quarta-feira, 20 de junho de 2012

OS DUELOS E O ABRAÇO

Querido leitor, aceite o meu caloroso abraço. Nossa reflexão hoje é sobre os duelos, o abraço e a gripe A. Ainda na idade média existia um costume entre os homens que era no mínimo curioso para os olhos de hoje, refiro-me aos duelos. Para que esses acontecessem, bastava que uma das partes se sentisse ameaçada ou até humilhada por outro que logo era desafiado a duelar. “Amanhã, às 10 horas na praça”, era a senha. “E você escolhe as armas”. No dia e hora marcados, além do desafiado e o desafiador, muitos curiosos iam para o local acompanhar, no dizer de Gabriel García Márquez, a crônica da morte anunciada. Mister se faz esclarecer que, mesmo sabendo que daquele confronto um sairia fatalmente ferido ou morto, era uma desonra não comparecer ou fugir. Importante colocar que neste tempo também era hábito corrente entre as pessoas o fraterno abraço. Afinal de contas, o que fazer nesta existência se nem abraçar se pode? Um pai abraçar um filho? Um namorado abraçar sua namorada? Um amigo abraçar outro amigo? Um conhecido abraçar outro conhecido? Abraço. Mas, voltemos ao duelo. Antes de cada uma das duplas duelarem mortalmente, elas eram aproximadas e era comum, por incrível que pareça, o abraço. Contudo, começou a ser corrente as punhaladas traiçoeiras de um membro e, então, abandonou-se o abraço e começou-se a usar o aperto de mão. O que é um aperto de mão, se não o abraço das mãos? Passou-se o tempo e aquela questão específica de não abraçar mais porque alguns poderiam “apunhalar” traiçoeiramente o outro, alastrou-se para toda a comunidade, foi para a sociedade em geral, atravessou muros, fronteiras e regiões e chegou a paragens que jamais duelou; sequer sabia que “abraço pode matar”. Pronto! Houve a fixação, a paralisação numa ideia equivocada, formando uma opinião distorcida. Resultado: o ser humano se afastou mais de si, da sua essência amorosa e foi ao encontro do cotidiano gélido e insosso. Como alguém pode viver sem abraço? Em consequência disso, os pais se afastaram dos filhos, os namorados ficaram mais longes uns dos outros, os amigos se contiveram, os conhecidos só abanaram as mãos de longe. Perdemos todos, pais, amantes, amigos e conhecidos. Perde a sociedade global que, afastada, fica mais deprimida, mais estressada, fica mais doente. Lembrando que isso é assim para mim. Hoje, não duelamos mais, pelo menos daquela forma de há séculos. O duelo hoje é branco, é velado, mas estamos entrando por um período assaz preocupante com a gripe A, ou gripe suína. Nos meios de comunicação, o que se vê é sugestão para não beijar, não se encostar e, se possível, andar de máscaras. Nas escolas, existem guardiões para evitar que as crianças troquem brinquedos, compartilhem lanches. Nas igrejas, o pedido é que evitem os cultos e missas, que não se cumprimentem e muito menos se abracem. Mais uma vez, como há séculos, estamos diante dos traiçoeiros como nos duelos. Hoje estamos diante de uma questão específica de um vírus de inverno e a prudência nos faz nos afastarmos como instinto de sobrevivência. Mas, espero que não repitamos o que ocorreu com os duelos e esqueçamos que o afastamento era por pouco tempo, afinal de contas, nossa gênese é morar juntos, é viver juntos, é estarmos juntos na mesma casa, na mesma cidade, no mesmo planeta. Olhando no olho, encontrando as mãos (sem luvas), beijando os rostos (sem máscaras) e nos abraçando (sem duelos). É assim como o mundo me parece hoje. E você, o que pensa sobre o abraço e a gripe?Por: Beto Colombo

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