sexta-feira, 10 de outubro de 2014

FAÇA VOCÊ MESMO!

Por um acaso você corta seu próprio cabelo? Você consegue pintar perfeitamente a unha da mão direita com a mão esquerda? Você consegue coçar o meio das suas costas sozinho? Consegue roer a unha do próprio pé? Consegue fazer curativos nas próprias feridas? Em cada um destes casos, é necessário, ao menos para a maioria das pessoas, que alguém que lhe possa auxiliar para que ela possa realizar a atividade. Para a pessoa que coça as minhas costas, nada de mais, provavelmente ela estará atrás de mim e facilmente pode coçar. Para o barbeiro que corta o meu cabelo, simples, ele pode dar uma volta inteira ao redor de mim e ainda ver a minha cabeça de cima. Para outros casos acontece o mesmo: a pessoa que desempenha a atividade entende ser muito fácil o que está fazendo, mas para quem recebe parecia impossível fazê-lo sozinho.


Na vida, algumas pessoas, quando encontram problemas, pela posição em que se colocam na situação não conseguem localizá-lo exatamente. Pior ainda, algumas pessoas se colocam em uma posição de modo que o problema pareça inatingível, muito distante delas. Há também os casos nos quais o problema é muito forte e a pessoa entende que ela sozinha não tem capacidade de resolver. Existem ainda centenas de cenários diferentes para o posicionamento de uma pessoa frente a um problema. Mas, o que fazer quando o problema se apresenta de um modo que não tenho como resolver sozinho? Peço ajuda, ao menos seria o aconselhável, mas não é o que acontece em muitos casos.

O mais comum é ver por aí pessoas que estão pintando as próprias unhas, cortando os próprios cabelos, fechando as próprias feridas. Estas pessoas, ao fazerem isso se dão por autossuficientes, não precisam de outra pessoa para lhes ajudar, elas podem fazer sozinhas. Claro que sim, provavelmente um contorcionista existencial consiga coçar o meio de suas costas, mas seria muito mais fácil e certeiro se outra pessoa o fizesse. Esses autossuficientes agem como um velho desenho que eu costumava assistir quando criança, o “Ursulão”. O personagem era famoso por tentar fazer as coisas por ele mesmo, segundo ele, economizaria “quinhentas pratas”. Mas, invariavelmente, pela sua falta de habilidade, falta de conhecimento e muitas vezes de sorte mesmo, acabava fazendo uma enorme confusão e gastando muito mais do que deveria.

Muitas pessoas se apresentam pela vida apontando nossas fragilidades e a facilidade com que poderíamos resolver, mas nem todas saberiam como nos ajudar. É bem provável que qualquer um possa olhar minha cabeça em volta e de cima, mas nem todos sabem cortar o meu cabelo. Claro que ao barbeiro parece fácil, visto que ele se preparou para isso. O ideal é que eu procure o profissional adequado para que ele possa fazer o melhor por mim. Não é porque sou médico que me atenderei a mim mesmo, posso fazê-lo, mas não sei se terei clareza para realmente ver o diagnóstico.

Para sua casa, o seu carro, os seus dentes, você procura os profissionais competentes, e para ajudá-lo existencialmente? Você faz como o Ursulão, economiza quinhentas pratas fazendo por você mesmo o que os outros fariam, na maior parte das vezes, muito melhor? Nem sempre é fácil pagar, mas eu não confiaria meu carro a uma pessoa qualquer, nem a mim mesmo, prefiro um mecânico. Na vida também pode ser assim, quando eu não estiver bem, posso procurar alguém que me ajude a ficar melhor. Quando eu procuro ajuda não estou sendo fraco, mas estou sendo forte o suficiente para fazer algo por mim mesmo. Claro que isso é assim para algumas pessoas, para outras tantas é bobagem.
Por: Rosemiro A. Sefstrom Publicado no site: http://rosemirosefstrom.blogspot.com.br/

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

VERDADE OU CONSEQUÊNCIA

Verdade, aletheia, véritas, emunah. Todas estas palavras referem-se à correspondência entre o que foi dito e o que se apresenta. Na terapia, ao longo do tempo tenho me deparado com muitas verdades, ou seja, fatos apresentados pela pessoa que lhe são tão evidentes a ponto de não gerar dúvidas. Um dos casos que me chama atenção é quando uma pessoa relata que fica ao lado de alguém por não ter escolha, porque se entende responsável pelo outro. Uma pessoa que relata isso justifica dizendo que o outro precisa dele financeiramente, porque sozinho não saberia se virar, porque é frágil emocionalmente, cairia em depressão. Em cada uma das justificativas a verdade é clara: é preciso ficar porque o outro depende desta pessoa.


