domingo, 4 de março de 2012

Os arruinados pelo êxito!

Os arruinados pelo êxito! Doutor José Nazar * Pessoas se matam, diariamente, das mais diversas maneiras. E isso não vai parar. É gente rica, é gente humilde, é gente famosa, é gente de todas as classes sociais. Para dizer a verdade, é gente que sofre os efeitos de angústias avassaladoras! E cada um carrega consigo uma verdade que, por si só, não explica as razões de uma tal desistência da vida. O suicídio da musa Whitney Houston coloca-nos diante de uma questão: o sucesso pode matar? Este doloroso acontecimento rememora o trágico horror de tantas outras mortes de artistas famosos como, por exemplo, Marylin Monroe, Jimmy Hendrix, Janis Joplin, Elis Regina, Cassia Eller, Amy Winehouse, etc.. Olhando de fora, quase sem nada compreender, pensamos tratar-se de uma simples banalização da morte. Mortes desnecessárias, esvaziadas de sentido, sem nenhuma razão de ser. Mas a causa está bem ali, no interior da vida íntima de cada um, que vivem uma luta incessante contra uma angústia de morte. Vidas partidas, vidas sofridas, vidas melancolizadas! O sucesso os leva a um confronto com fracasso com suas histórias de vida de seu passado. Mesmo fazendo tanto sucesso na vida artística, são sujeitos que não se acham merecedores de suas conquistas, não suportam mais tanto sucesso? Inclusive, chega-se a imputar a causa destas mortes a um uso abusivo de drogas e álcool. Mas, não é desta maneira que devemos entender estas questões, que são provocadas pelos próprios sujeitos e que têm, como triste final, vidas interrompidas. As drogas e o álcool são fachadas, álibis, meios sancionados pelos próprios, para desencadear um desejo de morte, no intuito de acabar com tudo. Por isso mesmo pode-se afirmar que a reciproca é que é verdadeira, para se matar, droga-se, bebe-se. Chega, acabou, vamos colocar um ponto final nisto tudo, não aguentamos mais viver esta dor, chega de sofrer! Em todo caso, uma pergunta que fica no ar: Por quê algumas pessoas famosas se matam justo quando se encontram no auge do sucesso em sua carreira profissional? Muitas outras não desistem da vida, conseguem, além de alcançar seu sucesso, administrá-lo muitíssimo bem. São pessoas que “têm” tudo para viver uma vida solene, de deuses, muita grana, sucesso para dar e vender, sem contar o calor mágico dos fãs que externam, de uma maneira exuberante, sua paixão delirante. Isso tudo não bastaria? Será que o problema estaria em como cada um lida com seus ideais? Sim! Seria então o sucesso, para alguns, algo tão insuportável? Sabe-se que o sucesso tem um peso e que cada um irá lidar como pode, e não como deve. O sucesso é perigoso, sim, ele acirra as exigências internas do sujeito consigo mesmo, alimentando um sentimento inconsciente de culpa, fazendo viger um profundo estado de recriminação, insensata e cruel contra o próprio. E não se trata apenas da sua conquista, parece que o problema maior está em como mantê-lo de pé, vivo, sendo sustentado diante do público. É Freud falando, sobre algo que se aplica a tantos e tantos personagens brilhantes que, no auge da sua carreira decide, impensadamente, acabar com a própria vida : “Parece ainda mais surpreendente, e na realidade atordoante, quando, na qualidade de médico, se faz a descoberta de que as pessoas ocasionalmente adoecem precisamente no momento em que um desejo profundamente enraizado e de há muito alimentado atinge a realização. Então, é como se elas não fossem capazes de tolerar sua felicidade, pois não pode haver dúvida de que existe uma ligação causal entre seu êxito e o fato de adoecerem”. De todo modo, temos que olhar os impasses da relação de cada um com seu desejo. O ser humano têm uma dificuldade nata de lidar com suas realizações: ele sofre um embate, ele quase sempre não quer aquilo que deseja. Eis aí sua depressão original, sua dificuldade de suportar a necessidade de insistir, cada vez mais, no caminho de seu desejo. Trata-se de uma análise no mínimo genial do mestre vienense, sobre os paradoxos que regem a mente humana: como posso adoecer ou, até mesmo, acabar com minha própria vida quando me aproximo de algo tão desejado? Isso vai depender da história de cada um, do desejo que habita a origem de sua vida. Portanto, meus caros, parem, reflitam, e tomem essa afirmação, não como simples conhecimento estéril, mas como uma profunda reflexão, que possa produzir consequências cruciais nos desígnios de uma vida. Pergunte-se como você lida com seus valores, seus ideais, com o que recebeu de herança dos pais, dos avôs, das palavras que lhes transmitiram e o peso que elas carregam, que engraçaram a educação que seus pais lhe passaram. Os ideais, quando muito acirrados, podem deixar um sujeito sem saída! Se todos desejamos o sucesso, porque que a sua conquista, pode vir a fazer tanto mal a alguém. Sim, o sucesso pode levar um sujeito a acabar com a própria vida. É isso mesmo, existem sujeitos que não suportam o sucesso, pois vivem o drama de um enlouquecimento existencial, que a própria razão lógica consciente, não consegue explicar. * Escola Lacaniana de Psicanálise

Um comentário:

Alfredo Benatto disse...

Para mim leigo o assunto, mas grande curioso, tal texto me intriga e me incita a buscar leitura apropriada que me esclareça melhor seus enunciados. Um pouco já posso compreender na leitura que faço atualmente: Mal Estar na Civilização de Freud. Que bom encontrar tal texto, obrigado.

Alfredo Benatto