sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

DANTE

O título do artigo já é bastante sugestivo, lembra do autor Dante Alighieri, nascido em Florença, Itália. De suas obras, a que tem maior destaque é “A Divina Comédia”, na qual ilustra sua viagem através do inferno, purgatório e paraíso. Em sua trajetória, Dante é primeiramente acompanhado por Virgílio, o qual foi considerado ainda em vida um grande poeta romano. Na obra de Dante o poeta é o símbolo da razão ou capacidade racional humana. Depois de passar pelo inferno e purgatório, o autor é acompanhado por Beatriz no paraíso, sendo ela o símbolo da graça divina. 


Na viagem pelo inferno e purgatório Virgílio orientou a caminhada de Dante e no paraíso Beatriz faz companhia a ele. É interessante que um autor conte uma viagem espiritual como esta e tenha companhia em cada uma de suas partes. Ele sabia que estava entrando em uma jornada rumo ao desconhecido e não sabia o que poderia encontrar por lá. Não querendo correr o risco de ir numa viagem sem volta ele leva um guia, alguém que possa orientá-lo e lhe dizer onde está, quanto falta e por onde seria o melhor caminho para seguir.

Na caminhada existencial de muitas pessoas não existe o guia, elas estão sós, caminhando sem saber onde estão, quanto falta e qual seria o melhor caminho. Essa caminhada solitária, quase um desbravamento, ocorre de maneira empírica, ou seja, fazendo. Alguns aprendem a ler os sinais ao longo do caminho e logo começam a acertar, aprendem a não se meter onde não sabem se vão sair. É o caso de Dante quando vai ao fundo dos infernos: Virgílio, seu guia, se recusa a acompanhá-lo, mas alerta e dá as recomendações de como fazê-lo. Ele, mesmo com o aviso do guia se arrisca, seu propósito era nobre, ao menos para ele. 

O ano que se inicia pode ser mais um onde cada um é um desbravador, lutando diariamente para entender um mapa com coordenadas em alguns casos não compreensíveis. Alguns iniciaram o ano endividados e passarão o ano assim, pois não buscarão um Virgílio para mostrar onde estão e para onde podem caminhar em direção à saída. Outros iniciam o ano obesos, anoréxicos, estressados, doentes, viciados, enfim, iniciam seu ano num inferno qualquer, mas permanecerão lá porque não procuram uma mão estendida.

Virgílio não acompanhou Dante nas profundezas do inferno porque segundo ele, mesmo conhecendo, com o tempo a realidade do inferno pareceria razoável. Veja que o próprio guia sabia que se ele entrasse lá poderia não mais sair. É o caso de pessoas que entraram numa situação de vida e nem sequer sabem onde estão, mas por viverem assim, entendem que assim é o jeito de se viver. Muitos criticam o modo de vida do vizinho, do amigo, de um parente, mas muitas vezes são exatamente estes que veem tudo, menos eles mesmos. 

Ver o inferno do outro e apontar pode ser fácil, mas perceber a si próprio dentro de um, pode não ser, como alertou Virgílio.

Início de ano, tempo de reavaliar a vida, ver se não se está num caminho longe de casa, sozinho e sem saber para onde ir. Talvez a orientação de um "Virgílio" seja uma ajuda necessária. Dependendo do inferno vivido, este Virgílio pode ser um padre, um contador, um nutricionista ou mesmo um bom terapeuta.  Por: Rosemiro A. Sefstrom

Um comentário:

Maria Lúcia Dário disse...

O autoconhecimento é o caminho mais rápido rumo à felicidade. Linda e útil alegoria! Obrigada por postá-la. Boa-noite.