Numa das consultas ouvi uma história que há muito tempo não ouvia. A história conta de um caixeiro viajante, vendedor que ia de cidade em cidade vendendo produtos que comprava diretamente na fábrica. Havia numa vila um menino que tinha uma grande admiração pela profissão e sempre que o caixeiro passava na cidade ele queria ir junto. Quando tinha certa idade pediu aos pais e com o consentimento destes partiu com o caixeiro fazer vendas pelas cidades vizinhas. Numa determinada cidade o caixeiro viu uma família muito pobre que tinha uma vaca muito bonita e que dava muito leite. O caixeiro combinou com o menino: “Vamos pedir pouso aqui e durante a madrugada roubamos a vaca, o lucro de sua venda dividimos meio a meio”. O menino concordou e foi assim que o fizeram, acordaram de madrugada e levaram a vaca da família. Foram até uma cidade vizinha e a venderam, o dinheiro foi dividido tal como o caixeiro tinha dito, mas aquilo começou a incomodar o menino. Pensava ele: “Mas era a fonte de alimento e recurso da família, bebiam o leite, vendiam o queijo, como ficarão sem a vaca?” Quando o menino chegou novamente em casa decidiu não seguir novamente em viagem, guardou o dinheiro com o intuito de ir devolver, mas não conseguia ir.

Depois de muito tempo, quando atingiu a maioridade, agora homem, decidiu que não viveria mais com aquele peso. Pegou suas coisas, o dinheiro que entendia ser justo devolver pelo mal causado e partiu. Chegando ao local onde havia a pequena cabana viu uma casa grande, plantações, pomares. Vendo isso o remorso bateu forte. Mesmo assim tocou a campainha da casa para pedir informações sobre as pessoas que moravam na cabana que ali ficava. Foi recebido pelo dono. Perguntou sobre uma família que vivia numa cabana que ficava no mesmo local. O dono da grande casa lhe disse que ele mesmo morava ali, que eram muito pobres, tinham como único bem uma vaquinha. Certa noite, depois que um caixeiro viajante e seu ajudante passaram por ali a vaquinha fora roubada. Com isto ele pegou o pouco dinheiro que tinha e comprou algumas sementes, cultivou e assim começou a prosperar até chegar ao ponto atual. E disse ainda que era grato ao ladrão que o libertou da dependência daquela vaca.

Em muitos casos uma pessoa entende que não pode partir porque o outro depende dela, mas a verdade é que a sua permanência reforça a dependência. Em outras palavras, um marido que não termina o casamento porque a mulher depende dele a mantém dependente continuando ao seu lado. Uma mãe que vai ao apartamento do filho para fazer a limpeza porque o filho precisa pode estar criando dependência. O fato é que muitos não querem encarar a verdade de que são eles que tornam as pessoas próximas dependentes, ou seja, a sua verdade é na realidade uma consequência.
Por: Rosemiro A. Sefstrom Publicado no site: http://rosemirosefstrom.blogspot.com.br/

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

SER - HUMANO

Há em filosofia alguns termos ou formas de se abordar as relações. Tais termos foram trabalhados nos últimos artigos. O tema das relações está presente em nosso cotidiano, reforçado por determinadas notícias que se espalham pela televisão, internet e outros veículos de comunicação. Sendo assim, acredito ser pertinente, por exemplo, a notícia que apareceu numa terça-feira, dia 07 de fevereiro de 2012, referente à troca de casais que está ocorrendo num programa de televisão. Parece que aos poucos a relação entre uma pessoa e outra pessoa está se tornando uma relação entre uma pessoa e um objeto. É interessante observar que este comportamento não se vê só lá na televisão, também se vê no dia-a-dia, em casa, na escola, no trabalho, etc.


Nos artigos anteriores, talvez a linguagem usada, por se tratar de filosofia, tenha ficado um tanto inacessível. No presente artigo, usarei argumentações muito simples. Em Filosofia Clínica, há um termo chamado Interseção de Estruturas de Pensamento, ou seja, a relação que se dá entre dois seres vivos, a relação que se dá como troca. A Interseção de Estruturas de Pensamento supõe que eu entre em contato com o outro na medida em que ele entra em contato comigo, o outro pode ser uma pessoa ou mesmo meu animal de estimação. O outro na interseção é alguém que, como eu, contribui na relação e não é objeto dela. Uma interseção de EP, como é mais comumente conhecida, pode ser positiva, negativa, variável ou indefinida.

Desenvolver uma interseção, ou seja, amarrar laços com outra pessoa é se colocar e receber o outro num espaço de construção coletiva. Esse espaço normalmente não depende somente de uma das partes, mas das duas partes. Se, pela manhã você vai até a padaria comprar pães e é gentil com o vizinho que mora duas casas além da sua na direção da padaria, será que lhe será grosseiro? Ainda que ele o seja, a parte para a construção de uma interseção positiva partiu de você. Uma relação agradável na qual tanto eu quanto o outro estejam bem é uma interseção positiva.

Quanto você sai nervoso pela manhã, entra em seu carro e se transforma, fica grosseiro, mal educado, será recebido com gentileza? Neste exemplo, caso a interseção ocorra de maneira negativa, partiu de você. Este tipo de interseção se dá quando uma ou as duas partes não se sentem bem na relação.

