sábado, 10 de março de 2012

Ladrões de Subjetividades

Ladrões de Subjetividades Por Por Mariana Oliveira Reis Flores Filósofa Clínica Rio de Janeiro/RJ Resenha do texto “Ladrões de sonhos e sabonetes. Sobre os modos de subjetivação da infância na cultura do consumo”, de Rita Marisa Ribes Pereira, Adriana Cerdeira, Beatriz Andreiuolo e Solange Jobim e Souza. O capitalismo, mascarado pelas idéias de progresso, eficiência e superação, vem exercendo um domínio cada vez maior sobre o corpo social, de forma que, incentivando a cultura do consumismo, este sistema econômico sob o qual vivemos vem instalando na sociedade modelos de subjetividades pré-definidos pela falsa promessa de felicidade, que inclusive a concebe muito mais como um “produto” a ser adquirido do que de fato um bem-estar individual e coletivo, totalmente isenta de quaisquer outros valores senão o status social. Reduzindo-se os valores morais em valores capitais, inescrupulosamente a mídia exerce o seu papel de “ponte” entre o produto (objeto de consumo) e o “objeto” consumidor. O homem é, numa relação como esta, “objeto” que consome e obrigatoriamente conivente com a situação econômica e cultural estabelecida; já que estando numa sociedade cada vez mais objetificada, em que a quantidade vale mais que a qualidade – e em que todas as relações sociais estabelecidas têm seu “prazo de validade”, “tempo de vida útil”, ou são “descartáveis” – o indivíduo simplesmente não percebe a que tipo de situação social está sendo submetido. Pior: ele se convence, através do discurso da mídia, tida como um dos principais instrumentos de dominação social exercida pelo capitalismo perverso, de que o “ter” é mais importante que o “ser”. Transformando tudo em produto, o modo de ser singular de cada um, bem como seus próprios desejos, buscas e questões existenciais são substituídos pela subjetividade vendida e anunciada por uma minoria que detém o poder e que manipula as massas. Desta forma, esta minoria conserva as velhas lutas de classe, cumprindo as leis perversas do sistema capitalista. Esta mesma situação é reproduzida, como não podia ser diferente, dentro das escolas, que contraditoriamente, funcionam como um espaço no qual a criança tem a sua existência social questionada através de comparações com os padrões de consumo das outras. Não possuir um “bem” de consumo da moda, estimulada pela mídia, assim como não poder realizar uma viagem à Disneylândia, por exemplo, é sinônimo de exclusão, frustração e infelicidade. As diferenças entre os modos de ser são artificialmente equiparadas pelo estabelecimento de padrões ideais de vida, ou melhor, de vida consumista. Os programas de televisão, os ídolos da música infanto-juvenil, desenhos animados, todos servem para estimular estereótipos e a venda de produtos, os mais variados possíveis. Tanto aqueles licenciados quanto os “piratas” têm efetivamente uma função pujante no aquecimento dos mercados, formal e informal, respectivamente. Isso quer dizer que a “venda” dos paradigmas culturais se dá na mídia tanto para as classes altas como para as mais baixas, havendo o desejo de consumir os mesmos símbolos em toda a esfera social. Porém, há que se ressaltar que nichos diferenciados vão existir de acordo com o poder aquisitivo, tal como ele é distribuído. Nesse contexto, um boneco “original” do Mickey, por exemplo, tem um valor, não apenas de compra como também social, maior que um correlato “pirata” destinado às classes menos abastadas. As crianças fazem constantes comparações não apenas com relação ao que possuem, mas também quanto ao “seu” ser melhor ou pior que o “do outro”. O espaço escolar, ao invés de oferecer às crianças a possibilidade de questionarem e refletirem acerca da sua realidade, funciona para reforçar o senso comum nas crianças, principalmente no que diz respeito ao consumo. Abandonando o seu papel fundamental de respeitar a pluralidade e trabalhar com as individualidades em seus respectivos contextos, a escola e os educadores se omitem quanto ao consumismo com o qual a mídia bombardeia seus alunos. A homogeneização provocada pelos padrões de consumo acaba por eclipsar as diferenças naturais e as opiniões individuais, ou seja, tudo aquilo que nos difere, como seres humanos, de um simples rebanho, uma massa ignóbil.

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