terça-feira, 13 de agosto de 2013

VAI FAZER O QUÊ?


No artigo anterior faltaram muitas questões que poderiam ser elaboradas como forma de reflexão sobre o programa que tenta mostrar como “as pessoas” se comportam diante de “injustiças”. Pretendo desta vez provocar um questionamento: quando uma atriz ou ator consegue separar o seu papel na representação do seu papel na realidade? O programa do domingo anterior, dia 04.08.2013, apresentava uma menina acima do peso, a qual era agredida verbalmente pela mãe devido a isso. As agressões eram diretas, a mãe dizia barbaridades à filha que chorava diante das desmedidas palavras. Até onde aquela criança, acima do peso, realmente consegue separar e entender que tudo o que a “mãe” dizia era de mentirinha? 

De modo um tanto jocoso, imagine que você está de fato acima do peso, ou seja, está gordo. Por um motivo qualquer é escolhido para representar uma pessoa acima do peso em uma peça de teatro. Na mesma dizem coisas realmente absurdas sobre o seu peso, a sua forma de se alimentar, sem lembrar que o seu peso e a sua forma de se alimentar podem ser você. Em outras palavras, você pode ser seu hábito alimentar, pode ser o peso que tem. Aristóteles costumava dizer que “você é o que você faz repetidamente”. Nas novelas existem muitos beijos cinematográficos, com separações tão cinematográficas quanto os beijos. Existem sim pessoas que conseguem separar uma coisa da outras, mas são todas? Pode-se dizer com certa segurança que um mínimo destas pessoas consegue fazer a separação entre o papel que exercem e a vida real. É fato que boa parte incorpora o que vive nas telas e acaba levando para a vida, alguns de modo muito ruim. 

O mais interessante na reportagem foi a mãe da menina atriz dizer que sofreu realmente quando criança por conta de seu peso. Mesmo assim expôs sua filha ao mesmo papel: ser ridicularizada em frente às câmeras para ver o que os outros fariam a respeito. Sei que parece um tanto duro, trágico, contundente, mas acho que se seu filho fosse orelhudo não acharia nem um pouco engraçado que ele fosse convidado para fazer papel de Dumbo numa peça da escola. Pode até ser engraçado, legal, naquele momento, mas e o que vem depois? No filme Donnie Darko o personagem ouve uma frase que lhe deixa preocupado: “Nos momentos mais importantes da vida estamos sempre sozinhos”. É claro que não é assim, mas é muito provável que aquela menina terá que lidar com o que foi dito ao longo do programa sozinha.

Separar o mundo real e o de mentira não é para todos, existe uma quantidade considerável de pessoas que leva os problemas do trabalho para casa, assim como os que levam os problemas de casa para o trabalho. Entender que cada Personagem tem seus conteúdos já não é tão simples, isolar um conteúdo de um papel de modo que não interfira nos outros, para muitos é impossível. Eu posso fazer papel de pai, papel de mãe, mas o que eu viver lá pode ter efeito em todos os outros papeis, e como saber o efeito? Só vou saber se uma pessoa realmente separa uma coisa da outra e consegue distinguir de maneira cirúrgica o estar acima do peso do fazer de conta que está a acima do se eu conhecer a pessoa. No mais, é tudo loteria. 

E você, vai fazer o que? Deixar seu filho ou filha se colocar na posição de cobaia de experimento social? Fazer aos outros e a si próprio de cobaia atestando que é só uma brincadeira não faz com que a atitude seja menos real. Brincar de bola na rua de casa quando era pequeno era uma brincadeira, mas era real.

Rosemiro A. Sefstrom  Do site www.filosofiaclinicasc.com.br

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