Uma relação na qual você está com a pessoa e hora está bem, hora está mal, tanto para você quanto para ela, é uma interseção variável. E há ainda interseções que acontecem e que não se pode dizer se são positivas ou negativas, sendo caracterizadas provavelmente por indefinidas.

Mas veja, em todo o caso, as interseções se dão entre seres com vontade própria, com arbítrio sobre suas ações, pelo menos até certo ponto. Em se tratando de pessoas, não é você e nem ele o culpado, mas vocês. Mas, e numa relação com objetos inanimados, quem é o culpado quando o objeto estraga? Quem é o culpado pelo mal uso de um objeto? Diferente de uma interseção, onde você e o outro têm vida, numa relação em que você coloca o outro como algo separado, este outro se tornou objeto. Você, por si mesmo, pode se fazer objeto quando não entrar em interseção consigo mesmo como pessoa.

Ser: uma palavra que define movimento, indica o que cada um é agora, mas isto a partir de si mesmo e do outro. Uma interseção, ou seja, uma relação entre dois seres deve ser construída num espaço comum aos dois seres. Relacionar-se com coisas é se colocar acima delas, ter o poder de fazer nascer e morrer, talvez. O entendimento de que você não é objeto e o outro não é objeto deveria fazê-lo compreender que a sua vida está diretamente ligada a do outro, seja ele quem for.
Por: Rosemiro A. Sefstrom Do site:

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

SER E APARECER

História de vida, o que é isto? Quanto você olha para o passado e o faz reviver faz com os olhos do presente, mesmo que tente fazê-lo a partir do ponto de vista que tinha no passado ainda assim ele é presente. Esse olhar sempre atual da própria história de vida precisa de certo treinamento, sendo que o primeiro deles é entender que a história de vida não é a pessoa, mas um registro daquilo que viveu, por onde esteve. Se ao longo da vida você por um acaso cometeu “erros” isso não quer dizer que você seja uma pessoa errada, mas uma pessoa que cometeu erros. O contrário também é válido, fazer coisas boas não torna ninguém uma pessoa boa, mas uma pessoa que faz coisas boas. As atitudes de cada pessoa não necessariamente refletem o que ela é, mas sim o que ela faz com aquilo que ela é.


Certa vez conheci um jovem senhor de 70 anos, uma pessoa que cuidava das crianças do bairro, encaminhava para o escotismo, circo, cinema, leitura, enfim, cultura. Por muito tempo me pareceu uma pessoa muito boa, uma pessoa com uma história que dizia que ele era um homem muito bom. Cresci e tive a oportunidade de conversar com este mesmo homem anos depois, já em faze terminal, disse a ele que ele era um homem bom, exemplo de pessoa. Sua resposta me deixou confuso na época, hoje entendo perfeitamente o que ele disse. Disse ele: “Não sou um homem bom, vivi minha vida para mim, fiz sempre o que quis, sou orgulhoso, mesquinho, arrogante, prepotente. Quando vocês eram pequenos eu via em vocês bichos do mato e me achava muito melhor, por isso mostrava um mundo “melhor” para vocês, queria poder dizer para mim mesmo que fui eu quem os salvou da ignorância. Dei-me o direto de achar que o que viviam na pequena vila deveria ser mudado, a começar pelas crianças, por isso me arroguei o direito de intervir. Eu me achava a melhor das pessoas, porque ninguém ao redor sabia o que eu sabia, tinha viajado o que eu tinha viajado, por isso não escutava, falava, dava conselhos”.

Passei anos discordando, entendendo que se ele fez coisas boas é porque era uma pessoa boa. No entanto, anos mais tarde, depois de muita filosofia percebi que, ele via em suas atitudes a intenção por detrás delas. Filosoficamente a questão fica bem complicada, pois será que interessa o mérito interior de uma boa ação? Os mais religiosos provavelmente dirão que sim, mas e a história de fé sem obras é morta, será o oposto também é verdade? Que obras sem fé também são mortas? Voltando ao caso citado, esse homem mostrou e, mesmo depois de seu falecimento, ainda mostra que as atitudes de uma pessoa não mostram quem ela é.

Por isso, quando olhar para a própria história, com suas escolhas, acertos e erros, é necessário perceber que suas atitudes não são você, mas o que você faz com o que você é. Aos que cometeram erros ao longo da vida e sentem-se julgados pelos outros, basta lembrar que estes outros têm suas histórias. Podemos não ter orgulho de algumas escolhas que fizemos, mas podemos nos orgulhar das escolhas que são feitas agora, neste momento.

