quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

DOENTE, NORMAL OU EU?

Uma das discussões mais presentes no cotidiano das pessoas é sobre o que é a doença. Pode-se procurar a definição em diversos lugares, inclusive na internet. Doença é, em resumo, um distúrbio das funções de um órgão, da psique ou de um organismo. Então eu posso ter um coração doente, sofrer de uma doença mental ou sofrer de uma doença física. Parece simples, mas não é. Quando olho apenas para um órgão e percebo que ele tem um distúrbio, por exemplo, meu coração funciona incorretamente e eu tenho pressão alta, pode-se dizer que tenho um órgão doente. Quando eu sofro de uma mania repetitiva, faço várias vezes a mesma coisa, nesse caso posso ser diagnosticado como transtorno obsessivo compulsivo. Neste caso, considera-se que estou com uma doença psíquica. Quando tenho um distúrbio sistêmico no meu corpo, como uma infecção, meu corpo está doente.

O outro lado da discussão é sobre a normalidade. Não há como falar em doença sem falar em normalidade. A definição de normal encontrada em diversos materiais tem a ver com padrão, ou seja, é normal aquilo que segue um determinado padrão. Esse padrão pode ser considerado algo determinado física, psíquica ou socialmente. Na questão física é um tanto fácil dizer o que é doente ou normal, isso do ponto de vista dos padrões que a medicina desenvolveu. O mesmo acontece para a questão psíquica, onde a normalidade é uma questão de a pessoa combinar ou não com o meio onde se encontra. Já na questão social a doença ser normal é seguir um padrão, ser igual ou parecido com as outras pessoas que nos cercam. O diferente, em qualquer aspecto que seja é ou pode ser considerado anormal, geralmente entendido como doente.

Na Filosofia Clinica estes dois termos nos passam longe dos olhos, ou seja, não sei o que é normalidade, muito menos o que é doença. Digo pelas minhas palavras, entre o normal e o anormal estamos cada um de nós. Pode-se dizer que entre a normalidade e a doença está você, eu e todas as outras pessoas. Quando uma pessoa vem para a terapia não a conheço, não tenho como saber o que é ou não normal a ela. Então, o problema não está em definir ou não a doença ou a normalidade, mas a maneira como se constrói essa definição. 

Pense em você mesmo, nas suas manias, nos seus hábitos. Se eu fosse acompanhar você durante um dia, será que acharia normal tudo o que você faz? É possível achar normal uma pessoa que sai para trabalhar às sete horas da manhã, chega às onze da noite e sonha com dias melhores? É possível achar uma pessoa normal aquela que compra um carro que vale mais do que a casa em que vive? Eu, você e qualquer outra pessoa temos nossas esquisitices, temos nossa própria normalidade, somos normais do nosso jeito. Ser normal do meu jeito significa entender que algumas coisas fazem parte do meu padrão, pensamentos, emoções, sensações, buscas.

Da mesma forma que sou normal do meu jeito, também fico doente do meu jeito. Minhas doenças podem ser normalidades para muitas pessoas, algumas pessoas realmente estão doentes quando estiverem sentadas na frente da televisão assistindo novela ao invés de ler um livro. Algumas pessoas estarão doentes quando não estiverem trabalhando, outras quando brigarem com os filhos, perderem a mãe. São doenças próprias de cada um, entre a normalidade e a doença está cada um de nós, normal e doente, do seu jeito.
Por: Rosemiro A. Sefstrom Do site: http://rosemirosefstrom.blogspot.com.br/


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