsas que não resolvem a bagagem de miséria, desigualdade, etc., de séculos. É sabido que essas abominações só se resolvem com educação, saúde e serviços de qualidade, mesmo que isso não dê votos à curto prazo. Um país não se constrói quatro, oito, doze anos de governo, mas num projeto contínuo de insistência nos valores de base de uma democracia verdadeiramente voltada para as vozes das ruas onde, afinal, circula o povo.

As crianças que vivem pelas ruas sabem muito bem a importância desse espaço de visibilidade. As ruas margeiam o que está estabelecido e, portanto, são o verdadeiro celeiro de mudanças na medida em que, em seu território, todos e tudo circula.

Os jovens estão sempre um passo à frente de seus pais, porque precisam cavar seu lugar nas instituições vigentes. Por isso, não têm compromisso com os aparelhos que vigoram e, também por isso, têm mais vigor para brigar pelo justo.
Por: Dr. José Nazar * Psiquiatra e psicanalista (Escola Lacaniana de Psicanálise)

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