Por isso, se sua história contém coisas das quais você não se orgulha, veja o que pode ser feito deste momento em diante para se orgulhar. Se sua atitude no casamento mostra uma pessoa que você não é, pode ser feito diferente. Há uma única coisa que não pode se feita: legar a responsabilidade ao outro pelo passado que tenho, pois mesmo quando outorgo ao outro a escrita da minha história sou responsável por ela. Meu amigo fez muitas cosias boas mesmo se achando mau, uma pessoa pode fazer muitas cosias más se achando boa.
Por: Rosemiro A. Sefstrom Do site: 


segunda-feira, 29 de setembro de 2014

AS PEQUENAS RAPOSAS QUE DESTROEM A VINHA

Na luta pela santidade, é preciso tomar cuidado com os pecados veniais, que entravam a união da alma com Deus e dispõem a alma para os pecados mais graves.


O apóstolo João escreve que “ omnis iniustitia peccatum est, et est peccatum non ad mortem – toda injustiça é pecado, mas existe pecado que não conduz à morte” [1]. Trata-se da conveniente distinção dos pecados quanto à sua gravidade. Não é verdade, como insinuam alguns intérpretes desautorizados das Escrituras, que todos os pecados são iguais. Algumas faltas extinguem imediatamente a chama da caridade, fazendo perder a bem-aventurança eterna; outras, no entanto, embora desordenadas, “conservam a ordenação para o último fim” [2]: assim, um pecado de adultério – está claro – é muito mais grave que uma palavra suja.

É preciso, no entanto, refrear o perigo de ter em pouca conta os pecados veniais, já que eles não só atrasam o nosso progresso na vida de santidade, como são sumas ofensas contra Deus.

Antes de explicar como o pecado venial não só impede nossa união como Deus, como dispõe nossa alma para a prática das faltas mais graves [3], é preciso lembrar a altíssima vocação para a qual fomos chamados e à qual, infelizmente, poucas vezes correspondemos devidamente: Nosso Senhor comprou-nos com o Seu sangue para que, pelo auxílio de Sua graça, nos tornássemos santos. A meta de muitos cristãos, levados pela onda de relaxamento de nossa época, tem beirado a mediocridade. Ao invés de buscarem a cada dia mais a presença de Deus, vivendo conforme a Sua vontade, muitos têm se conformado com a ideia de “reservar um lugar no purgatório”, esquecendo que o trabalho da salvação deve ser feito “ cum metu et tremore – com temor e com tremor” [4] e que Nosso Senhor pede de nós nada menos que a perfeição de vida: “Estote ergo vos perfecti, sicut Pater vester caelestis perfectus est – Sede, portanto, perfeitos, como o vosso Pai celeste é perfeito” [5].

No caminho para a perfeição, não se chega ao cume do “Monte Carmelo” enquanto não se elimina o afeto às criaturas. É o que ensina São João da Cruz, quando diz que, “enquanto houver apego a alguma coisa, por mínima que seja, é escusado poder progredir a alma na perfeição. Pouco importa estar o pássaro amarrado por um fio grosso ou fino; desde que não se liberte, tão preso estará por um como por outro” [6].

Além disso, o apego aos pecados veniais não só entrava a subida da alma para Deus, como a prepara para os grandes pecados. É o que diz o Espírito Santo no livro do Eclesiástico: “ Qui spernit minima, paulatim defluit – Quem despreza as coisas pequenas, aos poucos cairá” [7], e o que Nosso Senhor indica quando afirma: “Qui fidelis est in minimo, et in maiori fidelis est; et, qui in modico iniquus est, et in maiori iniquus est – Quem é fiel nas pequenas coisas será fiel também nas grandes, e quem é injusto nas pequenas será injusto nas grandes” [8]. O livro dos Juízes narra o castigo que Deus aplicou aos filhos de Israel porque, ao invés de exterminarem os seus inimigos, fizeram aliança com alguns deles [9]. São João da Cruz, comentando essa passagem, preleciona que:

“Deus procede justamente assim com muitas almas. Tirou-as do mundo, matou os gigantes dos seus pecados, exterminou a multidão dos seus inimigos que são as ocasiões perigosas encontradas neste mundo, a fim de lhes facilitar o acesso à terra da Promissão da união divina. Mas, ao invés de responderem a tantos favores do Senhor, elas fazem amizade e aliança com a plebe das imperfeições, em lugar de exterminá-la sem piedade. À vista de tal ingratidão, Nosso Senhor se enfada, deixando-as cair nos seus apetites de mal a pior.” [10]
Chega a ser injurioso referir-se aos pecados veniais como “leves”, quando se tratam de ofensas a Deus. Interroga Santo Anselmo: “Quem terá a ousadia de dizer: isto é só um pecado venial, e, portanto, não é um grande mal? Se Deus é ofendido, como se poderá afirmar que isso é um pequeno mal?” [11]. Por isso, São Domingos Sávio repetia incessantemente: “Antes morrer do que pecar”, decretando guerra também contra os pecados veniais.

“Capite vulpes parvulas, quae demoliuntur vineas – Caçai as pequenas raposas que destroem a vinha” [12], diz o autor sagrado. “Estes pecados, que chamamos leves, não os tenhas por insignificantes”, exorta Santo Agostinho. “Se os tens por insignificantes quando os pesas, treme quando os contas. Muitos objetos leves fazem uma massa pesada; muitas gotas de água enchem um rio; muitos grãos fazem um monte” [13].

Por Equipe Christo Nihil Praeponere  Do site: padrepauloricardo.org

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

RÓTULO!

Acordei pela manhã, olhei para o lado, uma linda mulher diz: “Amor!” Meu coração derrete, sou um romântico apaixonado, cheio de amor para compartilhar com ela. Levanto, me preparo e vou para a cozinha, lá um menino de uns 16 anos diz: “Pai!”. Fico sisudo, com cara de quem está organizando um time de futebol, converso em tom sério, poucas palavras, mas todas com medidas exatas. Trato com carinho, mas com cuidado para não deixar de entender que pai é aquele que comanda a família. Logo depois, um pouco atrasada chega à mesa do café uma pequena de 04 anos e diz: “Paizinho!” Mesmo sério, o coração derrete, pego a pequena no colo, faço brincadeiras com ela e encaminho seu café.

Ao sair de casa encontro pela estrada pessoas que me chamam de vizinho, ou seja, alguém que está próximo a eles. Nesse papel, sou uma pessoa admirada, correta, que tem boas relações com as pessoas próximas ao local onde moro. Ainda pela estrada em direção ao meu trabalho, sou parado pela polícia que faz uma blitz. Para estes, sou motorista, não interessa a eles se sou marido, pai, paizinho ou vizinho. A eles cabe avaliar-me como condutor, pedem meus documentos e os do veículo e analisam para saber se sou bom motorista.

Alguns minutos depois, estou na empresa onde trabalho. Logo na entrada, uma moça ao telefone me chama de senhor. No caso dela, senhor porque sou encarregado daquele setor. Como senhor, chefe ou encarregado, um dos muitos nomes que dão para os gerentes administrativos sou um homem duro, com poucas palavras e muita ação. Comando meus colaboradores com tranquilidade, pois sou respeitado pela minha trajetória na empresa. Quando chego ao meu setor de trabalho, minha mesa para ser mais exato, encontro meus colegas de trabalho, pessoas que compartilham o cargo de gerência em outros setores. Com estes minha relação é de iguais, tanto para mim quanto para eles procuro agir de maneira a privilegiar a empresa e não o gerente X ou Y. E assim passo o meu dia.

Na volta para casa encontro minha mãe, para quem sou o filho, neste caso nada interessante. Para minha mãe sempre fui o filho problemático, aquele que mais deu trabalho, que tinha tudo para ser o dono da empresa, mas sou gerente. Sou também aquele que casou com a mulher errada e assim por diante, mas, segundo ela, ela me ama mesmo assim. Chegando em casa encontro minha esposa e retomo minha rotina de marido, pai e paizinho.

Aqui misturei dois ingredientes muito interessantes. O primeiro deles é o Papel Existencial que tenho em cada um dos lugares em que passo. Esse papel existencial é como um rótulo que uso e com ele todas as atribuições referentes a este rótulo. Mas adicionei também o que penso de mim mesmo em cada um destes rótulos ou Papéis Existenciais. Porque algumas vezes sou o meu papel existencial, ou seja, algumas vezes sou pai mesmo, marido, e tenho as características que o rótulo exige. Em outros casos, são outras pessoas que vêem e identificam singularidades que me fazem ser isto ou aquilo, não sou eu que digo de mim, mas outras pessoas.

Algumas vezes o que penso de mim mesmo e/ou os meus papeis existenciais combinam. São aqueles casos em que a pessoa tem clareza do papel que exerce em cada momento de sua vida. Existem os casos contrários, em que a pessoa não tem a menor ideia a respeito de si própria e assume o que é dito pelos outros, vivendo a mercê do que os outros lhe impuserem como rótulo. Há muitas possibilidades, mas podemos pensar em duas: na primeira eu me torno refém da ideia que tenho a respeito de mim mesmo, e na segunda torno-me refém de pessoas que algumas vezes nem conheço.
Por: Rosemiro A. Sefstrom Do site: 


domingo, 21 de setembro de 2014

SUICÍDIO

Já estive envolvido em muitas conversas sobre suicídio, na maior parte delas surge uma pessoa que afirma: “A pessoa que se suicida, nada mais quer do que matar alguma coisa em si”. Para quem diz isto, o suicida na verdade quer apenas se desfazer de algo em si mesmo. No entanto, como o ser humano é um todo e não há a possibilidade de separar apenas a parte que a pessoa não suporta mais, o suicídio acontece. Estas pessoas, por não saberem como matar, ou seja, retirar de si aquilo que as aflige, acabam por retirar a vida corporal.

Em Filosofia Clínica, o entendimento é de que o ser humano é um todo, mas este todo é constituído de partes, algumas mais e outras menos divisíveis. Quando um filósofo clínico interage com uma pessoa no consultório ele a observa como um todo, ou seja, como uma pessoa que lhe procurou. Mas, ao longo do processo ele coleta a história de vida da pessoa e com esta história monta o que chamamos de Estrutura de Pensamento. Esta estrutura nada mais é do que o conteúdo da história compartimentado segundo sua peculiaridade. Desse modo, o que a pessoa diz de si mesmo é o tópico 02. O que a pessoa disser no consultório a respeito de medo, amor, ódio, alegria, etc., são conteúdos, por exemplo que serão categorizados por emoções.

A montagem a Estrutura de Pensamento leva em conta trinta tópicos, ou seja, trinta identidades diferentes que o conteúdo da história de vida da pessoa pode ter. Esses trinta tópicos podem estar em relação harmoniosa, quando a pessoa sente-se bem, vive um bem estar subjetivo. Mas, estes conteúdos também podem estar em choque e quando isso acontece diz-se que há choque entre tópicos. Seria o caso de uma pessoa que tem medos terríveis de ficar sozinha, mas não consegue manter o casamento. O mal estar subjetivo vai ser mais ou menos evidente de acordo com cada pessoa, algumas podem estar morrendo por dentro, mas nem a pessoa mais próxima perceberá.

Quando dois tópicos entram em choque, em algum tópico da Estrutura de Pensamento a pressão aparecerá. O exemplo mais corriqueiro é aquele em que o empresário tem uma série de decisões para tomar, mas não sabe se o resultado será bom ou ruim à empresa. Isso o incomoda por alguns dias e logo lhe aparecem aftas na boca, outros têm gastrite, alguns emagrecem e assim será diferente para cada pessoa. No exemplo acima, o choque entre dois tópicos causou uma pressão nas sensações que apareceram em forma de afta, gastrite ou emagrecimento.

Retomando o caso do suicídio, agora conhecendo um pouco mais de Filosofia Clinica, a pessoa pode sim, querer tirar apenas uma parte dela e por isso acaba tirando a própria vida. Mas, assim como um cirurgião corta e retira do corpo um nódulo, também é possível que o filósofo ao longo de um trabalho terapêutico retire da pessoa aquilo que tanto lhe faz mal. Para algumas pessoas, a terapia parece não ser a solução para o seu problema, mas pedir ajuda, significa entender que muitas vezes na vida é preciso caminhar acompanhado.

Tudo o que está escrito acima sobre o suicídio é apenas uma das possibilidades, faço questão de deixar claro que não existem duas pessoas iguais. Para muitas pessoas, o suicídio será totalmente diferente do que está acima, podemos lembrar o caso de Getúlio Vargas que em carta deixou registrado o que foi o suicídio para ele: “Eu vos dei a minha vida. Agora ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na história.”
Por: Rosemiro A. Sefstrom Do site: http://rosemirosefstrom.blogspot.com.br/


quarta-feira, 17 de setembro de 2014

QUAL O TAMANHO DO PAVIO?

Uma das alegorias mais comuns sobre o temperamento das pessoas é o pavio. Às pessoas que tem paciência e agüentam grande carga de problemas sem reclamar ou “explodir” com outras pessoas, são chamadas de pavio longo. Já aquelas pessoas que por pouco, quase nada “explodem” com quem estiver por perto, recebem o termo “pavio curto”. Esse processo de encher acontece com pessoas que usam o procedimento que chamamos de adição, ou seja, elas somam o que acontece durante o dia.


A adição, ou processo de soma, pode acontecer de muitas maneiras, uma delas é a adição de coisas ruins. É fácil sentar em um banco pela cidade e ficar meia hora ouvindo as conversas e perceber que algumas pessoas contam muitos eventos ruins. Algumas pessoas ouvem estas informações dos jornais, por exemplo, e esquecem logo em seguida. Mas muitos dos que ouvem podem fazer o processo aditivo, somar um assassinato, com um assalto, com uma briga, com o aumento da gasolina, com a inflação e tudo o que fizer parte da conversa. Essa pessoa provavelmente terá muito conteúdo ruim para trabalhar, uma vez que adicionou tudo que lhe foi dado. Muitas pessoas têm o hábito de adicionar o que é ruim, e as coisas boas que passam perto sequer são identificadas.

Coloquemos este processo aditivo em uma relação de marido e mulher. Imagine que sua esposa faz o processo de adição, mas é um processo muito curto, em alguns dias ela se incomoda com as coisas e logo briga, chora, grita. Você, com o tempo acostuma e a cada tanto ela faz esse processo, mas logo depois tudo volta ao normal, à rotina. No entanto, o marido faz um processo aditivo muito mais longo, leva algum tempo, um , dois, dez anos até atingir o limite e explodir. Quando a explosão acontece é algo tão fora da realidade da esposa, que nunca viu tal evento que ela pode significar como falta de amor.

A explosão se refere ao momento em que a pessoa chegou ao seu limite e termina por colocar toda sua insatisfação para fora. Utilizei o termo explosão por ser um comportamento geralmente descontrolado, no qual a pessoa grita, bate, chora, algumas vezes simplesmente desmaia. É importante perceber que em muitos casos a explosão acontece com quem nada tem a ver com o ocorrido. Como a esposa que espera o marido em casa, depois de um dia cansativo, o marido chega em casa e percebe algo que lhe desagrada. Naquele momento ele explode, diz coisas que jamais diria se não fosse naquelas condições.

O conteúdo da explosão em muitos casos em nada tem a ver com o que aconteceu no momento, uma vez que a pessoa adiciona elementos diferentes. Quem acompanha este processo, deve entender que pode não ter a ver com o que está acontecendo e que a pessoa está simplesmente descarregando de forma bruta. O conteúdo elaborado, bonitinho, socialmente correto, nessas horas fica de lado. Pode não ser fácil, mas seria ideal se houvesse a compreensão por parte de quem acompanha a explosão que percebesse que pode não ter a ver com o acontecido. Mas que a pessoa precisa jogar todo aquele lixo que guardou para fora.

O tamanho do pavio de cada um tem a ver com quanto conteúdo é possível de se adicionar. Para algumas pessoas o processo de adição e nada é a mesma coisa, elas esquecem, simplesmente deixam para trás e seguem seu caminho. Mas as pessoas que o fazem vivem sob a pena de catalogar e alocar cada conteúdo vivido. Aqueles que convivem com estas pessoas devem prestar atenção ao processo e perceber que tipo de conteúdo é adicionado e como isso acontece. Basta prestar atenção às expressões como: “Outra vez; de novo; mais um dia; está me enchendo; parece que vou explodir.” E tantas outras expressões que denotam a operação de soma.
Por: Rosemiro A. Sefstrom Do site:

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

SÍSIFO

Um mito muito conhecido na filosofia mas pouco conhecido no senso comum é o Mito de Sísifo. Este conta a história de um jovem de nome Sísifo, o qual era muito astuto e enganou os deuses por duas vezes. Cada uma das vezes que enganou os deuses foi reconduzido ao Tártaro, algo similar ao inferno. Na terceira vez que foi aprisionado, recebeu o castigo de rolar uma pedra de mármore até o topo de uma montanha. Cada vez que atingir atingisse o topo rolando a pedra, ela rolava novamente até o ponto de início e ele começava tudo novamente. Este mito tem diversas interpretações. Albert Camus, por exemplo, fala que mostra alguém que queria viver a vida ao máximo e foi condenado a uma tarefa sem sentido. Algumas pessoas fazem o mesmo que Sísifo: passam a vida rolando conteúdos existenciais que deveriam ser deixados de lado, abandonados pelo caminho. Mas, quando mais se dedicam a estas coisas, como o personagem à sua pedra, mas estas coisas fazem parte de sua vida.

Naturalmente aprende-se que o que desejamos afastar deve ser empurrado para longe e lá deve ficar. Isso pode ser visto em diversos lugares de nosso cotidiano: quando uma pessoa não quer mais um sofá, ela o pega e leva ao lixo. Dali o velho sofá segue o seu caminho até que não exista mais. Assim também acontece com a sujeira do corpo, toma-se o banho e ao lavar-se a água leva embora o que nos matinha sujos. Só que não aprendemos como afastar aquilo que existencialmente está em nós, ou seja, afastar algo que é parte nossa. Não foi ensinado o que fazer com a mágoa que corrói o coração, com um amor que sabidamente não pode ser vivido, com a dor da perda de alguém que pode ser irremediável. Não é possível depositar estas coisas num saco plástico colocá-lo no cesto que fica do lado de fora do muro e esperar que alguém dê o destino. Assim como não é possível entrar em baixo do chuveiro ensaboar-se e tirar com água aquilo que maltrata a alma.

O que se ensina como maneira de lidar com este tipo de dor é que devemos colocar para fora, vivenciar, não desviar a cara, enfrentar o que tanto incomoda. Em todos estes ensinamentos a pessoa é levada em direção aquilo que traz sofrimento e mais do que isso, é obrigada a vivenciar esta dor supondo que passará. Em alguns casos, somente pesquisando a história da pessoa é que saberemos se é assim para ela, se é possível realmente que a pessoa viva a dor e depois siga a vida em frente. Em muitos casos, ao vivenciar a dor a pessoa está aumentando aquilo que gostaria de diminuir, ou seja, ao tentar afastar-se ela está fazendo o contrário. Este movimento de aparente solução é um método não apropriado em muitos casos, a pessoa ao reviver a situação falando, vendo, lendo, ouvindo está tornando o sofrimento presente em sua vida.
Para exemplificar: há pessoas que buscam desesperadamente livrar de si a inveja e prestam tanta atenção nela, cuidam tanto dela que isso faz muito mais parte de sua vida do que a humildade.

Pessoas que se concentram muito na dor, em sua forma, dimensão, extensão, estão fazendo desta dor muito mais parte de si do que os bons pensamentos que podem ter. Quando se coloca algo a frente da pessoa e ela se coloca a empurrar, enquanto estiver empurrando, este objeto fará parte dela, de suas vivências de seu ser. Se a pessoa coloca a sua frente amor, amizade, perdão, humildade, isso será parte dela, e estes caracteres serão muito mais parte dela do que coisas com as quais ela não se ocupa. Nem tudo que se deseja afastar é necessário empurrar, algumas coisas estão passando e só farão parte da vida se houver dedicação em torno delas.
Por: Rosemiro A. Sefstrom Do site:

domingo, 7 de setembro de 2014

PARA QUE SERVE A INTELIGÊNCIA?

Você sabe o que é inteligência artificial? Em geral nosso conhecimento sobre o assunto não vai muito além de pensar em algo parecido com um computador super inteligente. Na verdade, inteligência artificial ainda é uma mistura de sonho e realidade. 


A tecnologia já foi alcançada. Máquinas com capacidade de memória, raciocínio e argumentação superiores aos humanos estão disponíveis em qualquer esquina, no entanto, carecem de recursos emocionais. Até onde isto pode ser considerado inteligência? Como o próprio nome diz, são apenas máquinas que buscam dados armazenados e os combinam em alta velocidade. 

Cientistas buscam ir além e compreender o fenômeno da inteligência, procurando decifrar o modo como os seres humanos pensam e representam suas vivências. Elaboram teorias e modelos matemáticos de inteligência e depois os transferem para dentro de computadores, com o objetivo de multiplicar a capacidade racional do ser humano de resolver problemas, pensar ou, em última análise, ser inteligente.

Afinal de contas, qual critério define um ser inteligente? Cientistas definem um agente inteligente como um sistema que percebe seu ambiente e toma atitudes que maximizam suas chances de sucesso.

O sonho é saber se a nova geração de computadores terá realmente capacidade de aprender, pensar e quem sabe até ter sentimentos, pois são justamente as emoções quem validam, dificultam e fazem o contra ponto às decisões racionais. É preciso refletir também o que vamos fazer com tais máquinas e o que elas poderão fazer conosco.

Partindo do princípio que toda esta estrutura tecnológica de inteligência artificial foi criada através de modelos que copiam o cérebro humano, por que sentimentos também não poderiam ser criados de maneira semelhante? O que impede? Uns dizem ser impossível, outros dizem que é uma questão de tempo. 

Algumas destas máquinas são programadas para dialogar baseando-se em palavras chave. Por exemplo, cada vez que o interlocutor disser que está triste, o computador buscará uma série de expressões que se assemelhem neste contexto, como “fiquei chateado com sua tristeza”, “isso me deixa sem palavras”, “estou solidário com sua tristeza”, “se tivesse lágrimas estaria chorando com você”.

Máquinas também podem ser montadas com câmeras e microfones acoplados a sistemas que reconheçam fisionomias, sons e sinais de alegria, tristeza, raiva, mentira, sonolência. Logo que um sinal for identificado, a máquina buscará dados em seu arquivo para interagir conforme os sinais emitidos. 

Máquina se programando para amar: abrir um pouco mais os olhos, acelerar respiração, aquecer a pele, mudar o tom de voz, tocar o outro suavemente. Muita gente pode confundir tais respostas mecânicas artificiais com sentimentos genuínos e acreditar que finalmente foram criadas máquinas com capacidade de se emocionar.

Seres humanos, sem perceber, fazem este tipo de comportamento todos os dias. Emitem frases, abraçam, fazem carinhos mecanicamente, sem que isto represente sentimento algum. Atitudes e pensamentos robotizados. Observe as pessoas cantando "parabéns a você" numa festa de aniversário ou dando pêsames num funeral. Olhares, expressões e discursos vazios, apenas cumprindo um ritual, representando papéis existenciais. Tão falsificados quanto bonecos com inteligência artificial simulando sentimentos programados.

Até onde viramos bonecos e os bonecos podem ser humanos? Quanto restou de sentimento humano para ser assimilado pelas máquinas? Por que estamos desenvolvendo bonecos para nos relacionar emocionalmente?

"Dentro de poucos anos teremos os meios tecnológicos para criar uma inteligência super humana. Algum tempo depois, a era humana vai terminar" - Vemor Vinge. Antes de investir em inteligência artificial, talvez fosse melhor fazer algo relacionado à nossa mente natural.

Inteligência artificial pode ser suficiente para interagir, não para sentir. A luz artificial das lamparinas não encanta os girassóis, ela apenas e somente engana os insetos. Inteligência artificial, sonho ou pesadelo? Por: Ildo Meyer do site: www.ildomeyer.com.br